As personal trainers rejeitadas por estarem acima do peso: 'Padrão é ser feliz':saque recusado na greenbets

Bianca alongando os braços antessaque recusado na greenbetsfazer exercícios

Crédito, Walther Nogueira

Legenda da foto, Bianca Martins é alvo constantesaque recusado na greenbetscríticassaque recusado na greenbetssuas redes sociais por ser personal trainer e ser considerada acima do peso

“Jamais aceitaria conselhossaque recusado na greenbetsalguém que eu achei que o corpo não é o qual eu quero atingir!”, diz um dos comentários feitos nas redes sociaissaque recusado na greenbetsBianca.

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Ela mesma diz que não tem problema com isso e se define como uma personal fora do padrão que ajuda outras mulheres “a aceitarem seus corpos por meio do exercício físico”.

Bianca conta que já se acostumou com as críticas ao seu corpo, porque isso acontece desde que ela era criança, mas diz que hoje é diferente e incomoda mais.

“Sempre sofri bullying. Quando eu era criança, sofria na escola, depois no relacionamento. Então, eu sempre tive isso na minha vida”, diz Bianca à BBC News Brasil.

“Mas agora são comentáriossaque recusado na greenbetspessoas que nunca me viram, não me conhecem e não sabem da minha história e da minha capacidade. Então, o que eu fico mais chateada é quando a pessoa não sabe do meu processo e vem jogar essas ofensas.”

Bianca diz que faz exames contantemente para avaliarsaque recusado na greenbetssaúde.

"Todo ano faço exames. Acabeisaque recusado na greenbetsfazer um e tudo certo. Sempre me preocupo para saber com essa questãosaque recusado na greenbetsdiabetes, colesterol e tireóide. Essa preocupação eu tenho desde a barriga da minha mãe, provavelmente", diz a personal.

‘É um erro se basear na aparência’

Mulher pegando haltersaque recusado na greenbetsacademia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Coordenador da Bioritmo diz que corpo é vitrine do personal trainer, mas que é um erro se basear na aparência
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Casos como osaque recusado na greenbetsBianca são comuns, segundo Fabio Britto, coordenador da redesaque recusado na greenbetsacademias Bioritmo, porque o corpo do personal funciona como uma espéciesaque recusado na greenbetsvitrine para o aluno.

A forma física do instrutor acaba muitas vezes se tornando um ideal a ser buscado por quem contrata esse tiposaque recusado na greenbetsprofissional e que, por isso, esse critério pesa na escolha.

Britto conta que,saque recusado na greenbets20 anossaque recusado na greenbetsexperiência na área, já viu excelentes personal trainers serem preteridos por outros que ele considerava menos preparados, mas que tinham “o corpo perfeito”.

“Trabalhei com várias pessoas que não tinham um corpo assim por questão hormonal, não por faltasaque recusado na greenbetscuidado ou conhecimento. São pessoas que treinam bastante e se alimentamsaque recusado na greenbetsforma adequada, mas que não têm resultado (físico) por questõessaque recusado na greenbetssaúde”, diz Britto.

Ele diz que é muito mais importante escolher o personal pelasaque recusado na greenbetsformação e filosofiasaque recusado na greenbetstrabalho e com basesaque recusado na greenbetscomo ele lida com os alunos.

“É um erro a pessoa se basear apenas na aparência. Tem que avaliar o conhecimento e como o instrutor se comporta. Se ele fica usando o celular durante a aula e se presta atenção no aluno durante os exercícios”, diz Britto.

'Sou obesa, mas sou saudável'

Cinthya Albuquerque levantando pesosaque recusado na greenbetsárea externa

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, "O que eu vejo na academia são olhares. Mulheres que procuram personal e olham para mim, mas acham que eu não vou ajudar"

A personal trainer carioca Cinthya Albuquerque,saque recusado na greenbets43 anos, diz que já foi preterida por “não ter uma barriga trincada e um corpo torneado”.

“O que eu vejo na academia são olhares. Mulheres que procuram personal e olham para mim, mas acham que eu não vou ajudar. Eu simplesmente não ligo e abstraio”, conta Cinthya, que é formadasaque recusado na greenbetseducação física há 15 anos.

Ela diz que já nasceu bem acima do peso normal para um bebê e que sempre lutou contra a balança.

Cinthya diz que se inspira emsaque recusado na greenbetsprópria históriasaque recusado na greenbetsuma vida lidando com a obesidade para ajudar outras mulheres.

“O público que quero ajudar não é para shape [ter um corpo torneado]. Meu objetivo é cuidarsaque recusado na greenbetsmulheres, visando primeiro a saúde e depois a estética", diz a personal.

"Já fiz dieta do ovo, fiquei dias sem comer e tive orientações erradas sobre como emagrecer. Já pesei muito menos, mas minha saúde não estava legal. Quero ajudar pessoas que também passaram pelo mesmo.”

Cinthya reconhece que muita gente não pensa desta forma e se guia mais pela estética.

“As pessoas não querem melhorar a saúde, querem o gominho da blogueira, a cinturinha da blogueira. Isso está piorando, mas não por nossa culpa. É mais por conta do que a mídia vende, que é o estereótipo à frente da saúde."

