A criseoutra vitória local betnacionaldólares 'à la Argentina' que leva a disparadaoutra vitória local betnacionalpreços na Bolívia:outra vitória local betnacional
Desde 2015, a Bolívia acumula seguidos déficits fiscais. A situação, contudo, piorou desde 2023, com a queda do volumeoutra vitória local betnacionalgás vendido para fora do país. Esse é o principal itemoutra vitória local betnacionalexportação do país.
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Por isso, desde o ano passado, o país precisou recorrer às reservas internacionais para subsidiar o preço dos combustíveis, que é importado.
Os subsídios, que vão dos alimentos às empresas que importam diesel e gasolina, e custam cercaoutra vitória local betnacionalUS$ 4 bilhões por ano, passaram a pesar na conta — com o governo gastando mais do que arrecada.
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“Trata-seoutra vitória local betnacionaldéficits fiscaisoutra vitória local betnacionaluma médiaoutra vitória local betnacional8% do PIB [Produto Interno Bruto], uma queda nas receitas fiscais e, obviamente, nas reservas do Banco Central, que foram queimadas e se tornaram um dos mais importantes financiadores do governo”, afirma o economista Jaime Dunn De Avila, mestreoutra vitória local betnacionaladministraçãooutra vitória local betnacionalempresas pela Universidade Católica Boliviana.
Tentando manter seu programa social e econômico, o governooutra vitória local betnacionalLuis Arce passou a utilizar as reservas oficiaisoutra vitória local betnacionaldólar. Com isso, houve baixa das reservas, que passaramoutra vitória local betnacionalUS$ 15 bilhõesoutra vitória local betnacional2015 para US$ 1,9 bilhão agora.
Desde o ano passado, o governo também restringiu saques na moeda estrangeira e compras no cartãooutra vitória local betnacionalcrédito, buscando segurar mais divisasoutra vitória local betnacionalsolo boliviano.
Mesmo assim, com as reservas baixas, o país não consegue mais controlar a variação da moeda americana, que disparou no mercado paralelo.
“As reservas internacionais bolivianas se reduziram para algo próximo ao nível do colapso", completa o economista.
"Ficou mais difícil para o país importar até produtos essenciais, como alimentos e remédios, com a consequente faltaoutra vitória local betnacionalmercadorias e aumentooutra vitória local betnacionalpreços.”
A população sofre com a escassezoutra vitória local betnacionalcombustíveis, principalmente do diesel. Há também filas para conseguir alimentos básicos subsidiados, como arroz e farelooutra vitória local betnacionaltrigo.
Além disso, tensões políticas entre Luís Arce e o ex-presidente Evo Morales, ex-aliados que disputam o controle do partido no Movimento ao Socialismo (MAS) e a possibilidadeoutra vitória local betnacionaldisputar as eleições no ano que vem, afastaram investidores estrangeiros.
Pelas ruasoutra vitória local betnacionalLa Paz, comerciantes buscam dólares e anunciam a compra da moeda americana.
“Precisooutra vitória local betnacionaldólares para importar mercadorias e, também, porque não confio mais no governo”, diz o comerciante José Ignacio.
"Por isso, para me proteger, vou guardar dólares por aqui antes que os preços disparem como na Argentina."
Alex Nery, professoroutra vitória local betnacionaleconomia da FIA Business School, explica que a escassezoutra vitória local betnacionalreservas cambiais, que agora ocorre na Bolívia, permanece como um dos grandes desafios da economia argentina.
“A faltaoutra vitória local betnacionalreservas dificulta a defesa da taxaoutra vitória local betnacionalcâmbiooutra vitória local betnacionalmomentosoutra vitória local betnacionalcrise e aumenta a desconfiança dos agentesoutra vitória local betnacionalmercado internos e externosoutra vitória local betnacionalrelação à moeda local”, diz Nery.
"[Na Argentina] a desvalorização do peso tem impacto direto na inflação, pois aumenta os custosoutra vitória local betnacionalinsumos importados e eleva os preçosoutra vitória local betnacionalbensoutra vitória local betnacionalconsumo, especialmenteoutra vitória local betnacionaluma economia que dependeoutra vitória local betnacionalimportações", completa.
Inflaçãooutra vitória local betnacionalalta
Os desajustes macroeconômicos já se refletem na vida da população da Bolívia.
A Bolívia historicamente tem uma inflação mais baixa do que outros países da América Latina, onde a alta dos preços é um problema frequente.
