Por que a Alemanha não se desculpou até hoje pelo primeiro genocídio do século 20:bbb casa de aposta

Crédito, Arquivo Nacional da Namíbia

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Maisbbb casa de apostaum século depois, representantes dos governos alemão e namíbio negociam uma declaração conjunta sobre o episódio - algo motivado principalmente por uma extensa campanhabbb casa de apostaativistas herero e nama.
Segundo a imprensa alemã, Berlim deverá reconhecer pela primeira vezbbb casa de apostaresponsabilidadebbb casa de apostaum genocídio na África.
Os grupos étnicos entraram este mêsbbb casa de apostaum tribunalbbb casa de apostaNova York com um pedidobbb casa de apostaindenização junto ao governo alemão, com basebbb casa de apostapossíveis violações da Declaração da ONU sobre Direitosbbb casa de apostaGrupos Indígenas.
Porém, o principal negociador da Alemanha nas negociações com a Namíbia, Ruprecht Polenz, disse ao jornal britânico The Guardian que o ocorrido na Namíbia "não pode ser comparado ao Holocausto" - o extermíniobbb casa de apostajudeus durante a Segunda Guerra Mundial resultou no pagamento individualbbb casa de apostaindenizações pelo governo.
Acadêmicos e ativistas argumentam, porém, que as ações contra os herero e os nama foram igualmente brutais - alguns asseguram que as atrocidades na África abriram caminho para o Holocausto, quase quatro décadas depois.
Estupros e assassinatos
Na Conferênciabbb casa de apostaBerlim,bbb casa de aposta1884, as potências europeias fizeram uma partição da África. A Alemanha, que tinha colônias onde hoje é Camarões, Togo e Tanzânia, anexou também a costa sudoeste do continente.

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Indígenas foram expulsosbbb casa de apostasuas terras, que foram entregues a colonos alemães. A população nativa sofreu todo tipobbb casa de apostaabuso, incluindo estupros e assassinatos. Isso causou as revoltasbbb casa de aposta1903,bbb casa de apostaque guerreiros herrero e nama fizeram ataques que resultaram na mortebbb casa de apostadezenasbbb casa de apostacolonos.
A resposta alemã veio com a ordem do imperador, o kaiser Guilherme 2º, para que 14 mil soldados fossem deslocados para a colônia. Todos sob o comandobbb casa de apostaLothar Von Trotha, que havia reprimido brutalmente rebeliões nativasbbb casa de apostaposições do país na China e no leste da África.
Entre as represálias estavam uma morte lenta no deserto do Kalahari, onde soldados tinham envenenado os poços d´água.
Genocídio

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Von Trotha abriu os trabalhos enviando uma mensagem veemente os herero:
"Eu, general dos soldados alemães, envio esta carta aos herero. O povo herero deve abandonar o país. Se negarem, forçareibbb casa de apostapartida com canhões. Qualquer herero, com ou sem armas, será executado."
"Von Trotha disse a seus soldados que não atirassembbb casa de apostamulheres e crianças. Em vez disso, os soldados as forçaram a fugir para o deserto, onde morrerambbb casa de apostafome e sede", disse à BBC Mundo (o serviçobbb casa de apostaespanhol da BBC) Reinhart Koessler, professor do Departamentobbb casa de apostaCiência Política da Universidadebbb casa de apostaFreiburg e acadêmico especializado no passado colonial da Alemanha.

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Para Koessler, as palavrasbbb casa de apostaVon Trotha "foram uma intenção clarabbb casa de apostaextermínio, e isso constitui genocídio, a vontadebbb casa de apostaeliminar um grupo étnico".
Os estuprosbbb casa de apostamulheres herero e nama foi algo tão generalizado que muitos descendentes atualmente têm algum ancestral alemão.
"Sou descendente direto dos herero. Tanto meus avôs maternos quanto paternos tinham sangue alemãobbb casa de apostasuas veias por causa do abuso sexual cometido contra meu povo", disse Ngondi Kamatuka, integrante da Asociação Herero Contra o Genocídios, à BBC Mundo.
Pedidobbb casa de apostadesculpas
As negociações entre Alemanha e Namíbia são o resultadobbb casa de apostaum longo processo iniciado logo após o país se tornar independente da África do Sul,bbb casa de aposta1990.

Crédito, Cortesia Ngondi Kamatuka
"Os povos herero e nama exigem um pedidobbb casa de apostadesculpas oficial do povo alemão, emitido pelo Parlamento. O Parlamento deve pedir perdãobbb casa de apostaforma inequívoca pelos crimes cometidosbbb casa de apostanome do imperador (o kaiser Guilherme)", afirma Kamatuka.
Um dos temas mais complicados é obbb casa de apostauma possível indenização.
A Alemanha se recusa a falar sobre reparações e propõe oferecer compensações por meiobbb casa de apostaprojetosbbb casa de apostainfraestrutura e ajuda financeira para a Namíbia.
"Quando um criminoso comete um delito, ele não tem direito a escolher as consequências", discorda Kamatuka.
Ativistas pedem para participar direamente das negociações e dizem desconfiar do que o governo da Namíbia, dominado por outro grupo étnico, o ovambo, fará com eventuais fundos repassados.
Alguns observadores ressaltam que a negociação direta com grupos étnicos e discutir reparações faria com que a Alemanha reconhecesse culpa com base na convenção da ONU contra o genocídio.
Indenizações
Kamatuka diz que as vítimas africanas mereciam o mesmo tipobbb casa de apostaindenização individual que as do Holocausto.

