'Como descobrimos que nosso pai sobreviveu ao Holocausto e pode ter ajudado a caçar nazista':vaidebet de quem é

Crédito, Reinaldo Canato
Ivan foi transportado para a morte no momento derradeiro da Segunda Guerra Mundial: as tropas dos Aliados cercavam a Alemanhavaidebet de quem éAdolf Hitler, a derrota do Eixo era iminente, mas, ainda assim, os nazistas trabalhavam para acelerar a chamada "Solução Final", como ficou conhecida a ordem do Führer para o extermíniovaidebet de quem émassa dos judeus da Europa.
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Não se sabe como, mas Ivan sobreviveu ao massacre e conseguiu fugirvaidebet de quem éabrilvaidebet de quem é1945, momentovaidebet de quem éque a Alemanha perdeu finalmente a guerra que matou 6 milhõesvaidebet de quem éjudeus como ele — no total, entre 50 e 70 milhõesvaidebet de quem épessoas morreramvaidebet de quem étodo o conflito.
Depoisvaidebet de quem éDachau, acredita-se que Ivan tenha ido parar nos territórios palestinos, participado da incipiente população do Estadovaidebet de quem éIsrael, porque ele tinha cidadania israelense, como indicam seus documentos obtidos pela família.
No anovaidebet de quem é1960, ele apareceu na Argentina, país que serviuvaidebet de quem éesconderijo para milharesvaidebet de quem énazistas evaidebet de quem éonde ele evaidebet de quem émulher — a húngara-israelense Judit Weiss — foram para o Brasil.
O casal foi vivervaidebet de quem éHigienópolis, bairrovaidebet de quem éSão Paulo conhecido porvaidebet de quem écomunidade judaica. No início da décadavaidebet de quem é1970, Ivan foi dono da lojavaidebet de quem édecorações Judithy — nomevaidebet de quem éhomenagem à esposa — na alameda Lorena, próximo à avenida Paulista.
Mas ele também mantinha relações extraconjugais — ou era, nas palavrasvaidebet de quem ésua filha Viviane, "um abusador" — e teve outros três filhos fora do casamento. Depois, desapareceu da vida das crianças.

Crédito, Arquivo Familiar
Três filhosvaidebet de quem éIvan — não se sabe o paradeiro do quarto — só descobriram ser da mesma família há dois anos, por meiovaidebet de quem éum testevaidebet de quem éDNA.
Desde então, o trio está investigando a história do pai e desconfia que ele pode ter participado da operação que prendeu um dos nazistas mais importantes da Segunda Guerra, Adolf Eichmann, capturadovaidebet de quem éBuenos Airesvaidebet de quem émaiovaidebet de quem é1960 por um grupovaidebet de quem éagentes do Mossad, a polícia secretavaidebet de quem éIsrael.
Toda essa história, conhecida apenas por fragmentos, será contada no documentário Papai era Espião!, do cineasta Luiz Carlos Lucena, previsto para estrear no segundo semestrevaidebet de quem é2025.
"Sou amigo da Viviane há alguns anos. Um dia, ela me perguntou se eu não queria acompanhá-lavaidebet de quem éum examevaidebet de quem éDNA. Por que não? Foi quando o mundo do Ivan Muller se abriu para mim. Quem era esse cara? Ele era um espião? Era um vigarista?", diz Lucena, enquanto dirigia seu carro na marginal Pinheirosvaidebet de quem éuma sexta-feiravaidebet de quem éabril.
Este será o 12º filme do currículovaidebet de quem éLucena, que é autor do livro Como fazer documentários (Ed. Summus).
"É a históriavaidebet de quem éuma vida, com muitas camadas: Segunda Guerra, diáspora dos judeus para a América Latina, caçada por nazistas, machismo, racismo. Fiquei absolutamente obcecado."

Crédito, Reinaldo Canato
1 - O judeu húngaro
O examevaidebet de quem éDNA colocou Viviane evaidebet de quem éirmã, a corretoravaidebet de quem éseguros Monica Anibal,vaidebet de quem é50 anos, frente a frente com o produtor cultural Ronaldo André Muller,vaidebet de quem é62 anos.
