Após fala que gerou crise, Lula volta a dizer que Gaza sofre 'genocídio':bet7k spaceman

Lula gesticulando durante discurso

Crédito, Andre Coelho/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, 'O que o governobet7k spacemanIsrael está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio', disse Lulabet7k spacemanevento no Rio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez novas declarações na sexta-feira (23/02) sobre a ofensivabet7k spacemanIsrael contra o Hamas na Faixabet7k spacemanGaza.

Em evento no Museubet7k spacemanArte Moderna do Riobet7k spacemanJaneiro, Lula afirmou "ser favorável à criação do Estado palestino livre e soberano".

"Quero dizer mais: o que o governobet7k spacemanIsrael está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio, porque está matando mulheres e crianças", declarou.

E neste domingo (25), o assessor especial da Presiência para assuntos internacionais, Celso Amorim, dissebet7k spacemanentrevista ao jornal Folhabet7k spacemanS. Paulo que o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, não deverá receber um pedidobet7k spacemandesculpasbet7k spacemanLula.

"[Netanyahu] vai ficar pedindo. Se é que ele está insistindo mesmo. Não sei se ele faz isso por demagogia interna ou por qualquer outra razão, mas certamente se ele está esperando isso não vai receber. Não posso falar pelo presidente, mas eu não vejo nada, não vejo razão para o presidente se desculpar."

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No domingo passado (18),bet7k spacemanviagem a Adis Abeba, na Etiópia, Lula fez declarações sobre o conflito que reverberaram nos últimos dias.

O presidente brasileiro afirmou na ocasião que o que estava ocorrendobet7k spacemanGaza não era "uma guerra, mas um genocídio" — comparável a "quando o Hitler resolveu matar os judeus",bet7k spacemanreferência ao Holocausto.

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"Não tentem interpretar a entrevista que dei na Etiópia, leiam a entrevista. Leia a entrevistabet7k spacemanvezbet7k spacemanficar me julgando pelo que disse o primeiro-ministrobet7k spacemanIsrael", disse Lula no Rio.

"Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio."

No dia seguinte às falas na Etiópia, o líder brasileiro foi declarado persona non grata pelo governobet7k spacemanBenjamin Netanyahu.

Persona non grata é uma expressãobet7k spacemanlatim cujo significado literal é algo como "pessoa não agradável" ou "não bem-vinda". Na diplomacia, a expressão se aplica a um representante estrangeiro que não é mais bem-vindobet7k spacemanmissões oficiaisbet7k spacemandeterminado país.

O embaixador do Brasilbet7k spacemanIsrael, Frederico Meyer, foi convocado pelo governo Netanyahu para prestar esclarecimentos sobre as declaraçõesbet7k spacemanLula.

Na segunda-feira (19), o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reuniu-se com o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine.

As convocaçõesbet7k spacemanembaixadores por governos são uma formabet7k spacemanpaíses manifestarem insatisfação. No entanto, essas reuniões costumam acontecerbet7k spacemangabinetes. O governo brasileiro viu a reunião no memorial do Holocausto como uma formabet7k spacemaninsulto ao país.

Katz gesticula enquanto fala a jornalistas; Meyer aparece ao lado, olhando para a lateral com feição séria

Crédito, ABIR SULTAN/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, O embaixador Frederico Meyer ao ladobet7k spacemanIsrael Katz, que aparece falando durante visita ao Yad Vashem

Nas redes sociais, Israel Katz, ministro das Relações Exterioresbet7k spacemanIsrael, afirmou na segunda (19),bet7k spacemantexto escritobet7k spacemanportuguês, que a declaraçãobet7k spacemanLula foi um "grave ataque antissemita que profana a memória dos que foram mortos no Holocausto".

A decisãobet7k spacemandeclarar Lula persona non grata foi anunciada por Katz após encontro com o embaixador Frederico Meyer no Yad Vashem, o memorial oficialbet7k spacemanIsraelbet7k spacemanJerusalém para lembrar as vítimas do Holocausto.