Ela diz que usa suas redes sociais para servirsaque recusado na greenbetsexemplo como alguém que, embora esteja acima do peso, segue uma rotinasaque recusado na greenbetsexercícios, tem uma alimentação saudável e está com os examessaque recusado na greenbetsdia.

“Eu sou obesa, mas tenho saúde, não sou hipertensa, não tenho colesterol alterado", diz ela.

"O único problema que tenho é um nódulo na hipófise, na partesaque recusado na greenbetstrás da minha cabeça que me faz produzir menos testosterona e exige cuidados.”

'Não existe obesidade saudável'

Marcio Mancini, vice-presidente do Departamentosaque recusado na greenbetsObesidade da Sociedade Brasileirasaque recusado na greenbetsEndocrinologia e Metabologia usando terno ao ladosaque recusado na greenbetsum painel

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Médico afirma que a pessoa obesa está exposta a uma sériesaque recusado na greenbetsriscos, mesmo que exames apontem para uma normalidade

Marcio Mancini, vice-presidente do departamentosaque recusado na greenbetsobesidade da Sociedade Brasileirasaque recusado na greenbetsEndocrinologia e Metabologia (SBEM), alerta, no entanto, que os exames mais básicos podem não detectar problemassaque recusado na greenbetssaúde relacionados à obesidade.

“Não existe obesidade metabolicamente saudável", diz Mancini, autorsaque recusado na greenbetsTratadosaque recusado na greenbetsObesidade (Guanabara Koogan, 2020),

"O fatosaque recusado na greenbetsalguns exames estarem normais não significa que a saúde da pessoa está normal, porque o próprio aumento da gordura leva à produçãosaque recusado na greenbetssubstâncias no tecido adiposo — chamadassaque recusado na greenbetsadipocinas. Muitas delas são inflamatórias e contribuem para a aterosclerose."

A aterosclerose é uma doença causada pelo acúmulosaque recusado na greenbetsgordura e cálcio nas paredes das artérias e veias do corpo humano.

Mancini afirma que doenças como a aterosclerose muitas vezes se desenvolvemsaque recusado na greenbetsmaneira silenciosa justamente porque não são detectadas nos examessaque recusado na greenbetsrotina.

"A carga do pesosaque recusado na greenbetscima das articulações causado pela obesidade também danifica a cartilagem. A apneia do sono também não é identificada por examesaque recusado na greenbetssangue, mas sim do acúmulosaque recusado na greenbetsgordura no pescoço. Há aumento do riscosaque recusado na greenbetscânceres ligados à obesidade, ligados à insulina alta", enumera o especialista.

O médico afirma que a pessoa obesa está exposta a uma sériesaque recusado na greenbetsriscos, mesmo que exames apontem para uma normalidade.

"A pessoa com peso excessivo tem risco maiorsaque recusado na greenbetsdesenvolver maissaque recusado na greenbets200 doenças, como diabetes, hipertensão, demência, Alzheimer, gota, problemas articulares e apneia do sono. Não é possível aceitar a obesidade como algo normal."

O médico afirma que, desde 2013, a Organização Mundialsaque recusado na greenbetsSaúde (OMS) e a associação médica americana consideram a obesidade uma doença e não um fatorsaque recusado na greenbetsrisco para o desenvolvimentosaque recusado na greenbetsoutros problemassaque recusado na greenbetssaúde.

Por outro lado, Mancini alerta que ser magro também não é necessariamente sinônimosaque recusado na greenbetsser saudável.

O médico explica que pessoas que tem um peso dentro dos parâmetros considerados normais também podem ter problemassaque recusado na greenbetssaúde.

"Normalmente, isso está associado ao acúmulosaque recusado na greenbetsgordura na região abdominal", afirma Mancini.

"São pessoas que têm um pequeno ganhosaque recusado na greenbetspeso e,saque recusado na greenbetsvez dessa gordura ser distribuída pelo corpo, esse ganho vai para a região interna da barriga, se acumulando no fígado, nos rins e no pericárdio [em volta do coração]."

‘Tudo é visto aos olhos da gordofobia’

Flávia Durante atravessando rua sorrindo

Crédito, Rafa Guirro

Legenda da foto, “A gordofobia faz com que o corpo gordo seja visto logosaque recusado na greenbetscara como incapaz, preguiçoso, sujo, mole e incompetente"

Criadora da feira Pop Plus, voltada para pessoas gordas, Flávia Durante,saque recusado na greenbets47 anos, diz que as críticas a personal trainers como Bianca Martins e Cynthia Albuquerque por estarem fora do "padrão" são um reflexo da gordofobia, o preconceito contra quem está acima do peso.

“A sociedade toda é gordofóbica, então, tudo vai ser visto aos olhos da gordofobia”, diz Durante.

“A gordofobia faz com que o corpo gordo seja visto logosaque recusado na greenbetscara como incapaz, preguiçoso, sujo, mole e incompetente. Você pode ter o melhor currículo e a melhor capacidade, mas, se você é gordo, já tá descartado atésaque recusado na greenbetsconcurso público.”

