Pintando os muros do estigma: como a arte mudou a rotinam esportesdasorteum hospital psiquiátrico:m esportesdasorte

Residência artística no hospital Galba Velloso

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Artistasm esportesdasorteação no hospital psiquiátrico Galba Velloso,m esportesdasorteBH; imersãom esportesdasorteuma semana transformou murosm esportesdasorteala feminina

Fazendo acontecer

A iniciativa começou há cercam esportesdasorteum ano, com um convite do hospital ao artista Helder Cavalcante,m esportesdasorte26 anos. A terapeuta ocupacional Cecília Xavier integrava o grupom esportesdasortehumanização da instituição à época e trouxe o artista, ajudando a conceber a residência emm esportesdasortefase inicial.

O desafio era arrecadar o dinheiro necessário à empreitada. Um ano, rifas, doações e uma vaquinha virtual entre parentes depois, havia R$ 5 milm esportesdasortecaixa para sprays, rolos, bandejas e latasm esportesdasortetinta.

Para assumir a tarefa, Cavalcante convidou dez artistasm esportesdasorteruam esportesdasortediferentes gerações. Um dos critériosm esportesdasorteescolha, diz, foi a sensibilidade diante do espaço. "São artistas que trabalham na rua e escutam o espaço, não só intervêm nele."

Priscila Amoni no hospital Galba Velloso

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Muralista Priscila Amoni durante trabalho; conexão e empatia com pacientesm esportesdasortelocal estigmatizado por décadas
Residência artística no hospital Galba Velloso

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Captaçãom esportesdasorterecursos para projeto envolveu rifas, doações e até vaquinha familiar; artistas receberam apenas valor simbólico

Por uma semana, a equipe se dedicou a dar uma nova cara aos paredões do pátio da enfermaria femininam esportesdasortemédia permanência, que acolhe mulheresm esportesdasortesituaçãom esportesdasortecrise. Em esportesdasorteplena interação com as pacientes.

"Elas vinham todas alegres, gritando, falando. Eu refletia sobre isso: elas quase não veem ninguém diferente, e quando veem querem fazer amizade. E conseguimos fazer várias amizades", conta o muralista e ilustrador Thiago Mazza,m esportesdasorte32 anos.

Sintonia

A recepção das pacientes foi bastante positiva, conta a psicóloga Cláudia Apgaua,m esportesdasorte48 anos, gerente assistencial do hospital. "De início já houve o reconhecimentom esportesdasorteque acontecia aqui alguma coisa para o bemm esportesdasortetodos. Elas começaram a pedir papel e telas para pintar, e uma delas fez um desenho inspirado numa obra que via e entregou ao artista."

Helder Cavalcante com pacientes do Galba Velloso

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Coordenador Helder Cavalcante com as pacientes Rosilene, Célia, Vanderleia e Luciana; psicólogas relatam efeitos positivosm esportesdasorteintervenção

A música embalava os trabalhos e ajudava a conectar artistas e pacientes. "Houve um momentom esportesdasorteque a Luciana, paciente reconhecida por um dos artistas 'aquela que canta e gostam esportesdasortemúsica', começou a dançar. Quando vi, o artista dançava com elam esportesdasorteuma coreografia incrivelmente bela - os dois estavamm esportesdasortesintonia", diz Apgaua.

O período médiom esportesdasorteinternação no Galba Velloso ém esportesdasorte20 dias, mas há casosm esportesdasortepessoas que ficam por mais tempo. Pacientes chegamm esportesdasortetodo o Estado, por demanda familiar ou voluntária, encaminhamentos via serviçom esportesdasortesaúde e internação compulsória por determinação judicial.

Cenário do projetom esportesdasortearte, o pátio da enfermaria feminina fica aberto todos os dias, fechando apenas durante o almoço e o jantar. Ali há 23 dos 119 leitos do hospital. A taxa média mensalm esportesdasorteocupação dos leitos sempre supera 90%.

Célia Alves,m esportesdasorte50 anos, é uma das pessoas atendidas. Ela gostam esportesdasortecaminhar pelo pátio e aprovou a mudança. "O pátio ficou todo pintado e os artistas brincam com a gente, tiram fotos e entregam para a gente. Agora temos o que observar, o que achar bonito."

Muro recebe intervenção artísticam esportesdasortehospital psiquiátrico

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Antes e depois: murom esportesdasorte30 metrosm esportesdasorteextensão foi trabalhadom esportesdasorteconjunto por Thiago Mazza, Gabriel Dias e Thiago Alvim

Visão dos artistas

Quem primeiro lançou seus traçosm esportesdasorteum dos muros mais altos do pátio foi a muralista Priscila Amoni,m esportesdasorte32 anos, que pintou uma mulherm esportesdasorteoração. "Ela está com o alecrim na mão, que remete à alegria, e o comigo-ninguém-pode na cabeça, que diz sobre a força da mulher, dessa mulherm esportesdasorteascensão na sociedade."

