Afeganistão: O que aconteceu com 100 refugiados afegãos que Brasil recebeu há quase 20 anos:reactoonz 3

Crédito, Arquivo pessoal
Nas ruasreactoonz 3Porto Alegre, as pessoas estranhavam o véu cobrindo inteiramente o cabelo. Às vezes, reagiam com hostilidade. "Não tinha afegãos lá naquela época, não tinha muçulmanos.
As pessoas me viam com o hijab e saíamreactoonz 3perto, não queriam sentar ao meu lado no ônibus. Alguns falavam: saireactoonz 3perto, é mulher-bomba."
Mas a afegã, hoje com 43 anos, conta que também encontrou acolhida, principalmente entre as vizinhas, que hoje são como irmãs para ela. "A gente pode construir famíliareactoonz 3afeto. Tenho pessoas maravilhosas ao meu redor, que me amam como irmã. São minha família".
Nabila faz parte do primeiro gruporeactoonz 3refugiados afegãos que o Brasil recebeu, há cercareactoonz 320 anos, no início da Guerra do Afeganistão.
Na ocasião, o presidente Fernando Henrique Cardoso se comprometeu a incluir o Brasil no esforço internacionalreactoonz 3acolhimento das pessoas que fugiam do Talebã e do conflito armado no país.
Numa medida inédita para o Brasil, o Ministério da Justiça firmou acordo com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), para reassentar cercareactoonz 3100 afegãos que estavamreactoonz 3camposreactoonz 3refugiados na Índia e no Paquistão.
Essas pessoas, que não falavam português e que tinham uma ideia muito remota do que era o Brasil, cruzariam o oceanoreactoonz 3buscareactoonz 3uma vida nova.

Crédito, AFP
Nabila conta que o marido fez um pedido ao governo indiano para ser reassentadoreactoonz 3outro país, onde recebesse auxílio e tivesse mais oportunidadesreactoonz 3trabalho. Meses depois, chegou a notíciareactoonz 3que o Brasil os receberia.
"A gente não sabia como era o Brasil, como é a língua e a cultura. Saímos com olhos fechados, no escuro, jogando na sorte. Tudo o que a gente queria era um futuro para nosso filho, mais calmo, mais saudável."
Ajuda inicial para depois 'andar com os próprios pés'

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Apesarreactoonz 3o Brasil ser um mistério para grande parte dos refugiados que seriam reassentados, a expectativa era grande: as crianças poderiam ir à a escola e os adultos teriam ajuda financeira da Acnur por pelo menos um ano.
Cada adulto receberia R$ 260, mais R$ 13 por criança, alémreactoonz 3aluguel, energia, cesta básica, remédios e transporte escolar.
Grande parte dos reassentados foi encaminhada para Porto Alegre. "Essa assistência é temporária, enquanto está ocorrendo a inserção. No médio prazo, o desafio é a inserção econômica, a autonomia financeira", explica o porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho.
Uma ONG chamada Centroreactoonz 3Orientação e Encaminhamento (Cenoe) ficou responsável por coordenar o esforçoreactoonz 3integração dos afegãos, providenciando as residências, angariando ofertasreactoonz 3trabalho e aulasreactoonz 3português.
"As famílias estavam muito esperançosas. Elas vinhamreactoonz 3situação difícil, sem direitos, vivendoreactoonz 3camposreactoonz 3refugiados. O país deles estavareactoonz 3guerra e eles tinham a oportunidadereactoonz 3recomeçar no Brasil", disse à BBC News Brasil o advogado Gerson Heeman, que coordenou, como integrante da Cenoe, a recepção aos afegãos.
"Eles tinham muitas expectativas e vontadereactoonz 3recomeçar, mas a minha impressão é areactoonz 3que pouco sabiam sobre o Brasil."
Choquereactoonz 3cultural

