'Fico pensandosuper sorte betleis enquanto limpo privadas': a advogada que virou faxineirasuper sorte betSão Paulo:super sorte bet

  • Leandro Machado
  • Da BBC Brasilsuper sorte betSão Paulo
Rosana da Silva

Crédito, BBC

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Rosana da Silva exibe um pedidosuper sorte betemprego todos os dias na Vila Mariana, bairro da zona sulsuper sorte betSão Paulo | Foto: Leandro Machado/BBC Brasil

super sorte bet Todos os dias, a advogada Rosana da Silva,super sorte bet54 anos, senta-sesuper sorte betum banquinhosuper sorte betplásticosuper sorte betum cruzamento da zona sulsuper sorte betSão Paulo e levanta uma placasuper sorte betpapelão com um anúncio: "Faxina. Sete horas. R$ 60."

Há quem pare e olhe, curioso. Há quem tire fotos e publique nas redes sociais ou anote o número dela para um serviço futuro.

Mas a trajetóriasuper sorte betRosana é mais complexa do que o pedido públicosuper sorte betemprego: ela era secretária, trabalhou para pagar a faculdadesuper sorte betDireito e formou-se advogada, mas entrousuper sorte betuma derrocada que a levou às ruas e à faxina.

"Quando conto minha história às pessoas que me contratam, a frase que mais ouço é 'não acredito'", diz ela, sentada na esquina. "Ou acham que sou doida, e não existe nada pior do que ser considerada doida", acrescenta.

Fracasso profissional

Ela se formousuper sorte betDireitosuper sorte bet1995 na Unifieo, uma universidade particularsuper sorte betOsasco, na Grande São Paulo. Pagou o curso com seu saláriosuper sorte betsecretária, com a "durezasuper sorte betgente pobre", nas palavras dela. Em seguida, conseguiu seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com a inscrição 139416, número que ela citasuper sorte betcor dez anos depoissuper sorte better abandonado a carreira.

Os primeiros passos como advogada foramsuper sorte betum pequeno escritório que montou com amigos da faculdade. Depois, conseguiu entrarsuper sorte betuma bancasuper sorte betcolegas renomados da áreasuper sorte betDireito bancário, no centro da cidade.

Rosana conta que foi esse trabalho que fez girar a espiral que a levou ao fracasso profissional.

"Nesse escritório, eu sofri assédio moral por parte dos dois donos. Me humilhavam: imagina você ser chamadasuper sorte betburra o tempo todo,super sorte betincompetente,super sorte betdrogada. Foram três anos", afirma. Ela diz que nunca usou entorpecentes.

Fichasuper sorte betRosana da Silva na OAB-SP
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Rosana da Silva está há dez anos sem pagar a anuidade da OAB, o que a impedesuper sorte betretomar a carreira | Foto: Reprodução/OAB-SP

Rosana prefere que os nomes dos dois advogados não sejam citados nesta reportagem. Diz que processou os antigos patrões e que fez representações contra eles na comissãosuper sorte betética da OAB-SP, mas nunca conseguiu vencer os processos.

Ela costuma carregar a papeladasuper sorte betalgumas ações emsuper sorte betmochila - tem medosuper sorte betque eles desapareçam.

Procurada pela reportagem, a OAB-SP afirmou que não comenta casos que corremsuper sorte betsigilo.

Depois da publicação da reportagem, a instituição procurou a BBC Brasil informando que irá incluir Rosanasuper sorte betum programasuper sorte betassistência financeira e médica a advogados que passam por dificuldades.

'Todas as portas fechadas'

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Rosana nasceusuper sorte betItanhaém, no litoral paulista, mas foi criada por parentes, longe dos pais. Sempre viveu praticamente sozinha e só retomou contato com um dos irmãos depois que ele viu uma fotosuper sorte betna internet, há pouco maissuper sorte betum ano.

Ela nunca mais conseguiu um trabalho como advogada depois que saiusuper sorte betseu último escritório. Hoje, acredita que foi perseguida pela OAB, onde seus patrões tinham influência, diz.

