Coronavírus: como o surto está espalhando antigos preconceitos sobre a China e seus hábitos culturais:stargames net

Retratostargames netquarentena na Chinatownstargames netHonolulu,stargames net1899,stargames netfoto preto e branco; nela, se vê muitas crianças e adultos atrásstargames netcordas, com guardastargames netvão protegido por cordastargames netcontrole

Crédito, Hawaiʻi State Archives/Photograph Collection

Legenda da foto, Quarentena na Chinatownstargames netHonolulu,stargames net1899; 'a peste vive e se reproduz na imundície e, ao chegarstargames netChinatown, encontrou seu habitat' escreveustargames netdocumento da época o responsável pelo conselhostargames netsaúde do Havaí

Na França, por exemplo, relatosstargames nethostilidades vividas por estas pessoas no transporte público,stargames netescolas estargames netunidadesstargames netsaúde estão sendo reunidos pela hashtag #JeNeSuisPasUnVirus (#NãoSouUmVírus).

A Associaçãostargames netJovens Chineses na França publicoustargames netsuas redes sociais estar recebendo pedidosstargames netajuda psicológica por vítimasstargames netdiscriminação desde o surgimento do novo tipostargames netcoronavírus — não sóstargames netpessoasstargames netorigem chinesa, mas também coreana, cambojana, vietnamita e filipina.

Na Coreia do Sul, maisstargames net500 mil pessoas assinaram uma petição na plataforma online Blue House (criada pelo governo para receber petições dos cidadãos) exigindo que visitantes chineses sejam impedidosstargames netentrar no país — apesarstargames netrestrições a viagensstargames netpessoasstargames netum país inteiro irem contra normas internacionais, o que foi endossado no último dia 27stargames netcomunicado da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmando que a entidade "não recomenda a aplicaçãostargames netqualquer restrição no tráfico internacional,stargames netacordo com as evidências existentes até agora".

Xenofobiastargames netrede

Pesquisadores consultados pela BBC News Brasil apontam que preconceitos, comostargames netrelação a comidas consideradas exóticas consumidas na China ou a turistas saudáveis vindosstargames netpaíses asiáticos, podem mascarar problemas concretos e até atrapalhar a tomadastargames netdecisõesstargames netrelação a eles — como uma vigilância sanitária eficientestargames netmercados que vendem alimentosstargames netorigem animal ou a transparência na circulaçãostargames netpassageiros por aeroportos.

"Segundo o Regulamento Sanitário Internacional, nenhum país pode tomar medidas consideradas extremas que não tenham evidências que as sustentem — por exemplo banimentostargames netvoos, fechamentostargames netfronteiras. Essa proteção existe para evitar impedimentos ou restrições não justificáveisstargames netviagem e comércio. Lutamos contra isso durante a pandemiastargames netinfluenzastargames net2009, que alguns lugares estavam chamandostargames net'gripe mexicana'", explicou à BBC News Brasil o médico sanitarista e epidemiologista brasileiro Jarbas Barbosa, atualmente diretor-assistente da Organização Pan-Americanastargames netSaúde (Opas), braço regional nas Américas da OMS.

"Em 2015, havia três países com transmissãostargames netebola na África — mas outros países estavam inclinados a considerar como caso suspeito qualquer pessoa que vinha do continente africano, mesmo que 5 mil km longe dos locaisstargames nettransmissão."

"Esse tipostargames netmedida (restritiva) é excessiva, não protege nenhum paísstargames netimportar casos e, pelo contrário, termina incitando as pessoas a não agirem com transparência — e nem os países que precisam comunicar os dados. Alémstargames netser ética e moralmente desaconselhável, porque induz à xenofobia", diz Barbosa, indicando questargames netcrises como a atual, a atuação nos aeroportos deve ser mais vigilante na saídastargames netpassageirosstargames netlocais com transmissão (como Wuhan, por exemplo) e, no mundo todo, deve fazer desses locais meiosstargames netdivulgaçãostargames netinformações sobre sintomas e locaisstargames netatendimento.

