Agronegócio banca palestras que espalham mitofluminense e goiás palpiteque aquecimento global pelo homem é fraude:fluminense e goiás palpite

  • Juliana Gragnani - @julianagragnani
  • Da BBC News Brasilfluminense e goiás palpiteLondres
As Comissõesfluminense e goiás palpiteRelações Exteriores e Defesa Nacional (CRE)fluminense e goiás palpiteMeio Ambiente (CMA) realizam audiência pública conjunta para tratar sobre questões relacionadas às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Foto tiradafluminense e goiás palpite28fluminense e goiás palpitemaiofluminense e goiás palpite2019

Crédito, Geraldo Magela/Agência Senado

Legenda da foto,

Luiz Carlos Molion, professor aposentado da Universidade Federalfluminense e goiás palpiteAlagoas, dissefluminense e goiás palpiteumafluminense e goiás palpitesuas palestras que aquecimento global "é uma farsa"

fluminense e goiás palpite Uma sala repletafluminense e goiás palpiteestudantesfluminense e goiás palpiteagronomia assiste a uma palestra sobre mudanças climáticas no Brasil. Estãofluminense e goiás palpiteuma faculdade no Estado do Mato Grosso, maior produtorfluminense e goiás palpitesoja do país, ouvindo falar um professor da Universidadefluminense e goiás palpiteSão Paulo. Mas o que escutam é o contrário do que acredita a esmagadora maioria da comunidade científica do mundo. Ali, a mensagem transmitida éfluminense e goiás palpiteque não existe aquecimento global causado pelo homem.

"Os objetivos [de quem falafluminense e goiás palpitemudanças climáticas] são congelar os paísesfluminense e goiás palpitedesenvolvimento. O Brasil é o principal foco dessas operações que envolvem meio ambiente e clima. A ideia da mudança climática e dessas questões ambientais são para segurar o nosso desenvolvimento", afirmou o palestrante, o meteorologista Ricardo Felicio, sem respaldo científico,fluminense e goiás palpiteuma entrevista concedida após o evento que aconteceufluminense e goiás palpite2019.

Na realidade, segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),fluminense e goiás palpiteagosto deste ano, o papel da influência humana no aquecimento do planeta é "inequívoco". É para limitar as mudanças climáticas por meio da redução na emissãofluminense e goiás palpitegasesfluminense e goiás palpiteefeito estufa que líderes se reuniram nas últimas duas semanas na COP26fluminense e goiás palpiteGlasgow, no Reino Unido.

No Brasil, a maior causafluminense e goiás palpiteemissõesfluminense e goiás palpitedióxidofluminense e goiás palpitecarbono é o desmatamento feito para expansão da agricultura e da pecuária.

Mas, na contramão do que diz a ciência, associações do agronegócio —fluminense e goiás palpitefazendeirosfluminense e goiás palpitesoja, passando por cafeicultores, sindicatos rurais, faculdades ligadas a agronomia e até uma empresafluminense e goiás palpitefertilizantes — estão bancando palestras dos chamados "negacionistas climáticos", pessoas que não acreditam que existam mudanças climáticas causadas pelo homem e que apresentam esse fato como uma fraude. As apresentações são direcionadas a outros fazendeiros, produtores rurais ou estudantesfluminense e goiás palpiteagronomia.

A reportagem contou ao menos 20 palestras do tipo nesses ambientes nos últimos três anos feitas por Felicio e por outro professor. A citada no início desta reportagem aconteceufluminense e goiás palpite2019, e fez partefluminense e goiás palpiteum circuito universitáriofluminense e goiás palpiteum totalfluminense e goiás palpite11 palestras com o nome "Aquecimento global, mito ou realidade?"fluminense e goiás palpitenove faculdades e dois sindicatos no Mato Grosso. Todas elas foram bancadas pela Aprosoja Mato Grosso, a associaçãofluminense e goiás palpiteprodutoresfluminense e goiás palpitesoja e milho do Estado, maior produtorfluminense e goiás palpitesoja do Brasil.

Ao mesmo tempofluminense e goiás palpiteque negam o aquecimento global antropogênico, as palestras pagas e vistas por ruralistas os absolvemfluminense e goiás palpitereconhecer seu papel nas mudanças climáticas. Elas seriam,fluminense e goiás palpiteacordo com o conteúdo contrário ao consenso científico apresentado pelos professores, somente frutofluminense e goiás palpitevariações naturais, sem interferência alguma do homem.

