Em 4 pontos, o que explica grande impacto internacional50 refund 1xbetgolpe no Chile há 50 anos:50 refund 1xbet

Por que, então, o evento no Chile ficou tão emblemático?

Na data que marca 50 anos do golpe50 refund 1xbet1150 refund 1xbetsetembro50 refund 1xbet1973, a BBC Mundo (serviço50 refund 1xbetespanhol da BBC) explica por que o episódio teve tanto impacto internacional.

1. A figura50 refund 1xbetAllende

Salvador Allende não foi um líder qualquer.

O chileno foi o primeiro socialista a chegar ao poder pelo voto popular nas Américas, o que imediatamente o tornou uma figura global. Apesar das inegáveis ​​divisões que causou, e continua a causar,50 refund 1xbetseu próprio país, fora dele50 refund 1xbetfigura e seu projeto despertaram grande interesse.

“Salvador Allende atraiu muita simpatia na Europa e no mundo. Ele não foi um revolucionário como Fidel Castro ou Che Guevara. Tampouco um populista. Ele era um político tradicional, que negociava, conversava”, diz David Lehmann, pesquisador da Universidade50 refund 1xbetCambridge, no Reino Unido, e especialista50 refund 1xbetestudos latino-americanos,50 refund 1xbetentrevista à BBC Mundo.

“Ao contrário do que aconteceu com outras forças latino-americanas como o peronismo, a aliança da Unidade Popular Chilena tinha ressonância e ligações com outros países”, continua.

“Por isso,50 refund 1xbetmorte abrupta causou choque e grande decepção. O ataque a uma proposta pacífica como a dele, apesar das evidentes dificuldades que teve, foi muito chocante para muitos”, diz o especialista.

Camila Vergara, doutora50 refund 1xbetteoria política e acadêmica pela Universidade50 refund 1xbetEssex, no Reino Unido, tem opinião semelhante.

“Allende era uma pessoa respeitada, porque respeitava as regras do jogo. Lembremos que Che Guevara lhe deu um exemplar50 refund 1xbetseu livro e, na dedicatória, escreveu: 'Para alguém que por outros caminhos trata50 refund 1xbetobter o mesmo'", disse à BBC Mundo.

Talvez um dos momentos que melhor reflete essa notoriedade seja o discurso que proferiu diante da Assembleia Geral das Nações Unidas,50 refund 1xbetsetembro50 refund 1xbet1972.

“Nesse discurso, Allende denunciou o que estava acontecendo no Chile e a intromissão internacional na soberania do país; falou50 refund 1xbetcomo suas mãos estavam atadas na hora50 refund 1xbetfazer políticas públicas (...) É um discurso humano, erudito e verdadeiro que continua ressoando até hoje”, disse.

Ao terminar, Allende foi aplaudido50 refund 1xbetpé, o que só se repetiu50 refund 1xbet2013, quando Nelson Mandela ocupou o mesmo palanque.

Segundo Vergara, o golpe contra Allende foi entendido como “o fim violento do movimento operário50 refund 1xbettodo o mundo”.

"Era o fim50 refund 1xbetuma promessa50 refund 1xbetum verdadeiro governo popular, por isso foi tão sentido na Europa”, afirma.

Os analistas concordam que, além disso, o Chile era visto como um país com longa tradição democrática.

E a chegada ao poder,50 refund 1xbet1970,50 refund 1xbetum líder50 refund 1xbetesquerda, que representou um desafio para os Estados Unidos50 refund 1xbettempos vertiginosos, foi mais uma prova disso.

2. As imagens

Outra razão que explica o fato50 refund 1xbeto 1150 refund 1xbetsetembro50 refund 1xbet1973 ainda ser considerado um marco são as inúmeras imagens que correram o mundo graças à ampla cobertura que o episódio teve na imprensa internacional.

E elas se tornaram icônicas.

“Podemos descrevê-lo como o primeiro golpe latino-americano que, desde as suas origens, passando pela50 refund 1xbetexecução até as suas consequências, foi coberto pela imprensa ocidental”, disse Kristian Gustafson, especialista50 refund 1xbetinteligência e segurança da Universidade Brunel,50 refund 1xbetLondres,50 refund 1xbetuma entrevista publicada pela BBC50 refund 1xbet2013.

“São imagens com um impacto enorme”, diz Michael Reid, escritor e jornalista britânico especializado50 refund 1xbetAmérica Latina.

“Especialmente o ataque ao La Moneda pela própria Força Aérea Chilena. Eles estavam bombardeando seu próprio palácio presidencial”, acrescenta.

Para Camila Vergara, o ocorrido foi ainda mais chocante na Europa, já que algumas das ações realizadas pelos militares estavam relacionadas “à memória visual do movimento fascista alemão”.

“Eu me refiro à queima50 refund 1xbetlivros ou50 refund 1xbetcentros50 refund 1xbetdetenção. E isso foi muito forte”, diz a historiadora.

A figura50 refund 1xbetPinochet como líder do golpe também teve grande impacto internacional.

Ao mesmo tempo50 refund 1xbetque seus seguidores consideravam que ele tinha salvado o Chile50 refund 1xbetum governo que arruinava o país, Pinochet tornou-se um dos ícones da violação dos direitos humanos no mundo.

