Bolsonaro derrotado: 10 armas usadas sem sucesso na tentativabbb betanoreeleição:bbb betano

Para além das medidas econômicas, Bolsonaro transformou o comprovantebbb betanovotaçãobbb betanoprovabbb betanovida do INSS para estimular o voto dos idosos (público quebbb betano2018 deu votação expressiva ao presidente) e reforçou o usobbb betanotrêsbbb betanosuas armas da campanha anterior: as redes sociais, o apoio evangélico e o antipetismo.

Com tudo isso, conseguiu reduzir fortementebbb betanorejeição ao longo da campanha e obter uma votação muito superior aos cercabbb betano27% da população que hoje se definem como bolsonaristas, segundo pesquisa Atlas recente.

Como foi possível esse uso sem precedentes da máquina pública numa campanha eleitoral? E por que, mesmo assim, Bolsonaro não conseguiu se reeleger?

A BBC News Brasil ouviu Sérgio Lazzarini (Insper), Letícia Bartholo (ex-secretária nacional adjuntabbb betanoRendabbb betanoCidadania), Bruno Carazza (Fundação Dom Cabral) e Denilde Holzhacker (ESPM) para responder a essas e outras perguntas sobre o fracasso do "arsenal eleitoral"bbb betanoBolsonaro.

Procurados, o Ministério da Economia disse que não iria comentar e Caixa, Ministério da Cidadania e Planalto não responderam ao pedidobbb betanoposicionamento.

A vantagem do incumbente

"Bolsonaro tinha um desafio muito grande, pois entrou na corrida eleitoral como o presidente buscando a reeleição mais mal avaliado e com maior rejeição desde que a reeleição foi instituída no Brasil", lembra Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral e autor do livro Dinheiro, eleições e poder: As engrenagens do sistema político brasileiro.

Em maio deste ano, 54% dos brasileiros diziam que não votariambbb betanoJair Bolsonarobbb betanojeito nenhum, comparado a 35% que diziam o mesmo sobre Dilma Rousseff (PT)bbb betanomaiobbb betano2014, 27% que diziam isso sobre Lulabbb betano2006 e 26%bbb betanorejeição a FHCbbb betano1998, segundo dados do Datafolha, levantados pelo UOL.

"Ele estavabbb betanosegundo lugar nas pesquisas, num contexto econômico muito difícil, pós-pandemia e com os reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia na economia brasileira. Então ele tentou virar o jogo com um pacotebbb betanomedidas para dar um gás na reta final da campanha, dado que ele não tinha númerosbbb betanopopularidade suficientes para garantir a reeleição", afirma.

Sérgio Lazzarini, professor do Insper e coautor do livro Reinventando o capitalismobbb betanoEstado: O Leviatã nos negócios (sobre o intervencionismo estatal na economia durante os governos petistas), observa que essa estratégia é parte da chamada "vantagem do incumbente", uma sériebbb betanoprerrogativas políticas — como o uso do Orçamento público — que dão ao governantebbb betanoexercício mais força na corrida eleitoralbbb betanorelação a seus oponentes.

"Isso desequilibra o processo democrático, dando uma vantagem natural a quem já está no poder", observa o especialistabbb betanoadministração pública, que está atualmente no Canadá, lecionando na Ivey Business School da Western University.

Por que freios e contrapesos falharam

Lazzarani observa que essa não é uma característica apenasbbb betanomodelos políticos onde existe a possibilidadebbb betanoreeleição, já que o governantebbb betanoexercício também pode fazer uso da máquina pública para cacifar um sucessor ou sucessora.

"O uso da máquina acontecebbb betanotodos os níveis: nas eleições municipais, para governadores e presidenciais. Sempre aconteceu o usobbb betanoinstrumentos econômicos", diz Carazza, citando como exemplo o adiamento da desvalorização cambial por Fernando Henrique Cardoso (PSDB)bbb betano1998 e o usobbb betanotransferênciabbb betanorenda nos governos Lula e Dilma.

"No caso do Bolsonaro, o que houve foi uma escala maior do quebbb betanoanos anteriores, porque não foi só o governo abrir as torneiras do gasto público. Houve uma sériebbb betanomudanças no arcabouço jurídico-econômico brasileiro,bbb betanoflexibilizaçãobbb betanotravas fiscais e eleitorais que restringiam esse uso eleitoreiro do gasto público às vésperas da votação", afirma.