Ao contrário desse setor "negacionista" do agronegócio, o presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio, Marcello Brito, diz que a associação se pauta "pela melhor ciência" e que "jogar fora a ciência porque ela não nos traz só vantagens, mas também deveres, é no mínimo contraproducente, jogando contra a melhoria contínua".

Palestras

Felicio, o professor do departamentofluminense e goiás palpiteGeografia da USP contratado pela Aprosoja Mato Grossofluminense e goiás palpite2019, é conhecido por suas posições controversas — ultimamente,fluminense e goiás palpiterelação à pandemiafluminense e goiás palpitecovid-19. Em um vídeo publicadofluminense e goiás palpiteagosto deste anofluminense e goiás palpiteseu canal do YouTube, chamou a pandemiafluminense e goiás palpite"fraudemia" e disse, sem base científica, que vacinas causam danos maiores que a covid-19. Em outro, afirmou que máscaras não são efetivas contra a covid-19. É também um notório negacionista das mudanças climáticas causadas pelo homem. Ficou conhecidofluminense e goiás palpite2012, quando foi convidado ao Programa do Jô, da Globo, e, sem provas, negou o efeito estufa.

Professor da USP Ricardo Felicio, então presidente da Comissãofluminense e goiás palpiteRelações Exteriores, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), diretor do Departamentofluminense e goiás palpiteMeio Ambiente do Itamaraty, ministro Leonardo Cleaverfluminense e goiás palpiteAthayde e professor aposentado da Ufal Luiz Carlos Molion

Crédito, Geraldo Magela/Agência Senado

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Ricardo Felicio (no canto esquerdo) e Luiz Carlos Molion (no canto direito) dão palestras pelo Brasil; na foto, eles participamfluminense e goiás palpiteaudiência pública no Senado

Durante três semanas, a reportagem tentou falar com Felicio por telefonemas, mensagensfluminense e goiás palpitetexto e e-mails, mas não obteve resposta. O vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Beber, justificou o convitefluminense e goiás palpiteentrevista à BBC News Brasil.

"A gente trouxe o Ricardo Felicio para fazer um contraponto com aquilo que é replicado na mídia hoje, que parece uma verdade absoluta. A gente não queria impor aquilo como uma verdade, mas sim trazer a um debate", afirma. Para ele, as mudanças climáticas causadas pelo homem ainda são uma "incerteza" — embora já haja consenso científicofluminense e goiás palpitetorno delas. Beber também disse não se lembrar quanto custou o ciclofluminense e goiás palpite11 palestras feitas por Felicio naquele ano.

Silosfluminense e goiás palpitesoja e plantação

Crédito, Getty Images

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Vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso diz que convite a professor considerado negacionista se deu para promover 'contraponto com o que é replicado na mídia'

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No ano passado, o meteorologista também foi convidado para falar no Tecno Safra Nortão 2020, uma feira para produtores rurais, lideranças, técnicos, pesquisadores e estudantes organizada pelo sindicato ruralfluminense e goiás palpiteMatupá, município no nortefluminense e goiás palpiteMato Grosso.

Segundo o vice-presidente do sindicato, Fernando Bertolin, ao menos cem pessoas, entre pequenos e grandes agricultores, pecuaristas e outras pessoas da cidade assistiram à palestra. Ele defende o convite, dizendo que, à época, Felicio estava "bem forte na mídia" e quefluminense e goiás palpitepalestra "foi um pedido dos produtores". "A gente ouve todo mundo. Ele tem o embasamento teórico dele e a gente queria saber por que ele dizia aquilo."

Bertolin diz não se recordar do valor da palestrafluminense e goiás palpiteFeliciofluminense e goiás palpitecabeça, mas afirma que nenhuma das contratadas pela feira custou maisfluminense e goiás palpiteR$ 15 mil.

Em 2018, Felicio concorreu, sem sucesso, ao cargofluminense e goiás palpitedeputado federal pelo PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro.

Um ano antes, o presidente tuitou um vídeofluminense e goiás palpiteuma entrevistafluminense e goiás palpiteque Felicio nega a existênciafluminense e goiás palpitemudanças climáticas causadas pelo homem. Bolsonaro escreveu: "Vale a pena conferir". Consultada pela BBC News Brasil sobre esta recomendação feita por Bolsonaro, a assessoria da Presidência não respondeu.