Meses antes, Ronaldo recebeu uma ligação. "Era uma mulher falando que podia ser minha irmã. Achei que fosse um golpe e passei o telefone para minha esposa. Mas ela insistiu", diz o produtor,vaidebet de quem éuma sala do condomínio onde mora, no Morumbi, na Zona Sulvaidebet de quem éSão Paulo.
"Como sempre tive curiosidade sobre meu pai, resolvi fazer o exame."
O teste constatou que há 97%vaidebet de quem échancevaidebet de quem éViviane e Ronaldo serem irmãos. Já entre Mônica e Ronaldo, há 87%vaidebet de quem éprobabilidade.
Uma coincidência entre os três irmãos era o absoluto silêncio que suas mães mantinham sobre a figura do pai.
Em nenhum momento, até o finalvaidebet de quem ésuas vidas, Ana Maria Anibal — mãevaidebet de quem éViviane e Monica —, e Katarina Walter, mãevaidebet de quem éRonaldo, falaram com os filhos sobre a relação que tiveram com Ivan Muller.
"Quando eu era criança, não sabia nem o nome dele", conta Viviane.
"Perguntei várias vezes sobre quem era meu pai. Minha mãe nunca falou nada, absolutamente nada. Ela se fechava. Era só silêncio, silêncio, silêncio."
Mas um dia, na infância, uma tiavaidebet de quem éViviane soltou uma informação preciosa: "Ela sempre me via perguntando. Chegouvaidebet de quem émim, e falou: 'O nome do seu pai é Ivan Muller, ele é judeu húngaro'. Não entendi nada, mas aquilo ficou por anos na minha cabeça. Aquele nome. Judeu húngaro?".
Quando tinha 18 anos,vaidebet de quem é1995, uma amiga ajudou Viviane a conseguir o endereçovaidebet de quem éIvan: um apartamentovaidebet de quem éMoema, bairrovaidebet de quem éclasse média alta na Zona Oeste da cidade.
"Pensei: 'quer dizer que meu pai é um branco rico, e eu aqui passando esse perrengue?'", lembra a psicóloga.
"Não sei, fiquei com vergonhavaidebet de quem éprocurá-lo. Então, deixei para lá". Mas as perguntas sobre Ivan martelaramvaidebet de quem écabeça por décadas.
Na pandemia, trancadavaidebet de quem écasa, resolveu mexer no vespeiro. "Decidi enquadrar minha mãe. Ela estava idosa, no começo do Alzheimer. Mas quando toquei no assunto, ela passou mal e foi parar no hospital. Vi que dali não iria sair nada", diz.
Ana Maria e Ivan se conheceram por voltavaidebet de quem é1970vaidebet de quem éuma fábricavaidebet de quem ébonecas que ele mantinha atrásvaidebet de quem ésua loja, onde ela trabalhou como costureira.

Crédito, Arquivo Pessoal
"Na família, a história que se conta é que uma noite minha mãe apareceu com um bebê recém-nascido. Ela morava com meus avós. No dia seguinte,vaidebet de quem émanhã, o bebê não estava mais lá, e aí não se falou mais nisso", conta Viviane.
Ela evaidebet de quem éirmã Monica acreditam que esse bebê, um menino entregue para adoção, seja o primeiro filhovaidebet de quem éAna Maria e Ivan. "É uma ponta solta que gostaríamos muitovaidebet de quem éinvestigar, saber onde ele está. Mas não temos nenhuma informação", diz.
Monica não quis dar entrevista para esta reportagem nem ao documentáriovaidebet de quem éLucena.
Até a pré-adolescência, ela foi criada por outra mulher,vaidebet de quem éuma casa na região centralvaidebet de quem éSão Paulo, e depois voltou a morar com a família biológica.
Viviane acredita que a relaçãovaidebet de quem éseus pais era pautada pelo racismo e pelo abuso.
"Minha mãe era uma mulher negra,vaidebet de quem é20 anos e lindíssima. Ele era o patrão europeu, 20 anos mais velho, casado e rico", diz.
"Ela engravidou três vezes, e ele fingiu que não era com ele. Nunca participou da nossa criação. Minha mãe sofreu muito."