E por que os mecanismosbbb betanofreios e contrapesos, como as leis que visam inibir o abusobbb betanopoder econômicobbb betanoano eleitoral, falharam?

"As leis dependem do sistema político. Quando esse sistema tem um objetivo político, ele passa por cima [das leis]. A leibbb betanoresponsabilidade fiscal foi flexibilizada no passado e agora, toda a aprovação dessas PECs [Propostasbbb betanoEmenda à Constituição] que ocorreu para aumentar os gastos, também foibbb betanofunção da pressão política", avalia Lazzarini.

O impacto das medidas lançadas pelo governo para aumentar as despesas sociais durante o período eleitoral supera os R$ 68 bilhões somentebbb betano2022, segundo estimativa do jornal Valor Econômico, a partirbbb betanodados das emendas constitucionais e do Ministério da Economia.

Por que gasto bilionário não garantiu a reeleição

Mas então por que não deu certo? Os especialistas têm algumas hipóteses.

"A população mais pobre tem memória", diz Letícia Bartholo, especialistabbb betanopolíticas públicas e gestão governamental e ex-secretária nacional adjuntabbb betanoRendabbb betanoCidadania (2012-2016).

"Tem memóriabbb betanocomo o presidente Bolsonaro tratou a transferênciabbb betanorenda aos mais pobres durante toda abbb betanocarreira no Legislativo e Executivo, chamandobbb betano'bolsa esmola'. Além disso, no último período, houve muitas mudanças, muito vai, não vai no âmbito da transferênciabbb betanorenda. Foram seis mudançasbbb betanodois anos, o que gera uma sensaçãobbb betanoinsegurança na população,bbb betanonão saber o diabbb betanoamanhã. Acredito que isso contribuiu para essa estratégia que injetou bilhõesbbb betanoreais [na economia] não ter dado certo", avalia.

Já Bruno Carazza acredita que Bolsonaro pagou um preço porbbb betanodisplicência na gestão da pandemia e por ter relegado a política social à reta final da eleição.

Para Denilde Holzhacker, cientista política e coordenadora geralbbb betanopesquisa e pós-graduação na ESPM (Escola Superiorbbb betanoPropaganda e Marketing), o episódio envolvendo o deputado Roberto Jefferson na reta final da campanha também pesou sobre o resultado.

"Foi um caso que demonstrou o graubbb betanopolarização ebbb betanoviolência política associada aos grupos bolsonaristas e ao próprio Bolsonaro", diz Holzhacker. "Então, apesarbbb betanotodas as ações econômicas e do forte apoio evangélico ebbb betanooutros atores, ele não conseguiu superar a grande rejeição que existe frente ao seu governo e ter o apoio da maioria da população."

Confira a listabbb betano10 armas usadas sem sucesso por Bolsonaro na tentativabbb betanoreeleição.

1. Orçamento secreto

O orçamento secreto, que recebeu esse nome a partirbbb betanouma sériebbb betanoreportagens do jornal O Estadobbb betanoS. Paulo, é uma prática adotada pelo Congresso brasileiro desde 2020,bbb betanoque verbas do Orçamento público são destinadas a projetos sem a necessidadebbb betanoidentificação dos parlamentares ou detalhamento sobre a destinação dos recursos.

O esquema movimentou R$ 16 bilhõesbbb betano2021, R$ 16,5 bilhões este ano e a propostabbb betanoOrçamento para 2023 reserva R$ 19,4 bilhões para as chamadas emendas do relator, nome oficial dessa despesa no Orçamento da União.

Inicialmente, o presidente Jair Bolsonaro vetou essa novidade no Orçamento. Depois, no entanto, o governo enviou nova proposta orçamentária ao Legislativo prevendo destinaçãobbb betanorecursos para as emendas do relator, que foi então aprovada por deputados e senadores.

Segundo analistas, a destinaçãobbb betanorecursos para o orçamento secreto fortaleceu a basebbb betanoapoio a Bolsonaro no Congresso ebbb betanomunicípios que receberam essas verbas.

