As razões da explosãoblaze girouobesidade no Brasil:blaze girou

  • Taís Seibt
  • De Porto Alegre para a BBC Brasil
Obesidade

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blaze girou A cada cinco brasileiros, um está obeso. Mais da metade da população está acima do peso. O país que até pouco tempo lutava para combater a fome e a desnutrição, agora precisa conter a obesidade. Por que a balança virou?

Indicadores apresentados na segunda-feira pelo Ministério da Saúde mostram que, nos últimos 10 anos, a prevalência da obesidade no Brasil aumentoublaze girou60%, passandoblaze girou11,8%blaze girou2006 para 18,9%blaze girou2016. O excessoblaze giroupeso também subiublaze girou42,6% para 53,8% no período.

Os dados são da Pesquisablaze girouVigilânciablaze girouFatoresblaze girouRisco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), com baseblaze girouentrevistas realizadasblaze giroufevereiro a dezembroblaze girou2016 com 53.210 pessoas maioresblaze girou18 anosblaze giroutodas as capitais brasileiras.

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil atribuem o aumentoblaze giroupeso dos brasileiros a fatores econômicos e culturais, mas também genéticos e hormonais.

Novos padrões alimentares

Refrigerante

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O consumoblaze girourefrigerante caiu no Brasil,blaze girouacordo com o ministério da Saúde

Para o diretor do Centroblaze girouObesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Cláudio Mottin, a tendênciablaze girouaumento da obesidade já vinha sendo verificada antes da pesquisa Vigitel, realizada anualmente desde 2006.

"Talvez um dos fatores mais preponderantes seja a mudança dos hábitos alimentares que se observa desde os anos 1970. Com pouco tempo para comer, as pessoas deixaramblaze giroufazer as refeiçõesblaze giroucasa e passaram a optar por comidas mais rápidas e mais calóricas".

Essa mudançablaze girouhábito também aparece na pesquisa Vigitel: o consumo regularblaze giroufeijão, considerado um alimento básico na dieta do brasileiro, diminuiublaze girou67,5%blaze girou2012 para 61,3%blaze girou2016. E apenas um entre três adultos consomem frutas e hortaliçasblaze giroucinco dias da semana.

Aumento do trabalho e da renda

Arroz e feijão

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Uma dieta diversificada é importante para combater a obesidade, assim como o consumoblaze girouprodutos não industrializados

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O aumento da obesidade coincide com um períodoblaze giroucrescimento do poderblaze giroucompra dos brasileiros, incentivado por políticas econômicas e programasblaze giroudistribuiçãoblaze girourenda.

Segundo uma pesquisa do instituto Data Popular, a renda da classe média, que representa 56% da população, cresceu 71% entre 2005 e 2015, sendo que a renda dos 25% mais pobres foi a que mais aumentou. Assim, a chamada classe C passou a ter acesso a produtos antes restritos à elite. Além disso, ao se inserir no mercadoblaze giroutrabalho, o brasileiro acaba incorporando hábitos menos saudáveis, como os já citados por Mottin.

"Não surpreende o alto índiceblaze girouobesidade na faixa etária entre os 25 e os 44 anos, porque isso corresponde justamente a essas mudanças no estiloblaze girouvida, quando os jovens deixamblaze giroudependerblaze girouseus pais e passam a ter uma rotina mais voltada à carreira profissional", pondera a endocrinologista Marcela Ferrão, pós-graduadablaze girounutrologia e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

A Vigitel mostrou que o excessoblaze giroupeso aumenta significativamente da faixa etária dos 18 aos 24 anos (30,3%) para a dos 25 aos 44 anos (50, 3%). Há uma alta prevalênciablaze girouobesidade nessa faixa etária: 17%. Considera-se obesidade Índiceblaze girouMassa Corporal (IMC) igual ou maior que 30 kg/m2 e excessoblaze giroupeso IMC igual ou maior que 25 kg/m2.

Genética 'gorda'

A questão genética também cumpre um papel relevante para o aumento da população obesa, segundo o médico Cláudio Mottin. Segundo ele, o organismoblaze girounossos antepassados não estava adaptado para a fartura e passaram para nós a genéticablaze girouretençãoblaze giroucalorias.