Pessoa com máscara andastargames netcalçadastargames netChinatown,stargames netonde se vê placasstargames netcomérciostargames netcerveja e acunpuntura

Crédito, REUTERS/Carlos Osorio

Legenda da foto, Comérciostargames netChinatownstargames netToronto, no Canadá, foi afetado no surtostargames netSars nos anos 2000; teme-se efeitostargames netnovo impacto com o surto atualstargames netcoronavírus

Para cientistas sociais que vêm estudando especificamente a contaminaçãostargames netquestõesstargames netsaúde por preconceitos culturais, o episódio do novo coronavírus não é novo: é uma atualizaçãostargames netantigos preconceitos associados à China e à Ásia que já apareceram desdestargames netuma epidemiastargames netpeste bubônica no século 19 ao surto mundial da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) no início dos anos 2000.

"A expressão 'perigo amarelo' (usada no Ocidente como designação preconceituosa contra o Leste asiático a partir do século 19) pode parecer datada, mas definitivamente vemos que algumas narrativas tradicionais contra os chineses continuam hoje —stargames netparticular na forma com que eles são estimatizados como bodes expiatóriosstargames netquestões médicas", apontoustargames netentrevista à BBC News Brasil o historiador Sören Urbansky, especialistastargames netRússia e China do Instituto Alemãostargames netHistóriastargames netWashington, EUA.

"Na situaçãostargames netagora (do coronavírus), algumas representações na mídia e falasstargames netpolíticos ou pessoas comuns certamente têm paralelos no passado", diz Urbansky, citando como exemplo um cartum publicado por um jornal dinamarquêsstargames netque uma bandeira chinesa é formada por partículas representado o coronavírus.

"O mais preocupantestargames netconteúdos como esse é a xenofobia que podem estimular entre pessoas comuns. Nas redes sociais, você pode encontrar muitas postagens e tuítes com avisos para que não se coma comida chinesa ou pedidosstargames netproibiçãostargames netviagens."

Preconceito com hábitos alimentares

Urbansky é organizador do livro Yellow perils: China narratives in the contemporary world ("Perigo amarelo: Narrativas sobre a China no mundo contemporâneo",stargames nettradução livre), lançadostargames net2018, ao lado do antropólogo Franck Billé, da Universidade da Califórniastargames netBerkeley.

Na introdução do livro, Billé destaca que há muito a Ásia representa culturalmente "o outro" para os europeus, o que é perpetuado na cultura ocidental também contemporaneamente pela preponderância dos EUA — comostargames netpapéis estereotipados nos filmesstargames netHollywood, cujo poderstargames netinfluência é global.

Os chineses, porstargames netvez, foram muitas vezes representantesstargames netestigmatizações relacionadas à Ásia como um todo. Mas, como os estudos da cultura não são uma ciência exata, o autor destaca que os ocidentais não têm "monopólio" dessas discriminações — elas variamstargames netlocal para local e, inclusive, acontecem dentro das fronteiras da própria Ásia e China.

O livro traz capítulosstargames netdiversos autores, entre eles Christos Lynteris, antropólogo da medicina e professor na Universidade St. Andrews, no Reino Unido. Ele estuda especificamente aspectos sociaisstargames netepidemias e escreveu um capítulo sobre como, ao longo da história, surtos e doenças contribuíram para a estigmatização dos chineses.

"O surto do novo coronavírus trouxestargames netvolta à tona a sinofobia (xenofobia contra a China)stargames netformas veladas ou abertas. A mais nociva, talvez, como no caso anteriorstargames netSars, seja o ódio digital e a difamação dos hábitos alimentares dos chineses", escreveu Lynteris à BBC News Brasil por email.

Um símbolo disso, diz o antropólogo, são os chamados wet markets ("mercados molhados"), usualmente caracterizados por vender animais vivos e abatidos no local — "um termo que não ajuda, porque abrange vários tiposstargames netmercados", explica o antropólogo.