O professor não foi aclamado apenas pelo presidente. Em 2019, Felicio foi convidado para dar uma palestra no Senado ao ladofluminense e goiás palpiteoutro acadêmico que não acredita no aquecimento global causado pelo homem, o professor aposentado da Universidade Federalfluminense e goiás palpiteAlagoas (Ufal), meteorologista Luiz Carlos Molion.

O convite para que os professores falassemfluminense e goiás palpiteuma audiência pública conjunta das comissõesfluminense e goiás palpiteRelações Exteriores efluminense e goiás palpiteMeio Ambiente do Senado sobre as mudanças climáticas partiu do senador do Acre Marcio Bittar (hoje PSL, mas, na época, do MDB), um ex-pecuarista que faz parte da bancada ruralista.

Ao ladofluminense e goiás palpiteFelicio, Molion é considerado um dos principais representantes do negacionismo climático no Brasil e autor das outras palestras contabilizadas pela reportagem.

Nos últimos três anos, Molion fez diversas palestras promovidas por entidades como a Cooperativa Agrícolafluminense e goiás palpiteUnaí,fluminense e goiás palpiteMinas Gerais, a Associação Avícolafluminense e goiás palpitePernambuco, a Associaçãofluminense e goiás palpiteEngenheiros e Arquitetosfluminense e goiás palpiteItanhaém, com o patrocínio oficial do Conselho Regionalfluminense e goiás palpiteEngenharia e Agronomiafluminense e goiás palpiteSão Paulo, a Central Campo, uma empresa especializada na vendafluminense e goiás palpiteinsumos agrícolas, a Feira Agrotecnológica do Tocantins, do governo do Tocantins, a feirafluminense e goiás palpiteAgronegócios da Cooabriel, uma cooperativafluminense e goiás palpitecafé com atuação no Espírito Santo e na Bahia, e o sindicato ruralfluminense e goiás palpiteCanarana, no Mato Grosso.

Molion também foi convidado para falarfluminense e goiás palpiteuniversidades: o Institutofluminense e goiás palpiteCiências Agrárias da Universidade Federalfluminense e goiás palpiteMinas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A BBC News Brasil procurou todas essas instituições para comentar sobre os convites que fizeram a Molion — leia as respostas abaixo e no fim desta reportagem.

A maior parte dessas palestras tem como tema as perspectivas climáticas para o ano seguinte e as "tendências para os próximos 10 anos". Nas palestras — a maioria disponível no YouTube e vistas pela BBC News Brasil —, Molionfluminense e goiás palpitefato faz previsões para o ano seguinte, útil para que os produtores rurais se planejem para as próximas safras, mas reserva a última parte da palestra para falar sobre como o "aquecimento global é uma fraude" — novamente, uma afirmação sem embasamento científico.

Ele mostra um slide na parte final emfluminense e goiás palpiteapresentaçãofluminense e goiás palpitePowerpoint, com suas palavras finais. O texto da apresentação diz que o clima "varia por causas naturais", e que "eventos extremos sempre ocorreram". Afirma, também: "Aquecimento global é mito. CO2 não controla o clima, não é vilão (…) Reduçãofluminense e goiás palpiteemissões: inútil!"

A patch of deforested land in the Amazon rainforest

Crédito, AFP

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Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),fluminense e goiás palpiteagosto deste ano, o papel da influência humana no aquecimento do planeta é "inequívoco"; no Brasil, a maior causafluminense e goiás palpiteemissõesfluminense e goiás palpitegases do efeito estufa é o desmatamento

Na palestra promovida pela Secretariafluminense e goiás palpiteAgricultura, Pecuária e Aquicultura do governo do Tocantinsfluminense e goiás palpitemaiofluminense e goiás palpite2020, por exemplo, Molion afirmou, contrariando a ciência, que o "aquecimento global é uma farsa, é um mito". "Reduzir emissões como quer esse Acordofluminense e goiás palpiteParisfluminense e goiás palpite2015 é inútil, o Brasil tinha que pular fora porque reduzir emissões não vai causar nenhum benefício para o planeta, para o clima, porque o CO2 não controla o clima", disse, indo contra a esmagadora maioria da produção científica dos últimos anos e aos esforço globalfluminense e goiás palpiteselar acordos para diminuir as emissões dos gasesfluminense e goiás palpiteefeito estufa.

