Brasil entraráknec cbettemporadaknec cbetqueimadas sem plano para a Amazônia:knec cbet

  • André Shalders - @andreshalders
  • Da BBC News Brasilknec cbetBrasília
Sombraknec cbethelicóptero sobre a Amazônia

Crédito, Getty Images

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Na Amazônia brasileira, maioria das queimadas costuma acontecer nos mesesknec cbetagosto e setembro

knec cbet O Brasil caminha para entrar na épocaknec cbetmaior desmatamento e queimadas na Amazônia sem um plano para conter a degradação da floresta.

A destruição na porção brasileira do bioma costuma aumentar na época que vaiknec cbetjunho a setembro ou outubro, pois são os meses mais secos do ano na região.

E os indicadores já disponíveis mostram que 2020 pode ser ainda piorknec cbettermosknec cbetderrubada da vegetação eknec cbetqueimadas do que foi 2019.

Dados do Instituto Nacionalknec cbetPesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o mêsknec cbetjunho deste ano registrou 2.248 focosknec cbetincêndio na Amazônia — é o maior número desde 2007. É também um aumentoknec cbet19,5%knec cbetrelação ao mesmo mês do ano passado, quando foram registrados 1.880 focos.

Outra medição do Inpe registrou recordeknec cbetderrubada da floresta jáknec cbetmaio: foram 829 quilômetros quadradosknec cbetmata perdidos. É quase o tamanho da área urbanaknec cbetBrasília, e o maior número dos últimos cinco anos.

O númeroknec cbetmaio também representa um crescimentoknec cbet12%knec cbetrelação ao mesmo mês do ano passado. Os dados sãoknec cbetum sistema do Inpe chamado Detecção do Desmatamentoknec cbetTempo Real (Deter).

'Rascunho tímido'

No governo federal, a responsabilidadeknec cbetdesenhar um plano para combater a destruição da floresta ficou com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.

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A proposta é chamada nos corredoresknec cbetBrasíliaknec cbetPlanoknec cbetCombate ao Desmatamento Ilegal, e deveria ser apresentadaknec cbetmeadosknec cbetjunho — mas, até agora, o plano não apareceu. O projeto deve nortear as ações na Amazônia até o anoknec cbet2023.

A BBC News Brasil entrouknec cbetcontato com a vice-presidência para esclarecimentos, mas não houve resposta.

A ideia é que o projetoknec cbetMourão substitua o Planoknec cbetPrevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia, o PPCDAm. A última fase deste plano, criadoknec cbet2004, se encerra formalmenteknec cbet2020. Na prática, porém, o PPCDAm foi abandonado na gestão do atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

O deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP) é o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso. Ele esteve com Mourão na quarta-feira (24), e conta que o vice-presidente se mostrou preocupado com o início do períodoknec cbetqueimadas — sem, no entanto, apresentar datas ou informações mais concretas sobre o plano para a Amazônia.

"O governo tem o rascunhoknec cbetum planoknec cbetcombate ao desmatamento, mas que é muito tímido perto do que precisa para enfrentar um problema. A gente deixou isso claro para ele, e ele (Mourão) até fez um mea culpaknec cbetrelação às medidas que o governo vem tomando até aqui", diz Agostinho à BBC News Brasil.

Índios na Amazônia

Crédito, EPA

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Especialistas dizem ser fundamental que haja um planejamento para enfrentar o desmatamento na região nos próximos meses

"O que deu para perceber é que ele tem uma estrutura muito pequena lá, que é a da vice-presidência. Botar o Conselho (da Amazônia, presidido por Mourão) para funcionar é tranquilo, porque dá para fazer por videoconferência. Mas para elaborar um plano detalhado, a estrutura dele parece pequena", diz Agostinho.

"Quer dizer, o governo não divulgou até agora um plano concreto; e deixouknec cbetlado o PPCDAm, que foi construído por especialistas", afirma ele.

A pressão sobre o governo brasileiro neste assunto tem crescido nos últimos dias.

Na semana passada, um grupoknec cbet29 fundosknec cbetinvestimentos enviou uma carta a sete embaixadas brasileirasknec cbetpaíses europeus, no Japão e nos Estados Unidos. Eles pediam encontros com representantes do governo brasileiro para discutir o aumento da devastação na floresta.

Juntos, estes fundos somam US$ 4,1 trilhões — maisknec cbetduas vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado (US$ 1,8 trilhão).