A aposentada Darcy Antônia Braga,vaidebet de quem é83 anos, conheceu Ivan nos temposvaidebet de quem équevaidebet de quem éamiga Ana Maria se relacionou com ele - Darcy confirma que eles tiveram outro filho, alémvaidebet de quem éMonica e Viviane.
"Pensavaidebet de quem éum trapaceiro… O Ivan era um trapaceirovaidebet de quem éprimeira, um velho sem vergonha, mau caráter", contou Darcy,vaidebet de quem éentrevista ao documentário.
Já a biomédica Juliana Leibovitz,vaidebet de quem é60 anos, conviveu com Ivan na infância, quando ele frequentava a casavaidebet de quem ésua família, tambémvaidebet de quem éorigem húngara.
"Ela iavaidebet de quem écasa com a Judit. Ficavam conversando com meus pais, como amigos. A memória que tenho dele évaidebet de quem éum bon vivant, um homem que gastava muito dinheiro, gostavavaidebet de quem ésair evaidebet de quem ése divertir. Ele não era muito levado a sério", diz Juliana.
Ana Maria nunca mais falou sobre seu relacionamento com Ivan atévaidebet de quem émorte,vaidebet de quem édezembrovaidebet de quem é2023, aos 73 anos. Mas suas filhas queriam desvendar o mistério.
Elas contrataram um detetive, que achou alguns documentosvaidebet de quem éIvan. Um deles apontava que ele tinha um filho registradovaidebet de quem éseu nome: o produtor cultural Ronaldo Muller, nascidovaidebet de quem é1961. As duas foram atrás dele.
2 - Um vigarista internacional
"Fui criado com minha mãe, avó e tias. Eu perguntava quem era meu pai, e elas ficavam nervosas, mudavamvaidebet de quem éassunto", conta Ronaldo.
"A única coisa que ouvia era: 'Seu pai é um bígamo, um vigarista internacional. Essas palavras nunca saíram da cabeça: bígamo e vigarista."
Quando tinha 10 anos, Ronaldo foi chamado no portão davaidebet de quem éescola. "Apareceu um homem bem-vestido,vaidebet de quem éum carro bonito. Lembro muito bem do que ele disse: 'Sou Ivan Muller, seu pai e, a partirvaidebet de quem éagora, a gente vai se ver sempre'. Lembrovaidebet de quem éter ficado muito feliz", conta o produtor.
"Por um ano, ele sempre aparecia. Eu ia no apartamento dele. Ele era casado com uma mulher chamada Judit. Fui na loja. A gente jogava futebol, e ele me levava no (estádio) Parque Antártica para ver jogos do Palmeiras", diz.
"Mas,vaidebet de quem érepente, ele sumiu. Fui ao apartamento, e o porteiro disse que ele não morava mais lá. Perguntei para minha família, mas ninguém respondia. Minha mãe nunca tocava no assunto. Nunca mais o vi. Cresci com isso", conta Ronaldo.
A mãevaidebet de quem éRonaldo, Katarina Walter, também era húngara e se refugiou do nazismo no Brasil, mais precisamente na Vila Buarque, bairro vizinho a Higienópolis, onde Ivan morava.

Crédito, Reinaldo Canato
Ronaldo conta que a família escondia a origem judaica — ele só descobriu isso já adulto, e acredita que seus pais podem ter se conhecidovaidebet de quem éencontros da comunidadevaidebet de quem éimigrantes húngaros que viviamvaidebet de quem éSão Paulo no início dos anos 1960.
Ivan e Katarina chegaram a se casar, mas ela pediu o divórcio logo depois, ao descobrir que seu marido já era casado com outra mulher.
Katarina nunca mais falou sobre Ivan, mantendo um votovaidebet de quem ésilêncio atévaidebet de quem émorte,vaidebet de quem écâncer,vaidebet de quem é1994, aos 51 anos.
Mas a curiosidade sobre o pai nunca abandonou Ronaldo. No início da décadavaidebet de quem é1990, ele pediu ajuda ao rabino Henry Sobel (1944-2019), então a principal liderança judaicavaidebet de quem éSão Paulo.