No iníciostargames netjaneiro, a própria China informou à OMS que os primeiros casosstargames netcoronavírus podiam ter ligação com um mercadostargames netfrutos do mar na cidadestargames netWuhan.

Lynteris critica o habitual retrato desses variados mercados na mídia ocidental, com imagens "destinadas a chocar o público"stargames netanimais apresentados como exóticos; que misturam capturasstargames netdiferentes mercados ao redor da China apesar das diferenças locais e culturais; e que excluem "a maior parte das atividades desses mercados, que seriam absolutamente familiares (aos ocidentais)".

Família com máscaras caminhastargames netsaguãostargames netaeroportos

Crédito, EPA/HOW HWEE YOUNG

Legenda da foto, Passageirosstargames netaeroportostargames netCingapura; organismos internacionais como OMS se colocam contra medidas 'extremas' como fechamentostargames netfronteiras e banimentostargames netvoos
Corredorstargames netmercadostargames netPequim, onde se ver mulher varrendo o chão e diversos consumidores caminhando entre estandes com sacolas

Crédito, NICOLAS ASFOURI/AFP

Legenda da foto, Os chamados 'mercados molhados' viram símbolo da estigmatizaçãostargames nethábitos alimentares chineses, apontam cientistas sociais; na foto, se vê um mercadostargames netPequim

"Essa é uma forma sutil, mas perniciosa, através da qual até a mídia mais esclarecida estimula a sinofobia: retratando os hábitos chinesesstargames netalimentação e consumo comostargames netdescompasso com a modernidade; como resquícios irracionais, nojentos e patogênicosstargames netum passado obscuro", afirma, apontando que essa estigmatização contribui para uma pressão internacional pelo banimento desses mercados.

"O que é preciso é uma regulação melhor, mais intensa e baseadastargames netevidências desses mercados, e não levá-los para a ilegalidade", diz.

O consumostargames netanimais como cachorros, cobras e ratos atende a diferentes habitos culturais locais na China e podem ter finalidades tanto alimentícias quanto místicas. Estudiosos, porém, são cautelosos quanto ao alcance deste tipostargames netalimentação no país.

Nas redes sociais, inclusive no Brasil, circularam fotos e vídeos do que seriam sopasstargames netmorcegos consumidasstargames netWuhan — apontadas, nos boatos, como possível origem do novo coronavírus. Checagens profissionais posteriores mostraram, por exemplo, que uma dessas imagens era antiga e feitastargames netoutro país; tampouco foi encontrada comprovaçãostargames netque alguma das imagensstargames netsopastargames netmorcego fosse verdadeira.

Inclusive, nada menos do que 35 cientistas, a maioria da China, publicaram nesta semana um artigo no Lancet, um dos periódicosstargames netmedicina mais importantes do mundo. No trabalho, eles frisam que não havia venda ou presençastargames netmorcegos no mercadostargames netHuanan.

Estes animais entram, sim, na hipótese dos acadêmicos para a origem do coronavírus — comparando a sequência genética do vírus encontradostargames nethumanos com uma "biblioteca"stargames netvírus já sequenciados, os cientistas encontraram compatibilidadestargames net88% com coronavírus encontradosstargames netmorcegos.

No entanto, estes seriam hospedeiros do vírus, porstargames netvez possivelmente transmitido por algum outro animal ainda indeterminado e vendido no mercadostargames netWuhan.

Discriminação contra as 'Chinatowns'

Sobre a época do surtostargames netSars, Lynteris e Sören citam relatosstargames netqueda no comérciostargames netimigrantes chinesesstargames netmetrópoles ocidentais, comostargames netToronto, no Canadá (o país teve o maior númerostargames netcasos fora da Ásia, com maisstargames net40 mortes).

