A lutacassino com saque pixargentino para denunciar o próprio pai por crimes da ditadura:cassino com saque pix


"Há muito tempo eu desconfiava que meu pai tinha cometido crimes na ditadura militar. Nas conversascassino com saque pixcasa, ele demonstrava conhecer detalhes demais dos crimes cometidos naquele período horrível. Mas quando eu perguntava por que ele sabia tanto, respondia que eram as enfermeiras que lhe contavam.
Meu pai era médico do Exército argentino. E com o passar dos anos, baseado no que ele mesmo me dizia, passei a questioná-lo com tom mais critico, ecassino com saque pixacusação.
Nossa relação foi ficando cada vez mais tensa. Duas conversas foram aos gritos. Em 2009, eu já tinha certezacassino com saque pixque ele tinha participado dos crimes. Mas não sabia como. Não tinha os fatos concretos. Além disso, como filho, acho que queria manter a dúvida diantecassino com saque pixalgo tão pavoroso.
Então,cassino com saque pixmeadoscassino com saque pix2013,cassino com saque pixmais uma conversa tensa, ele admitiu que tinha cometido os crimes. Não lembro as palavras exatas que usei para que admitisse isso. Mas naquele encontro lembrei o que meu pai tinha contado a um familiar e as respostas anteriores que tinha me dado cada vez que abordei o assunto. Foi impossível para ele negar o que tinha feito. E até que me disse: 'foi isso mesmo'.
Como médico, meu pai participava dos crimes da ditadura injetando sedativos nas pessoas que seriam jogadas vivas ao rio ou ao mar. Eram anestesias que as deixavam imediatamente paralisadas, mas respirando. E quando elas estavam assim, as jogavam dos 'voos da morte', como ficaram conhecidos.
Meu pai cometeu outros crimes. Ele também participava dos sequestros dos opositores, dos militantes sociais e políticos. Foram 30 mil desaparecidos no nosso país. A ditadura genocida sequestrava e fazia essas pessoas desaparecerem.

Depois daquela conversacassino com saque pixmeadoscassino com saque pix2013, ele disse a um familiar que não estava arrependido. E ainda acrescentou que tinha participadocassino com saque pixum caso específico que teve muita repercussão aqui na Argentina.
Em 1979, quatro pessoas foram sequestradas e também receberam as injeçõescassino com saque pixanestesia. Elas foram jogadascassino com saque pixum riacho, uma simulaçãocassino com saque pixum acidentecassino com saque pixcarrocassino com saque pixuma ponte. As quatro morreram.
Como médico militar, meu pai estava sempre armado. Isso até passar para a reserva,cassino com saque pix1983, com o retorno da democracia no país. E além desses crimes genocidas, certa vez ele apareceucassino com saque pixcasa com uma maletacassino com saque pixprimeiros-socorroscassino com saque pixmédico que não era dele. Que eracassino com saque pixuma das vítimas da ditadura. Eu perguntei porque estava com duas maletas, e me respondeu que tinha sido um presente. Que uma das maletas tinha sidocassino com saque pixum subversivo.
Na minha casa, as palavras que ele usava eram chamativas, como 'subversivo'. Eram palavrascassino com saque pixum genocida. Era um discurso ideológico para eliminar os que eram opositores ao regime militar. Uma vez, disse que os opositores eram mortos porque, quando eram presos e soltos, ficavam ainda piores.
A nossa relação foi rompida naquela conversacassino com saque pixmeadoscassino com saque pix2013, quando meu pai admitiu os crimes. Mas no dia seguinte ele me ligou para saber se eu tinha contado para minha mulher. Depois disso, ficamos sem nos falar até pouco tempo - dias atrás, ele me telefonou para, ao meu ver, fazer ameaças. Também faz isso por meiocassino com saque pixconversas com parentes, cujos relatos chegam até mim.
Eu me afasteicassino com saque pixmuitos familiares. Primeiro, para evitar encontrá-lo, e ainda porque uma parte da minha família se recusa a saber, nega o que ocorreu. Acha que isso é um problema entre duas pessoas - no caso meu pai e eu. Mas isso não é um simples problema entre duas pessoas, é entre ele e a humanidade, na qual eles, os familiares, estão incluídos.

Crédito, BBC
Hoje meu pai está livre, mas é investigado porque o denunciei na Secretariacassino com saque pixDireitos Humanos poucos meses depois daquela nossa conversa. Agora o caso dele faz partecassino com saque pixuma imensa apuração, levada adiante pelos defensores das vítimas na que ficou conhecida como 'megacausa contraofensiva', pela repressão e extermínio ocorridos no Campocassino com saque pixMayo nos anos 1970 e 1980. O local foi um centro clandestinocassino com saque pixprisão e extermínio horrível no nosso país.
Essa casa deixou poucos sobreviventes e provas. Meu problema hoje, como filho, é que, apesarcassino com saque pixter essas certezas contra meu pai, encontrei barreiras na legislação que me impedemcassino com saque pixdenunciá-lo penalmente. No Códigocassino com saque pixProcesso Penal da Argentina, existem dois artigos que proíbem que familiares denunciem e deem depoimento, já no processo, contra outros familiares.
Ou seja, não podem ser testemunhas contra outros familiares. Por isso, entramos com esse projetocassino com saque pixlei pedindo que essas proibições não sejam aplicadas para os casoscassino com saque pixcrimes contra a humanidade. E assim nós, filhoscassino com saque pixrepressores, poderemos denunciar nossos pais judicialmente, alémcassino com saque pixprestar depoimento contra eles nos julgamentos.
Nós do coletivo Historias Desobedientes, que somos filhos e filhascassino com saque pixgenocidas, vivemos nas nossas casas, com nossos pais, a imposiçãocassino com saque pixum mandatocassino com saque pixsilêncio,cassino com saque pixmaneira implícita ou explicita.
Os genocidas fizeram um pactocassino com saque pixsilêncio que cumprem até hoje. Eles não revelam o que fizeram e o que os outros militares fizeram. Mas depoiscassino com saque pixmuitos anos, ecassino com saque pixconscientização do que aconteceu, e da nossa própria ética, decidimos levar as acusações adiante. Mas aí nos deparamos com esses artigos da legislação argentina.
Apresentamos esse projetocassino com saque pixlei no dia 7cassino com saque pixnovembro na mesacassino com saque pixentrada da Câmara dos Deputados. No nosso grupo, alguns já têm os pais mortos, outros condenados e outros, impunes.
No meu caso, espero que meu pai seja investigado. E que ele e os outros genocidas reflitam e tenham alguma dignidadecassino com saque pixseus últimos anoscassino com saque pixvida. Que deem um poucocassino com saque pixpaz a tantos familiares que não sabem qual foi o destinocassino com saque pixseus parentes desaparecidos. E paz até para eles, genocidas. Porque eles também devem viver um infernocassino com saque pixsuas mentes e corações.
Nós, como coletivo, sabemos que nossa iniciativa, com esse projetocassino com saque pixlei, pode ajudar no contexto das investigações. Coisas que ouvimos nas nossas casas podem aportar no contextocassino com saque pixque os crimes foram cometidos. Inclusive os casoscassino com saque pixroubo que as vítimas da ditadura sofreram.
Nossa iniciativa não dará resposta a tudo. Mas pode contribuir para acabar com a impunidade mantida pelos genocidas."









