Sequestrado pelo Estado Islâmico por 8 meses relembra tormento: 'desumanização e sadismo':esporte hoje na tv

Crédito, Ricardo Garcia Vilanova
esporte hoje na tv "Isso não é o Iraque ou a Líbia, isso é outra coisa."
"Todos os dias maisesporte hoje na tv30 pessoas morrem, então...seja bem-vindo à Turquia, mas leve o tempo que precisar, dois ou três dias, para decidir se quer entrar na Síria. Eles podem matar você".
Isso foi o que Nadir, um ex-professor sírioesporte hoje na tvbasquete que se transformouesporte hoje na tvtraficanteesporte hoje na tvpessoas, disse ao fotojornalista espanhol Ricardo Garcia Vilanova, que queria cruzar ilegalmente a fronteira para a Síria com o colega jornalista Javier Espinosa, no finalesporte hoje na tv2011.
Meses depois, grupos extremistas tomariam o controle da revolução contra Bashar al-Assad e começariam um conflito que mais tarde se tornaria um dos maiores desde a Segunda Guerra Mundial, com maisesporte hoje na tv500 mil mortos e seis milhõesesporte hoje na tvrefugiados.
Até chegar a esse momento, Garcia Vilanova já havia começado a jornada que culminaria comesporte hoje na tvprisão pelo grupo autodenominado Estado Islâmico (EI).
Esta é a história dele:

Crédito, Ricardo Garcia Vilanova
Primeiro contato
Quando os grupos jihadistas ganharam mais poder na Síria, ser detido por um deles - por algumas horas ou dias - tornou-se normal.
Com bons contatos na área, entretanto, era possível trabalhar sem problemas a poucos metrosesporte hoje na tvdistância dos combatentes, já queesporte hoje na tvinfluência na cidade era compartilhada com o Exército Livre da Síria (FSA, na siglaesporte hoje na tvinglês), dominante na época.
O pontoesporte hoje na tvvirada veio quando o Estado Islâmico começou a ganhar terreno e poder.
Minha primeira experiência direta com eles foiesporte hoje na tvmeadosesporte hoje na tv2012 na cidadeesporte hoje na tvAleppo, quando ainda não estavam reunidosesporte hoje na tvum só grupo e eram uma misturaesporte hoje na tvsírios e estrangeiros.
Naquela época eu estava dormindo na casaesporte hoje na tvum amigo, Yasser, o único médico habilitado a ficar no hospital quando a cidade foi sitiada pelas tropasesporte hoje na tvAssad,esporte hoje na tvmeio a pesados bombardeios e conflitos.

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Eu estava morando na cidadeesporte hoje na tvAleppo havia vários meses, então meus contatos eram fortes o bastante para eu não ter que me preocupar com o EI, ou pelo menos era assim que eu pensava.
Até que, uma noite, eles apareceram na casaesporte hoje na tvYasser e me levaram embora.
Eu fui sequestrado e mantido por eles durante 11 dias.
O FSA ainda era muito poderoso dentro da cidade, então eles se comunicavam com o EI, exigindo que me deixassem ir - ou seriam mortos.
Eu fui libertado e fiqueiesporte hoje na tvAleppo por mais três semanas para terminar o trabalho que estava fazendo.
Tensão
Em 2013 fui a Deir Zor - a maior cidade da parte oriental da Síria - com o colega jornalista Javier Espinosa.
Nós estávamos com o FSA, mas, durante os diasesporte hoje na tvque ficamos lá, o equilíbrioesporte hoje na tvpoder começou a se inclinaresporte hoje na tvfavor do EI.
Para chegar à cidade, tivemos que passar por maisesporte hoje na tvmeia dúziaesporte hoje na tvpostosesporte hoje na tvcontrole.
Ouvimos históriasesporte hoje na tvsequestros e testemunhamos combatentes do EI atacando um pequeno ônibus cheioesporte hoje na tvpessoas.

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A prisão
Passamos três semanas na cidade antesesporte hoje na tvtentar sair,esporte hoje na tvum veículo do FSA, com quatro guardas armados.
Os combatentes do EI simplesmente nos pararamesporte hoje na tvum dos postosesporte hoje na tvcontrole e nos levaram para um prédio próximo.
Foi onde ficamos os primeiros 15 dias dos oito mesesesporte hoje na tvque fomos mantidosesporte hoje na tvcativeiro.
Ao longo desse período, passamos por várias prisões do EI no norte da Síria, onde pessoas eram diariamente torturadas e assassinadas.
Era o novo universo delirante do EI, onde uma criança levava choques elétricos por fumar ou uma simples recepcionista do hospital era torturada até a morte.
Em nossas prisões, entramosesporte hoje na tvoutro nívelesporte hoje na tvalienação desumana eesporte hoje na tvsadismo, e, depoisesporte hoje na tvvários meses, finalmente encontramos o restante dos reféns ocidentais.