Nos últimos quatro anos,outra vitória local betnacional2020 a 2023, o país teve uma alta acumuladaoutra vitória local betnacional6% no índice oficialoutra vitória local betnacionalpreços. No Brasil, o aumento foioutra vitória local betnacionalcercaoutra vitória local betnacional25% no mesmo período.
Mariaoutra vitória local betnacionalLourdes, que vende produtos alimentícios nas ruas da capital boliviana, reclama da alta dos preços durante o governooutra vitória local betnacionalLuis Arce.
Por isso, ela toma lado na disputa política no MAS e afirma que apenas o retornooutra vitória local betnacionalEvo Morales ao poder poderia fazer com que o país retome o caminho do crescimento e o controle dos preços.
“Os preços sobem muito, e o nosso salário é muito baixo. Espero que Evo volte, para que nossa vida volte a melhorar como na época dele”, diz.
Para Alexis Dantas, professoroutra vitória local betnacionalciências econômicas na Universidade do Estado do Riooutra vitória local betnacionalJaneiro (Uerj), o país poderia optar por iniciar um controle cambial mais rígido para conter a alta da moeda e seus efeitos negativos.
“O mais razoável, para o país, seria o controle cambial, à medida que os exportadores não podem fazer outra coisa se não exportar, sobretudo na questão mineral, e assim você consegue controlar o curto prazo e pode relaxar essas medidas ao longo do tempo”, diz.
“Mas há uma pressão forte do sistema financeiro”, reconhece.
Já para Jaime Dunn De Ávila, o problema é justamente o excessooutra vitória local betnacionalcontrole sobre a economia do país.
“A crise cambial na Bolívia é, na verdade, resultadooutra vitória local betnacionalum problema real, que começou a ser criado aos poucos desde 2014, quando as receitas das exportaçõesoutra vitória local betnacionalgás para a Argentina e o Brasil significaram maisoutra vitória local betnacionalUS$ 5 bilhões para o governo boliviano”, diz.
"Mas isso acabou, e o governo manteve as despesas crescentes, enquanto as receitas diminuíram, o que nos conduz claramente a uma crise."
O presidente Luis Arce admite a criseoutra vitória local betnacionaldólares, mas vem negando o impacto econômico na vida cotidiana do boliviano.
"Como vários países, temos certas dificuldades na disponibilidade do dólar, mas não estamos numa crise econômica estrutural como a oposição pretende posicionar-se para gerar uma crise política e encurtar o nosso mandato", disse Arce durante discurso neste ano.
O ministro da Economia e Finanças, Marcelo Montenegro, afirmou à rede France 24 que "haverá um aumentooutra vitória local betnacionaldivisas" na economia com as exportações agrícolas que foram atrasadas devido aos problemas climáticos.
Planooutra vitória local betnacionalalimentação
Parte do sucessooutra vitória local betnacionalum período não muito distante no controleoutra vitória local betnacionalpreços e no abastecimento do mercado interno veio com a fundação da Empresaoutra vitória local betnacionalApoio à Produção Alimentar (Emapa) e do Fundo Rotativooutra vitória local betnacionalSegurança Alimentar.
Essas entidades importam alimentos usando recursos públicos e fomentam o pequeno produtor que não cultiva commodities para exportação. Depois, fazem a distribuição desses itensoutra vitória local betnacionalmercados estatais, para manter os preços.
A Emapa, criadaoutra vitória local betnacionalagostooutra vitória local betnacional2007, é um órgão estatal que tem por objetivo assegurar a “segurança alimentar com soberania”.
Na prática, a empresa compraoutra vitória local betnacionalprodutores locais, mantendo um níveloutra vitória local betnacionaldemanda constante, o que fomenta a produçãooutra vitória local betnacionalalimentos não voltados à exportação, como a soja, e vendeoutra vitória local betnacionalsupermercados próprios, com preços subsidiados aos moradores.
“O ex-presidente Evo Morales e o atual, Luis Arce, combinaram uma sérieoutra vitória local betnacionalmedidas que mesclaram liberalismo e desenvolvimentismo, como zerar tarifas para a importaçãooutra vitória local betnacionalalguns tiposoutra vitória local betnacionalalimentos e criar uma empresa pública, a Emapa", diz Maurício Santoro, doutoroutra vitória local betnacionalCiência Política pelo Institutooutra vitória local betnacionalEstudos Sociais e Políticos (Iuperj).