"Contei a história e perguntei se ele me ajudaria a encontrar o Ivan. Ele falou que iria tentar. Passou um tempão, até que um dia ele ligou e disse que não tinha encontrado nada. E, nessa época, o Ivan ainda estava vivo."
Em 1997, Ronaldo recebeu um telefonemavaidebet de quem éum estranho. "Era um homem que dizia ser amigo do Ivan. Falou que ele tinha morridovaidebet de quem écâncer e que, no final da vida, me procurouvaidebet de quem éSão Paulo, mas não me encontrou", diz o produtor.
O atestadovaidebet de quem éóbito aponta que Ivan Muller morreuvaidebet de quem écâncer no pulmão no hospital Albert Einstein,vaidebet de quem éSão Paulo,vaidebet de quem é8vaidebet de quem éoutubrovaidebet de quem é1997.

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3 - Ivan Muller e Adolf Eichmann
Ivan Muller nasceuvaidebet de quem é8vaidebet de quem éjunhovaidebet de quem é1929, segundo os documentos obtidos pela famíliavaidebet de quem éBudapeste evaidebet de quem éDachau.
Mas seu passaporte e ficha na Secretariavaidebet de quem éSegurança Públicavaidebet de quem éSão Paulo apontam outra data: 15vaidebet de quem éjunhovaidebet de quem é1920.
Um amigovaidebet de quem éViviane, um historiador que vive na Europa e colaborou anonimamente com o filme, encontrou o nomevaidebet de quem éIvan na listavaidebet de quem épessoas que sobreviveram a Dachau, um dos maiores camposvaidebet de quem éconcentração da Alemanha nazista.
A vida dele está relacionada à ação do tenente-coronel Adolf Eichmann, como mostram os documentos relativos aos dois.
Ivan e Eichmann estiveram ao mesmo tempo na mesma cidadevaidebet de quem éduas ocasiões. A primeira foivaidebet de quem éabrilvaidebet de quem é1944,vaidebet de quem éBudapeste.
Naquele mês, Eichmann foi enviado à Húngria para tentar acelerar o transportevaidebet de quem éjudeus para camposvaidebet de quem éextermínio, como Auschwitz, na Polônia.
Eichmann chegou a levar seus subordinados para Budapeste, porque a cúpula nazista acreditava que o massacre estava lento demais naquele país.
Em pouco maisvaidebet de quem édois meses, o trabalhovaidebet de quem éEichmannvaidebet de quem éBudapeste causou a mortevaidebet de quem épelo menos 470 mil judeus, a maioria deles enviados para a câmaravaidebet de quem égásvaidebet de quem éAuschwitz.
Já Ivan Muller foi capturado pelos nazistasvaidebet de quem é8vaidebet de quem énovembrovaidebet de quem é1944. Dias depois, foi enviado a Dachau. Tinha 15 anos quando chegou.
A passagemvaidebet de quem éEichmann pela capital húngara é narrada pela filósofa alemã Hannah Arendtvaidebet de quem éEichmannvaidebet de quem éJerusalém (ed. Cia. das Letras), um relato jornalístico sobre o julgamento do nazistavaidebet de quem éIsrael,vaidebet de quem é1962.
Arendt descreve Eichmann como um burocrata sem grandes qualidades, mentiroso contumaz, carreirista que entrou no partido nazista para crescer profissionalmente, fiel à hierarquia e servidor dedicado a seguir ordens — mesmo que a ordem fosse assassinar milhõesvaidebet de quem épessoas.
Segundo a acusação, Eichmann foi o único alemão que, do início ao fim do regimevaidebet de quem éHitler, ficou integralmente dedicado a solucionar a chamada "Questão Judaica" - ou seja, o que fazer com os milhõesvaidebet de quem éjudeus da Europa, pois, para os nazistas, o judaísmo era o "oponente".
Eichmann foi um dos principais responsáveis por viabilizar as três "soluções" conhecidas como judenrein (limpezavaidebet de quem éjudeus), embora ele nunca tenha ocupado um cargo no primeiro escalão da ditaduravaidebet de quem éHitler.
A primeira solução foi a deportação forçada dos judeus da Alemanha e dos países anexados pelo Terceiro Reich.
