Crise na Venezuela: O desespero dos que se prostituem na fronteira com a Colômbia:bet 360

Crédito, Cecilia Tombesi/BBC
"Me dê 10 minutos, chegou um cliente", respondeu Francesca**.
Ela havia proposto aquele horário por ser o único momento do dia (e da noite)bet 360que podia fazer uma pausa para conversarmos. Mas apareceu um cliente - e ela não podia se dar ao luxobet 360recusar.
O parque Mercedes é um lugar conhecido por reunir trabalhadores sexuais.
Salvar-se como puder
O desespero causado pela crise na Venezuela e a necessidadebet 360encontrar uma formabet 360alimentar a família fizeram com que muitos venezuelanos se vissem forçados a fazer coisas que nunca imaginariam.
Entre elas, trabalhar na indústria do sexo.

Crédito, Cecilia Tombesi/BBC
Histórias como abet 360Francesca, mãebet 360três filhos, têm se tornado menos incomuns.
Mulheres que se tornaram garotasbet 360programa e organizações que lhes oferecem ajuda calculam que, atualmente, cercabet 36080% das trabalhadoras sexuaisbet 360Cúcuta são venezuelanas.
Muitas (e muitos) estãobet 360situaçãobet 360vulnerabilidade tão delicada que se submetem a circunstâncias extremas, diz Miguel Ángel Villamizar, assistente social ligado à Fundación Censurados, uma ONG que presta apoio a imigrantes venezuelanos.
Assim como para Francesca e para maisbet 360um milhãobet 360venezuelanos que fugiram do país e buscaram refúgio no vizinho.
"Um dia, não aguentei mais. Meus filhos me diziam: 'Mamãe, estou com fome'". Era tanta que lhes doía o estômago. Eu não tinha nada para dar a eles. Eu consigo aguentar, mas eles, não", diz Francesca.
Quando saiubet 360casa, a única coisa que havia na geladeira eram seis ovos, farinha e um poucobet 360queijo.
Exploração infantil
Grupos que ajudam imigrantesbet 360Cúcuta afirmam que houve um aumento significativo da parcelabet 360pessoas que oferecem serviços sexuais na cidade.
O mais preocupante envolve menoresbet 360idade.

Crédito, Cecilia Tombesi/BBC
"Nunca tinha visto um índice tão elevadobet 360participaçãobet 360menoresbet 360idade na prostituiçãobet 360toda a minha carreira no trabalho voluntário", destaca Rafael Velásquez, encarregado até setembrobet 3602018 da missãobet 360Cúcuta do Comitê Internacionalbet 360Resgate (IRC, na siglabet 360inglês), que presta ajuda a vítimasbet 360crises humanitárias.
Velásquez já passou por zonasbet 360conflitobet 360Darfur, na Somália, no Iêmen, na Nigéria e na República Centro-Africana.
Em uma pesquisa realizada pela organização, 27% dos ouvidos disseram ter sido abordados por desconhecidos que se ofereceram para levar seus filhos da Venezuela à Colombia oferecendo-lhes melhores condiçõesbet 360vida.
"Esse é um indicadorbet 360tráfico ebet 360exploração infantil vinculado à prostituição. E a porcentagem é muito maior do que a que temos vistobet 360outros contextosbet 360emergência", afirma Velásquez.
Praticamente todos os entrevistados sabiambet 360algum caso.
Yomaira Arsia costumava trabalhar como garotabet 360programa e agora ajuda mulheres envolvidas com a prostituição.
"Carla era uma adolescentebet 360família boa, uma estudante que nunca tinha tido relações sexuais, e tive que ensiná-la a trabalhar como prostituta. Foi horrível."
"Na áreabet 360que vivo", acrescenta, "uma mulher venezuelana vendeubet 360filha a um homem muito mais velho."
'Em quase todas as esquinas'
A prática ficou muito mais visível: não apenas à noite, comobet 360costume, mas também à luz do dia ebet 360lugares nos quais antes não se encontrava prostituição.
"A situação piorou no último ano, agora a prostituição estábet 360quase todas as esquinas. É doloroso e triste, parte o coração", diz Rito Álvarez, da Fundación Oasisbet 360Amor y Paz, que ajuda imigrantes na fronteira.

Crédito, BBC
Outras variantes na formabet 360inserção dos migrantes na indústria sexual do lado colombiano envolve casais.
"São heterossexuaisbet 360que ambos trabalham na prostituição. A mulher atende os clientesbet 360dia e o homem, à noite - dessa forma eles conseguem se revezar para cuidas dos filhos", diz Villamizar.
Também há casos, acrescenta,bet 360que deixam as crianças dormindo à noite e saem juntos para trabalhar até a madrugada.
"Atendem a quem quer que se aproxime, seja homem ou mulher", diz ele.
O objetivo é ganhar dinheiro para mandar aos familiares na Venezuela, como fazem diversos venezuelanos que saíram do país, hoje imersobet 360uma profunda crise econômica que provocou um êxodo massivo reconhecido pela ONU, mas negado pelo governobet 360Nicolás Maduro.
Carolina também conhece vários casos envolvendo casais venezuelanos. Nem sempre os maridos trabalham, ela conta, mas estão por perto.
No caso dela, seus dois filhos a acompanham. "Eles veem que as mulheres saem com muitos homens, mas eu lhes digo que não devem fazer isso."
Sexo sem camisinha rende mais dinheiro
As ONGs que atuam no local identificaram outra prática recorrente entre as trabalhadoras sexuaisbet 360Cúcuta: concordar com uma relação sem preservativo para que os clientes paguem mais.