Pinochet esteve no poder por muitos anos (17, no total),50 refund 1xbetcontraste com os generais que se sucederam nas ditaduras da Argentina e do Brasil, por exemplo.

Para Alan Angell, acadêmico da Universidade50 refund 1xbetOxford e especialista50 refund 1xbetpolítica latino-americana, as fotografias distribuídas50 refund 1xbetPinochet com seus óculos escuros representavam “quase uma paródia da imagem dos ditadores”.

"Os militares chilenos foram mais eficazes em50 refund 1xbetbrutalidade. Eles atacaram militantes suspeitos com mais precisão. Eles tinham muito mais informações. E menos oposição", disse Angell à BBC Mundo50 refund 1xbetum artigo publicado50 refund 1xbet2013.

De acordo com diversas Comissões da Verdade, o número total50 refund 1xbetvítimas oficialmente classificadas no Chile é50 refund 1xbet40.175 pessoas, incluindo execuções políticas, presos desaparecidos e vítimas50 refund 1xbetprisão política e tortura.

3. Marco nos direitos humanos

O pesquisador David Lehmann aponta que outro ponto relevante é que “a partir do que aconteceu no Chile, os direitos humanos foram profissionalizados não só na América Latina, mas também no mundo”.

“Houve muita solidariedade. Ao contrário da Argentina ou do Brasil, que também tiveram regimes militares, neste caso floresceram organizações50 refund 1xbetapoio às vítimas50 refund 1xbetperseguição. Muita militância internacional surgiu50 refund 1xbettorno do Chile porque era um país que repercutia e atraía (atenção)”, explica Lehmann.

O especialista lembra que no Reino Unido, por exemplo, foi criado um programa50 refund 1xbetajuda para resgatar acadêmicos e estudantes, e que isso se repetiu50 refund 1xbetoutros países.

“Governos abriram representações diplomáticas dando apoio oficial, algo muito raro, o que50 refund 1xbetoutros casos não aconteceu. Aqueles que procuravam asilo foram reconhecidos. Foi uma loucura, embaixadas como a sueca ou a francesa estavam cheias50 refund 1xbetexilados”, afirma.

“O golpe no Chile marca o início50 refund 1xbetum enfoque maior dos direitos humanos na integridade física, entendida como abuso ou tortura”, afirma Camila Vergara.

“Surge um maior compromisso da Europa com os direitos humanos.”

Michael Reid acrescenta que a prisão50 refund 1xbetPinochet50 refund 1xbetLondres,50 refund 1xbet1998, foi também um marco no debate jurídico.

“Isso deu o tom para a jurisdição universal contra crimes contra a humanidade”, diz ele.

4. A diáspora

O exílio político durante a ditadura50 refund 1xbetPinochet representa o maior movimento migratório da história do Chile, totalizando mais50 refund 1xbet200 mil pessoas forçadas a deixar o país.

Esta expatriação50 refund 1xbetmassa — rumo a países como Argentina, México, Cuba, Itália, Suécia e Alemanha — influenciou muitos estrangeiros a se solidarizarem com o que estava acontecendo devido ao regime militar.

Mas talvez ainda mais importante do que o volume da migração foi o nível50 refund 1xbetorganização política e cultural que esta diáspora tinha no mundo.

“Muitos exilados foram educados tanto política como economicamente. E conseguiram se inserir na esquerda europeia e latino-americana com muita facilidade”, explica Michael Reid.

Assim, os chilenos deixaram uma marca importante nos locais onde foram morar. E uma das áreas onde isso foi mais palpável é a música.

Os exilados conseguiram criar e difundir hinos50 refund 1xbetprotesto que ressoam até hoje50 refund 1xbettodo o mundo.

“Muitos dos que saíram não eram apenas cantores, mas ativistas, que teriam dado a vida pela emancipação do povo”, explica Camila Vergara.

“A repressão brutal não teve meios-tons. Formou-se então uma rede50 refund 1xbetsolidariedade quase invisível, onde os estrangeiros partilhavam suas lutas, suas canções e seus hinos50 refund 1xbetprotesto”, acrescenta.

Muitos dos artistas da Nova Canção Chilena, movimento musical-social que nasceu na década50 refund 1xbet1960, foram vítimas da ditadura, entre eles Víctor Jara, que foi torturado e assassinado no antigo Estádio Chile que hoje leva seu nome.

Sua obra virou referência internacional50 refund 1xbetcanções50 refund 1xbetprotesto.

Outros músicos sobreviventes levaram suas canções para o exílio. Inti Illimani manteve viva a chama do Chile na Itália, enquanto Patricio Manns o fez50 refund 1xbetCuba e na França.

O grupo Quilapayún se estabeleceu nesse mesmo país.

Seu emblemático hino “O povo unido nunca será derrotado” permaneceu na memória global e se repete até hoje nas ruas50 refund 1xbetmuitos lugares do mundo. E50 refund 1xbetdiferentes idiomas, incluindo o português.

*Com reportagem50 refund 1xbetDalia Ventura, da BBC Mundo