Na terça (20), Katz postou novamente um textobet7k spacemanportuguês nas redes sociais.

"Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros", escreveu Katz, dirigindo-se a Lula.

Depois, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, fez fortes críticas à reação do governo israelense às falasbet7k spacemanLula.

Após sairbet7k spacemanuma reunião no Riobet7k spacemanJaneiro (RJ) ligada ao G20, Vieira acusou a chancelaria israelense, representada por Katz,bet7k spacemandistorcer declarações,bet7k spacemanmentir ebet7k spacemanusar "linguagem chula e irresponsável".

Essas atitudes representariam uma "vergonhosa página da história da diplomaciabet7k spacemanIsrael", disse o ministro brasileiro na terça.

"As manifestações do titular da chancelaria do governo Netanyahu,bet7k spacemanontem ebet7k spacemanhoje, são inaceitáveis na forma, e mentirosas no conteúdo", afirmou Vieira.

"Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefebet7k spacemanEstado,bet7k spacemanum país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante."

"Em maisbet7k spaceman50 anosbet7k spacemancarreira, nunca vi algo assim", disse Vieira.

O ministro brasileiro afirmou ainda acreditar que a postura do governo Netanyahu não corresponde ao "sentimento" da população israelense e atenderia a um esforço para "tirar proveito" da situação na política doméstica.

Seria também uma "cortinabet7k spacemanfumaça" para encobrir "o real problema do massacrebet7k spacemancursobet7k spacemanGaza".

"Isso tem levado ao crescente isolamento internacional do governo Netanyahu, fato refletido nas deliberaçõesbet7k spacemanandamento na Corte Internacionalbet7k spacemanJustiça. É este isolamento que o titular da chancelaria israelense tenta esconder", declarou Vieira, acrescentando que o Brasil reagiria "com diplomacia".

Mauro Vieira discursandobet7k spacemanmicrofone

Crédito, Andre Borges/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Ministro brasileiro afirmou que 'nunca' viu embet7k spacemancarreira algo como reaçãobet7k spacemanIsrael às falasbet7k spacemanLula

Maisbet7k spaceman29,5 mil palestinos, incluindo civis, mulheres e crianças, morreram durante os mais recentes ataquesbet7k spacemanIsrael à Faixabet7k spacemanGaza. O país iniciou uma guerra contra o Hamasbet7k spacemanoutubro após a mortebet7k spacemanmaisbet7k spaceman1.200 pessoas e o sequestrobet7k spaceman253 refénsbet7k spacemanum ataque do grupobet7k spacemanIsrael.

Enquanto isso, no Brasil, parlamentaresbet7k spacemanoposição protocolaram na quinta (22) um pedidobet7k spacemanimpeachment contra Lula por conta das declarações.

Anteriormente, na terça, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pediu uma retrataçãobet7k spacemanLula pela fala sobre o Holocausto.

"Estamos certosbet7k spacemanque essa fala equivocada não representa o verdadeiro propósito do presidente Lula, que é um líder global conhecido por estabelecer diálogos e pontes entre as nações, motivo pelo qual entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada, pois o foco das lideranças mundiais deve estar na resolução do conflito entre Israel e Palestina", disse Pacheco durante sessão na Casa.

As declarações

Durantebet7k spacemanviagem à Etiópia, Lula questionou a decisãobet7k spacemanalguns paísesbet7k spacemansuspender verbas à agência da ONU que dá assistência aos palestinos, a UNRWA.

A suspensão havia acontecido porque Israel acusou funcionários da agênciabet7k spacemanenvolvimento com o Hamas. A denúncia desencadeou uma investigação interna, demissões e reações internacionais.

Lula afirmou que a ajuda humanitária aos palestinos não pode ser suspensa e disse que, se confirmado que houve erros na UNRWA, deve haver responsabilização.

“Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parandobet7k spacemandar a contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente?”, disse o presidente no dia 18.