Crédito, Cecilia Tombesi/BBC
Muitas sabem dos riscos, ressalta Villamizar, mas dizem aceitar porque precisambet 360dinheiro.
Carolina conta que uma colega que já tinha três filhos deu à luz recentemente.
"Elas fazem isso por sobrevivência. Comem uma vez por dia e tomam água para tentar enganar a fome. As condiçõesbet 360que exercem a prostituição são desumanas", afirma uma pessoa que trabalha com imigrantes na fronteira e que pediu para manter o anonimato.
"As venezuelanas atendem até 12 clientes por noite e cobram muito menos. Algumas pedem entre 5.000 e 10 mil pesos por programa (US$ 1,60 e US$ 3,20, respectivamente), enquanto uma colombiana cobraria 50 mil pesos (US$ 15)", conclui.
Francesca já chegou a fazer quase 30 programasbet 360um fimbet 360semana.
'Pague 5.000 pesos e coma duas venezuelanas'
Não faltam aqueles que se aproveitam do desespero dos imigrantes venezuelanos.
"É horrível. Um dos bares da região tem o seguinte letreiro na entrada: 'Pague 5.000 pesos e coma duas venezuelanas", diz Álvarez, da Fundación Oasisbet 360Amor y Paz.
"Também é comum se ouvir nas esquinas os funcionáriosbet 360bares (prostíbulos) gritando: 'Venham comer, senhores. Agora que as venezuelanas custam pouco podemos aproveitar", acrescenta.
A maioria dos imigrantes chega com a esperançabet 360encontrar algum trabalho, mas não é fácil.
De acordo com o órgão oficialbet 360estatísticas do país, o Sistema Estadístico Nacionalbet 360Colombia, Cúcuta é a segunda cidade com maior taxabet 360desemprego no território - 16,2%bet 360setembrobet 3602018.
'Modelos'
As webcams também são parte do negócio. Nos jornais locais vê-se com frequência anúnciosbet 360buscabet 360"modelos".
"É como vender o corpo, mas ninguém te toca porque é pela internet... Para mim o mais difícil foi transar com uma mulher, porque sou gay", conta David Contreras.

Crédito, Cecilia Tombesi/BBC
Ele diz ter concordadobet 360se relacionar com uma mulherbet 360frente às câmeras porque lhe ofereceram uma boa quantidadebet 360dinheiro, e os colegas o pressionaram para aceitar.
"Somos quatro (trabalhando juntos), e umas 300 pessoas nos veem. Elas pedem que você faça certas coisas, que realize fantasias que elas têm", afirma.
Na Venezuela, ele estudava e trabalhava no tempo livre. O que ganhava, entretanto, só dava para comprar verduras - foi quando decidiu ir para a Colômbia tentar a sorte, mesmo sem conhecer ninguém.
"Lavei carro, trabalheibet 360salãobet 360beleza ebet 360uma loja, mas o dinheiro não era suficiente. Nunca pensei que acabaria fazendo o que faço, mas foi o que consegui para poder ajudar minha família", lamenta Contreras.
Os familiares vivem próximo à fronteira, assim eles conseguem se ver com certa regularidade.
"Nos encontramosbet 360algum ponto e tomamos sorvete. Depois dou-lhes dinheiro e é cada um para o seu lado."
Maus-tratos, agressões e ofensas
O avanço da prostituição tem sobrecarregado o sistemabet 360saúde do departamento (divisão político-administrativa da Colômbia)bet 360Nortebet 360Santander, cuja capital é Cúcuta.
"Muitas mulheres têm diagnósticobet 360depressão psiquiátrica e precisambet 360medicação", explica um membrobet 360uma organização que presta apoio a imigrantes e que preferiu manter o anonimato.
"Para conseguirem trabalhar, muitas consomem drogas e chegam a passar 12 horas alcoolizadas. Elas também têmbet 360lidar com uma tristeza enorme, com a batalha da imigração, o desenraizamento e uma violência que não tinham experimentado antes", acrescenta.
A venezuelanos sem recursos, é extremamente difícil ter acesso a tratamentos médicos.
"Trabalhar na prostituição afeta muito a gente. Uma noite, o cliente me roubou, me usou três vezes e,bet 360manhã, disse que não me pagaria", lembra Francesca.
"Te maltratam, te agridem, te ofendem… Uma amiga foi estuprada e largada nua na rua."
Há ainda uma questãobet 360saúde pública - a dificuldadebet 360evitar a propagaçãobet 360infecções sexualmente transmissíveis, particularmente o HIV, que,bet 360acordo com a experiência da Fundación Censurados na região, tem se proliferado entre os imigrantes.
"Há um ano fazíamos cinco testesbet 360HIV por semana, agora são 30", diz Villamizar.
Um corpo no meio da ponte
Um relatório do Instituto Nacionalbet 360Saúde da Colômbia documenta os casos "importados"bet 360Aids.
A maioria vem da Venezuela, e a maior concentração está na região nortebet 360Santander.
"Há um aumento incomum na fronteira", ressalta Alfonso Rodríguez-Morales, coautorbet 360um estudo sobre o impacto da crise migratória venezuelana sobre a ocorrênciabet 360doenças infecciosasbet 360outros países.
Apesar do cenário, ele diz, não houve alteração significativa no número totalbet 360casos diagnosticados anualmente na Colômbia e a maioria continua sendo autóctone.
Por detrás das estatísticas, contudo, há uma sériebet 360histórias dolorosas que, com frequência, não têm um final feliz.
"Vi tantas coisas difíceis…", diz Archila.
"Mas talvez o mais difícil foi ter que carregar o corpobet 360um venezuelano e deixá-lo no meio do caminho da ponte Simón Bolívar (uma das que liga Venezuela e Colômbia)".
"Ele morreubet 360decorrênciabet 360Aids e a família não tinha como pagar o traslado do corpo", explica.

**Os nomes foram alterados para manter o anonimato
*Colaborou Simon Maybin.


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