A secretaria disse que o convidou, ao ladofluminense e goiás palpiteoutros palestrantes, para "alinhar o setor agropecuário quanto às diversas correntes existentes e auxiliá-los no seu planejamento e tomadasfluminense e goiás palpitedecisão mais assertivas para seu empreendimento rural".

Depois,fluminense e goiás palpiteoutubrofluminense e goiás palpite2020,fluminense e goiás palpiteum seminário virtual promovido pela Central Campo, uma empresa mineira especializada na vendafluminense e goiás palpiteinsumos agrícolas, Molion fez as mesmas afirmações sobre o CO2 e o Acordofluminense e goiás palpiteParis.

O diretor da empresa, Artur Barros, disse por e-mail à BBC News Brasil que a empresa "sempre soube do posicionamento do professor Molion, que é muito pragmático quanto às questões climáticas" e "o profissional que tem maior assertividade nas previsões". "A Central Campo, assim como grande parte dos produtores atendidos pela empresa, está muito alinhada ao posicionamento do professor Molion".

À BBC News Brasil, Molion afirmou: "Procuro usar minhas palestras para o agronegócio, que não são poucas, para no terceiro bloco falar sobre as mudanças climáticas e a farsa do CO2 como controlador do clima global. Faço um diagnóstico local, previsão para safra e depois falo sobre a tendência do clima dos próximos dez, 15 anos, que éfluminense e goiás palpiteresfriamento."

Segundo Molion, ele dá 50 palestras por ano, "a grande maioria, 80%, 85% para o agronegócio", cobrando R$ 4 mil por cada uma. Barros, da Central Campo, afirmou que foi este o valor que pagou pela palestra do professor.

O meteorologista diz que não se incomodafluminense e goiás palpiteser chamadofluminense e goiás palpite"negacionista", embora, ressalte, nunca tenha negado que houve aquecimento no planetafluminense e goiás palpiteum período específico no passado. "Eu levo o que acho que está correto, pode ser que daqui a alguns anos me provem que estou errado e vou reconhecer isto. Não sou paraquedista. Eu tenho visão muito crítica do clima local e global graças ao meu treinamento."

Um dos seminários mais recentesfluminense e goiás palpiteque participou teve também a presençafluminense e goiás palpitemembros do governo Bolsonaro: o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministrofluminense e goiás palpiteInfraestrutura, Tarcisio Freitas. Foi um seminário virtual sobre a Amazôniafluminense e goiás palpiteagosto deste ano organizado pelo Instituto General Villas Bôas, ONG do ex-comandante do Exército.

Contrariando o consenso da comunidade científica sobre as mudanças climáticas, Molion defendeu que o clima global varia naturalmente, sem influência da ação humana, e apresentou um slidefluminense e goiás palpiteque dizia que o efeito-estufa, "como descrito pelo IPCC, é questionável". Antesfluminense e goiás palpitepassar a palavra para o ministro Freitas, afirmou: "CO2 não é vilão, quanto mais CO2 tiver na atmosfera, melhor".

Mourão fala, com bandeira do Brasil ao fundo

Crédito, Adnilton Farias/Palácio do Planalto

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Vice-presidente Hamilton Mourão participoufluminense e goiás palpiteseminário sobre a Amazônia que teve a participação do professor Luiz Carlos Molion;fluminense e goiás palpiteassessoria disse que ele se baseiafluminense e goiás palpite'dados científicos para emissãofluminense e goiás palpitesuas ideias e opiniões'

A BBC News Brasil procurou a vice-presidência questionando por que Mourão aceitou participarfluminense e goiás palpiteum seminário ao ladofluminense e goiás palpiteum professor que nega que a ação do homem esteja contribuindo para o aquecimento global. Sua assessoria disse apenas que Mourão participou do evento a convite do Instituto General Villas Bôas e que "baseia-sefluminense e goiás palpitedados científicos para emissãofluminense e goiás palpitesuas ideias e opiniões".

A assessoria do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, afirmou que ele participou do seminário após convite feito pelo próprio general Villas Boas. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, foi inicialmente anunciada como um dos nomesfluminense e goiás palpiteministros que participariam do seminário, masfluminense e goiás palpiteassessoria informou que ela não participaria do evento, sem responder por que desistiu.