“E qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixabet7k spacemanGaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio?”, afirmou .

"O que está acontecendo na Faixabet7k spacemanGaza e com o povo palestino não existebet7k spacemannenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus."

“Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças. Se teve algum erro nessa instituição que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou. Mas não suspenda a ajuda humanitária para o povo que tá há quantas décadas tentando construir o seu Estado”, disse o presidente.

Lula também reiterou que condena o Hamas e os ataques realizados pelo grupo.

"O Brasil condena o Hamas, mas o Brasil não pode deixarbet7k spacemancondenar o que Israel está fazendo na Faixabet7k spacemanGaza", disse.

No sábado (17), Lula havia se encontrado com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh.

O Palácio do Planalto afirmou que o presidente brasileiro condenou ataques do Hamas durante a reunião e reiterou a necessidadebet7k spacemanpaz no Oriente Médio e necessidade da criaçãobet7k spacemanum Estado Palestino. Shtayyeh agradeceu a Lula pela solidariedade com o povo palestino, segundo o governo brasileiro.

A resposta do atual primeiro-ministrobet7k spacemanIsrael, Benjamin Netanyahu, veio inicialmente com a divulgaçãobet7k spacemanum comunicado criticando a falabet7k spacemanLula e a convocação do embaixador brasileirobet7k spacemanIsrael para uma reunião.

“A comparação entre Israel e o Holocausto dos nazistas ebet7k spacemanHitler está ultrapassando a linha vermelha”, afirmou Netanyahu no comunicado. "Israel luta porbet7k spacemandefesa e garantia do seu futuro até a vitória completa."

Ele disse ainda que a "banalização do Holocausto é a uma tentativabet7k spacemanprejudicar o povo judeu e o direitobet7k spacemanIsraelbet7k spacemanse defender".

Na terça (20), o porta-voz do governo americano Matthew Miller afirmou que os Estados Unidos "obviamente" discordam das declaraçõesbet7k spacemanLula.

"Temos sido bem clarosbet7k spacemanque não acreditamos que um genocídio vem ocorrendobet7k spacemanGaza. Nós queremos ver o conflito encerrado assim que isso seja viável, queremos ver um aumento da assistência humanitáriabet7k spacemanuma forma sustentável para civis inocentesbet7k spacemanGaza, mas não concordamos como esses comentários", disse Miller, respondendo a um jornalista.

Idoso abraça criança após bombardeio na faixabet7k spacemanGaza

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Maisbet7k spaceman29 mil pessoas morreram após ataques israelensesbet7k spacemanGaza

Por que a fala causou tanta controvérsia?

O genocídiobet7k spacemanmaisbet7k spaceman6 milhõesbet7k spacemanjudeus durante a Segunda Guerra Mundial é um tema bastante sensível.

A falabet7k spacemanLula gerou uma forte reaçãobet7k spacemaninstituições judaicas, que afirmam que comparar a situação dos palestinos afetados pelos ataquesbet7k spacemanIsrael com o genocídiobet7k spacemanjudeus feito pelos nazista é uma formabet7k spaceman"banalizar o Holocausto".

A Conib (Confederação Israelita do Brasil) emitiu uma notabet7k spacemanrepúdio à falabet7k spacemanLula, na qual defendeu as açõesbet7k spacemanIsrael.

"Os nazistas exterminaram 6 milhõesbet7k spacemanjudeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendobet7k spacemanum grupo terrorista que invadiu o país, matou maisbet7k spacemanmil pessoas, promoveu estuprosbet7k spacemanmassa, queimou pessoas vivas e defende embet7k spacemancartabet7k spacemanfundação a eliminação do Estado judeu", diz o comunicado da entidade.

"Essa distorção perversa da realidade ofende a memória das vítimas do Holocausto ebet7k spacemanseus descendentes", afirmou.

