Amazônia desmatada concentra 9betmotion e confiavelcada 10 mortesbetmotion e confiavelativistas por conflito no campo:betmotion e confiavel

Ilustração sobre mortes no campo

Crédito, Vitor Flynn/BBC Brasil

Legenda da foto, Maioria das mortes no campo ocorre nas bordas da Amazônia

A ONG investiga abusos ambientais e contra os direitos humanos, e define como "ativistas" indivíduos engajados, voluntariamente ou profissionalmente, na luta pacífica por terras e pela defesa do meio ambiente. Nabetmotion e confiavelvisão, esse grupo reúne indígenas, líderes camponeses ou mesmo advogados, jornalistas e funcionáriosbetmotion e confiavelorganizações.

Os dados compilados pela Global Witness são baseadosbetmotion e confiavelinformações coletadas pela Comissão Pastoral da Terra - ambas as organizações alertam que a quantidadebetmotion e confiavelmortos pode ainda estar subestimada. Críticos, porbetmotion e confiavelvez, dizem que a lista pode estar incluindo crimes sem relação com ativismo.

Procurado pela BBC Brasil para comentar os números, o Ministério da Justiça afirmoubetmotion e confiavelnota que "o governo brasileiro é um dos mais atuantes nas políticasbetmotion e confiavelerradicaçãobetmotion e confiavelconflitos agrários". Argumentou ainda que o ranking global considera a quantidade totalbetmotion e confiavelmortes, sem levarbetmotion e confiavelconta a população do país. "Sendo o Brasil o maior país da região, esses dados podem ter outras leituras."

Legenda do vídeo, Mapa mostra que 9betmotion e confiavel10 ativistas assassinados no Brasil morreram na Amazônia

No entanto, se considerada isoladamente, a Amazônia Legal tem uma taxabetmotion e confiavelmortesbetmotion e confiavelrelação à população que supera abetmotion e confiavelHonduras - o que a torna o território mais perigoso do mundo.

"Há um agravamento da violência no campo", avalia Darci Frigo, presidente do Conselho Nacionalbetmotion e confiavelDireitos Humanos.

"Em outros momentos, quem era assassinado eram as lideranças. Agora, há uma generalização. No casobetmotion e confiavelColniza (o massacrebetmotion e confiavelabrilbetmotion e confiaveltrabalhadores rurais no MT), por exemplo, ficou evidente que mataram todo mundo que viram pelo caminho, não procuraram os líderes. Também há um aumento da brutalidade dos assassinatos, com requintebetmotion e confiavelcrueldade, tortura, execuções muito bárbaras."

Históriabetmotion e confiavelviolência

As 33 vítimas registradas no país até maio representam um terço do totalbetmotion e confiavelativistas mortosbetmotion e confiaveltodo o mundobetmotion e confiavel2017 -betmotion e confiavelsegundo lugar está a Colômbia, com 22 pessoas assassinadas. Entre os brasileiros assassinados, 28 eram trabalhadores ou militantes rurais da região amazônica.

É o casobetmotion e confiavelRoberto Santos Araújo, integrantebetmotion e confiavelum movimento camponêsbetmotion e confiavelRondônia, assassinado a tirosbetmotion e confiavel1ºbetmotion e confiavelfevereiro. E obetmotion e confiavelWaldomiro Costa Pereira, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), mortobetmotion e confiavel20betmotion e confiavelmarço no hospitalbetmotion e confiavelParaupebas (PA), onde se recuperavabetmotion e confiaveloutro atentado.

Em 19betmotion e confiavelabril, foi a vez do massacrebetmotion e confiavelColniza (MT), áreabetmotion e confiaveldisputa por madeira. Foi o pior no Brasilbetmotion e confiavelmaisbetmotion e confiavelvinte anos, com nove mortos.

Dias depois,betmotion e confiavel4betmotion e confiavelmaio, Kátia Martins,betmotion e confiavel43 anos, foi assassinada dentrobetmotion e confiavelcasa, na frente do neto,betmotion e confiavelCastanhal, nordeste do Pará. Era presidentebetmotion e confiaveluma associaçãobetmotion e confiavelmoradoresbetmotion e confiavelum assentamento rural. No mesmo dia e Estado, Etevaldo Soares Costa, membro do MST, foi morto a tiros e teve os dedos decepados, indíciobetmotion e confiaveltortura.

