Por que há tantos massacressimulador lotofácilpresos no Norte e Nordeste do Brasil?:simulador lotofácil

Em algum momento da última década, esses dois grupos migraram para o Norte e para o Nordeste, buscando novas oportunidadessimulador lotofácilnegócios. Por algum tempo, eles foram aliados, mas romperam as relaçõessimulador lotofácilmeadossimulador lotofácil2016, iniciando um conflito que se espalhou pelo país.

Altamira

Segundo Roberto Magno Reis Netto, doutorandosimulador lotofácilsegurança pública pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisador do Laboratóriosimulador lotofácilGeografia da Violência e do Crime, o Comando Classe A surgiusimulador lotofácilAltamira recentemente, sob as asas do PCC.

O crescimento econômico e populacionalsimulador lotofácilAltamira, estimulado pela construção da usinasimulador lotofácilBelo Monte, fomentou a atuação das gangues, diz Reis Netto. Para ele, a ofertasimulador lotofácilrios na região também facilita o transportesimulador lotofácildrogas para outros locais.

Os massacres funcionam como estratégia dos grupos criminosos, explica Reis Netto. "Quando a facção está se expandindo, como essasimulador lotofácilAltamira, ela costuma usar as mortessimulador lotofácilpresídios para eliminar momentaneamente líderes rivais, mas tambémsimulador lotofácilforma simbólica, para mostrar força para os rivais", disse.

A região Norte é divida por várias siglas, mais fortemente entre Família do Norte, Comando Vermelho e PCC, embora esse último tenha perdido força nos últimos anos. Elas disputam as vendassimulador lotofácildrogas nas cidades, mas também uma rotasimulador lotofáciltráfico que vem da Colômbia, Peru e Bolívia.

Jásimulador lotofácilEstados do Nordeste, como Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, facções menores também foram criadas, massimulador lotofácilcontraposição aos paulistas.

De acordo com Ítalo lima, do Laboratóriosimulador lotofácilEstudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), esses conflitos ocorrem há maissimulador lotofácil20 anos nos presídiossimulador lotofácilSudeste e Sul. A diferença é que o PCC hoje tem o monopólio do tráficosimulador lotofácildrogas e do controle dos presídios, principalmentesimulador lotofácilSão Paulo. Além disso, a facção paulista evita chamar a atenção por ações violentas.

"Isso se alastrou para os presídiossimulador lotofáciloutras regiões. As facções mais novas precisam passar o medo e fazer publicidadesimulador lotofácilsuas ações por meiosimulador lotofácilvídeos. Estamos acompanhando a consequênciasimulador lotofácilescolhas feitas há décadas, tratar o encarceramento como negócio", afirmou.

Para o pesquisador, os conflitos nas penitenciárias são um reflexo dos problemas brasileiros. Ele diz que há uma grande preocupação com a segurança enquanto outras áreas ficam esquecidas, como saúde, educação e emprego.

"Precisamos resolver o analfabetismo, problemas na educação, moradia, saneamento básico e garantir renda para projetos. Hoje, o Brasil quer resolver problemas históricos eliminando o outro. É necessário reduzir o desemprego na juventude e a evasão escolar para reduzirsimulador lotofácilmaneira estrutural nossos problemas nos presídios", afirmou.

No Pará, comosimulador lotofáciloutros Estados, os presídios estão superlotados e precários. Segundo o Infopen, do Departamento Penitenciário Nacional, o Pará tinha uma taxasimulador lotofácilocupaçãosimulador lotofácilsuas cadeiassimulador lotofácil167%. Em 2016, últimos dados oficiais compilados pelo governo federal, o Pará tinha 14.212 presos para apenas 8.489 vagas. Desse total, 48,3% eram presos provisórios - ou seja, pessoas que ainda não haviam sido julgadas.

A estrutura do próprio presídiosimulador lotofácilAltamira, onde ocorreu o massacresimulador lotofácilsegunda-feira, foi classificada como "péssima"simulador lotofácilum relatório do Conselho Nacionalsimulador lotofácilJustiça. O juiz que realizou a vistoria apontou que a unidade tem capacidade para 163 presos, mas, no momento do massacre, contava com 343 detentos.

"Os presídios do Pará, como no resto do país, são precárias e superlotadas. Nessas cadeias, presos perigosos ficam misturados com presossimulador lotofácilmenores potencial ofensivo", diz Edson Ramos, professor do programasimulador lotofácilpós-graduaçãosimulador lotofácilSegurança Pública da Universidade Federal do Pará. "Você coloca dentrosimulador lotofáciluma mesma cela um cara que praticou um pequeno furto com grandes líderessimulador lotofácilredes criminosas. Então, esse recrutamento (de novos filiados para as facções) fica muito fácil."

Dados da violência

Os recentes ataques nos presídios foram acompanhados por uma explosãosimulador lotofácilhomicídios nas ruas, tanto no Norte como no Nordeste, segundo dados do Atlas da Violência, publicação anual do Institutosimulador lotofácilPesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileirosimulador lotofácilSegurança Pública.