Nada que Rosana fazia dava certo - tentou dar aulas, mas também foi demitida. "Em São Paulo, o mundo do Direito é muito pequeno. Você fica conhecida como a pessoa que processou os patrões, suas chances diminuem", conta.

Ela resolveu se mudar para Florianópolis, pois não encontrou emprego nem apoio emsuper sorte betfamília adotiva. "Pensei: será que não estou tornando um problema pequenosuper sorte betalgo muito grande?", conta a advogada, que chegou a passarsuper sorte betpsicólogos para entender porquesuper sorte betcarreira não deslanchava. "Achei que, se eu saíssesuper sorte betSão Paulo, talvez conseguisse me reerguer."

Mas ela não conseguiu. O dinheiro acabou, o aluguel acumulou e Rosana foi viver nas ruas, onde ficou por sete anos.

Começou as faxinas para conseguir comer. "Não sobrou mais nada para mim porque a sociedade fechou todas as portas", diz.

'Morrosuper sorte betfome, mas pago o aluguel'

Rosanasuper sorte betseu quarto alugado
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Rosana precisa fazer dez faxinassuper sorte betR$ 60 para conseguir pagar o aluguel do quarto onde mora, na zona sulsuper sorte betSão Paulo | Foto: Leandro Machado/BBC Brasil

Viver nas ruas não é algosuper sorte betque Rosana se orgulha - ela costuma dizer perdeusuper sorte betcidadania quando deixousuper sorte better um endereço fixo. "Como conseguir um emprego se você diz que tem 54 anos e não morasuper sorte betlugar nenhum? As empresas têm uma cartilhasuper sorte betdesculpas para não te contratar."

Foi por isso que ela criou a placa com o anúncio. Com ela, elimina-se qualquer questionamento sobre seu histórico - Rosana torna-se apenas mais uma pessoasuper sorte betbuscasuper sorte bettrabalho.

Ela cobra R$ 60 por sete horassuper sorte betlimpeza - um preço baixo no centro expandidosuper sorte betSão Paulo. O piso mensal dos trabalhadores domésticos na cidade ésuper sorte betR$ 1.140 por três diassuper sorte bettrabalho semanais, segundo o sindicato da categoria.

Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileirosuper sorte betGeografia e Estatística (IBGE), referentes ao trimestre que compreende os mesessuper sorte betsetembro, outubro e novembrosuper sorte bet2017, o índicesuper sorte betdesemprego no Brasil estásuper sorte bet12% - o que equivale a 12,6 milhõessuper sorte betpessoas.

Rosana precisa fazer ao menos dez faxinas por mês para conseguir pagar o aluguelsuper sorte betum quartinho com cama, fogão e geladeira. Tem meses que não consegue - seu irmão costuma ajudá-la. "Eu morrosuper sorte betfome, mas pago o aluguel. Não volto para a ruasuper sorte betjeito nenhum", diz.

Esse medo se justifica: ela conta já ter enfrentado episódiossuper sorte betassédio e tentativassuper sorte betestupro - uma vez, por exemplo, um homem invadiu a barraca onde dormia com uma arma, conta.

"Na rua, o homem te enxerga como propriedade", afirma. "Ele diz: 'como assim você está nessa situação e não quer nada comigo?' Cara, porque ninguém entende quando uma mulher decide viver sozinha?"

Outra dificuldade é escaparsuper sorte betuma rotinasuper sorte betviolências e dependênciasuper sorte betdrogas vivida por partesuper sorte betoutras pessoas na mesma situação.

Voltar para o Direito

O maior sonhosuper sorte betRosana é voltar a trabalhar como advogada. Mas ela está "suspensa" da OAB-SP porque deve dez anossuper sorte betanuidade - cada ano custa R$ 997,30, dinheiro que a advogada não tem.

"Precisosuper sorte betuma oportunidadesuper sorte bettrabalho, apenas isso", diz, na calçada onde segurasuper sorte betplaca pedindo serviçossuper sorte betfaxina.

"É complicado: fico pensandosuper sorte betleis enquanto limpo privadas."