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Os outros
Eu tinha uma amizade especial com um deles - nos conhecíamos desde a guerra da Líbia,esporte hoje na tv2011, e na Síria compartilhamos diversas viagens.
No dia anterior ao seu rapto, estávamos juntosesporte hoje na tvAleppo. Eu havia decidido ficar mais alguns dias e ele decidiu ir embora.
No dia seguinte, recebi uma ligaçãoesporte hoje na tvum amigo dele dizendo que ele não havia chegado ao destino planejado.
De início, não dei muita importância, pois esperávamos que ele aparecesseesporte hoje na tvalguns dias - o que não era tão incomum na Síria naquela época.
Agora lá estava ele, naquela cela comigo.
Depois, foi morto pelos nossos sequestradores.
Libertação
O dia da minha libertação foi tão surreal quanto todos os meses que passamos com o EI.
Eles levaram a mim e a Javier para a fronteira turca e ficaram para trás enquanto nós dois avançávamos.
Quando os guardas da fronteira turca nos viram, atiraramesporte hoje na tvnós - suponho que pensando que éramos jihadistas tentando atravessar ilegalmente.
Nenhumesporte hoje na tvnós duvidavaesporte hoje na tvque era melhor arriscar ser baleado do que voltar com aqueles lunáticos do EI.
A história terminouesporte hoje na tvuma cena delirante, com um funcionário da fronteira turca querendo nos multar por entrar ilegalmente no país.
Nós nunca pagamos a multa.

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Os tentáculos do EI
Após minha libertação, decidi continuar o trabalho fotográfico que comeceiesporte hoje na tv2011 - mas isso não era mais sobre a revolução, era sobre o EI.
Essa organização virou o maior inimigo.
Seus tentáculos já estavamesporte hoje na tvvários países e ela controlava três capitaisesporte hoje na tvseu chamado califado - Sirte, na Líbia, Mossul, no Iraque, e Raqqa na Síria.
Eu fotografei os conflitos nessas três cidades, assim comoesporte hoje na tvSinjar, no Iraque, Kobane e Tall Mar, na Síria, eesporte hoje na tvoutras, além do êxodoesporte hoje na tvmassaesporte hoje na tvpessoas nos últimos sete anos.
Esta é a razão pela qual, na minha quarta viagem à Síria este ano, decidi acompanhar a BBC para ver homens suspeitosesporte hoje na tvserem dois dos "Beatles" (uma célulaesporte hoje na tvmilitantes do Estado Islâmico composta por quatro homensesporte hoje na tvLondres que eram responsáveis por vigiar e executar reféns estrangeiros).
'Os Beatles'
Nos últimos anos consegui fotografar e conversar com jihadistas árabes e europeus, com mulheres européias que decidiram deixar suas vidas na Itália, Alemanha ou França para se juntar ao EI - mas essa oportunidadeesporte hoje na tvfotografar e conversar com Alexanda Kotey e El Shafee Elsheikh era nova.
Nos meus anosesporte hoje na tvcobertura do conflito, vi jihadistas que deram a vida por algoesporte hoje na tvque acreditavam, mas também vi muitos tentando fugiresporte hoje na tvbarco nos últimos diasesporte hoje na tvlutaesporte hoje na tvSirte - o próprio primoesporte hoje na tvBaghdadi (homem autointitulado Califa, chefeesporte hoje na tvestado e monarca absoluto teocrático, do Estado Islâmico) tentando escaparesporte hoje na tvMossul - ou centenas delesesporte hoje na tvônibus saindoesporte hoje na tvRaqqa.

Crédito, Ricardo Garcia Vilanova
Kotey e Elsheikh, que deveriam ser a elite do EI, tentaram salvar suas vidas traindo suas próprias convicções e tentando fugir para a Turquia.
Nem todo mundo é capazesporte hoje na tvmorrer da maneira que deveria viver.
Estes são os mais covardes e desprezíveisesporte hoje na tvtodos.
A guerra traz à tona o pior e o melhor das pessoas, porque os códigosesporte hoje na tvconduta que estabelecemosesporte hoje na tvuma sociedade normal, que incorpora leis e castigos para aqueles que não atendem a esses padrões, são destruídos.
Não é que as guerras nos transformem, é que elas simplesmente nos deixam mostrar como realmente somos.
Julgamento
Ricardo Garcia Vilanova acompanhou o correspondente da BBC Quentin Somerville à Síria e conseguiu confrontar os dois homens que acredita que o fizeram refém, que torturaram e mataram pelo menos 27 outros ocidentais.
A dupla (Kotey e Elsheikh), que foi capturadaesporte hoje na tvjaneiro pelas forças curdas apoiadas pelos EUA, se recusou a responder às perguntas dele e encerrou a entrevista imediatamente.
Não está claro onde os dois serão julgados - mas, caso os EUA os extraditem, eles poderão encarar a penaesporte hoje na tvmorte.
Garcia Vilanova, porém, não é a favor da penaesporte hoje na tvmorte.
Ele defende que eles passem o restoesporte hoje na tvsuas vidas na prisão, nas mesmas condições a que submeteram as suas supostas vítimas.









