De máscaras à cloroquina, o que idas e vindas na pandemia ensinam sobre a ciência:vaidebet patrimonio

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Esses comentários vieram das rede sociais da BBC News Brasil, como reaçõesvaidebet patrimonioleitores a reportagens sobre tratamentosvaidebet patrimonioestudo, recomendaçõesvaidebet patrimonioautoridades e pesquisas científicas na atual pandemiavaidebet patrimoniocoronavírus — mas, vale dizer, ao ladovaidebet patrimoniomuitos outros comentáriosvaidebet patrimoniointernautas que acrescentaram informações e opiniões ou que exaltaram o conhecimento científico das novas descobertas.
Pesquisadores, professores e pessoas dedicadas à divulgação científica que conversaram com a BBC News Brasil apontaram que a atual pandemia está explicitando desafios para a compreensão do público do que é a ciência e o seu "tempo" e, também, para que os especialistas se comuniquem bem para alémvaidebet patrimonioseus muros. E, claro, nesse meio do caminho está a mídia, que também passa por suas críticas e desafios.
A atual pandemiavaidebet patrimoniocoronavírus é uma oportunidadevaidebet patrimonio"tempo real" para que estes pontos sejam melhorados, dizem os entrevistados — um esforço, porém, que não évaidebet patrimoniohoje e nem deve se limitar ao momento crítico pelo qual o mundo passa.
O que explica mudançasvaidebet patrimonioposicionamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao longo da pandemia, entidade que sempre verbaliza a importância das evidências científicasvaidebet patrimoniosuas decisões? Por que,vaidebet patrimonioum dado momento, um remédio parece ser promissor para tratar a covid-19 e, depois, aparece um novo estudo indicando que não é bem assim?
A BBC News Brasil debateu com entrevistados episódios polêmicos envolvendo o conhecimento científico nesta pandemia — e também lições que podemos tirar deles.
Pedimos para "especialistas" e educadores apontarem ainda noções científicas que recomendam serem melhor conhecidas por mais pessoas, independentementevaidebet patrimonioidade, se está estudando no momento ou não, classe social ou…. posição política. Estas noções são apresentadas ao longo da reportagem. Confira.
Ciência não produz dogmas

Crédito, EPA/NIAID
Presidente do Instituto Questãovaidebet patrimonioCiência, dedicado ao uso das evidências científicas nas políticas públicas, a bióloga Natalia Pasternak destaca que mudar faz parte do processo científico, pois ele não é orientado por "dogmas" — no dicionário Aurélio, dogma aparece primeiro como algo associado à religião, mas não só.
Segundo o dicionário, dogma é um "ponto fundamental e indiscutívelvaidebet patrimoniodoutrina religiosa e, por extensão,vaidebet patrimonioqualquer doutrina ou sistema".
Algo diferente dos princípios científicos, aponta Pasternak.
"A ciência não é dogmática, ela tem um processo contínuovaidebet patrimonioacúmulovaidebet patrimonioevidências. Neste momento, trabalhamos com as melhores evidências existentes. Esse processo às vezes passa a impressãovaidebet patrimonioque o cientista não sabe o que está fazendo, que ele mudavaidebet patrimonioideia. A ciência mudavaidebet patrimonioideia, sim — tem que mudar, quando está diante das melhores evidências", diz a cientista, doutoravaidebet patrimoniomicrobiologia pela Universidadevaidebet patrimonioSão Paulo (USP).
"Isso às vezes não transmite a segurança que as pessoas gostariamvaidebet patrimonioter,vaidebet patrimoniouma verdade absoluta."
Entre os médicos, inclusive, há um bordão que reflete essa mutabilidade do conhecimento e, ao mesmo tempo, a impossibilidadevaidebet patrimoniose saber tudo: "na medicina, nem nunca, nem sempre".
Noções básicas sobre o conhecimento científico sugeridas pelos entrevistados
- vaidebet patrimonio Ciência: Vamos entender aqui como uma organização metódica e racionalvaidebet patrimoniofenômenos do mundo, sejam naturais ou sociais. Ela também tem raízes históricas — apesarvaidebet patrimonioter descobertas e métodos que remontam à Antiguidade e com origemvaidebet patrimoniovárias parte do mundo, a ciência como conhecemos hoje ganhou corpo e maior importância, inclusive social e política, na Europa a partir do século 17.
- vaidebet patrimonio Hipóteses: Um esquema genérico do método científico, inclusive ensinado nas escolas, normalmente segue uma ordem parecida com esta: perguntas>hipóteses>teste>resultado. Perguntas costumam vir da simples observação, explica Ayanda Lima, bióloga e professoravaidebet patrimonioensino médiovaidebet patrimonioGoiás. Pode ser algo simples, como observar que as folhasvaidebet patrimoniouma árvore são verdes e perguntar: por que elas têm essa cor? Daí vêm as hipóteses, possíveis explicações a serem averiguadas, como: será que elas ficam verdes porque tem algo dentro das plantas que as deixa assim?