No Nordeste, a taxasimulador lotofácilassassinatos chegou a 48,6 mortes por 100 mil habitantessimulador lotofácil2017, aumentosimulador lotofácil64% entre 2007 e 2017. Já os sete Estados do Norte bateram a marcasimulador lotofácil47 por 100 mil, crescimentosimulador lotofácil75% no mesmo período.

Como comparação, no Sudeste o índice médiosimulador lotofácilhomicídios foisimulador lotofácil19 por 100 mil habitantessimulador lotofácil2017, quedasimulador lotofácil17%simulador lotofácildez anos.

O Atlas da Violência resume o cenário. "Nos últimos anos, enquanto houve uma residual diminuição (da taxasimulador lotofácilhomicídios) nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, observou-se certa estabilidade do índice na região Sul e crescimento acentuado no Norte e no Nordeste."

Por Estado, os números são ainda mais dramáticos. Enquanto São Paulo registra 10,3 homicídios por 100 mil pessoas - a menor taxa do país -, os nordestinos Rio Grande do Norte e Ceará bateram 62,8 e 60,2, respectivamente. Já o Acre (62,2) e o Pará (54,7) despontam como campeõessimulador lotofácilhomicídios no Norte.

Mas por que essa violência cresceu?

"O boom econômico vivido pela região não foi acompanhado por investimentos no treinamento e fortalecimento das polícias e melhorias no sistema prisional. Cidades até então pequenas e pacatas cresceram muito, mas a infraestrutura policial e social não acompanhou", disse Thadeu Brandão, professorsimulador lotofácilsociologia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido,simulador lotofácilentrevista recente à BBC News Brasil.

"Por outro lado, a Justiça não se preocupousimulador lotofácilcombater as grandes redes criminosas. Ficou concentradasimulador lotofácilprender pequenos traficantes, que vão para presídiossimulador lotofácilpéssimas condições. Esses 'aviõezinhos', pequenos delinquentes, acabam sendo cooptados pelas facções e se tornam grande delinquentes", afirmou.

Além do crescimento econômico, as regiões também viveram uma mudança demográfica, que,simulador lotofácilparte, pode explicar o aumento dos homicídios. As populaçõessimulador lotofáciladolescentes e jovens do Norte e do Nordeste são proporcionalmente maiores que as do Sul e do Sudeste - e, no geral, grande parte das vítimassimulador lotofácilhomicídio é composta justamente por pessoas dessa faixa etária.

"Muitos desses jovens, moradoressimulador lotofácilbairros pobres, são excluídos do mercado formal do trabalho e da educação superior", diz Roberto Magno Reis Netto, da UFPA. "Quando eles são presos, são colocadossimulador lotofácillocais mais precários ainda, as prisões. Suas opções ficam ainda mais reduzidas. O crime oferece condições melhores. Acho que o crime é uma escolha, mas esse contexto contribui muito para a entrada dessas pessoas."

Fragmentação do crime

Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC e pesquisadora Núcleosimulador lotofácilEstudos da Violência (NEV) da USP, diz que esses conflitos no Norte e Nordeste ocorrem principalmente por conta da fragmentação das facções na região que se dá com a nacionalização dos grandes grupos do Sudeste.

"Quando esses grupos do Sudeste se nacionalizam, isso produz um arranjosimulador lotofácilcada lugar, que é marcado pelo surgimentosimulador lotofácilgrupos locais. No Norte e Nordeste, eles são muito fragmentados e isso favorece para que eles sejam mais instáveis, o que causa mais riscossimulador lotofácilrebeliões violentas", afirmousimulador lotofácilentrevista à BBC News Brasil.

Ela conta que o PCC surgiu no começo da décadasimulador lotofácil1990, envolveu-sesimulador lotofácilvários conflitos, principalmente com presos que não aceitavam a presença da facção. Para ela, a hegemonia do grupo se consolidou no início dos anos 2000. Desde então, grupos menores não têm capacidadesimulador lotofácilameaçá-los no Estadosimulador lotofácilSão Paulo, o que torna a região imune a esse tiposimulador lotofácilconflito dentro dos presídios.

"Eles tiveram êxitosimulador lotofácilevitar uma fragmentação. Hoje, aqueles que não se encaixam na facção pedem para serem transferidos para presídios conhecidos como 'seguro', com acusadossimulador lotofácilcometer crimes sexuais. Não é possível replicar issosimulador lotofáciloutros Estados porque a fragmentação muito grande", diz Nunes Dias.

Por outro lado, a pesquisadora afirma que, mesmo fragmentados, esses grupos criam uma polarização nos Estados do Norte e Nordeste entre PCC e CV - os maiores do país. Segundo ela, isso começousimulador lotofácil2016, quando as gangues nascidas no Riosimulador lotofácilJaneiro e São Paulo, que atuavam juntos e conviviam nas mesmas prisões, romperam relações.

"Os grupos menores são geralmente aliadossimulador lotofácilum ou outro. Raramente são neutros. Isso acabou polarizando. É aquele paposimulador lotofácil'o inimigo do meu amigo também é meu inimigo'".

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