Celia, a menina que deu nome a doença que atingiu apenas 6 pessoas no mundo:pt bet

  • Antía Castedo
  • BBC Mundo
Arquivo Pessoal da famíliapt betCelia

Crédito, Arquivo Pessoal

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Quando Celia nasceu,pt bet2004, parecia uma criança saudável

pt bet Quando Celia nasceu,pt betfevereiropt bet2004, parecia um bebê normal.

Mas a menina espanhola era, na verdade, portadorapt betum gene mutante que, pouco a pouco, destruiria seus neurônios.

Seu caso foi um mistério durante muito tempo, e a doença que lhe acometia só foi descoberta depoispt betsua morte.

Os médicos batizaram o malpt bet"encefalopatiapt betCelia", uma enfermidade que até agora só foi detectadapt betseis pessoas no mundo, todas na regiãopt betMurcia, no sudeste da Espanha - a mesma da criança.

E apenas um dos pacientes diagnosticados com a doença ainda está vivo: uma meninapt betoito anospt betidade.

Sorriso

Celia nasceupt betTotana, uma pequena cidade no sudeste da Espanha. Apesarpt better apresentado problemas para se alimentar logo depoispt betnascer, os pais e os médicos da menina não notaram nadapt betpreocupante com ela.

"Sempre olhava para a câmera e sorria. Nunca suspeitamos que tivesse algum atraso mental", disse à BBC Mundo, serviçopt betespanhol da BBC, a mãept betCelia, Naca Pérezpt betTudela.

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Celia começou a perder habilidades que tinha adquirido por volta dos três anos

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Mas, quando Celia estava prestes a completar um ano, os pais notaram uma interrupçãopt betseu desenvolvimento.

Aos 16 meses ela começou a andar, mas seus passos não eram estáveis. Nunca chegou a articular frases além das palavras mais básicas, como "mamãe", "papai" ou "água".

Depoispt betexames genéticos, uma médica no Hospitalpt betla Virgenpt betArrixacapt betMurcia diagnosticou a menina, à época com menospt betdois anos, com lipodistrofia congênitapt betBerardinelli (também conhecida como "Síndromept betBerardinelli-Seip").

No entanto, os sintomaspt betCelia não eram iguais aos da doença, o que intrigou David Araújo-Vilar, médico do Hospital Clínico Universitáriopt betSantiagopt betCompostela. Ele passou, então, a buscar mais detalhes sobre o caso da menina.

"Quando conheci Celia,pt bet2008, estava convencidopt betque o diagnóstico não estava certo", afirmou Araújo-Vilar.

A aparência dela não coincidia com os casospt betlipodistrofiapt betBeradinelli. Seu problema estava no cérebro ─ havia "sinais evidentespt betuma encefalopatia grave e progressiva", como contou o médico.

Aos três anos, a saúde da criança começou a se deteriorar rapidamente.

"Pouco antes, fomos passar férias pela primeira vez na praia. Estávamos começando a ver os frutospt betnosso trabalho", lembrou a mãe.

Os pais lutavam noite e dia pela filha, sem entender o que estava acontecendo.

Esquecimento

Fotopt betarquivo pessoal da famíliapt betCelia

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Pais fundaram associação para apoiopt betfamíliaspt betpessoas com doenças raras

Durante as férias, os pais notaram que Celia parecia estar "esquecendo" o que havia aprendido até aquele momento.

E tudo foi acontecendo muito rápido. Na mesma época, ela paroupt betdormir durante a noite. Depois, começou a sofrer quedas, sempre para frente, o que a levava a bater a cabeça. Além disso, passou a ficar com o olhar perdido. Aos quatro anos, a menina já não conseguia mais caminhar.

Araújo-Vilar começou a pesquisar o caso, que parecia intrigante: Celia tinha a mutação genética que causa a lipodistrofiapt betBerardinelli, mas os sintomas não coincidiam.

A médica Encarna Guillén, que deu o primeiro diagnóstico à família, pediu ao colega que fizesse a análisept betoutro caso,pt bet2009. Uma meninapt betMula, também na regiãopt betMurcia, tinha sinaispt betlipodistrofia.

Eles descobriram que a criança tinha a mesma mutaçãopt betCelia, mas, diferentemente dela, apresentava os sintomas típicos da lipodistrofiapt betBerardinelli.

Além disso, dois familiares dessa menina tinham morrido havia maispt bet20 anos devido à doença, e seus pais apresentavam a mesma mutação.

"Todos tinham a mesma mutação, mas não conhecíamos o mecanismo que produzia o dano no cérebro", disse Araújo-Vilar.

Artigo

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Celia morreu aos oito anos

Celia morreupt bet2012, aos oito anos. No mesmo dia, os pais da menina chamaram Araújo-Vilar.

"Sempre vou me lembrar daquele dia. Estava no meu consultório, me ligaram para dar a notícia e oferecer amostras dos tecidos dela", disse o médico. Ele tinha jantado na casa da família apenas cinco dias antes.

O gesto dos pais comoveu o médico. "Só pessoas muito especiais podem fazer isso", afirmou.

Em 2013, Araújo-Vilar publicou o primeiro artigo científico a respeito do caso na revista científica Journal of Medical Genetics. No texto, ele batizou a doença como encefalopatiapt betCelia.

Agora, os médicos sabem que essa encefalopatia e a lipodistrofiapt betBerardinelli estão relacionadas.

"A encefalopatiapt betCelia é um subtipo da distrofiapt betBerardinelli", afirmou a mãe da menina, que hoje preside a Associaçãopt betFamiliarespt betAfetados por Lipodistrofias (Aelip). Seu marido, Juan Carrión, preside a Federação Espanholapt betDoenças Raras.

Os pesquisadores realizaram mais exames genéticos e estimam que existam 123 portadores saudáveis do gene com mutação, todos na cidadept betTotana. "É uma prevalência muito altapt bettermospt betdoenças raras", disse o médico.

Araújo-Vilar calcula que podem aparecer outros três novos casos nos próximos dez anos.

O médico não sabe exatamente a razãopt betos casospt betencefalopatiapt betCelia terem aparecido apenaspt betMurcia, mas disse acreditar que eles podem estar relacionados à endogamia (casamento entre pessoas do mesmo grupo social ou com algum graupt betparentesco).

Os paispt betCelia esperam que todo o esforço ajude a manter viva a outra menina diagnosticada com a doença, que passa por um novo tratamento.

"Pelo menos a família (da criança), que vive a 40 quilômetros daqui, tem um caminho certo. Para nós, é uma formapt better Celia presente", afirmou a mãe.