O presidente do Museu do Holocaustobet7k spacemanJerusalém, Dani Dayan, afirmou que a falabet7k spacemanLula é "vergonhosa" e uma "combinaçãobet7k spacemanódio e ignorância".

Já ministros do governo defenderam Lula nas redes sociais.

"Todo meu apoio às preocupações do presidente Lulabet7k spacemanrelação ao conflito que vem cruelmente atingindo civis na Faixabet7k spacemanGaza, vítimas do governobet7k spacemanextrema-direitabet7k spacemanIsrael", escreveu Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) na rede social X.

"A fala do presidente Lula sobre o que está acontecendobet7k spacemanGaza é corajosa e necessária. Já são maisbet7k spaceman20 mil mortos palestinos atravésbet7k spacemanataques promovidos por Israel. Que esse posicionamento incentive outros países a condenarem a desumanidade que estamos vendo dia após dia", disse Sônia Guajajara (Povos Indígenas), também no X.

O ministro da Secretariabet7k spacemanComunicação Social, Paulo Pimenta, porbet7k spacemanvez, acusou o governo isralensebet7k spacemanespalhar notícias falsas sobre a posiçãobet7k spacemanLula.

"Em nenhum momento o presidente fez críticas ao povo judeu, tampouco negou o holocausto. Lula condena o massacre da população civilbet7k spacemanGaza promovido pelo governobet7k spacemanextrema-direitabet7k spacemanNetanyahu [...]", escreveu Pimenta na rede X (antigo Twitter).

Como fica a relação diplomática entre Brasil e Israel?

O Brasil sempre teve relações diplomáticas amigáveis tanto com Israel quanto com autoridades palestinas, sendo defensor da solução do conflito através da convivênciabet7k spacemandois Estados: Israel e um Estado palestino.

Após os ataques do Hamasbet7k spacemanIsrael, o Brasil condenou as ações do grupo. Desde então, o Brasil vem criticando também a contraofensiva israelense.

A posição oficial brasileira ébet7k spacemanfavorbet7k spacemanum cessar-fogo na região.

O Brasil também apoiou o caso da África do Sul contra Israel na Corte Internacionalbet7k spacemanJustiça no passado.

A África do Sul acusou Israelbet7k spacemangenocídio contra os palestinos na ação, que foi autorizada a continuar pela Cortebet7k spacemanjaneiro.

O tribunal instruiu Israel a impedir os seus militaresbet7k spacemancometerem atos que possam ser considerados genocidas, a prevenir e punir o incitamento ao genocídio e a permitir a assistência humanitária ao povobet7k spacemanGaza.

Mas o tribunal não chegou a apelar a Israel para que suspenda imediatamente as suas operações militaresbet7k spacemanGaza, como era desejo do país africano.

A convocação do embaixador brasileirobet7k spacemanIsrael para reunião após a falabet7k spacemanLula é vista por analistas como uma "medida drástica".

O ex-embaixador do Brasilbet7k spacemanLondres e diplomata Rubens Barbosa afirmou à GloboNews que a falabet7k spacemanLula foi "improvisada" e que o Itamaraty não compartilha dessa visão.

"É uma situação delicada. Eu não creio que esse incidente possa afetar as relações entre o Estadobet7k spacemanIsrael e o Estado brasileiro, porque há muitos interessesbet7k spacemanjogo, inclusive na áreabet7k spacemanDefesa", disse Barbosa à GloboNews.

Enquanto isso, a situaçãobet7k spacemanGaza continua dramática. A Organização Mundialbet7k spacemanSaúde disse que o hospital Nasser deixoubet7k spacemanfuncionar após um ataque israelense.

As Forçasbet7k spacemanDefesa Israelense disseram quebet7k spacemanoperação era “precisa e limitada” e acusou o Hamasbet7k spaceman“usar cinicamente hospitais para o terror”.

Os esforços para chegar a um cessar-fogo entre Israel e o Hamas têm acontecido no Cairo, mas os mediadores do Qatar disseram que o progresso recente "não é muito promissor".