- vaidebet patrimonio Teste, método e resultados: Em seguida, vem um teste, quevaidebet patrimonioalguns casos é um experimentovaidebet patrimoniolaboratório — mas nem sempre, dependendo da área ou objetovaidebet patrimoniopesquisa (a antropologia, por exemplo, desenvolveu ao longo tempo o método clássico da etnografia). O teste exige um método planejado e,vaidebet patrimoniopreferência, avaliado, aceito e capazvaidebet patrimonioser repetido por outros cientistas. No exemplo das folhas verdes, um teste seria macerá-las e depois analisar, com microscópio, seus componentes. Spoiler! Como o acúmulovaidebet patrimoniopesquisas já nos mostrou, um teste como esse revela que há organelas nas células vegetais, os cloroplastos, que dão essa coloração às plantas. Assim, depoisvaidebet patrimonioum teste, pode haver um resultado satisfatório como esse — que, com o acúmulovaidebet patrimoniopesquisas semelhantes, forma um conjuntovaidebet patrimonioevidências; mas também podem vir resultados que não correspondem à hipótese inicial, no entanto contribuem também para se pensarvaidebet patrimoniopesquisas com novos caminhos.
- vaidebet patrimonio Teorias: Trata-sevaidebet patrimonioum conjuntovaidebet patrimonioevidências maior, não apenas amplamente aceito pela comunidade científica, mas uma referência para ela — como a Teoria do Big Bang para a criação do Universo e a Teoria da Evolução na biologia. As teorias conseguem explicar várias situações e exemplos relacionados. Por mais difícil que seja, teorias podem eventualmente ser superadas.

Para Jarbas Barbosa, médico brasileiro e diretor-assistente da Organização Pan-Americanavaidebet patrimonioSaúde (Opas), braço regional da OMS nas Américas, mudar diantevaidebet patrimoniomelhores evidências científicas é "absolutamente esperado" — ainda maisvaidebet patrimoniouma pandemia como a atual, causada por uma doença nova como é a covid-19.
"Estamos tratandovaidebet patrimoniouma doença nova, completamente diferentevaidebet patrimonioqualquer coisa que a gente viu antes nos últimos 100 anos na saúde pública. Com essa característicavaidebet patrimoniodisseminar rápido e produzir muitos casos graves, é a primeira que temosvaidebet patrimonio100 anos", destaca Barbosa, médico sanitarista e epidemiologista e doutorvaidebet patrimoniosaúde coletiva pela Universidadevaidebet patrimonioCampinas (Unicamp).
"Claro quevaidebet patrimoniouma situação como essa, adaptar, mudar recomendações, é absolutamente esperado. O inesperado seria o contrário. Se você pegar o que se diziavaidebet patrimoniojaneiro e o que se diz agora, quem não mudou ou adaptou foi só teoria da conspiração — eles continuam pensando exatamente igual. Mas quem se baseiavaidebet patrimoniociência viuvaidebet patrimonioseis mesesvaidebet patrimoniopandemia coisas absolutamente inovadoras."
O diretor-assistente da Opas menciona como exemplos teorias da conspiraçãovaidebet patrimonioinfluência da China na OMS, acusação frequente partindo dos EUA; ou vice-versa. Ele destaca, entretanto, que a estrutura da organização "garante decisões técnicas e proteção à pressãovaidebet patrimoniopaísesvaidebet patrimonioparticular" — como a existênciavaidebet patrimonioum setorvaidebet patrimoniocontrolevaidebet patrimonioqualidade das recomendações e estudos produzidos pela entidade; a exigênciavaidebet patrimoniodeclaraçãovaidebet patrimonioconflitovaidebet patrimoniointeressesvaidebet patrimonioreuniõesvaidebet patrimonioalto escalão; uma rede com maisvaidebet patrimonio800 centros colaboradoresvaidebet patrimoniotodo o mundo, como universidades e secretariasvaidebet patrimoniosaúde no Brasil; e a própria assembleia mundial da saúde, com maisvaidebet patrimonio190 países com votos equivalentes.
"Às vezes vejo comentários como se a OMS fosse uma forçavaidebet patrimonioocupação, que poderia ter entrado na China… Isso é ficção científica. Nenhum país vai abrir mão davaidebet patrimoniosoberania para nenhum organismo internacional", afirma. "No limite do que é possível, a OMS tem mecanismosvaidebet patrimonioproteção contra influências bem estabelecidos."
