A jovem indígena que comanda luta por rio sagrado e busca justiça para a mãe assassinada:vbet email

Crédito, Paula Señán Castellano/Divulgação
Projeto da discórdia
Berta Cáceres, a mãe, era a líder indígena, ambientalista e feminista mais proeminentevbet emailHonduras quando foi assassinada a tiros dentrovbet emailcasa, emvbet emailcidade natalvbet emailLa Esperanza, no oeste do país, na noitevbet email3vbet emailmarçovbet email2016.
Prestes a cumprir 45 anos, recebera um ano antes o Prêmio Goldmanvbet emailMeio Ambiente, conhecido como o "Nobel dos ambientalistas", por seus esforços para impedir a construção da represa Agua Zarca no rio Gualcarque.
À frente do Conselho Cívicovbet emailOrganizações Populares e Indígenasvbet emailHonduras (Copinh), a mestiça que se dizia orgulhosavbet emailsuas raízes lencas apoiou bloqueiosvbet emailestradas, sabotagemvbet emailequipamentos e piquetesvbet emailfrente à empresa hondurenha Desarrollos Energéticos S.A. (DESA), responsável pelo projeto.

Crédito, Goldman Environmental Prize
Comvbet emailpresença, deu mais visibilidade à mobilização da comunidade Lencavbet emailRio Branco, afetada pelas obras.
As ações, somadas à pressão diretavbet emailCáceres sobre instituiçõesvbet emailcrédito dispostas a financiar Agua Zarca, levaram a empresa chinesa Sinohydro a abandoná-lovbet email2013.
Ao mesmo tempo, o climavbet emailviolência não cessouvbet emailpiorar na região. Vários companheirosvbet emailCáceres foram assassinados antes e depois dela.
Legado
Com a morte da ativista, Bertita, a filha, atendeu o chamado do Copinh e abandonou o mestradovbet emailEstudos Latino-americanos que cursava no México para assumir a coordenação-geral da organização no lugar da mãe.
"Sabemos do risco, mas o objetivo não é deixar que o medo vença. É o que temos que fazer", diz à BBC Brasil, referindo-se a si mesma no plural.
A firmeza com que ela fala contrasta com a aparência frágil.
"Esta é uma luta pelos direitosvbet emailum povo milenar, mas é também uma luta por justiça para minha 'mami' e por reparação pessoal."

Crédito, Divulgação
Doisvbet emailseus três irmãos – Salvador, 23 anos, e Laura, 25 anos – continuam vivendo fora do país por questõesvbet emailsegurança. Só a irmã mais velha, Olivia, advogadavbet email28 anos, vivevbet emailHonduras, onde segue carreira política.
Delicada, Bertita é mais um frutovbet emailuma famíliavbet emailmulheres fortes. A avó, Austra Berta Flores, 86 anos, foi parteira e enfermeira antesvbet emailser eleita três vezes prefeitavbet emailLa Esperanza. Nos anos 80, quando a América Central fervia entre guerrilhas, golpesvbet emailEstado e ditaduras, foi também governadoravbet emailIntibucá, região à qual pertence La Esperanza, alémvbet emaildeputada nacional.
A família cresceuvbet emailmeio a um "profundo respeito pela terra" e com a "consciênciavbet emailque é necessário lutar para protegê-la", afirma a jovem.
Ela e seus irmãos participavamvbet emailincursões por comunidades lenca, a maior etnia indígenavbet emailHonduras, com cercavbet email400 mil representantes, aos quais a mãe inculcava o orgulhovbet emailsuas origens e explicava seus direitos.
"Mamãe queria que víssemos como eles vivem, que tivéssemos esse contato com a terra, com essa realidade."

Crédito, Copinh
Ameaças e assassinatos
Bertita tinha dois anos quando seus pais fundaram juntos o Copinh,vbet email1993.
Em suas lembrançasvbet emailinfância convivem imagensvbet emailmontanhas e rios, reuniões familiares, cartazes coloridos, manifestações animadas e gases lacrimogêneos voando das mãosvbet emailpoliciais.
"Com o tempo fomos nos dando conta do perigo que envolvia as atividadesvbet emailmamãe. As ameaças eram tão frequentes que acabávamos achando normal aquela vida."
Nos últimos anos, Cáceres denunciou 33 ameaçasvbet emailmorte ao Ministério Público hondurenho. Promessasvbet emaillinchamento evbet emailestupro,vbet emailsequestros aos filhos,vbet emailagressões contra a mãe.
Quando foi assassinada, a ativista estava teoricamente sob proteção do governo.
Bertita afirma que ainda não foi alvovbet emailameaças desde que assumiu o comando do Copinh.
"Ameaças diretamente contra mim não. Mas somos alvovbet emailuma campanhavbet emailcriminalização do Copinh,vbet emaildescrédito pessoal."