A segunda foi a "concentração"vaidebet de quem éguetos e campos. Eichmann liderou a burocracia que identificava e transportava judeus por meiovaidebet de quem éredes ferroviárias.
Já a "Solução Final" foi a ordemvaidebet de quem éHitler para o assassinatovaidebet de quem émassavaidebet de quem étoda a população judaica da Europa, comunicada à cúpula nazista na Conferênciavaidebet de quem éWannsee,vaidebet de quem é20vaidebet de quem éjaneirovaidebet de quem é1942.
Eichmann estava na reunião e, segundo seu depoimento, não apenas nenhum dos presentes se opôs à ordem do Führer, como todos passaram imediatamente a planejar como colocá-lavaidebet de quem éprática.
Eichmann foi um dos responsáveis pela criação dos camposvaidebet de quem éextermínio e por levar milhões para a morte por fuzilamento ou nas câmaras e caminhões com gás venenoso.
Em 1962, ele foi condenado à morte por enforcamento. "Falar demais foi o vício que arruinou Eichmann", escreve Hannah Arendt.
"Era bazófia pura quando ele disse aos seus homens nos últimos diasvaidebet de quem éguerra: 'Eu vou dançar no meu túmulo, rindo, porque a mortevaidebet de quem é6 milhõesvaidebet de quem éjudeus na consciência me dá enorme satisfação'. Ele não dançou."
4 - Ivan na Marcha da Morte

Crédito, Reprodução/Arquivo Pessoal
"A gente precisava ir à Europa para entender a história do Ivan na Segunda Guerra", conta o cineasta Luiz Carlos Lucena.
Ele conseguiu autorização para gravarvaidebet de quem éDachau e levou os irmãos Viviane e Ronaldo para a Alemanha e, depois, para Budapeste,vaidebet de quem éjunho deste ano.
Eles visitaram os dormitórios onde Ivan ficou por cinco meses, além dos crematórios usados pelos nazistas para desaparecer com os corpos das vítimas.
"Quando entrei, tive uma sensação pavorosa. Não dei conta", relata Viviane.
"Achei que fosse vomitar, mas não consegui. Fiquei com aquele peso por três dias, até que finalmente coloquei para fora."
Ronaldo conta que, sóvaidebet de quem éentrar naquele lugar já ficou emocionado, tentando imaginar Ivan ali.
"Ele tinha 15 anos. Na ficha, falava que ele seriavaidebet de quem ébreve enviado para a morte", conta o produtor.
Ivan Muller ficouvaidebet de quem éDachau até 29vaidebet de quem éabrilvaidebet de quem é1945, quando o Exército americano já cercava a região.
"Descobrimos que ele participou das Marchas da Morte", conta Viviane.
Com a iminência da derrota e a redevaidebet de quem étransporte destruída, a cúpula alemã ordenou que os prisioneirosvaidebet de quem éoutros países fossem levados a pé para camposvaidebet de quem éextermínio na Alemanha.
Essas longuíssimas caminhadas, cuja organização também coube a Eichmann, ficaram conhecidas como "Marchas da Morte" por conta do alto númerovaidebet de quem émortos por cansaço, fome ou fuzilamento.
"Em Dachau, nos disseram que muitos se salvaram se fingindovaidebet de quem émortos quando ouviam um tiro perto. Pode ter sido dessa forma que Ivan sobreviveu. Ele era um menino", conta Viviane.
O que aconteceu com Ivan depoisvaidebet de quem éescapar dos nazistas também é um mistério que os dois irmãos e Lucena ainda não conseguiram desvendar. O que ele fez entre 1945 e 1960? Onde estava?
"Há várias lacunas na vida do Ivan. Os documentos mostram que ele tinha cidadania israelense. Mas ele foi vivervaidebet de quem éIsrael mesmo? Ele foi trabalhar com o Mossad?", diz a psicóloga.
No entanto, os documentos obtidos pela família apontamvaidebet de quem éuma direção: Adolf Eichmann.