Negacionismo climático no Brasil

A genealogia do negacionismo climático no Brasil começa nos anos 2000, quando a imprensa "dava pesos iguais para argumentos com pesos totalmente diferentes", avalia o sociólogo Jean Miguel, pesquisador associado da Unifesp que estuda o tema. O debate sobre o assunto no Brasil se deu principalmente a partir do documentário americano Uma Verdade Inconveniente (2006), sobre a campanha do ex-vice-presidente americano Al Gore a respeito do aquecimento global.

Enquanto isso, um grupo pequenofluminense e goiás palpitenegacionistas na academia brasileira, incluindo Felicio e Molion, se pronunciavam publicamente sobre o tema. Para Miguel, eles são "verdadeiros mercadores da dúvida, trabalhando para destacar lacunas que toda ciência possui e amplificar incertezas".

"[E quem os ouviu no Brasil] foi parte do agronegócio interessado na desregulamentação florestal", responde Miguel.

Hoje, "as palestras fazem massagem no ego do produtor rural e criam a mentalidadefluminense e goiás palpiteque esses gruposfluminense e goiás palpiteagronegócio estão sendo injustiçados enquanto estão contribuindo para o PIB nacional", diz o pesquisador.

Não significa que todos os produtores rurais sejam negacionistas. "A briga hoje é entre dois lados: o setorfluminense e goiás palpiteagroexportação, que está maisfluminense e goiás palpitecontato com compradores internacionais, portanto mais pressionado pela questão reputacional, e que faz investimentos a longo prazo, pensando na questão produtiva na próxima década, não na próxima safra", diz Raoni Rajão, professorfluminense e goiás palpitegestão ambiental na Universidade Federalfluminense e goiás palpiteMinas Gerais (UFMG).

"Outro lado do setor são os produtores, mais politizados e fortes apoiadoresfluminense e goiás palpiteBolsonaro e todafluminense e goiás palpiteagenda. Elesfluminense e goiás palpitecerta forma compram esse discurso que toda a narrativafluminense e goiás palpitemudança climática é algo para poder impedir o desenvolvimento do Brasil."

Apesarfluminense e goiás palpitenão começar no governo Bolsonaro, o negacionismo "encontra terreno fértil para proliferar" emfluminense e goiás palpitegestão, avalia Miguel, citando algumas ações do governo atual, como o fechamento da secretaria responsável por elaborar políticas públicas sobre as mudanças climáticas, no início da gestão Bolsonaro (ela foi reabertafluminense e goiás palpitemeio a críticas no ano seguinte) e a desistênciafluminense e goiás palpitesediara COP-25 que ocorreria no Brasilfluminense e goiás palpitenovembrofluminense e goiás palpite2019. Emfluminense e goiás palpitecampanha,fluminense e goiás palpite2018, Bolsonaro também prometeu acabar com o que chamavafluminense e goiás palpite"indústria das multas" ambientais.

O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que ficou no cargo do começo do governo Bolsonaro até marçofluminense e goiás palpite2021, chegou a colocarfluminense e goiás palpitedúvida que as mudanças climáticas seriam causadas pela ação humana, na contramão do consenso científico.

Jair Bolsonaro

Crédito, EPA/Joedson Alves

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Para sociólogo, negacionismo climático no Brasil não começou no governo Bolsonaro, mas encontrou 'terreno fértil para proliferar' emfluminense e goiás palpitegestão

"Eles estão altamente informados pelo negacionismo climático. Mesmo que não digam que é uma fraude,fluminense e goiás palpiteuma maneira interna vão criando as possibilidadefluminense e goiás palpitesabotar a ciência e as políticas climáticas nacionais, com formas práticasfluminense e goiás palpitenegacionismo climático", afirma Miguel.

Reportagem recente da BBC News Brasil mostrou que o governo Bolsonaro cortoufluminense e goiás palpite93% os gastos para estudos e projetosfluminense e goiás palpitemitigação e adaptação às mudanças climáticas nos três primeiros anos dafluminense e goiás palpitegestão quando comparado com os três anos anteriores.

Desmatamento

Mas ações práticas terãofluminense e goiás palpiteser adotadas para que o Brasil cumpra as metas anunciadas pelo governo durante a COP-26: zerar o desmatamento ilegal no país até 2028, reduzir as emissõesfluminense e goiás palpitegases do efeito estufafluminense e goiás palpite50% até 2030 e atingir a neutralidadefluminense e goiás palpitecarbono até 2050.