Crédito, Goldman Environmental Prize
Acusações
Bertita Zuñiga se prepara agora para dar o maior passo emvbet emailbusca por justiça para a mãe.
Neste mês, apresenta na Holanda uma denúncia contra o Bancovbet emailDesenvolvimento desse país (FMO), ao que acusavbet emailconivência no assassinatovbet emailCáceres.
A instituição foi um dos principais investidores no projeto Agua Zarca, ao qual destinou 7 milhõesvbet emaildólares, metade do previsto inicialmente, antesvbet emailsuspendervbet emailparticipação, à raiz da repercussão internacional ao redor da morte da ativista.
A queixa contra o FMO se apoia nas conclusões do Grupo Assessor Internacionalvbet emailPessoas Especialistas (Gaipe), criado a pedido da família Cáceres para realizar uma investigação independente do caso.
"Concluímos que o FMO tinha conhecimento das ameaças e dos ataquesvbet emailDESA contra Berta e contra o povo lenca e não fez nada. Ao contrário, continuou financiando o projeto. Por isso, é corresponsável pelo crime", explicou à BBC News Brasil o advogado guatemalteco Miguel Ángel Urbina Martínez, membro do Gaipe.
Em comunicado enviado à BBC News Brasil, o FMO afirma que está "totalmente comprometido com o respeito dos direitos humanosvbet emailtodos os projetos" dos quais participa. No casovbet emailAgua Zarca, a entidade "encomendou uma missãovbet emailespecialistas independentes, agindovbet emailacordo com suas descobertas para reduzir as tensões da comunidade e saiu do projeto", diz. "O FMO reconhece o direito a um processo legal e confia que os tribunais (holandeses) confirmarão que o FMO agiuvbet emailboa fé."
O banco também "reitera seu chamado às autoridades hondurenhas para que levem à justiça os responsáveis" pelo assassinatovbet emailBerta Cáceres, ao que se refere como um "crime terrível".

Crédito, Márcia Bizzotto/BBC Brasil
A equipe do Gaipe, formada também por dois advogados americanos e outros dois colombianos, entrevistou testemunhas e acusados e analisou os documentos do casovbet emailposse do Ministério Público, entre eles registros telefônicos, emails e outras mensagens entre executivos do FMO evbet emailDESA.
A companhia energética, porvbet emailparte, é acusada pelo Gaipevbet emailhaver organizado o assassinato.
Dois anos depois do crime, nove pessoas estão presas, entre elas ex-militares hondurenhos, um ex-chefevbet emailsegurançavbet emailDESA e o presidente executivo da empresa, Roberto David Castro Mejía, detidovbet emailmarço sob acusaçãovbet emailhaver organizado a logística do crime e proporcionado recursos.
Procurada pela BBC Brasil, a Hidroelétrica Agua Zarca, gestionada por DESA, afirmou que "a pessoa autorizada a dar declarações sobre o caso está ocupada atendendo outras funções urgentes".
Na época, DESA publicou um comunicado classificandovbet email"injusta" a prisãovbet emailCastro, que, "como todos os membros (da empresa), está totalmente desvinculado do infeliz episódio que terminou com a vida da senhora Berta Cáceres".
"A empresa rechaça totalmente esta decisão, que resultavbet emailpressões internacionais e campanhasvbet emaildesprestígiovbet emaildiversas ONGs contra a empresa."
Pressão internacional
A filhavbet emailBerta Cáceres, porvbet emailvez, se diz convencidavbet emailque as detenções só ocorreram devido à pressão internacional sobre o governo hondurenho.
"A justiça,vbet emailum dos países com as maiores taxasvbet emailimpunidade do mundo. Não vai chegar por vontadevbet emailum Estado que criminalizou e perseguiu minha 'mami'. Sabemos que se não mantemos a pressão internacional o caso pode ficar impune", acredita.
É com esse objetivo que ela visita esta semana algumas das principais capitais europeias. Em Bruxelas, Zuñiga se reuniu com representantes do Serviçovbet emailAção Exterior da União Europeia e com deputados da UE, antesvbet emailseguir viagem à Haia, Berlim e Madrid, decidida a não deixar a mortevbet emailsua mãe cair no esquecimento.
A família exige que a justiça hondurenha se interesse também pelos autores intelectuais do crime.
"Não hesitamosvbet emailfazer o que for necessário para obter justiça e a garantiavbet emailnão repetição para as comunidades indígenas. Não queremos resultados vagos. Queremos acabar com a estrutura que permitiu esse crime e que continua ativa, ameaçando a comunidade lenca que se resiste ao projeto Agua Zarca", afirma Zuñiga com uma determinação que faz brilhar seus pequenos olhos marrons.
Esse é o projetovbet emailsua vida? Ela se encolhe e sorri com candor: "Acho que sim. É o projetovbet emailmuita gente".