"Essas decisões foram tomadas no contextooutra vitória local betnacionalum pico inflacionáriooutra vitória local betnacionalalimentos eoutra vitória local betnacionalmuitos conflitos sociais e políticos na Bolívia, no fim da décadaoutra vitória local betnacional2000.”
Turistas são autorizados a comprar nesses supermercados, que restringem apenas os produtos básicos e subsidiados pelo governo, como o arroz e farelooutra vitória local betnacionaltrigo.
“Os turistas vêm sempre aqui dar uma olhada e comprar produtos. Alguns se interessam pelos baixos preços, mas sempre explico que somente pessoas cadastradas podem comprar alguns itens”, afirma à BBC News Brasil Carla Santí, que trabalha como caixa na unidade localizada na cidade bolivianaoutra vitória local betnacionalCopacabana, próximo da fronteira com o Peru.
Além da Emapa, há ainda o Fundo Rotativooutra vitória local betnacionalSegurança Alimentar, que importa alimentos usando para isso recursos públicos e distribui nesses mercados para manter os preços baixos.
Logo após a pandemia, por exemplo, a BBC News Brasil reportou que o fundo injetou 10 mil toneladasoutra vitória local betnacionalfarinhaoutra vitória local betnacionaltrigo no mercado para evitar o aumento do preço do pão.
O governooutra vitória local betnacionalLuiz Inácio Lula da Silva tentou fazer algo parecido com o arroz à época das inundações no Rio Grande do Sul, mas não conseguiu por problemasoutra vitória local betnacionalleilões para comprar arrozoutra vitória local betnacionalprodutores internacionais.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo não faria outros certames dado que o preço do arroz já estavaoutra vitória local betnacionalvolta aos patamares anteriores à tragédia climática.
Outro pilar importante dentro do controle da inflação dos alimentos na Bolívia é o preço dos combustíveis, responsáveis pelo transporte da produção à mesa do consumidor.
Por lá, o abastecimento é considerado como serviço público e o Estado mantém o controle da produção, subsidiando os preços à população local.
As medidas fazem efeito. Se entre 2010 e 2015, o preço dos alimentos subiu cercaoutra vitória local betnacional55%, nos últimos cinco anos a alta foioutra vitória local betnacionalsomente 10% no acumulado,outra vitória local betnacionalacordo com o Instituto Nacionaloutra vitória local betnacionalEstatística da Bolívia (INE) — mesmo com a pandemiaoutra vitória local betnacionalcovid-19, que fez com que os preços dos alimentos subissem no mundo.
O controleoutra vitória local betnacionalpreços praticado pelo governo boliviano, contudo, se difere do congelamentooutra vitória local betnacionalpreços praticados no Brasil durante o governooutra vitória local betnacionalJosé Sarney, ou pelo governo argentinooutra vitória local betnacionaldiversos períodos da história.
Segundo explica Alex Nery, essas experiências anteriores no Brasil e na Argentina impuseram um teto para os preçosoutra vitória local betnacionalalguns bens e serviços — somente isso, sem uma abordagem mais complexa.
"Este método tenta conter a inflação diretamente, mas tem se mostrado ineficaz ao longo da história porque ele não combate a causa da inflação, mas apenas umaoutra vitória local betnacionalsuas consequências, que é o aumento generalizado nos preços", diz o professor da FIA Business School.
"Quando adotado, frequentemente provoca escassezoutra vitória local betnacionaloferta, na medidaoutra vitória local betnacionalque desestimula a produção ou importação dos bens cujos preços foram congelados ao reduzir a rentabilidade dos produtores.”
Nery afirma que a prática boliviana recente é diferente, pois vem acompanhadaoutra vitória local betnacionalpolíticas para aumentar a oferta dos itens no mercado e para manter a competição.
Ele cita o Fundo Rotativooutra vitória local betnacionalSegurança Alimentar.
“Há exemplo do uso desse fundo para importar toneladasoutra vitória local betnacionalfarinhaoutra vitória local betnacionaltrigo com o objetivooutra vitória local betnacionalmanter estável o preço do pão. A diferença entre as duas situações é que, no caso do Brasil [no governo Sarney], trata-seoutra vitória local betnacionaluma medida pontual para trataroutra vitória local betnacionaluma criseoutra vitória local betnacionalabastecimento momentânea, enquanto no caso da Bolívia há uma política permanente que objetiva combater a inflação", afirma.