Vinte dias depois, outra chacina: o massacrebetmotion e confiavelPau D'Arco (PA), com dez mortos, durante uma operação policial que cumpria mandadosbetmotion e confiavelprisão contra suspeitosbetmotion e confiavelenvolvimento na morte do segurançabetmotion e confiaveluma fazenda.

As regiões que concentram as mortes tem um históricobetmotion e confiavelconflitos entre grandes e pequenos posseiros. Em 1995, 12 pessoas foram assassinadasbetmotion e confiaveluma só vezbetmotion e confiavelCurumbiara (RO), entre elas dois policiais. No ano seguinte, 19 sem-terra foram mortos pela polícia militar no massacrebetmotion e confiavelEldorado dos Carajás (PA).

Casosbetmotion e confiavelassassinatobetmotion e confiavelproprietários rurais ou seus funcionários são raros, mas também ocorrem, explica o delegado Mario Jorge Pinto Sobrinho, da delegaciabetmotion e confiavelconflitos agráriosbetmotion e confiavelRondônia: "Morrem pessoas dos dois lados. Mas a maior parte das mortes é do lado dos movimentos sociais".

No Estado, ainda há episódiosbetmotion e confiavelviolência não letal supostamente praticada por grupos sem-terra, como destruiçãobetmotion e confiavelpropriedade privada.

O mapa das mortes mostra que elas se concentrambetmotion e confiavelregiões marcadas pelo avanço da exploraçãobetmotion e confiavelmadeira, pecuária e agricultura.

"A terra na Amazônia está sendo tomada para agricultura e outros grandes negócios, bem como para exploração madeireira. O fato comum é que as comunidades não dão o seu consentimento sobre o uso dabetmotion e confiavelterra ebetmotion e confiavelseus recursos naturais. Isso as colocabetmotion e confiavelrotabetmotion e confiavelcolisão com interesses poderosos, que leva à violência", diz Ben Leather, da Global Witness.

Cemitério no Pará

Crédito, Mario Campagnani/Justiça Global/Divulgação

Legenda da foto, Cemitériobetmotion e confiavelvítimas da chacinabetmotion e confiavelPau D'Arco, no Pará

Ocupação desordenada

Especialistas ouvidos pela BBC Brasil apontam as disputas pela posse da terra como a principal causa da violência no campo na Amazônia.

"Há 50 anos, o Brasil ocupa a Amazôniabetmotion e confiavelforma desordenada. Falta uma política perenebetmotion e confiavelregularização das terras. Enquanto não houver isso, os conflitos vão continuar", afirma Marco Antonio Delfinobetmotion e confiavelAlmeida, procurador da República e coordenadorbetmotion e confiavelgrupobetmotion e confiaveltrabalho sobre terras públicas.

A ocupação da Amazônia foi estimulada nos anos 1970, pelo governo militar. É dessa época o slogan "terras sem homens para homens sem terra". Mas, até hoje, grande parte das áreas ocupadas nessa região pertence à União ou aos Estados. São terrenos públicos, que não foram transferidos oficialmente a um proprietário, o que eleva a tensão na disputa por eles.

O tamanho impressiona: são 43 milhõesbetmotion e confiavelhectaresbetmotion e confiavelterras públicas federais sem destinação na região amazônica, segundo estimativas do governo federal. Isso sem contar as áreas públicas estaduais.

Segundo a Secretaria Especialbetmotion e confiavelAgricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (antigo Ministério do Desenvolvimento Agrário), nos últimos oito anos o governo federal já concedeu títulosbetmotion e confiavelpropriedadebetmotion e confiavel13 milhõesbetmotion e confiavelhectares na Amazônia. Ou seja, essas terras deixarambetmotion e confiavelpertencer ao Estado e passaram para as mãosbetmotion e confiavelalgum proprietário que já ocupava o local.

Imagensbetmotion e confiavelsatélite mostram a evolução do processobetmotion e confiavelocupação da periferia da Amazônia. Até meados da décadabetmotion e confiavel1980, as zonas desmatadas estavam concentradasbetmotion e confiaveltornobetmotion e confiavelestradas. Ao longo do tempo, pastos e plantações foram avançando sobre a floresta. A expansão só é interrompida nos limitesbetmotion e confiavelterras indígenas e áreasbetmotion e confiavelpreservação ambiental.