Apesarvaidebet patrimonioa entidade afirmarvaidebet patrimonioindependência, isso não foi suficiente para impedir que o presidente Donald Trump anunciasse a retirada dos EUA da OMS, acusando-avaidebet patrimoniosofrer influência desmedida da China evaidebet patrimonioter falhado no combate ao coronavírus. Entretanto, apesarvaidebet patrimonioter sido formalmente iniciada, a saída dos Estados Unidos da OMS não necessariamente vai se concretizar.
Mudançavaidebet patrimoniorecomendação sobre uso generalizadovaidebet patrimoniomáscaras

Crédito, EPA/Fernando Bizerra
A OMS classificou a crise sanitária causada pelo coronavírus como uma pandemia — disseminação mundial e simultâneavaidebet patrimoniouma nova doença — em março. Desde então, a organização, um organismo multilateral vinculado às Nações Unidas, mudou por exemplovaidebet patrimonioposiçãovaidebet patrimoniorelação ao uso generalizadovaidebet patrimoniomáscaras contra a covid-19. Até junho, a entidade afirmava não haver evidências científicas suficientes para dizer que pessoas saudáveis deveriam usar o item — que deveria, sim, ser prioridade para pessoas doentes e profissionaisvaidebet patrimoniosaúde.
Mas, naquele mês, a OMS anunciou que, mediante novas evidências científicas avaliadas por um comitê e a consideraçãovaidebet patrimoniopreferências individuais e fatores sociais, como a dificuldadevaidebet patrimoniorealização do distanciamento físico, o uso disseminadovaidebet patrimoniomáscaras passou a ser encorajado.
Mesmo assim, o documento que respaldou a novidade é modestovaidebet patrimoniorelação ao usovaidebet patrimoniomáscaras como medidavaidebet patrimonioproteção: "No momento, o uso generalizadovaidebet patrimoniomáscaras por pessoas saudáveisvaidebet patrimoniocontextos comunitários ainda não é respaldado por evidências científicas diretas ouvaidebet patrimonioalta qualidade, e existem possíveis benefícios e riscos a serem considerados (...)".
Jarbas Barbosa afirma que,vaidebet patrimoniotodo esse período, a organização manteve uma posição: a preocupaçãovaidebet patrimonioapontar que apenas o usovaidebet patrimoniomáscara é insuficiente como medida preventiva.
"Do que sabíamos até o começo do ano, não havia muitas evidências sobre o usovaidebet patrimoniomáscaras — no caso da influenza, as evidências existentes falavam que ela praticamente não tinha muita importância. Agora, já temos evidênciasvaidebet patrimonioquevaidebet patrimoniodeterminadas circunstâncias, principalmentevaidebet patrimonioambientes com aglomeração quase natural, como transporte público e lojas, o usovaidebet patrimoniomáscara pode ter um papel. Então, várias coisas surgiram neste período", lembra Barbosa, que já foi presidente da Agência Nacionalvaidebet patrimonioVigilância Sanitária (Anvisa) entre 2015 e 2018.
"Mas mesmo hoje, quando a gente faz revisão sobre as máscaras, não encontra evidências fortes para recomendar o uso. Continuamos com a preocupaçãovaidebet patrimonioque as pessoas achem que só com aquilo estão protegidas. O mau usovaidebet patrimoniomáscara — a pessoa que toca muito, que faz o uso da mesma máscara uma semana seguida — pode ser até um fator agravante. Nas últimas recomendações, a OMS sugere que os países que estão adotando (a orientação) façam estudos para que possamos construir evidências mais robustas."
Como também mostrou a BBC News Brasilvaidebet patrimoniojunho, uma fala da epidemiologista Maria Van Kerkhove durante coletivavaidebet patrimonioimprensa da OMS gerou confusão no público e reaçõesvaidebet patrimonioespecialistas apontando que a fala foi mal colocada.
Van Kerkhove afirmou que era "muito raro" que pessoas assintomáticas transmitissem a doença, mas depois a organização precisou esclarecer que ela estava se referindo a pessoas realmente assintomáticas — não incluindo pessoas pré-sintomáticas, por exemplo. O posicionamento oficial da organização diz que revisão da literatura científica mostra que os casos assintomáticos poderiam variar entre 6% e 41% dos casosvaidebet patrimoniocontaminação — ou seja, ainda há grande incerteza sobre qual a proporçãovaidebet patrimoniocasos assintomáticos entre os contaminados.
Cloroquina, Lancet e OMS

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Outro episódiovaidebet patrimoniogrande repercussão nesta pandemia envolvendo a OMS foi relacionada aos estudos com a cloroquina e hidroxicloroquina — um derivado mais brando da primeira. Estes medicamentos são usados hoje, respectivamente, para tratar malária; e, no caso da hidroxicloroquina, reumatoide, lúpus e outras doenças autoimunes.