O desmatamento, causado pela expansão da agricultura e da pecuária, é responsável pela maior emissãofluminense e goiás palpiteCO2 no Brasil.

Só entre agostofluminense e goiás palpite2019 e julhofluminense e goiás palpite2020, uma áreafluminense e goiás palpite10.851 km2 — mais ou menos metade da área do Estadofluminense e goiás palpiteSergipe — foi desmatada na Amazônia Legal, segundo dados do sistema Prodes, do Instituto Nacionalfluminense e goiás palpitePesquisas Espaciais (INPE). O valor representou um aumentofluminense e goiás palpite7,13%fluminense e goiás palpiterelação ao ano anterior.

Esse crescimento teve um claro reflexo nas emissõesfluminense e goiás palpitegases poluentes pelo Brasilfluminense e goiás palpite2020. Houve um aumentofluminense e goiás palpite9,5%, segundo dados do Sistemafluminense e goiás palpiteEstimativasfluminense e goiás palpiteEmissõesfluminense e goiás palpiteGasesfluminense e goiás palpiteEfeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, principalmente por mudanças no uso da terra e floresta, que inclui o desmatamento, e a agropecuária. O aumento aconteceu na contramão do mundo que, parado por conta da pandemiafluminense e goiás palpitecovid-19, diminuiu as emissõesfluminense e goiás palpite7%.

Madeiras

Crédito, Adriano Machado/Reuters

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Só entre agostofluminense e goiás palpite2019 e julhofluminense e goiás palpite2020, uma áreafluminense e goiás palpite10.851 km2 - mais ou menos metade da área do Estadofluminense e goiás palpiteSergipe - foi desmatada na Amazônia Legal

Para Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, a boa notícia é que, se o Brasil conseguir controlar o desmatamento, "as emissões cairão muito rapidamente". "Se controlarmos o desmatamento, não há país no mundo que vai ter emissões menores proporcionalmente do que temos no Brasil, então acho que é uma oportunidade. Teremos um resultado incrível para o Brasil e para o planeta."

Apesarfluminense e goiás palpitepertencer ao setor responsável pela maior partefluminense e goiás palpiteemissõesfluminense e goiás palpitegases do efeito estufa no Brasil, parte dos ruralistas diz acreditar ser injustamente acusada por ambientalistas.

As palestras do meteorologista Felicio no Mato Grosso,fluminense e goiás palpite2019, "foram bem numa épocafluminense e goiás palpiteque era moda dizer que o agricultor era quem estava acabando com o mundo", diz o produtor rural Artemio Antonini, presidente do sindicato ruralfluminense e goiás palpiteNova Xavantina, no Mato Grosso. Também céticofluminense e goiás palpiterelação às mudanças climáticas, Antonini ajudou a organizar a palestrafluminense e goiás palpiteFelicio na região.

Na opiniãofluminense e goiás palpiteRajão, da UFMG, "o agro como um todo toma as dores e se sente ofendido quando se falafluminense e goiás palpitedesmatamento". "A reação é negar o desmatamento e a existência das mudanças climáticas."

"Tomar as dores" porque,fluminense e goiás palpitefato, quem desmata primariamente não é produtor rural. Uma área desmatada começa com uma ondafluminense e goiás palpiteespeculadores - quem demarca a terra e serra dali a vegetação depois quem tenta regularizar a área -,fluminense e goiás palpiteseguida vem o pecuarista e depois vem o agricultor, explica Rajão. "Por isso que quando dizem que não estão envolvidos com o desmatamento, é verdade, boa parte deles não está. Mas se beneficiamfluminense e goiás palpiteum fornecimentofluminense e goiás palpiteterra barata, que vemfluminense e goiás palpitetodo o processofluminense e goiás palpitedesmatamento ilegal que às vezes aconteceu 10 anos antes."

A ilegalidade é bastante concentrada. O estudo "As maçãs podres do agronegócio brasileiro",fluminense e goiás palpiteRajão e outros pesquisadores, mostrou que maisfluminense e goiás palpite90% dos produtores na Amazônia e no Cerrado não praticaram desmatamento ilegal após 2008. Além disso, apenas 2% das propriedades nessas regiões eram responsáveis por 62%fluminense e goiás palpitetodo desmatamento potencialmente ilegal. O trabalho foi publicado na revista Science no ano passado.

