Os segredos da região com uma das maiores longevidades do mundo :jogo da memória

A selva é repletajogo da memóriavida e os Bribri usam essa riqueza para tudo, desde a seiva da cânfora como repelentejogo da memóriamosquitos até uma planta que eles mastigam para curar dorjogo da memóriadente.

Para os meus olhos não treinados, os jardins dos Bribri parecem muito similares ao restante da floresta, com diferentes espécies reunidas e borboletas voando entre os galhos. Mas esse caos aparente é pura ilusão.

"É porque você está acostumado a ver fazendas com um só cultivo", explica nosso guia local, Albin. "Nós não praticamos monocultura porque as plantas evoluíram para trabalharjogo da memóriaharmonia. Os legumes colocam nitrogênio no solo e as bananeiras fornecem potássio,jogo da memóriaforma que não precisamosjogo da memóriafertilizantes ou produtos artificiais."

"Cada planta atrai diferentes pássaros,jogo da memóriaforma que existem centenasjogo da memóriaespéciesjogo da memóriaaves por aqui, enquanto você encontra apenas uma dúzia na monocultura", prossegue Albin.

"Cada espécie se alimentajogo da memóriainsetos diferentes. Existem também as jiboias e cobras-coral que matam roedores,jogo da memóriaforma que não precisamosjogo da memóriapesticidas, nemjogo da memóriaarmadilhas", acrescenta.

"E quanto às cobras venenosas?", perguntou Dre.

"Nós matamos as jararacas e surucucus", respondeu Albin. "Nossos jardins ficam perto das nossas aldeias e essas cobras podem ser muito perigosas, especialmente para as crianças curiosas. Ou para os turistas curiosos."

A canoa paroujogo da memóriauma pequena praiajogo da memóriapedras. Duas crianças – um casaljogo da memóriairmãos, observados pelo pai enquanto pescava – riam e gritavam enquanto pulavam no rio.

Eles deixavam a corrente levá-los até um galho suspenso, que eles agarravam para se transportarjogo da memóriavolta para a margem do rio. Depois, elas corriam e repetiam todo o processo.

O ar estava tomado pelo aromajogo da memóriapedras da água do rio e pelo doce e quente perfume das flores e da grama. Enquanto caminhávamosjogo da memóriadireção à aldeia, Albin colhia frutas das árvores, a maioria totalmente desconhecidas para mim.

"Este é jambo-rosa", ele conta, logo pegando outra fruta. "Este é olosapo. E esta é carambola. Eles parecem diferentes dos que você encontra no supermercado porque têm menos cruzamentos."

Ele se aproximoujogo da memóriauma árvore com cercajogo da memóriaseis metrosjogo da memóriaaltura com frutos brotando diretamente do tronco e dos galhos. Eles pareciam bolasjogo da memóriarugby rugosas com o comprimento aproximado da minha mão aberta. A maioria tinha cor amarela ou verde.

"Este é o cacaueiro", explica Albin, acariciando o tronco. "Nosso povo acreditava que era a árvore mais bonita do paraíso e as sementes eram usadas como dinheiro."

Ele colheu um fruto amarelo com manchas laranja e o bateu contra o tronco. O fruto se dividiu ao meio para revelarjogo da memóriapolpa branca e o perfeito mosaicojogo da memóriasementes.

"A polpa é doce", disse ele, enquanto me oferecia uma semente para chupar, "mas a semente é amarga até ser preparada."

Entramosjogo da memóriauma clareirajogo da memóriapalafitas com telhadosjogo da memóriapalha e uma cabanajogo da memóriamadeira branca que parecia um grande aviário. Dentro, havia prateleiras com sementesjogo da memóriacacau, já vermelhas e marrons.

"As sementes são retiradas dos frutos", explica ele, "e deixadas para fermentar por uma semana. É quando o sabor do chocolate se desenvolve, graças às enzimas e aos micro-organismos. Depois, nós as secamos ao sol por cinco dias."

Peguei uma das sementes secas e a mordi. Ela ainda era amarga, mas já tinha o característico saborjogo da memóriachocolate.

Albin colocou um punhadojogo da memóriasementesjogo da memóriauma panela e aqueceu no fogão. Depoisjogo da memóriaalguns minutos, ele quebrou a casca e retirou a parte interna das amêndoas torradas, conhecida como "nib".