Inicialmente, a hidroxicloroquina foi escalada para o projeto Solidarity, da OMS, que está conduzindo estudos clínicos com potenciais tratamentos para a covid-19vaidebet patrimoniodiversos países. No entanto, a organização anunciouvaidebet patrimoniojulho que, seguindo recomendação do conselho diretivo do projeto, os testes com a droga foram definitivamente descontinuados.
"Resultados parciais (do projeto Solidarity) comprovaram o que vários outros estudos consistentes já tinham mostrado:vaidebet patrimoniopacientes hospitalizados, a hidroxicloroquina não traz nenhum benefício e tem um risco, ainda que raro,vaidebet patrimonioproduzir arritmia cardíaca. Em um estudo, você não pode piorar — medicamente, é inaceitável. Este comitê diretivo tem o papelvaidebet patrimoniorevisar tudo o que é informação, comovaidebet patrimoniorelação à segurança (do medicamento). Então, não é que a OMS 'mudouvaidebet patrimonioopinião' — ela agiu como deveria agir", afirma o diretor-assistente da Opas.
Mas, antes que a OMS decidisse definitivamente retirar a hidroxicloroquina do Solidarity, houve uma grande pedra no meio do caminho envolvendo outra marcavaidebet patrimoniorenome — a revista científica Lancet, considerada o segundo periódico com maior fatorvaidebet patrimonioimpacto (métrica composta por vários indicadores da influênciavaidebet patrimoniouma publicação científica) no mundo, atrás apenas do New England Journal of Medicine, segundo o relatório Journal Citation Reports 2018, da consultoria Clarivate Analytics.
Em 22vaidebet patrimoniomaio, foi publicado no Lancet um artigo do tipo observacional (entenda a definição abaixo) que afastou os benefícios do tratamentovaidebet patrimoniocovid-19 com a cloroquina e hidroxicloroquina usando informaçõesvaidebet patrimonio96 mil pacientesvaidebet patrimoniovários países, coletadasvaidebet patrimoniouma basevaidebet patrimoniodados da empresa Surgisphere.
Logo após a publicação, a OMS anunciou a suspensão — naquele momento, ainda temporária — do estudo com hidroxicloroquina no Solidarity.
Entretanto, no iníciovaidebet patrimoniojunho, veio um novo contratempo: os autores solicitaram a retrataçãovaidebet patrimonioseu próprio artigo ao Lancet, um procedimento raro mas previsto nos protocolosvaidebet patrimonioperiódicos renomados quando há algum tipovaidebet patrimoniomá conduta, fraude ou erro detectado.
Após a publicaçãovaidebet patrimoniomaio, outros pesquisadores não envolvidos no estudo cobraram mais detalhes sobre os dados da Surgisphere, ao que os autores contrataram auditores independentes para atender à cobrança dos colegas. No entanto, a empresa se recusou a fornecer o conjuntovaidebet patrimoniodados completo, pois isso violaria contratos com clientes e o compromisso com a confidencialidade.
Assim, os autores escreveram ao Lancet que não poderiam garantir mais a qualidade dos dados primários — os dos milharesvaidebet patrimoniopacientes envolvidosvaidebet patrimoniotestes com a cloroquina e hidroxicloroquina.
Para a matemática Tatiana Roque, coordenadora do Fórumvaidebet patrimonioCiência e Cultura da Universidade Federal do Riovaidebet patrimonioJaneiro (UFRJ), o episódio do Lancet reflete um descompasso que pode acontecer entre a pressão por respostas, como vemos na atual pandemia; e o tempo "natural" da ciência, que por vezes precisavaidebet patrimonioanos, décadas e até séculos para avançar.
"O que aconteceu com o Lancet chama a atenção justamente porque, por conta da pressa, alguns critérios (de rigor científico) não foram observados: a origem e confiabilidade dos dados. Se para dar respostas rápidas a ciência queimar etapas, atropelar a temporalidade necessária para gerar resultados sólidos, pode acabar sendo pior — quando um resultado precisa ser revisto, por exemplo", avalia Roque, também doutoravaidebet patrimoniohistória das ciências e epistemologia.
Natalia Pasternak concorda. Ela avalia que potenciais remédios e vacinas, quevaidebet patrimoniocondições normais podem levar anos e até décadas para serem desenvolvidos, testados e aprovados para uso, estão no caso da covid-19 já sendo acelerados a uma velocidade talvez nunca antes vista. E isto, às vezes, beira a riscos.