Crédito, Cortesia Reinhart Koessler

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"O númerobbb casa de apostamortos no Holocausto e na Namíbia não é comparável, mas o que fizeram com nosso povo foi igualmente brutal".
Segundo o jornal The New York Times, Ruprecht Polenz, o representante alemão nas negociações, assegurou que seu país usará o termo genocídio.
Masbbb casa de apostaentrevista a uma rádio alemã, ele disse que, na visão do governo, o uso do termo não incorrebbb casa de apostaobrigações legais, mas sim morais e políticasbbb casa de aposta"sanar as feridas".
À BBC Mundo, o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha afirmou que as negociações ocorrem desde 2014 "em buscabbb casa de apostaum enfoque comum sobre esses eventos dolorosos".
"Espera-se que um dos resultados desse diálogo seja uma linguagem comumbbb casa de apostarelação a esses eventos históricos, assim como um pedidobbb casa de apostadesculpas da Alemanha e a aceitação dessas desculpas pela Namíbia."
Ngondi Kamatuka afirma que "se Alemanha tomar a posiçãobbb casa de apostanão nos indenizar, pensaremos que não querem fazê-lo porque, ao contrário das vítimas da Segunda Guerra Mundial, nós temos a pele negra".
O representante herero, que vive nos EUA, diz que fundos pagos pela Alemanha poderiam ser usados na comprabbb casa de aposta"terras roubadas dos herero e dos nama, que hoje vivembbb casa de apostapobreza espantosa".

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Segundo o ativista, esses grupos étnicos ocupavam "cercabbb casa de aposta70% das terras" antes da chegada dos alemães.
"Hoje ainda temos muitos proprietáriosbbb casa de apostaterra que só vão à Namíbia para caçar. Fomos pacientes e jamais invadimos suas fazendas, mas as indenizações permitiriam comprar algumas dessas terras para combater a misériabbb casa de apostanosso povo."
Genocídio esquecido
Para Koessler, há uma "amnésia colonial" na Alemanha que deve ser combatida. Nabbb casa de apostaopinião, esse passado colonial está relacionado aos eventos trágicos mais conhecidos da história do país.

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"Os perpetradoresbbb casa de apostamuitos genocídios no século 20 tentaram ocultá-los, mas o caso da Namíbia foi algo muito público", afirma Koessler.
"A proclamação do general Von Trotha foi debatidabbb casa de apostapúblico e postais com ilustraçõesbbb casa de apostaatrocidades circulavam (pela Alemanha). Inclusive um que mostrava crânios sendo embalados, com o comentáriobbb casa de apostaque mulheres herero foram obrigadas a limpá-los com cacosbbb casa de apostavidro."
"Um autor da época, Gustav Frenssen, descreveu os testemunhosbbb casa de apostasoldados que participaram da repressão, e afirmou que o que ocorreu com a população negra era justificado por uma lei divina."
Koessler conta que um livrobbb casa de apostaFrenssen, A Viagembbb casa de apostaPeter Moors ao Sudoeste Africano, legitimizando o genocídio, foi usadobbb casa de apostaescolas e cópias foram dadas aos soldados que iam ao front.
Relação com o Holocausto?
"Claro que não podemos falarbbb casa de apostauma linha causal com o Holocausto. Mas, na minha opinião, essa mobilizaçãobbb casa de apostanacionalismo e a exposição pública das atrocidades combinaram para baixar o nível do que era aceitávelbbb casa de apostatermos do que seres humanos podem fazer uns aos outros. De certa forma, contribuíram para o que ocorreu nas décadas seguintes e levou ao Holocausto", avalia Koessler.

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Para o jornalista americano Edwin Black, a matança na Namíbia "estabeleceu um padrão" para o Holocausto.
Em um artigo recente, ele cita vários exemplos. Um dele é o casobbb casa de apostaEugen Fischer, médico nazista cujas pesquisas sobre diferenças raciais tiveram início na Namíbia.
"A entrada do termo campobbb casa de apostaconcentração no vocabulário alemão teve início com o estabelecimentobbb casa de apostacampos para hereros", completa Black.
Hermann Goering, que estava apenas abaixobbb casa de apostaAdolf Hitler na hierarquia nazista, era filhobbb casa de apostaHeinrich Goering, primeiro governador alemão na Namíbia.
Herança
Para Reinhart Koessler, é importante que alemães mais jovens saibam o que ocorreu - o ensinobbb casa de apostahistória na Alemanha é "muito eurocêntrico", diz.


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"Na minha opinião, o Parlamento deve pedir desculpas pelo genocídio, e deve haver consequências materiais."
Já Kamatuka queixa-se da ausênciabbb casa de apostamonumentosbbb casa de apostahomenagem às vítimas das atrocidades na Namíbia.
"Não se fala do genocídio nos livros escolares da Alemanha e da Namíbia", diz.
"Os jovens herero e nama precisam saber do genocídio contra seu povo. Para que saiba quem são,bbb casa de apostaonde vêm e como navegar seu futuro."









