‘É pior que prisão’: Brasileiras contam como é a vidabetmotion entrar loginabrigo para menores detidos pela imigração nos EUA:betmotion entrar login

Adolescente detido

Crédito, Thinkstock

Legenda da foto, Jovens brasileiras reclamambetmotion entrar logincondições e tratamentobetmotion entrar loginabrigo para menoresbetmotion entrar loginChicago

O abrigobetmotion entrar loginChicago - um dos principais do Departamentobetmotion entrar loginSaúde e Serviços Humanos (HHS) americano - recebeu pelo menos sete garotas brasileiras durante o último mêsbetmotion entrar loginagosto, segundo relatosbetmotion entrar loginjovens que passaram por lá recentemente.

Elas relatam confiscobetmotion entrar loginlivrosbetmotion entrar loginportuguês e comida insuficiente para todos os detentos. Dizem, ainda, que sofreram pressão para não falar sobre o tratamento que receberam no local.

'Geleira'

Em 21betmotion entrar loginmaio, pouco maisbetmotion entrar loginum mês após ser enviada para o abrigo, Rayane completou 18 anos. Enquanto esperava a conclusão do processobetmotion entrar loginliberação, a garota foi transferida para uma prisão comum - abrigos acolhem jovens apenas até os 17.

Ela foi informada, no entanto,betmotion entrar loginque a entrada no presídio só poderia ser feitabetmotion entrar logindia útil e, como seu aniversário caiu num sábado, foi transferida para a chamada "geleira": uma cela isolada, com apenas uma coberta fina e sem direito a banho.

"Passei bastante frio lá", relembra.

Rayane Moraes

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Rayane Moraes ficou maisbetmotion entrar logintrês meses presa após tentar atravessar fronteira

Durante quase dois meses no presídiobetmotion entrar loginMcHenry, próximo a Chicago, Rayane foi a única brasileira na ala das "pulseiras verdes" - que identificam presidários menos perigosos. Como a maioria das colegasbetmotion entrar logincárcere eram latinas, acabou aprendendo um poucobetmotion entrar loginespanhol.

Mas ela diz que as condições oferecidas no presídiobetmotion entrar loginadultos eram,betmotion entrar loginmuitos aspectos, melhores do que no abrigo para menores.

"As restrições no abrigo são muito piores do que na prisão. No abrigo, todas éramos obrigadas a fazer as atividades determinadas por eles,betmotion entrar loginhorários específicos. Mesmo quando estava frio, se houvesse atividade externabetmotion entrar login40 minutos, como um jogo, tínhamos que ficar lá fora", afirma.

"Na prisão, eu podia ficar quieta no meu canto, se quisesse, e tirar um tempo para ler um livro."

Segundo a mineira, os adolescentes do abrigo só tinham direito a três refeições,betmotion entrar loginquantidade e horários fixos - e não podiam comprar nenhuma alimentação extra, como ocorria na dentençãobetmotion entrar loginadultos.

As conversas com a família no abrigo também eram limitadas e tinham que ser acompanhadas por alguém que falasse português, enquanto no presídio ela chegou a falar com os familiares usando uma câmera.

Desconfiança

"Depoisbetmotion entrar loginum tempo lá dentro, você começa a enlouquecer", diz Anna Beatriz Theophilo, que passou 15 dias no abrigobetmotion entrar loginChicago neste ano.

"É uma prisão sem grades no quarto. Mal podíamos conversar. Os livrosbetmotion entrar loginportuguês levados para nós pelo consulado brasileiro foram confiscados, disseram que iam avaliar se era 'adequado' para a gente."

"Me senti,betmotion entrar loginmuitos momentos, humilhada", afirma.

Anna Beatriz foi detida na mesma época que Rayane, mas seu caso era bastante diferente: ela tinha visto americano válido e já havia estado no país outras vezes.

Com 17 anos na época, a garota deixou a família no Tocantins e viajou sozinha para os EUA, onde passaria dois meses com uma amigabetmotion entrar loginBoston. Em seguida, iria para o Canadá, onde se encontra no momento, para estudar francês.

Seus planos, porém, esbarraram na imigraçãobetmotion entrar loginDetroit. Agentes da fronteira questionaram insistentemente se havia algum "homem" esperando por ela nos EUA e a pressionavam até mesmo por estar chorando.

Segundobetmotion entrar loginfamília, os agentes ainda desconfiaram que Anna Beatriz pudesse estar tentando entrar no país como estudante, mas com vistobetmotion entrar loginturista.

Ana Beatriz Teophilo

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Apesarbetmotion entrar loginter visto válido para entrar nos EUA, Anna Beatriz foi detida ao entrar no país

Pouca comida

O drama da paulista Anna Stéfane Radeck, que também tinha visto e passagens anteriores pelos EUA, foi ainda mais longo.

Sem data certa para voltar ao Brasil, ela também chegou desacompanhadabetmotion entrar loginDetroit,betmotion entrar loginonde iria para a Flórida, encontrar uma tia que mora no país.

Após quase 20 dias sob tutela do governo americano - que incluíram seu aniversáriobetmotion entrar login17 anos -, no abrigobetmotion entrar loginChicago, uma juíza do Tribunalbetmotion entrar loginImigração concedeu autorização para que ela pudesse voltar para São Paulo.