O sabor erajogo da memóriachocolate amargo, café suave e castanhas.

As amêndoas torradas foram partidas com uma pedra e agitadas para separar a casca mais leve dos nibs, que são mais pesados. Albin despejou os nibsjogo da memóriaum moedor manual.

Enquanto ele girava a manivela, uma espessa pasta pingava do fundo do moedor. O rico e profundo aromajogo da memóriachocolate amargo passou a dominar a cabana.

Aquilo era manteigajogo da memóriacacau pura, salpicadajogo da memórianibs torrados. Os Bribri secam a pasta e vendem para os turistas. Basta acrescentar leite condensado e surge o melhor chocolate que já comi na vida.

"Foi preciso ter visão para trazer o turismo para esta região", conta Albin. "Mas é a única formajogo da memóriamanter nossa cultura viva."

"Por quê?", perguntei.

"Desde que os europeus chegaram, nós, Bribri, vivemos sob pressão", responde ele.

"Agora, o governo quer construir represas e nos pede para darmos a nossa terra, pelo 'bem do país e por uma enorme compensação'. Mas o nosso povo já deu tudo para os invasores. Aonde eles nos levaram? Tudo o que temos é a nossa terra e as nossas tradições. E o nosso cacau."

"Em alguns anos, a represa será esquecida, mais energia será necessária, novos rios serão represados e a selva será transformadajogo da memóriaplantaçõesjogo da memóriabanana", prossegue ele. "Mas esta aldeia e esta cultura terão desaparecido para sempre."

"O turismo força as pessoas a olhar para nós. E, com a história do nosso cacau, as pessoas aprendem a história do nosso povo."

"É estranho", afirma Albin. "O cacau era importante para os nossos ancestrais. Era uma planta sagrada que nos fortalecia – não só fisicamente, mas espiritualmente. Agora, é uma das razões por que os turistas vêm e pode ser o que nos irá salvar do desenvolvimento."

"O chocolate faz da Costa Rica uma Zona Azul?", pergunta Dre.

"Se for produzido desta forma, o chocolate pode ser um superalimento", responde Albin. "Cheiojogo da memóriaantioxidantes e flavonoides, que reduzem as inflamações. Ele pode ajudar a evitar o câncer e também tem propriedades espirituais esotéricas para o nosso povo."

"Mas uma vida saudável vemjogo da memóriamuitas coisas", prossegue ele. "Comunidade, sensojogo da memóriapropósito, viver ao ar livre, estilojogo da memóriavida ativo. E boa assistência médica, é claro, o que é difícil nestas comunidades remotas."

"Mas, na verdade, nem toda a Costa Rica é uma Zona Azul. Para encontrar a verdadeira Zona Azul, vocês precisam ir para Nicoya."

Naquela noite, enquanto nos deitávamos nas nossas redes acima das árvores, Dre e eu começávamos a planejar a próxima etapa da nossa viagem.

"Eu nunca teria vindo para esta aldeia apenas para passar um feriado", disse ela. "Mas é uma experiência incrível estar neste belo local e aprender pessoalmente sobre a cultura. Fazer perguntas, conhecer pessoas fascinantes... parece um grande privilégio."

Sensojogo da memóriacomunidade e trabalho duro

Nicoya fica no lado oposto à terra dos Bribri,jogo da memóriauma península que avança sobre o Oceano Pacífico.

A cultura Chorotega, nativajogo da memóriaNicoya, tem maisjogo da memóriacomum com os mesoamericanos do México do que com os Bribri da selva, devido à geografia da América Central.

Seu legado mais claro está na alimentação. As estradasjogo da memóriaNicoya são ladeadas por espigasjogo da memóriamilho amarelo e roxo que são secas ao sol, da mesma forma que você encontraria no México.

"A Zona Azul é real", afirma o ceramista tradicional Ezekiel Aguirre Perez, do povo Chorotega, que mora na aldeiajogo da memóriaMutambu.

"Nesta região, as pessoas costumam viver até os 80 ou 90 anos, sem acesso a assistência médica regular. Elas não tomam vitaminas e remédios. Sua própria formajogo da memóriaviver é saudável."