'Agrosuicídio'

O agricultorfluminense e goiás palpitesoja Ilson Redivo também esteve na plateiafluminense e goiás palpiteuma das palestras que o professor Ricardo Felicio deufluminense e goiás palpite2019, no municípiofluminense e goiás palpiteSinop, norte do Mato Grosso.

Redivo migrou do Paraná para Sinopfluminense e goiás palpite1988, inicialmente trabalhando, como a maioria dos migrantes, no setor madeireiro. "Era um grande polo madeireiro, e era o que dava retorno na época", diz. Hoje, ele possui uma fazendafluminense e goiás palpite4200 hectaresfluminense e goiás palpitemilho e soja na região, e é presidente do Sindicato Rural da cidade.

Ele diz ter gostado da palestrafluminense e goiás palpiteFelicio. Como ele, o produtor rural também rejeita a ciência estabelecida sobre o aquecimento global. Ele diz que é uma "narrativa econômica", não ambiental, criada para conter o desenvolvimento do Brasil.

"Eu estou há trinta anos aqui, foi desmatado um monte e o clima continua da mesma forma, tá certo? Não houve alteração climática", diz Redivo à BBC News Brasil.

Ecoando argumentos já usados por Bolsonaro, o agricultor diz que o Brasil é "um exemplo para o mundofluminense e goiás palpitepreservação ambiental". "O produtor brasileiro é o cara que mais preserva."

O argumento é repetido por outros produtores rurais. "Ninguém fala que o agricultor está deixando 80% e só usando 20% da área para produzir", reclama o produtor rural Antonini.

Gadofluminense e goiás palpitearea desmatada

Crédito, Reuters

Legenda da foto,

Durante a COP-26,fluminense e goiás palpiteGlasgow, Brasil prometeu zerar o desmatamento ilegal no país até 2028

Eles se referem à Reserva Legal, um dispositivo criado no Código Florestal Brasileiro que obriga os proprietáriosfluminense e goiás palpiteterras na Amazônia a preservar 80% da floresta nativa (no Cerrado, o valor éfluminense e goiás palpite35%;fluminense e goiás palpiteoutros biomas, 20%), algo que beneficia o próprio agronegócio, por meio dos serviços ambientais prestados pela floresta. Muitos agricultores acham isso injusto. Mas, na prática, nem todos respeitam essa exigência.

A pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) Ritaumaria Pereira conduziu entrevistas com 131 criadoresfluminense e goiás palpitegado no Paráfluminense e goiás palpite2013 e 2014 e descobriu que maisfluminense e goiás palpite95% deles declararam preservar menos do que a quantidade exigida. Segundo ela, argumentam que, quando chegaram, a terra já estava nua, ou que no passado tinham o estímulo para desmatar, ou que não tinham recursos para regenerar 80%.

Para Pereira, da Imazon, para que o Brasil consiga cumprir as metas anunciadas durante a COP-26, será preciso investirfluminense e goiás palpitefiscalização na Amazônia, fortalecendo órgãos como o Ibama e o ICMBio.

Também será preciso combater o discurso do negacionismo climático. A mensagem transmitida a produtores rurais, diz ela, legitima o desmatamento, e "traz mais pessoas para esse pensamento, para que, num futuro próximo, validem assim tudo o que já desmataram".

Para Rajão, da UFMG, é uma narrativa "que no curto prazo é confortante, mas no longo prazo contribui para o chamado 'agrosuicídio'".

Línea

Posicionamentosfluminense e goiás palpiteempresas que convidaram professores para palestras

fluminense e goiás palpite Cooperativa Agrícolafluminense e goiás palpiteUnaí (Coagril)

A Cooperativa Agrícolafluminense e goiás palpiteUnaí Ltda (Coagril) diz "ter contratado o professor Molion no intuitofluminense e goiás palpiteobter informações acerca do regimefluminense e goiás palpitechuvas para a regiãofluminense e goiás palpitesua atuação, visando ao planejamento estratégico dos seus negócios efluminense e goiás palpiteseus cooperado".

fluminense e goiás palpite Associação Avícolafluminense e goiás palpitePernambuco