Na estação seca do ano passado, o Brasil ganhou as manchetes do mundo por conta do aumento da destruição da floresta. Depoisknec cbetdados do Inpe mostrarem o aumento da devastação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu o físico Ricardo Galvão, que dirigia o órgãoknec cbetpesquisa, aumentando a repercussão do assunto.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a situação deste ano pode ser ainda pior que aknec cbet2019. Ter um planejamento claro para enfrentar a temporada seca na Amazônia é fundamental para evitar uma devastação ainda maior, dizem eles.

Ações com o Exército não tem sido eficazes, diz especialista

O climatologista Carlos Nobre explica que o desmatamento na Amazônia oscila dependendo da região:knec cbetlugares acima da linha do Equador, como Colômbia, Venezuela e no Estado brasileiroknec cbetRoraima, a derrubada tende a acontecer nos mesesknec cbetdezembro a março — a época seca do hemisfério norte.

Soldado sobrevoa a Amazônia

Crédito, EPA

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Presença do Exército conteve queimadas, mas não o desmatamento, diz pesquisador

"Mas, quando você está ao sul (da linha do Equador), onde está a maior parte da Amazônia brasileira, o desmatamento ocorre mais durante a estação seca daqui. Que é agora: julho, agosto, setembro, e vai até o começoknec cbetoutubro", diz ele, que é doutorknec cbetmeteorologia pelo Institutoknec cbetTecnologiaknec cbetMassachusetts (MIT) e já integrou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Na Amazônia brasileira, diz Nobre, maioria das queimadas costuma acontecer nos mesesknec cbetagosto e setembro.

"A dinâmica principal é sempre assim: corta-se a floresta antes do período seco; espera a floresta secar durante uns dois meses, às vezes até três (...). Porque, se você tentar botar fogo no dia seguinte ao que queimou a floresta, está tudo tão úmido que não pega fogo. E aí abre-se o espaço para, na hora que começa a estação chuvosa, plantar grama e fazer a pastagem. E, no começo do ano seguinte, começa a trazer o gado", diz ele à BBC News Brasil.

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knec cbet Quer saber mais? Leia nosso especial sobre o desmatamento na Amazônia:

Leia a primeira parte: "A grande mentira verde"
Leia a segunda parte: "O que ameaça a Amazônia"
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Segundo Nobre, a derrubadaknec cbetárvores também se intensificaknec cbetmeados do ano — e também é quando o Ibama e os órgãos estaduaisknec cbetmeio ambiente deveriam ir a campo realizar ações contra os desmatadores.

"O que me preocupa muito é que o Exército chegou lá na primeira semanaknec cbetmaio, com milharesknec cbethomens, e não estamos vendo até agora, até os últimos dados, o sucesso dessas operações anti-desmatamento. O desmatamentoknec cbetmaio (de 2020) foi maior que oknec cbetmaioknec cbet2019; e oknec cbetjunho (de 2020) será maior que oknec cbetjunhoknec cbet2019, ao se confirmar a tendência. Então, não há como perceber efetividade, pelo menos até agora", diz o cientista.

Paulo Moutinho é doutorknec cbetEcologia e pesquisador do Institutoknec cbetPesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Segundo ele, este ano pode ser "desastroso" do pontoknec cbetvista das queimadas, se a União e os governos locais não agiremknec cbetforma coordenada e com inteligência.

"Nós tivemos, no ano passado, um aumento bastante expressivo do desmatamento. E a ida do Exército (para a região amazônica)knec cbetagosto do ano passado acabou tendo um efeito positivoknec cbetreduzir o númeroknec cbetqueimadas (...). Houve um arrefecimento, mas não uma correspondente redução do desmatamento, que continuou subindo. Então, o que temos agora é uma área que ano passado foi derrubada, e que por uma ação do Exército e do Ibama não foi queimada, e que pode queimar este ano", explica ele.

"Então esse cenário, se confirmado, é muito pior do que no ano passado", diz Moutinho. A quantidadeknec cbetfloresta pronta para queimar este ano pode chegar ao dobro do ano passado, diz ele.

"Nós calculamosknec cbet4,5 mil quilômetros quadradosknec cbetfloresta derrubada e não queimada. Se a gente soma com o que foi derrubado até agora (este ano), com mês a mês batendo recorde, podemos chegar ao fim do ano com no mínimo 9 mil quilômetros quadradosknec cbetfloresta derrubada e pronta para queimar. E isso num ano (2020) bem mais seco que o ano passado", diz o pesquisador.

O que pode ser feito? E o que já funcionou no passado?