5 - Operação Final

Crédito, Getty Images
A segunda vez que Ivan Muller e Adolf Eichmann estiveram ao mesmo tempo na mesma cidade foivaidebet de quem émaiovaidebet de quem é1960,vaidebet de quem éBuenos Aires, quando o nazista foi sequestrado por agentes do Mossad.
Após o fim da guerra, Eichmann viveu escondido por alguns anos na Áustria. Em 1950, entrou na Argentina usando documentos falsos.
Estima-se que 9 mil nazistas fugiram para a América do Sul utilizando as chamadas "rotasvaidebet de quem ératos", que passavam por países como Dinamarca, Itália e Suécia. O principal destino foi a Argentina, cujo presidente, Juan Domingo Perón, era simpatizante do nazismo.
Como escreveu Hannah Arendt, Eichmann morreu pela boca. Embora vivessevaidebet de quem éBuenos Aires com o nome falsovaidebet de quem éRicardo Klement, ele não se furtava a falar sobrevaidebet de quem éverdadeira história na comunidade alemã da cidade, relata a escritora.
Porém, foi seu filho Klaus quem o denunciou. O jovem tinha um relacionamento com uma adolescente judia chamada Sylvia, e um dia contou à namorada que seu pai tivera um cargo importante no Terceiro Reich.
O pai da garota, Lothar Hermann, um judeu alemão que emigrara para a Argentina antes da guerra, desconfiou que o sogro da filha era Adolf Eichmann. Ele acionou a políciavaidebet de quem éIsrael, que montou uma operação para prendê-lo.
Essa história é narradavaidebet de quem éBaviera Tropical (ed. Todavia), da jornalista Betina Anton, que investigou a sagavaidebet de quem éJosef Mengele, um dos médicosvaidebet de quem éAuschwitz, conhecido como "Anjo da Morte" por suas experiências macabras e por ser responsável pela mortevaidebet de quem émilhares nas câmarasvaidebet de quem égás.
Segundo o livro, Mengele também viveu na Argentina, se encontrou algumas vezes com Eichmann, mas, após o sequestro e julgamento do colega nazista, se escondeu no Paraguai e, finalmente, no Brasil, onde viveu por quase 20 anos até morrer afogadovaidebet de quem é1979vaidebet de quem éuma praiavaidebet de quem éBertioga, no litoral paulista.
"O primeiro-ministrovaidebet de quem éIsrael na época, David Ben-Gurion, queria que um nazista famoso fosse levado a julgamentovaidebet de quem éJerusalém. Ele queria mostrar à geração mais jovem o que foi o Holocausto, pois, no imediato pós-guerra, não se sabia direito como tinha sido", diz Anton.
"O julgamentovaidebet de quem éEichmann ficou famoso, porque ele foi o primeiro a ser encontrado. Os depoimentos das vítimas foram televisionados com tradução simultânea."
Eichmann foi capturado por agentes do Mossad quando voltava para casa depoisvaidebet de quem éum diavaidebet de quem étrabalho na fábrica da Mercedes-Benz.
"Os agentes israelenses do Mossad tiveram ajudavaidebet de quem évárias pessoas da comunidade judaicavaidebet de quem éBuenos Aires, que era grande. Pessoas que cederam carros, alugaram casas, mostraram a cidade. Dezenasvaidebet de quem épessoas participaram", diz Anton.
A jornalista entrevistou,vaidebet de quem é2017, Rafi Eitan (1926-2019), comandantevaidebet de quem éoperações do Mossad no sequestro do nazista.

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Eichmann foi mantidovaidebet de quem éuma casavaidebet de quem éBuenos Aires por dez dias até ser levado, dopado, para Israelvaidebet de quem éum voo comercial.
O problema é que a operação foi ilegal e violou a soberania da Argentina, aponta a Anton.
"O sequestro criou um problema diplomático por alguns meses. Israel chegou a ser condenado no Conselhovaidebet de quem éSegurança das Nações Unidas", diz a jornalista.
Segundo uma reportagem do jornal argentino Infobae, que anos depois tentou reconstituir a famosa operação, a casa usada como cativeiro eravaidebet de quem éuma mulher chamada Yudith Nasiahu.
Ela supostamente trabalhava para o Mossad e havia simulado um casamento com outro israelense para conseguir alugar a residência.