"A AVIPE reforça seu caráter plural onde preza pela diversidadefluminense e goiás palpiteideias onde o debatefluminense e goiás palpitetodos os pontosfluminense e goiás palpitevista precisa ser exaurido constantemente com o intuito da busca eternafluminense e goiás palpiteuma conclusão contingente sobre quaisquer assuntos. (…) Como associação, não nos cabe acreditar ou não se os fatos humanos causam mudanças climáticas, pois nosso papel não éfluminense e goiás palpitecredo, mas simfluminense e goiás palpiteapoiar o debate científico por aqueles que se dedicam toda uma vidafluminense e goiás palpitepesquisa. Não condiz com nossos princípios, condutas e valores, selecionar uma parcelafluminense e goiás palpiteopiniões do mundo científico para apoiar determinada conclusão com fins casuísticos ou individuais. Aspectos financeiros são reservados apenas aos nossos associados."

fluminense e goiás palpite Associaçãofluminense e goiás palpiteEngenheiros e Arquitetosfluminense e goiás palpiteItanhaém, com o patrocínio oficial do Conselho Regionalfluminense e goiás palpiteEngenharia e Agronomiafluminense e goiás palpiteSão Paulo

A Associaçãofluminense e goiás palpiteEngenheiros e Arquitetosfluminense e goiás palpiteItanhaém recebeu o pedido da BBC News Brasil por e-mail e WhatsApp, mas não respondeu.

O Crea-SP respondeu que "tem como missão legal o aperfeiçoamento técnico e cultural dos profissionais da área tecnológica, conforme a Lei 5.194".

"Os eventos com essa finalidade, realizados pelas associações, sãofluminense e goiás palpiteresponsabilidadefluminense e goiás palpiteseus idealizadores e não necessariamente representam a posição do Crea-SP.

O Conselho reforça ainda que acreditafluminense e goiás palpitemudanças climáticas causadas pelas ações humanas e, como formafluminense e goiás palpiteapoiar medidas para combatê-las, é signatário dos 17 Objetivosfluminense e goiás palpiteDesenvolvimento Sustentável da ONU."

fluminense e goiás palpite Cooperativafluminense e goiás palpitecafé Cooabriel

Recebeu o pedido da BBC News Brasil por e-mail, mas não respondeu.

fluminense e goiás palpite Sindicato ruralfluminense e goiás palpiteCanarana

O presidente do sindicato, Alex Wisch, respondeu, por mensagem via WhatsApp: "Propomos que vocês indiquem um cientistafluminense e goiás palpitemesmo nível acadêmico do Prof. Molion para que todos possam ter conhecimento da verdade científica sobre esse tema. Podemos colaborar financeiramente com esse evento e inclusive sediar o evento."

fluminense e goiás palpite Institutofluminense e goiás palpiteCiências Agrárias da Universidade Federalfluminense e goiás palpiteMinas Gerais (UFMG)

Por telefone, o vice-diretor do Institutofluminense e goiás palpiteCiências Agrárias da UFMG, Helder Augusto, afirmou: "Na universidade, há diversidadefluminense e goiás palpiteideias e contrapontos. Não é um posicionamento da UFMG. É um pontofluminense e goiás palpitevista dele, é uma fala relativa. A pessoa veio, fez palestra e pode falar o que bem entender porque é um ambiente público. A universidade não paga palestra para ninguém."

fluminense e goiás palpite Universidade Federal da Paraíba

"O evento foi realizado no auditório do Centrofluminense e goiás palpiteTecnologia da UFPB, organizado no âmbito do Departamentofluminense e goiás palpiteEngenharia Mecânica, que aproveitou que o palestrante já estavafluminense e goiás palpiteJoão Pessoa (PB) e o convidou para ministrar palestra na UFPB, portanto, neste casofluminense e goiás palpiteparticular, sem ônus para a UFPB.

A iniciativafluminense e goiás palpiteconvidar o pesquisador para ministrar palestra sobre seus estudos não se confunde com a visão, missão e valores da UFPB, entre os quais destaca-se o caráter público e autônomo da Universidade.

A UFPB defende o papel da academia e apoia a ciência e a pesquisa, o conhecimento gerado a partirfluminense e goiás palpitemétodos científicos, no intuitofluminense e goiás palpiteencontrar soluções para desafiosfluminense e goiás palpitetodas as áreas e geraçãofluminense e goiás palpitebenefícios para a sociedade. Por meio da ciência, as teorias são constantemente testadas, visandofluminense e goiás palpitecomprovação ou substituição por outra teoria que resista à checagem. Não compete à Universidade aplicar censura prévia à ciência."

Línea

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