"Quando os tempos eramblaze girouescassezblaze giroualimentos, quem tinha mais condiçõesblaze giroudefesa corporal eram as pessoas mais gordinhas, porque tinham mais condiçõesblaze girouarmazenamentoblaze girouenergia. No momentoblaze girouque temos alimentos à disposição sem esforço, a genética joga contra", explica o especialista.

Além disso, colabora para a proliferação dessa "genética gorda" também um aspecto cultural, que associava gordura a saúde até recentemente, como aquele discurso da vovó que diz que o neto "está doente se está magrinho".

Noites mal dormidas

Sono

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A vida conectada e acelerada prejudica o sono, que pode afetar o peso

A endocrinologista Marcela Ferrão também atribui a baixa qualidade do sono como um dos fatores para o aumento da obesidade. Segundo ela, a sociedade acelerada e conectada faz com que as pessoas não tenham horário para dormir.

"À noite, a serotonina, que é o hormônio do humor, se converteblaze giroumelatonina, responsável pelo sono reparador. Nesse estágio do sono, as células conseguem mobilizar gordurasblaze girouforma adequada", explica.

Mas não tem sido fácil chegar a esse estágio do sono quando a tensão e o estresse estão cada vez mais intensos, a pessoa não consegue desligar o celular e acorda várias vezes durante a noite.

Isso gera um desequilíbrio hormonal que reduz a capacidade do corpoblaze girouproduzir glicose, a pessoa acorda ainda mais cansada e sente a necessidadeblaze girouconsumir alimentos mais energéticos", conclui Ferrão.

Dieta variada

Um último ponto destacado pelos especialistas para o aumento da obesidade no Brasil é a faltablaze girouacesso a uma dieta diversificada, o que depende menosblaze giroupoder aquisitivo do queblaze giroueducação alimentar.

Nesse sentido, o Guia Alimentar para a População Brasileira se destaca entre as políticas do Ministério da Saúde para enfrentar a obesidade. A publicação oferece recomendações sobre alimentação saudável e consumoblaze giroualimentos in natura ou minimamente processados, mas vai além: coloca a hora da refeição no centroblaze girouuma discussão sobre convivência familiar e gestão do tempo.

"Os alimentos ultraprocessados são muito consumidos pela população jovem porque são práticos. Outro problema é o comportamento alimentar. É muito comum as pessoas comerem rápido, sozinhas e com celular na mão. Estudos mostram que comendo com família ou amigos, a pessoa presta mais atenção no que está comendo", diz a coordenadora-geralblaze girouAlimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Michele Lessablaze girouOliveira.

A Vigitel apresenta um dado positivo sobre o consumo regularblaze girourefrigerante ou suco artificial, que caiublaze girou30,9%blaze girou2007 para 16,5%blaze girou2016. Mas o Ministério da Saúde quer mais. "Nossa meta é reduzirblaze girou30% o consumoblaze girourefrigerante pela população adulta até 2019 e aumentarblaze girou17,8% o consumoblaze giroufrutas e hortaliças", adianta Michele.

Riscos à saúde

Balança
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O aumento da obesidade no Brasil foiblaze girou60% nos últimos dez anos

O crescimento da obesidade é um dos fatores que podem ter colaborado para o aumento da prevalênciablaze giroudiabetes e hipertensão, doenças crônicas não transmissíveis que pioram a condiçãoblaze girouvida do brasileiro e podem até levar à morte.

O diagnóstico médicoblaze giroudiabetes passoublaze girou5,5%blaze girou2006 para 8,9%blaze girou2016 e oblaze girouhipertensãoblaze girou22,5%blaze girou2006 para 25,7%blaze girou2016, conforme a Vigitel. Em ambos os casos, o diagnóstico é mais prevalenteblaze giroumulheres.

"A obesidade é a mãe das doenças metabólicas. Além da diabetes, que apresenta maisblaze girou20 fatoresblaze giroucomorbidade (doenças ou condições associadas), obesos infartam mais e até câncer é mais prevalenteblaze giroupessoas acima do peso", destaca o diretor do Centroblaze girouObesidade da PUCRS, Cláudio Mottin.

O Ministério da Saúde pretende reduzir as taxasblaze giroumortalidade prematurasblaze girou2% ao ano até 2022. Doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas, diabetes e câncer respondem por 74% dos óbitos anuais no Brasil.