"Nem sempre dá tempovaidebet patrimoniofazer padrão ouro (ou máximo) — inclusive muitos estudos estão sendo feitos sem duplo cego, sem placebo. Pela pressa, a gente já está perdendo o rigor. Mas a gente não pode perder tanto o rigor a pontovaidebet patrimonioa resposta ser inútil", aponta a bióloga.
"Na áreavaidebet patrimoniovacinas, há muita preocupação com a pressa. Porque com vacina, você não pode errar — milhõesvaidebet patrimoniopessoas vão receber as doses. E elas já estão sendo desenvolvidasvaidebet patrimoniotempo recorde, principalmente por ter muita gente trabalhando junto. A gente não pode se dar o luxovaidebet patrimonioerrar, porque estamos vivendo um ambiente mundialvaidebet patrimoniodesconfiança das vacinas."
O rigor exigido hojevaidebet patrimoniovacinas e remédios, lembra Pasternak, não existia quando a penicilina foi usada na Segunda Guerra Mundial — este é um exemplo frequente apresentado como argumento por quem defende o uso da cloroquina contra a covid-19, fazendo uma analogia entre a urgência do conflito bélico com a pandemia do coronavírus.
"Gosto muito deste exemplo da penicilina. Naquela época, realmente, nem se fazia estudo clínico controlado. A penicilina foi testadavaidebet patrimoniocamundongos, mas o tamanho do efeito foi tal que não poderia ser ignorado — simplesmente, todos os animais tratados com penicilina sobreviveram, e todos que não foram, morreram. Se você tem uma pessoa entre a vida e a morte e um remédio que funcionou 100%vaidebet patrimoniocamundongos, manda ver. Não podemos esquecer, porém: quantos soldados morreram porque eram alérgicos a penicilina, como foi descoberto depois?", questiona.
"E, para a covid-19, pode não haver tratamento específico, mas ninguém está jogado à própria sorte. Existe protocolovaidebet patrimonioatendimento, com suportevaidebet patrimoniooxigênio, ventilação mecânica, entre outros", diz, criticando a analogia da atual pandemia com uma guerra.
Como são feitos os estudos na área médica
As definições se baseiamvaidebet patrimonioum guia da Academiavaidebet patrimonioCiências Médicas do Reino Unido feito com o objetivovaidebet patrimoniomelhorar a comunicação entre instituiçõesvaidebet patrimoniopesquisa e jornalistas, trazendo um sistemavaidebet patrimonioclassificaçãovaidebet patrimoniotiposvaidebet patrimoniopesquisa e suas explicações — documento que usamos frequentemente aqui, na BBC News Brasil.
- vaidebet patrimonio Estudo observacional: Autor investiga se X está correlacionado a Y, não sendo capazvaidebet patrimoniodemonstrar causa e efeito pois não há manipulaçãovaidebet patrimoniovariáveis — diferentevaidebet patrimonioum estudo do tipo RCT, por exemplo.
- vaidebet patrimonio Ensaio clínico randomizado controlado, o RCT (randomised controlled trial,vaidebet patrimonioinglês): Experimento que envolve pacientes (clínico), divididos aleatoriamente (randomizado)vaidebet patrimonioum grupo que recebe o tratamento testado; e um grupovaidebet patrimoniocontrole, que não recebe o item testado — mas sim um placebo ou tratamento diferente. Experimentos assim podem ter ainda a característicavaidebet patrimonioter "duplo cego", quando nem pesquisadores nem participantes sabem quem estávaidebet patrimonioqual grupo. Estudos RCT são considerados o "padrão ouro"vaidebet patrimoniopesquisas com remédios e vacinas.

O papel dos 'experts' e da mídia

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Tatiana Roque, que alémvaidebet patrimoniopesquisadora tem também passagem pela política, tendo sido candidata a deputada federalvaidebet patrimonio2018 pelo PSOL, acrescenta que o caso da cloroquina ensina mais uma coisa: a confusão entre ciência, política e experts — especialistas que frequentemente opinam na mídia e aconselham governos para embasar decisões.
"A cloroquina mostrou uma confusão entre esses três âmbitos, porque eles têm temporalidades muito diferentes. Era completamente impossível ter resultados sobre a cloroquina a tempo do que exigia a pressão política. Mas acabou sendo muito urgente ter resultados rápidos, porque presidentes como Trump e Bolsonaro estavam defendendo o remédio para tratamento da covid-19. Os protocolosvaidebet patrimonioestudos clínicos foram atropelados", diz Roque, que aponta, neste caso, o médico francês Didier Raoult no papel do expert — que vem defendendo o uso da cloroquina no tratamentovaidebet patrimoniocovid-19.