Em Rondônia e no Pará, desde 1988 foram desmatados 200 mil quilômetros quadradosbetmotion e confiavelfloresta nativa,betmotion e confiavelacordo com a medição do Prodes, do Instituto Nacionalbetmotion e confiavelPesquisas Espaciais. É uma área equivalente à do Paraná.

Para Josep Iborra Plans, da Articulação Amazônia da Comissão Pastoral da Terra, "a maior parte das mortes sãobetmotion e confiavelpessoas lutando pela distribuição da terrabetmotion e confiaveláreasbetmotion e confiavelterra pública griladas no passado por grandes fazendeiros".

Mapa mostrando as mortes

Crédito, Google Earth/Reprodução

Legenda da foto, Pontos vermelhos mostram onde foram mortos ativistas pela terra,betmotion e confiavel2015 a maiobetmotion e confiavel2017

Futuro

Há uma preocupação com o agravamento da violência, retratado pelas chacinas ocorridas neste ano. Pessoas ligadas ao tema entrevistadas pela BBC Brasil estão pessimistas e apontam fatores que podem ampliar a disputa pelas terras na Amazônia.

Entre eles, a queda drástica na reforma agrária. No ano passado, a quantidadebetmotion e confiavelterras destinadas a este fim foi a menor já registrada: 27 mil hectares,betmotion e confiavelacordo com dados do Incra. Para comparação,betmotion e confiavel2011 foram 1,9 milhãobetmotion e confiavelhectares.

"O assentamentobetmotion e confiavelreforma agrária parou desde os últimos anos do governo Dilma Rousseff. Além disso, com a crise econômica, a demanda por terras aumentou. Há muita gente que está tentando voltar para o campo. O pessoal que tinha um pequeno negócio na cidade, por exemplo, e perdeu clientes. Também fecharam usinas hidrelétricas, deixando gente desempregada", aponta Plans, da Comissão Pastoral da Terra.

Outro fatorbetmotion e confiavelpreocupação é o desmatamentobetmotion e confiavelalta. A quantidadebetmotion e confiaveláreas desmatadas na Amazônia Legal voltou a crescerbetmotion e confiavel2015,betmotion e confiavelacordo com o Prodes.

Medidas recentes tomadas pelo governobetmotion e confiavelMichel Temer também são vistas com preocupação. Entre elas, a aprovação da MP 759, apelidada por grupos ambientalistasbetmotion e confiavel"MP da grilagem" e sancionada pelo presidentebetmotion e confiaveljulho. Essa legislação permite que sejam regularizadas vastas áreas localizadasbetmotion e confiavelterras públicas da União.

"O presidente Temer está deixando as comunidades e as suas lideranças expostas a ameaças e até mesmo a morte. Se o governo quiser garantir que os negócios beneficiem todos os brasileiros - e não apenas alguns - então é preciso regular melhor as empresas, proteger ativistas, julgar assassinos e garantir que as comunidades possam ter voz sobre o uso das terras", opina Bem Leathe, da Global Witness.

Procurada pela BBC Brasil, a Secretaria Especialbetmotion e confiavelAgricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, responsável pelo Terra Legal, programabetmotion e confiavelregularizaçãobetmotion e confiavelterras públicas federais na Amazônia, informou que a MP 759 não altera o objetivo principal do programa, "promover a governança fundiária da região amazônica, tendo como consequência o desenvolvimento sustentável, a redução do desmatamento, o combate a grilagembetmotion e confiavelterras e a redução dos conflitos agrários".

"Cabe ainda esclarecer que somente serão regularizadas áreas onde exista ocupação consolidada, mansa e pacífica", completa.

Em nota, a Secretariabetmotion e confiavelSegurançabetmotion e confiavelRondônia diz que "vem atuando no Estado com a Patrulha Rural e priorizando a investigação dos crimes relacionados ao conflitobetmotion e confiavelterras buscando sempre uma pronta resposta".

Já a Secretariabetmotion e confiavelSegurança do Pará informa que "entende que o governo federal deve agilizar, efetivamente, as ações relacionadas à reforma agrária a fimbetmotion e confiavelprevenir os conflitos provocados pela posse da terra". E acrescenta que tem realizado "várias reintegraçõesbetmotion e confiavelposse" para prevenir a violência no campo.