Amoni, cujo trabalho giram esportesdasortetorno da força feminina, se disse sensibilizada pela nova audiência. "Elas estão atrásm esportesdasorteum muro aqui. Isso me toca muito como mulher, tenho compaixão pela situação delas e aprendo muito."

Pinturam esportesdasortehospital psiquiátricom esportesdasorteBH

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Priscila Amoni no começo do trabalho (à esq.) e uma paciente do hospitalm esportesdasortefrente à obra concluída

As pinturas também ganharam forma na interação entre os artistas. Como no pássaro criadom esportesdasorteum murom esportesdasortequase 30 metrosm esportesdasortelargura e quatrom esportesdasortealtura por Thiago Mazza, Gabriel Dias e Thiago Alvim.

"Cresci no interior e adoro passarinhos. Como o Dias também pinta passarinho, pensamosm esportesdasortecolocar cada umm esportesdasorteuma ponta no mesmo muro, mas não tínhamos nada planejado", conta Mazza.

"O Mazza e o Dias resolveram pintar pássaros, mas (os trabalhos) estavam distantes entre si e minha pintura tem essa característicam esportesdasorteligação. Encontrei um meiom esportesdasorteunir os painéis e matar essa vontadem esportesdasortepintarmos juntos", complementa Alvim,m esportesdasorte28 anos.

Organizador da residência, Helder Cavalcante trabalha dando toques inusitados a pessoas comuns. Criou uma idosa voando com uma mochila tipo jetpack. "Brinquei que pode ser uma fada mais velha com problema na asa, mas que usa a mochila para continuar trabalhando. A imagem é só um pontom esportesdasortepartida para uma viagemm esportesdasortequem observa", explica.

Aparecidam esportesdasortefrente a obra

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, A paciente Aparecidam esportesdasortefrente a uma pinturam esportesdasorteBinho Barreto, concluída durante projetom esportesdasorteresidência artística

A arte nos muros foi pensada para ser vista tambémm esportesdasortefora do hospital - as obras nas partes mais altas são visíveis a quem passa pelas ruas e pela estaçãom esportesdasortemetrô vizinha.

"A possibilidadem esportesdasorteusar o máximo do espaço foi uma insistência minha. Fiz o esboçom esportesdasortedentro (do pátio) e pensei no que seria vistom esportesdasortefora. É disso que se trata, da arte vista como espaço", detalha Helder.

Mudançam esportesdasortepercepção

Para o fotógrafo Fernando Biagioni,m esportesdasorte33 anos, que registrou o processo, conhecer pacientes e perceber o estigma ainda existentem esportesdasorterelação a instituiçõesm esportesdasortesaúde mental foi algo marcante.

"Quando cheguei aqui me surpreendi, porque temos um preconceito formado do que é um hospital psiquiátrico e não é nada do que a gente pensa. Estar aqui para ver isso foi necessário", diz.

Paciente do Galba Velloso

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Para Valéria Silva, há três meses internada no hospital, iniciativa aproximou pacientes

Com três mesesm esportesdasorteinternação, a aposentada Valéria Silva,m esportesdasorte56 anos, disse que a iniciativa aproximou as pacientes. "Esse encontro é um momentom esportesdasortepartilhar o que se sabe e isso é muito bonito."

Ela passa alguns minutos observando as novas paredes para responder sobre as cores que mais chamaramm esportesdasorteatenção. "Laranja porque gosto muitom esportesdasortelaranja. É meu suco predileto. E azul todo mundo gosta: estar no azul, ser o azul, banhar no azul."

Para a diretora do hospital Luzmarina Morelo,m esportesdasorte53 anos, os muros continuam fisicamente no hospital, mas a convivência entre artistas e pacientes mostrou que essas paredes podem ser derrubadas.

Artistasm esportesdasortemuro do hospital Galba Velloso

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, "O muro é, na verdade, um obstáculo que colocamos na relação com outro", afirma diretora do hospital

"O muro é, na verdade, um obstáculo que colocamos na relação com outro. Acho que o muro foi rompido ali, nessa experiênciam esportesdasorteter várias pessoas que não são da área da saúde convivendo com pacientesm esportesdasortecrise", reflete.

A psicóloga Cláudia Apgaua comemora a iniciativa. "Isso é convivência, respeito, deixar o paciente se vincular a pessoasm esportesdasortequem pode confiar. O tratamento se baseia muito nisso, estar com alguém que possa escutar e trazer essa reconexão com o humano que aconteceu aqui."

Paredesm esportesdasortehospital psiquiátrico após intervenções artísticas

Crédito, Fernando Biagioni

Legenda da foto, Muros do Galba Velloso finalizados após semanam esportesdasorteintervenções; arte como formam esportesdasortehumanização