Os pesquisadores da Zona Azul identificaram a importância da alimentação, com ênfasejogo da memóriamuitos alimentos vegetais e baixo consumojogo da memóriacarne.

Em Nicoya, o milho é usado para tudo, desde massas até sopas. Ele é fermentado para produzir bebidas alcoólicas como chicha e chicheme. O milho também é torrado e moído na formajogo da memóriapinol, para fazer uma bebida parecida com leite maltado.

Os Chorotega também têm um forte sensojogo da memóriacomunidade. Toda a cidade se reúne para construir cada uma das novas casas. É um conceito chamadojogo da memóriamano vuelta, ou "trabalho para o benefício coletivo".

"As pessoas procuram truques para viver mais", conta Ezekiel, "mas você não pode viver uma vidajogo da memóriaconsumo e ganância e, depois, equilibrar com superalimentos. Você precisa viverjogo da memóriaforma integrada: uma vida ativa, uma vida gentil, uma vidajogo da memóriacomunidade."

"Quando alguém da aldeia precisajogo da memóriauma nova casa, todos nós nos reunimos e a construímos. Quando alguém abate um porco, todos nós nos reunimos e o compartilhamos. Ninguém come demais, mas todos temos o suficiente. E provemos a tudojogo da memóriaturnos."

Ezekiel nos contou sobre um homem chamado Pachito que morava próximo e havia recentemente comemorado seu 100º aniversário. Ele nos deu seu endereço e sugeriu que fizéssemos uma visita a ele.

A fazendajogo da memóriaPachito ficajogo da memóriaum vale raso, rodeado por arbustos floridos. Ezekiel havia avisado que estávamos indo, mas precisamos esperar com a netajogo da memóriaPachito até que ele voltasse, já que ele havia saído para visitar alguns amigos.

Mas não esperamos por muito tempo. Pachito chegou cavalgando no seu cavalo branco, que ele prendeu no quintal, descendo com habilidade. Enquanto entrava, ele me deu um forte apertojogo da memóriamão e puxou Dre para um beijo no rosto.

"Que galante", riu-se ela. Ele respondeu piscando o olho e se sentoujogo da memóriauma cadeira.

"Desculpem pelo atraso", disse ele. "Eu precisava visitar um amigo meu que não estava se sentindo muito bem. Mas ele tem 102 anos, o que se pode esperar?"

"O sr. cavalga todo dia?", perguntei.

"Quando fico parado, as coisas começam a doer", respondeu ele. "Trabalhei toda a minha vida como sabanero [vaqueiro],jogo da memóriaforma que [cavalgar] é mais natural para mim do que andar. Nunca fiz nenhum tipojogo da memóriaexercício separado, mas é uma vida muito ativa."

Pachito se sentoujogo da memóriauma cadeira baixajogo da memóriavime, com fotografiasjogo da memóriamuitosjogo da memóriaseus descendentes na parede atrás dele. Sua neta serviu a ele uma xícarajogo da memóriapinol quente, beijou-o na cabeça e saiu para o jardim.

"Esta nunca foi uma regiãojogo da memóriaeducação e sabedoria", disse Pachito, "mas sempre um lugarjogo da memóriatrabalho duro."

"A maior diferençajogo da memóriahoje é que nós sabíamosjogo da memóriaonde vinha a nossa comida. Nós cultivávamos arroz e milho, criávamos bois e porcos. As galinhas se alimentavam dos nossos restos. Não era uma grande variedade, mas era puro e saudável e comíamos três vezes por dia. É o suficiente."

"E o que o senhor acha que é importante, Pachito?", perguntei. "O que o sr. diz aos seus filhos, netos e bisnetos?"

"Durante a minha vida, não fui uma grande pessoa – alguém importante ou algo assim – mas sempre fui um bom amigo", ele conta.

"Você precisa amar a si mesmo e aos demais. Porque, se você ama um amigo, você não pode desejar nadajogo da memóriamal para outras pessoas. Isso impede as coisasjogo da memóriairem mal para você,jogo da memóriadentro para fora."

Enquanto saíamos, ele tocou a minha mão e acenoujogo da memóriadireção a Dre. "E é muito importante amar uma boa mulher", ele disse.

Segui o conselhojogo da memóriaPachito à risca. Dre e eu nos casamos.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.