"Muitas vezes, um especialista individualmente vai defender pontos que não são validados pela comunidade científica. Não adianta colocar um especialista contra o outro como se fossem opiniões pessoais. É preciso pensar nas instituições e na comunidade que validam este conhecimento."
Publicações científicas
- vaidebet patrimonio Peer review vaidebet patrimonio , ou revisão dos pares: Etapa comum antes da publicaçãovaidebet patrimonioum artigovaidebet patrimonioperiódico,vaidebet patrimonioque o material é avaliadovaidebet patrimonioforma independente por pesquisadores da área, que recomendamvaidebet patrimoniorejeição ou aceitação — muitas vezes, nesse caso, com pedidosvaidebet patrimonioalteração. A independência é garantida, por exemplo, por plataformasvaidebet patrimonioenviovaidebet patrimoniotrabalhos que impedem a identificação dos autores e avaliadores.
- vaidebet patrimonio Preprint, ou pré-publicação: Como está sendo visto frequentemente na atual pandemia, há plataformas na internet para enviovaidebet patrimoniopreprints, ou seja, artigos que não passaram ainda pelo processo completovaidebet patrimonioavaliação dos pares e publicaçãovaidebet patrimonioum periódico. Segundo a bióloga Natalia Pasternak, os preprints têm uma funçãovaidebet patrimoniocomunicação entre os cientistas — para que uns saibam o que outros estão produzindo, por exemplo, podendo levar a colaborações —, entretanto muitas vezes tendo o objetivo desviado quando lidos e divulgados pela mídia e pelo público leigo.
- vaidebet patrimonio Conflitosvaidebet patrimoniointeresse: Periódicos renomados costumam ter regras para tentar blindar pressões como, por exemplo, avaidebet patrimoniouma empresa farmacêutica interessada que uma drogavaidebet patrimonioteste tenha bons resultados e, por outro lado, efeitos colaterais mostrando-se insignificantes. Um dos principais mecanismos para isso é a declaraçãovaidebet patrimonioconflitosvaidebet patrimoniointeresse, um campo preenchido por autores e publicado no artigovaidebet patrimonioque estes apresentam eventuais financiamentos recebidos para pesquisa, expondo o nome dos financiadores e a forma com que eles interferiram no estudo.

A participação e validação entre colegas, na comunidade científica, acontece a todo momento na rotinavaidebet patrimonioum pesquisador. Para se entrarvaidebet patrimonioum mestrado ou doutorado, e depois, para defender uma dissertação ou tese, há sempre bancasvaidebet patrimoniopesquisadores para avaliar o trabalho do candidato. O mesmo acontece para alguém concorrendo a uma vagavaidebet patrimonioprofessorvaidebet patrimonioalguma universidade. Um artigo publicadovaidebet patrimonioperiódico ou apresentadovaidebet patrimonioum congresso frequentemente precisa passar antes pela avaliaçãovaidebet patrimoniopares.
E,vaidebet patrimoniotodos tiposvaidebet patrimoniopublicação,vaidebet patrimonioum artigo a uma tese, são presenças certas o chamado "estado da arte" — a apresentaçãovaidebet patrimonioestudos anteriores naquela área ou assunto — e as referências bibliográficas, uma formavaidebet patrimoniodestacar e reforçar pesquisas já feitas por outros estudiosos.

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Ao falar da diferença entre pesquisadores atuando individualmente ouvaidebet patrimonio"comunidade", Roque menciona um vídeo que é um queridinho entre cientistas e pessoas que trabalham com divulgação científica — um episódio do programa Last Week Tonight, do comediante britânico John Oliver,vaidebet patrimonioque ele brinca com a proporçãovaidebet patrimoniocientistas que concordam haver evidências do papel humano nas mudanças climáticas, versus os chamados negacionistas.
O apresentador está na bancada com um representantevaidebet patrimoniocada "lado" quando,vaidebet patrimoniorepente,vaidebet patrimonionomevaidebet patrimonioum "debate estatisticamente representativo sobre as mudanças climáticas", convida mais 96 cientistas que reconhecem o papel humano nas mudanças climáticas — ou seja, mostrando que não há dois lados com mesmo peso sobre a questão, mas sim a preponderânciavaidebet patrimoniouma mesma avaliação entre os cientistas.
A cientista diz que a mídia deve estar atenta à colocação dos experts e também para a coberturavaidebet patrimoniociência a longo prazo.
"Espera-se dos experts que eles enunciem certezas — ninguém chama um especialista para falar 'não sei' na TV. Mas é mais interessante que o especialista seja aquele que ajude a refletir, e menos alguém que vá dar respostas", sugere Roque.