Também houve casosstargames netconsumidores chineses saudáveis sendo impedidosstargames netcomprar ou se hospedarstargames netacomodações pelo mundo; ou ainda a ilustraçãostargames netreportagens sobre a síndrome com uma enxurradastargames netfotosstargames netChinatowns (bairros com muitos imigrantes chineses) e pessoas com traços asiáticos, ainda que estas não tivessem infecções.

A síndrome surgiustargames net2002 na Província chinesastargames netGuangdong, ficando por meses desconhecida da comunidade internacional, o que motiva críticas à transparência do governo chinês até hoje. Com ápicestargames net2003, ela chegou a maisstargames net26 países e matou quase 800 pessoas ao redor do mundo.

Reprodução da capastargames net'Yellow perils: China narratives in the contemporary world'

Crédito, Reprodução/University of Hawaii Press

Legenda da foto, Reprodução da capastargames net'Yellow perils: China narratives in the contemporary world', que traz capítulos sobre estereótipos sobre o país asiático

Lynteris destaca que questõesstargames netsaúde recentes como essa vão ao encontrostargames netuma noçãostargames netcrescimento, populacional e econômico, descontrolado da China. Outros estudos no livro Yellow perils: China narratives in the contemporary world apontam para uma "ansiedade" quanto ao poder da China, perceptível também na recorrênciastargames netpalavras como "ameaça"stargames netpublicações científicas e leigas.

Mas, no passado, doenças e infecções eram associadas a uma outra imagem da China: astargames netdecadência, aponta Lynteris.

No fim do século 19, uma terceira epidemiastargames netpeste bubônica teve iníciostargames netHong Kong (quando era parte do Império Britânico; hoje, ela é uma Região Administrativa Especial da China).

De acordo com o antropólogo, uma extensa bibliografia já mostrou como, nesse período, publicações da imprensa e relatosstargames netmédicos britânicos contribuíram para associar a doença às casas e aglomerações chinesas — inclusivestargames netcomunidadesstargames netimigrantes no exterior.

Somaram-se a isso pressões internas e externas contra a última dinastia imperial da China, a era Qing, vista por médicos coloniais como resistente à vacinação e associada a uma ideiastargames netdecadência da civilização chinesa estargames netsuposta resistência a se adaptar à modernidade.

Nas Chinatowns dos EUA, por exemplo, alémstargames netserem encarados pelos americanos como competidoresstargames netnegócios e postosstargames nettrabalho, os imigrantes asiáticos passaram a ser relacionados a doenças.

Ilustração e imagensstargames netjornal californiano retratam moradoresstargames netChinatown depoisstargames netfimstargames netquarentena — imposta após casosstargames netpeste bubônica

Crédito, Reprodução/California Digital Newspaper Collection

Legenda da foto, Ilustração e imagensstargames netjornal californiano retratam moradoresstargames netChinatown depoisstargames netfimstargames netquarentenastargames net1900 — imposta após casosstargames netpeste bubônica

"Estudo a históriastargames netvárias comunidades da diáspora chinesa no Pacífico. Na virada do século 20, os imigrantes chineses eram vistos como mais perigosos do que outros gruposstargames netimigrantes — não apenas na Califórnia, mas tambémstargames netlugares como o Extremo Oriente russo", aponta Sören.

"Por exemplo, quando um surto (de peste bubônica) eclodiustargames netSão Franciscostargames net1900, apenas os chineses foram colocadosstargames netquarentena. Naquela época, era bastante normal descrever os migrantes chineses como uma ameaça à segurança física da maioria (branca) da população."

"O que as pessoas daquela época ignoravam completamente eram vários fatores estruturais que eram as principais causas da miséria: os residentes chineses eram forçados a viverstargames netcertos guetos étnicos que muitas vezes eram negligenciados pelas autoridades."

"Penso que o perigo hoje é que as pessoas também tendem a ignorar problemas estruturais que certamente são diferentes daqueles do passado e, ao negligenciá-los, estigmatizam completamente o povo chinês."

* Colaborou Letícia Mori, da BBC News Brasilstargames netSão Paulo

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