A famíliavaidebet de quem éIvan e o cineasta Luiz Carlos Lucena acreditam que Yudith Nasiahu e Judit Weiss, mulhervaidebet de quem éIvan, podem ter sido a mesma pessoa, mas reconhecem que dificilmente conseguirão provar essa teoria, maisvaidebet de quem é64 anos depois.
A BBC News Brasil procurou o Museo del Holocaustovaidebet de quem éBuenos Aires, dedicado à história dos refugiados judeus na Argentina. Após um mêsvaidebet de quem ébuscas, os pesquisadores disseram não ter encontrado nenhuma informação sobre a passagemvaidebet de quem éIvan e Judit Weiss pela cidadevaidebet de quem é1960.
Também afirmaram não haver elementos para dizer que Judit Weiss e Yudith Nasiahu eram a mesma pessoa. A reportagem não encontrou nenhuma informação sobre Yudith Nasiahu, além das poucas citações ao seu nomevaidebet de quem étextos sobre a chamada "Operação Final".
6 - Um novo nome

Crédito, Reinaldo Canato
Os documentos mostram que Ivan e Judit Weiss entraram no Brasil por Porto Alegrevaidebet de quem é19vaidebet de quem éjunhovaidebet de quem é1960, com um "salvo-conduto" expedido pelo Consuladovaidebet de quem éIsrael na Argentina.
Segundo um defensor público federal especialistavaidebet de quem éimigração consultado pela reportagem, o salvo-conduto é um documentovaidebet de quem éviagem ligado ao asilo diplomático, concedido para pessoas sob riscovaidebet de quem ésofrer alguma perseguição ou sanção, como prisão.
O defensor falou à BBC News Brasilvaidebet de quem écondiçãovaidebet de quem éanonimato por ter comentado sobre o temavaidebet de quem éforma geral e não ter analisado o caso específico.
O especialista explica que esse documento, geralmente expedido por uma embaixada estrangeira, permite que uma pessoa possa entrarvaidebet de quem éoutro país sem a necessidadevaidebet de quem évisto ou passaporte.
O que não era o casovaidebet de quem éIvan e Judit, que, embora tivessem o salvo-conduto, entraram no Brasil com passaportes e cidadania israelenses.
Esse é outro ponto que, para a família, só aumenta o mistériovaidebet de quem étornovaidebet de quem éIvan. Para Lucena, essa história talvez nunca seja revelada por inteiro.
Ele participou do sequestrovaidebet de quem éEichmann? Caçava outros nazistas no Brasil? Ou era só um vigarista bemvaidebet de quem évida que engravidava mulheres e as abandonava com os filhos nos braços?
"Para mim, o importante da história não é o resultado", diz o cineasta.
"Se eu fosse chutar, diria que eles estavam envolvidos no sequestro, sim. Eles pareciam estar fugindo da Argentina. Entraram no Brasil com salvo-conduto,vaidebet de quem éum períodovaidebet de quem éque não havia guerra. Mas não sei se chegaremos a uma resposta. Para mim, o importante é a busca, a procura dos filhos por esse pai."
Dois anos depois do início das gravações, Ronaldo e Viviane dizem que mudaramvaidebet de quem éperspectiva sobre o pai.
"Ele sempre foi um vigarista, um bígamo que abandonou minha mãe. Hoje, acredito que ele estava nos protegendovaidebet de quem éalguma forma. Para mim, ele é um herói. Ganhei um pai e duas irmãs", diz Ronaldo.
Para Viviane, a busca por Ivan Muller a ajudou a se reconciliar com o "pai ausente e abusador".
"Hoje ele é outra pessoa para mim, fiz as pazes, por tudo o que ele passou… Descobri essa minha origem judaica, descendente do Holocausto, judia preta, filhavaidebet de quem émãe retinta. Não é pouca coisa. Foi Ivan quem me deu essa história. E sei que passei muito pertovaidebet de quem énão estar aqui”.
Nos últimos meses, a psicóloga finalmente conseguiu incluir o sobrenome do paivaidebet de quem éseus documentos: Viviane Gislaine Anibal Muller.