Segundo os especialistas consultados pela BBC News Brasil, é fundamental que exista um planejamento para enfrentar o desmatamento nos próximos meses.

A médio prazo, o país também poderia recuperar aspectosknec cbetplanos anteriores como o PPCDAm, que foram efetivosknec cbetdiminuir o desmatamento.

Retrato do vice-presidente da República, Hamilton Mourão

Crédito, Reuters

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A responsabilidade por planoknec cbetcombate à destruição da floresta ficou com do vice-presidente, Hamilton Mourão

"No curtíssimo prazo, é apresentar um plano estruturado para coibir o desmatamento e as queimadas nos próximos quatro, cinco meses. Esse plano, que até agora não veio à tona, nem pelo Conselho da Amazônia e nem pelos Estados, ele é crucial. Um plano desses tem que mostrar onde tem maior riscoknec cbetqueimada; qual o tamanho das áreas; e calcular o tamanho das equipes que vão atuar", diz Paulo Moutinho, do Ipam.

"Sem essa ação planejada e estratégica, não adianta mandar as tropas para a fronteira ou para áreas remotas onde você não tem um riscoknec cbetincêndio, ouknec cbetdesmatamento ilegal", diz Moutinho.

Moutinho diz ainda que, no longo prazo, é preciso um planejamento para desenvolver a região sem a necessidadeknec cbetdesmatar. O pesquisador do Ipam diz que há precedentes — como o períodoknec cbet2005 a 2012 — nos quais a produção agrícola e pecuária da Amazônia cresceu enquanto o desmatamento caía.

"Sem isso, vai ser muito difícil. A gente vai ficar assistindo a isso todo ano, nesta época. Uma quantidade enormeknec cbetfogo, e o governo tratando dissoknec cbetforma emergencial", diz ele.

O períodoknec cbet2005 a 2012 foi justamente o auge da aplicação do PPCDAm.

"Essa foi uma experiência (o PPCDAm) exitosa e reconhecida internacionalmente. Ela tinha vários pilares, mas o que o tornou único foi o nívelknec cbetarticulação entre os diferentes setores. Não só do governo, mas também do setor privado e da sociedade civil organizada. Todos os setores dialogavam muito nesta época, que não é algo que estamos vendo acontecer agora", diz o geólogo Carlos Souza Jr., pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e doutorknec cbetGeografia pela Universidade da Califórniaknec cbetSanta Barbara.

"A outra coisa era a transparência. Você tinha metas e, depois da implementação do plano, tinha prestaçãoknec cbetcontas. E esse processo era muito transparente e aberto à sociedade, o que permitia ajustes", conta ele.

"O Brasil chegou a 2012 com um nívelknec cbetdesmatamento muito baixo,knec cbetrelação a 2004. Foi uma queda expressiva, mas frutoknec cbetmuito esforço. Um esforço continuado", diz Carlos Souza Jr.

A especialidadeknec cbetCarlos é a áreaknec cbetsensoriamento remoto — isto é, o usoknec cbetimagensknec cbetsatélite para "vigiar" a floresta. Segundo ele, hoje, o monitoramento por satélites é usado apenas para constatar o desmatamento depois que acontece. Ao passo que antes, a ferramenta era usada para guiar as fiscalizações. Este uso dos satélites era a terceira "perna" do PPCDAm.

"Hoje, a Amazônia tem os sistemasknec cbetmonitoramento operacionais só reportando os aumentos (do desmatamento). Então, o monitoramento está aí só para constatar que está havendo aumento. Ao passo que, no passado, essa ferramenta foi usadaknec cbetforma estratégica para concentrar nas áreas críticas, onde tinha focoknec cbetdevastação", diz ele.

O especialista conta ainda que o PPCDAm envolvia uma listaknec cbet"municípios críticos"knec cbetdesmatamento — quem caía nessa lista tinha dificuldades no acesso ao crédito rural e a investimentos privados. Para deixar a lista, era preciso tomar medidas para controlar a destruição da floresta.

"Vários municípios se engajaram no planoknec cbetcontrole do desmatamento para sair dessa lista. A saída não acontecia por negociação política. E sim pela efetividade no controle (da destruição)", diz Carlos Souza Jr.

"O Brasil foi pouco ambicioso. Quando chegamos no patamarknec cbetcinco mil quilômetros quadrados (desmatados ao ano),knec cbet2012, começou-se a festejar, a entrar na zonaknec cbetconforto. Quando justamente ali a gente deveria ter sido mais ambicioso e colocado uma metaknec cbetdesmatamento zero", diz ele à BBC News Brasil.

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