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Pouco tempo depoisreactoonz 3desembarcar no país, os refugiados se depararam com um choquereactoonz 3realidade. Para Heeman, no imaginário deles, o Brasil era um país rico, cheioreactoonz 3oportunidades. Mas grande parte das ofertasreactoonz 3emprego disponíveis não oferecia remuneração alta.
Alguns dos refugiados tinham completado cursosreactoonz 3graduação. Um deles era professor universitário, um outro era engenheiro elétrico. Mas sem possibilidade imediatareactoonz 3revalidar seus diplomas no Brasil e sem dominar o português, não conseguiriam trabalhar com a especializaçãoreactoonz 3origem.
Foram oferecidas 277 vagasreactoonz 3emprego aos refugiados, após campanha junto a empresas da cidade, diz Heeman. A maioria, no entanto, pagava o salário mínimo vigente na época.
"Houve uma decepção deles com a realidade do Brasil, além da adaptação cultural. Eles tinham uma expectativa maiorreactoonz 3remuneração, já que comparavam com a vidareactoonz 3parentes que haviam sido reassentados no Canadá", diz Heeman.
Os afegãos também se depararam com uma cultura muito diferente e com a ausênciareactoonz 3uma comunidade muçulmana, para se sentirem mais acolhidos.
"Eles eram os primeiros afegãosreactoonz 3Porto Alegre. Países europeus, Canadá e Estados Unidos já estavam mais acostumados a receber imigrantes e refugiadosreactoonz 3países da Ásia e do Oriente Médio", destaca Heeman.
O porta-voz da Acnur no Brasil, Luiz Fernando Godinho, também ressalta que o processoreactoonz 3integração não foi simples.
"Para pessoas vindasreactoonz 3muito longe,reactoonz 3áreas do Oriente Médio e da África, a cultura brasileira é muito diferente. Há um choque cultural. Depois, tem a barreira do idioma, que é preciso transpor para alcançar o mercadoreactoonz 3trabalho", disse à BBC News Brasil.
Uns ficaram, outros foram embora
Alguns anos depoisreactoonz 3se mudar para o Brasil, integrantesreactoonz 3três famílias decidiram voltar ao Afeganistão.
O motivo não foi somente a dificuldadereactoonz 3adaptação, mas também a esperançareactoonz 3participar da reconstruçãoreactoonz 3um Afeganistão sem os talebãs no poder.
"Em 2003, quando a situação estava mais estabilizada, eles decidiram voltar, comentaram que poderiam retomar a vida lá e estavam animados para ajudar na reconstrução do país pós-talebã", conta Heeman.

Mas outros afegãos do grupo decidiram ficaram no Brasil. Foi o casoreactoonz 3Omar Atbai,reactoonz 330 anos, que hoje trabalha na áreareactoonz 3informática. A mãe dele, Roqia, e as duas irmãs continuaram no Brasil. Mas o pai decidiu voltar ao Afeganistãoreactoonz 32005.
"Meu pai viveu aqui por dois anos, mas não se adaptou e resolveu voltar", diz Omar, que nunca mais retornou ao país natal.
O maridoreactoonz 3Nabila também não se adaptou e quis retornar ao Afeganistãoreactoonz 32007. Ela se recusou a sair do Brasil e não deixou que ele levasse os filhos.
"Ele começou a ficar com ciúmesreactoonz 3mim, não queria me deixar trabalhar e a gente precisava do dinheiro. O Brasil era muito liberado para ele. Eu disse que ia ficar, não ia deixar meus filhos vivendo na guerra. Ele foi e eu fiquei", conta.
Atualmente, só os filhos mantêm contato com o pai, mas faz três meses que não conseguem notícia.
Heeman, da ONG Cenoe, conta que além das mulheres que decidiram se separar dos maridos e ficar no Brasil, vários jovens se adaptaram rapidamente e não quiseram voltar ao Afeganistão com os pais.
O filhoreactoonz 3um casal que voltou ao paísreactoonz 32003, por exemplo, resolveu ficar no Brasil, onde estava bem posicionado no ramoreactoonz 3vendareactoonz 3tapeçarias persas. Uma outra família assentadareactoonz 3Porto Alegre conseguiu empregos na áreareactoonz 3cortereactoonz 3carnes halal que segue os preceitos do islã.
'Saldo positivo'
Apesarreactoonz 3ter havido repatriaçãoreactoonz 3parcela dos primeiros afegãos que chegaram ao Brasil, Heeman diz considerar que o saldo do programareactoonz 3reassentamento foi positivo.
O esquema só existiu por um ano. Desde então, a entradareactoonz 3afegãos passou a se dar por pedidoreactoonz 3refúgio - a pessoa entra no Brasil pelos próprios meios e pede para permanecer. De 2016 a 2020, o país concedeu refúgio a 88 afegãos, segundo dados do Ministério da Justiça.
"Eu acho que foi positivo o programareactoonz 3reassentamento, porque as famílias que voltaram fizeram isso num momento diferente, avaliando que a situação havia melhorado com a queda do Talebã. E as famílias que ficaram conseguiram uma inserção na sociedade."
Godinho também destaca que é natural que alguns refugiados acabem sendo repatriados ou busquem acolhida num terceiro país com o qual se identifiquem mais.
"Não existe uma cartilha. Não é só seguir um manual que vai funcionar igual para todos. As pessoas têm seus traumas, suas maneirasreactoonz 3lidar com as situações. Algumas resistem à nova realidade. Algumas se adaptam, outras não", diz o representante da Acnur.
Nabila, hoje com 43 anos, fala português fluentemente e trabalha na casareactoonz 3uma família, fazendo faxina e cozinhando, alémreactoonz 3cuidarreactoonz 3uma idosa às tardes. Os dois filhos,reactoonz 327 e 28 anos, estão trabalhando, são independentes financeiramente e, segundo ela, não pensamreactoonz 3deixar o país. Ela não abre mão do hijab, frequenta a mesquita da cidade, e diz que considera o Brasilreactoonz 3casa.
"O Brasil é um país bom. Se não fossem os roubos, seria o melhor país do mundo. Eu, mesmo se tivesse oportunidadereactoonz 3morar no Canadá ou nos Estados Unidos, ia querer continuar a morar no Brasil. As pessoas aqui são maravilhosas, são acolhedoras, sabem olhar para a dor do outro."
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