"Também é importante que a mídia faça um trabalhovaidebet patrimoniodivulgação científicavaidebet patrimoniolongo prazo — e não apenas na hora da pandemia. É importante passar para o público o gosto pela ciência, mostrar que ela tem uma história longa —vaidebet patrimoniovez da afirmaçãovaidebet patrimoniocertezas absolutas, o que passa uma imagem às vezes arrogante."
"Na verdade, a especificidade da ciência é ter métodos para lidar com as incertezas. Ela não elimina a incerteza. Método confiáveis vão sendo formados ao longo do tempo, validados e protocolados por uma comunidade ampla; seus resultados podem ser reproduzidos no ambiente ouvaidebet patrimoniooutras pesquisas. Mas a ciência não enuncia certezas absolutas."
Natalia Pasternak também brinca que não existe cientista "a favor ou contra" a cloroquina — "o que tem são as evidências", diz.
"Se for um bom cientista, ele vai saber analisar essas evidências", aponta Pasternak, que aproveita para recomendar, para cientistas ou não, o livro O mundo assombrado pelos demônios, do biólogo e astrofísico Carl Sagan — segundo ela, "um dos melhores livros que ensina a pensarvaidebet patrimonioforma científica".
Parece mas não é
- vaidebet patrimonio Correlação: Trata-sevaidebet patrimoniouma conexão entre duas coisas, mas não necessariamente com causalidade. "São eventos que acontecemvaidebet patrimonioforma concomitante e dão a impressãovaidebet patrimoniocausa e efeito, principalmente se uma coisa acontece antes da outra — como observar que o galo canta logo antes do nascer do sol e deduzir que o sol só nasce porque o galo cantou", brinca Natalia Pasternak, dando o exemplovaidebet patrimoniouma correlação que poderia equivocadamente ser tomada como uma relaçãovaidebet patrimoniocausalidade. Ela, aliás, recomenda o site e um livro intitulados Spurious Correlations, ouvaidebet patrimonioportuguês, "correlações espúrias". Seu autor, Tyler Vigen, ficou famoso ao criar diversos gráficos divertidos com aparente causalidade, mas que não têm nada a ver, como o númerovaidebet patrimoniopessoas afogadasvaidebet patrimoniopiscinas relacionado ao númerovaidebet patrimoniofilmesvaidebet patrimonioque Nicolas Cage atuou; e a taxavaidebet patrimoniodivórcios no Estado do Maine associada ao consumovaidebet patrimoniomargarina.
- vaidebet patrimonio Causalidade: Aparentemente, é algo simples — um evento X causa Y, ou seja, Y é uma consequênciavaidebet patrimonioX. Mas, para ir além da correlação, é preciso coletar dados e fornecer evidências descrevendo esta conexãovaidebet patrimoniocausa e efeito. Por exemplo, há várias correlações entre tiposvaidebet patrimoniocâncer e estilovaidebet patrimoniovida, como na alimentação, práticavaidebet patrimonioesportes e estresse. Mas como provar causalidade? No caso do tabagismo e câncervaidebet patrimoniopulmão, foi assim: nos EUA, começou-se a observar que a curvavaidebet patrimoniocigarros fumados por pessoa no país acompanhava o padrão da taxavaidebet patrimoniomortes por câncervaidebet patrimoniopulmão. Quando uma crescia, a outra também. Depois, isso foi associado a outras evidências, como avaidebet patrimonioque pelo menos 70 substâncias químicas presentes na fumaça do cigarro causaram câncervaidebet patrimoniocobaias no laboratório ouvaidebet patrimoniohumanos. Assim, uma conexãovaidebet patrimoniocausalidade foi demonstrada.

Jarbas Barbosa, ao mesmo tempo, considera problemática a posturavaidebet patrimonioalguns médicos no Brasil. O sanitarista conta ter se surpreendido, na pandemia, com médicos brasileiros postando protocolosvaidebet patrimoniotratamento no Facebook ou vídeos no Instagram recomendando medicamentos ainda não validados pela comunidade científica.
Como mostrou recentemente a BBC News Brasil, entidades médicas no país estão preocupadas com esse comportamentovaidebet patrimonioprofissionais nas redes sociais na atual pandemiavaidebet patrimoniocovid-19.
"Deveria estar mais presente no currículovaidebet patrimoniomédicos brasileiros a separação do que é evidência do que é informação anedótica", conclui Barbosa.
A ciência está ao alcancevaidebet patrimoniotodos

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Mas, antes do conhecimento especializado que se obtém nas faculdades, há um lugarvaidebet patrimonioque o método científico pode e deve ser ensinado: as escolas.