Ela considera que a gordofobia é mais difícilsaque recusado na greenbetscombater do que outras formassaque recusado na greenbetsdiscriminação que são consideradas crime, como o racismo e a LGBTfobia.

Mesmo assim, defende a empresária, pessoas consideradas acima do peso devem buscar que seus direitos sejam respeitados quando há preconceito.

“As pessoas gordas devem entender que elas podem, sim, praticar uma atividade física. É direito delas. Assim como ter acesso à saúde, ao transporte e ao mercadosaque recusado na greenbetstrabalho. Porque uma pesquisa [do Grupo Catho] aponta que 65% dos empresários têm restrições para contratar pessoas gordas.”

‘Academia é um ambiente hostil’

Bianca Martinssaque recusado na greenbetsbraços cruzadossaque recusado na greenbetsfrente a mureta, com mar ao fundo

Crédito, Walther Nogueira

Legenda da foto, Bianca Martins diz que a academia é "um ambiente hostil, no qual pessoas gordas são julgadas"

Bianca conta que a maior parte das pessoas a procuram como personal trainer não apenas por estarem descontentes com seus corpos e rotinassaque recusado na greenbetsexercícios, mas também para buscar conselhos para se aceitarem como são.

Uma das principais queixas ésaque recusado na greenbetsque a academia é um ambiente hostil, no qual pessoas gordas são julgadas, nem sempre com palavras, mas olhares e comportamentossaque recusado na greenbetsrejeição e descrédito.

“A academia deveria ser um ambiente acolhedor, principalmente para pessoas com sobrepeso que precisam estar ali para melhorarsaque recusado na greenbetssaúde, mas infelizmente isso não acontece”, afirma Bianca.

“As mulheres sentem muita vergonhasaque recusado na greenbetsfrequentar esse ambiente, principalmente porque pessoas que têm um corpo no padrão da sociedade ficam julgando.”

Bianca afirma que nem todos que fazem musculação querem ter um corpo musculoso ou emagrecer.

“Tem gente que está ali só para ter uma qualidadesaque recusado na greenbetsvida, melhorar a alimentação ou para esquecer um pouco dos problemas do dia a dia”, diz Bianca.

“São muitas mulheres que pagam uma mensalidade igual a todas as outras pessoas e precisam estar ali pela saúde delas. São pessoas que buscam autonomia para se locomover sem precisar da ajuda dos filhos e sem necessariamente serem magras”.

A personal trainer recomenda que algumassaque recusado na greenbetssuas alunas iniciem os exercíciossaque recusado na greenbetscasa e só depois migrem para uma academia, para irem se ambientando aos poucos.

Ela explica que as aulassaque recusado na greenbetsdomicílio podem até ajudar, mas apenas um local estruturado terá todos os aparelhos necessários para executar os exercíciossaque recusado na greenbetsmaneira completa.

“Estou trazendo para elas esse começosaque recusado na greenbetscasa, mas com foco para entrar numa academia e para tirar esse bloqueio da cabeça delas. Até porque não faz muito sentido isso”, diz Bianca.

“A academia é justamente um local onde você vai para melhorar o condicionamento físico, não ser julgado pelo seu peso.”

Terapia e visibilidade

Bianca conta que faz terapia para manter a saúde mentalsaque recusado na greenbetsdia para lidar com tanta agressividade e diz que faz questãosaque recusado na greenbetsresponder aos comentáriossaque recusado na greenbetsquem desconfia que uma mulher acima do peso pode ser personal trainer.

Ela usousaque recusado na greenbetssuas redes sociais o exemplo da judoca brasileira Beatriz Souza, medalhistasaque recusado na greenbetsouro na Olimpíadasaque recusado na greenbetsParis neste ano, para dizer que a conquista dela pode incentivar outras pessoas.

“Quesaque recusado na greenbetsvitória motive muitas outras a buscar uma vida mais saudável e ativa. Obrigado por nos mostrar que o impossível é apenas uma questãosaque recusado na greenbetsperspectiva”, escreveusaque recusado na greenbetsum post.

“Eu não sei quem inventou esse padrãosaque recusado na greenbetsfalar qual o certo. Porque o certo é você estar bem consigo mesma. O certo, entre aspas, ou o padrão é você ser feliz”, diz Bianca.

“O padrão é você ser saudável para você ter uma vida leve, boa, porque quem é feliz, quem está bem, não enche o sacosaque recusado na greenbetsterceiros.”

A personal diz que os ataques acabam dando mais visibilidade para ela. “Estou tirando proveito disso para alcançar o meu propósitosaque recusado na greenbetsalcançar mais mulheres que se identificaram comigo e estão vindo me pedir ajuda para lidar com seus problemas.”

Alvosaque recusado na greenbetstantas críticas e debates, Bianca Martins diz que apenas não quer ser julgada porsaque recusado na greenbetsaparência.

“Eu sei do meu potencial. Se você quer emagrecer, eu consigo te ajudar. Se você quer ganhar massa, eu posso também. Eu sempre estudei muito para que a minha aparência não seja algo que leve as pessoas a desconfiarem do meu trabalho”.