A BBC Brasil acompanhou o desfecho do casobetmotion entrar loginChicago na semana passada, quando a garota compareceu à audiência escoltada por uma funcionária do abrigo. Anna Stéfane deixou o tribunal calada, com os olhos marejados e agarrada à mãe, Liliane Carvalho, que viajou aos EUA para buscá-la.

Apesar da autorização, ela teve que voltar ao abrigo. As duas ainda tiveram que esperar uma última etapa burocrática do processo e só se veriam novamente dali a dois dias, já no aeroporto.

Ao deixar os Estados Unidos, a menina revelou aos pais que não havia comida suficiente para todos os adolescentes detidos e que sofrera pressão para não dar detalhes do tratamento que recebia durante as poucas vezesbetmotion entrar loginque falou com a família ao telefone. Segundo a mãe, ela está bastante abalada.

Questionada sobre as declarações das adolescentes, a Administração para Crianças e Famílias (ACF) - órgão do departamento responsável pelos abrigos - afirmou por e-mail que todos os estabelecimentos que recebem menores são licenciados pelo Estado e "atendem exigências estabelecidas para garantir alto nívelbetmotion entrar loginqualidade no cuidado prestado".

De acordo com o órgão, os abrigos contam com "salasbetmotion entrar loginaula, assistência médica, áreasbetmotion entrar loginrecreação e socialização, treinamento vocacional, serviçobetmotion entrar loginsaúde mental e acesso a orientação legal, quando se aplica ao caso".

As administrações desses locais devem, ainda "realizar seus serviçosbetmotion entrar loginmodo sensível à idade, cultura, idioma nativo e necessidadesbetmotion entrar loginum menor desacompanhado".

Segurança nacional

Dias após a detençãobetmotion entrar loginAnna Stéfane, outra brasileirabetmotion entrar login17 anos também foi barrada pela imigração e mandada para Chicago horas depoisbetmotion entrar logindeixar as Bahamas. Em 22betmotion entrar loginagosto, a roraimense Liliana Matte desembarcoubetmotion entrar loginMiamibetmotion entrar loginum jato particular com amigos da família.

De acordo combetmotion entrar loginmãe, Anaíde Matte, as duas iriam se reencontrar nos EUA dali a poucos dias - Anaíde estava na Venezuela, onde fez uma cirurgia para tratar a visão. Eleita Miss Brazil Model 2015, Liliana tinha passagem marcada para voltar ao Brasil no dia 1ºbetmotion entrar loginsetembro para passar a faixa.

Liliane Carvalho

Crédito, Mariana Santos

Legenda da foto, Liliane Carvalho ouviu da filha, Anna Stéfane, que não havia comida suficiente para todos os adolescentes no abrigo

"Eles queriam que ela tomasse dez vacinas. De início ela se recusou, mas sob coerção, acabou aceitando", diz Anaíde, que agora se encontrabetmotion entrar loginChicago para tentar acelerar a liberação da filha. A audiência ainda não tem data marcada.

A advogada Raquel Bicudo Gross, que defendeu Anna Stéfane, explica que os agentes dos EUA nas fronteiras são treinados para ser firmes na repressão ao tráficobetmotion entrar logindrogas, armas, sexo infantil e prostituição nos postosbetmotion entrar loginimigração. Por isso, qualquer mínima suspeita pode servirbetmotion entrar loginmotivo para impedir alguémbetmotion entrar loginentrar.

"Eles (os agentes) têm esse direito, afinal a entrada no país é uma questãobetmotion entrar loginsegurança nacional", afirma.

Números imprecisos

Questionado pela BBC Brasil sobre o númerobetmotion entrar logincrianças e adolescentes brasileirosbetmotion entrar loginabrigos nos Estados Unidos, o Itamaraty afirmou não ter autorização das famílias "para divulgar dados específicos sobre os casos envolvendo esses menores".

As garotas entrevistadas pela reportagem dizem quebetmotion entrar loginagosto havia pelo menos sete brasileirasbetmotion entrar loginChicago. Os motivos da detenção e as idades das menores são desconhecidos, assim como o tempo médio que elas permanecem nos abrigos.

Em nota, o Itamaraty afirmou que, apesarbetmotion entrar loginhaver outros abrigos no território americano, o mais comum é o envio dos jovens para Chicago. O ministério disse estar mapeando outros centros que também possam receber menores brasileiros.

A ACF também não informa o número exatobetmotion entrar loginbrasileirosbetmotion entrar loginseus abrigos, afirmando que a quantidade é muito baixabetmotion entrar logincomparação com outras nacionalidades. Dos 33.726 menores que passaram por abrigos entre outubrobetmotion entrar login2014 e setembrobetmotion entrar login2015, quase metade (45%) veio da Guatemala, 29%betmotion entrar loginEl Salvador, 17%betmotion entrar loginHonduras e 6% do México. Os menores brasileiros são uma parcela dos 3% restantes, que incluem todas as outras nacionalidades.

Ainda segundo o órgão, grande parte dos jovens apreendidos chega aos EUA fugindobetmotion entrar logincondiçõesbetmotion entrar loginvida precárias, exploração e violênciabetmotion entrar loginseus paísesbetmotion entrar loginorigem. Muitos buscam se reunir com as famílias que vivem, não raro ilegalmente, nos Estados Unidos.