Doutoravaidebet patrimoniobiologia celular, a professora Ayanda Lima bem sabe disso — ela dá aulasvaidebet patrimoniociências no ensino fundamental evaidebet patrimoniobiologia no ensino médio e já foi destaque, junto com seus alunos do Centrovaidebet patrimonioEnsinovaidebet patrimonioPeríodo Integral (Cepi) Dom Veloso, escola estadualvaidebet patrimonioItumbiara (GO),vaidebet patrimoniopremiações nacionais para projetos científicosvaidebet patrimonioescolas. No casovaidebet patrimoniotrabalhos desenvolvidos sobvaidebet patrimonioorientação, já foram destaquevaidebet patrimonioprêmios por exemplo um tijolo ecológicovaidebet patrimonioalta durabilidade e um biofertilizante feito com sorovaidebet patrimonioleite bovino reutilizado.
"Não é clichê, não é utopia: a ciência realmente é para todos", disse à BBC News Brasil, por telefone.
"A metodologia científica pode ser aplicada por qualquer pessoa, independentemente da faixa etária e classe social. Todo mundo é capazvaidebet patrimonioobservar uma problemática e levantar hipóteses", afirma, lembrando que o conhecimento antigo e popular também pode ser científico.
"Por exemplo, quem cria aves e coloca uma galinha poedeira para cruzar com um galo bom, buscando uma linhagem muito boa — a pessoa observou, experimentou e viu que dava bons resultados. Isso é ciência. Ou quando você pergunta para uma pessoa se a mandioca dela cozinha bem e pede uma rama — ou seja, eu quero uma reproduçãovaidebet patrimonioum produto igual àquele."
Das salasvaidebet patrimonioaula, a professora aprendeu que na verdade é importante sair delas — para que o aprendizado dos livros se conecte com a observação e seja impulsionado pela curiosidade. Isso pode acontecer tantovaidebet patrimoniolaboratórios quantovaidebet patrimoniouma simples volta na área externa da escola, onde tudo é passívelvaidebet patrimonioobservação —vaidebet patrimonioplantas a formigas e cupins.
O antropólogo Gersem Baniwa, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), também lembra do valor do conhecimento não só dito popular — mas também daqueles saberem que vêmvaidebet patrimoniooutros lugares, povos e tempos algo distantes da origem europeia e racional que a ciência dominante carrega.
Sua posição évaidebet patrimonioquem vive esse encontro — e às vezes desencontros — na pele.
"A ciênciavaidebet patrimoniohoje,vaidebet patrimoniogrande medida, está fundamentada no racionalismo cartesiano,vaidebet patrimoniouma visão positivista do homem. Issovaidebet patrimonioalguma maneira condiciona as possibilidades da própria ciência. Podemos perceber isso sobretudo quando vivemos outras lógicas, como é meu caso: estudei a ciência 'eurocêntrica' para me formar, mas também guio minha percepção do mundo com a lógica indígena, do meu povo Baniwa", conta o cientista social, graduadovaidebet patrimoniofilosofia e mestre e doutorvaidebet patrimonioantropologia pela Universidadevaidebet patrimonioBrasília (UnB).
"Sim, claro, a ciência ocidental, eurocentrada, temvaidebet patrimonioimportância — até porque suas conquistas são gigantescas, dignasvaidebet patrimoniocomemoração civilizatória, não tenho a menor dúvida", diz, mencionando seu contato, nos últimos anos, também com filosofias orientais, negras e neoafricanas.
"Mas quando percebemos essa pluralidadevaidebet patrimonioperspectivas, acho fantástico: é isso que forma a grande ciência, esta sim a ciência universal. Se pensássemos na complementaridade entre elas, quem sabe ganharíamos velocidade para compreender mais o mundo."
O antropólogo exemplifica como a perspectivavaidebet patrimonioseu povo difere da visão dominantevaidebet patrimoniouma doença como a covid-19 — enquanto esta, representada pela medicina ocidental, tende a focar no elemento biológico (o vírusvaidebet patrimoniosi), a perspectiva indígena é mais holística ao considerar fatores espirituais e comunitários do adoecimento.
E, ainda que reconheça que a ciência eurocentrada formou um método que se destaca por seu rigor, sobretudo ao se fecharvaidebet patrimonioexperimentos dentrovaidebet patrimoniolaboratórios, Baniwa lembra que saberes milenares também têm características dessa ciência dominante.
"Como o pajé chega ao seu domíniovaidebet patrimonioconhecimento? São décadas (de aprendizado). O saber indígenavaidebet patrimoniomodo geral é resultadovaidebet patrimoniolongos anosvaidebet patrimoniohistória —vaidebet patrimonioobservação, experimentação, comprovação, contrapontos. Os índios conhecem hoje plantas que matam — são resultadovaidebet patrimonioexperimentações", aponta.

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