Também contribuiu para o forte índicebbb betanoreeleição entre parlamentares esse ano. Na Câmara, 294 deputados (57,3% do total) foram reeleitos, segundo dados da Agência Câmara — o percentual considera os 596 deputados que assumiram mandatobbb betanoalgum momento da atual legislatura, não apenas os 513 que estão no exercício do mandato.

E facilitou a aprovaçãobbb betanoPECsbbb betanointeresse do governo, como a dos Precatórios (que adiou o pagamentobbb betanodívidas da União para liberar recursos para o Auxílio Brasil) e a que turbinou gastos sociais no ano eleitoral; além da legislação que reduziu impostos sobre combustíveis.

"Não foi só o governo, o Legislativo também usou a máquina [pública]", diz Holzhacker, da ESPM. "A liberaçãobbb betanorecursos via orçamento secreto é também uma formabbb betanomanter a máquina azeitada nos municípios e com isso obter benefícios eleitorais. Vimos que isso teve um resultado prático para a eleição dos partidos que receberam recursos."

2. Reduçãobbb betanoimpostos sobre combustíveis

Em meio à forte alta internacional dos preços do petróleo devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, o Congresso aprovoubbb betanojunho e Bolsonaro sancionou legislação que zerou os impostos federais (PIS e Cofins) sobre combustíveis até 31bbb betanodezembrobbb betano2022 e limitou a cobrançabbb betanoICMS pelos Estados à alíquota mínimabbb betano17% ou 18%.

Após a aprovação da medida, os combustíveis tiveram quedabbb betanopreçosbbb betanojulho, agosto e setembro, contribuindo para a deflação registrada pelo IPCA, índice oficialbbb betanoinflação do país, nesses mesmos meses.

Com isso, a inflação acumuladabbb betano12 meses no Brasil se descolou da tendência mundial, conforme mostra esse gráfico elaborado pela LCA Consultores.

"Essa medida teve como objetivo agradar a fatia do eleitoradobbb betanoclasse média, que estava bastante incomodado com os preços altos dos combustíveis. Então foi uma medida estratégica do governo para tentar acalmar esse segmento, que foi muito decisivo para a eleição do Bolsonarobbb betano2018", diz Carazza, da Fundação Dom Cabral.

"Também foi uma estratégia para, por vias indiretas, ao intervir no mercadobbb betanocombustíveis, criar uma redução artificial da inflação, reduzindo seus efeitos para a classebbb betanorenda mais baixa. Então, sem dúvida nenhuma, isso teve um objetivo eleitoral muito forte."

3. Auxílio Brasilbbb betanoR$ 600 e Vale Gás ampliado

Ao fimbbb betano2021, o governo Jair Bolsonaro extinguiu o Bolsa Família e criou o Auxílio Brasil, numa tentativabbb betanoimprimir uma marca própria na assistência social, apagando o nome fortemente associado às gestões petistas.

A proposta original do governo previa um valorbbb betanoR$ 400 válido só até dezembrobbb betano2022, mas uma emenda na Câmara dos Deputados tornou o benefício permanente.

No entanto, o valor ainda era inferior aos R$ 600 do Auxílio Emergencial pago durante a pandemia, o que daria aos beneficiários uma percepçãobbb betanoperda. Assim,bbb betanojunho deste ano, o governo propõe ampliar o Auxílio Brasil para R$ 600, mas novamente com validade somente até dezembro.

A medida foi viabilizadabbb betanojulho atravésbbb betanouma PEC, que abriu brecha para gastosbbb betanoaté R$ 41 bilhões fora do tetobbb betanogastos, ao reconhecer um "estadobbb betanoemergência". Isso possibilitou a criaçãobbb betanobenefícios no anobbb betanoeleições, driblando proibição imposta pela Lei Eleitoral.

Além do aumentobbb betanovalor do auxílio, a PEC também dobrou o valor do Vale Gásbbb betanoR$ 60 para R$ 120 e ampliou o númerobbb betanofamílias que recebem esse vale.

Posteriormente, o governo ainda ampliou o númerobbb betanobeneficiários do Auxílio Brasilbbb betanomais 500 mil famílias — chegando a um totalbbb betano21,1 milhões no iníciobbb betanooutubro —, antecipou o calendáriobbb betanopagamentos antes dos dois turnos da eleição, ampliou prazobbb betanocadastro ao benefício e prometeu um 13º para os beneficiáriosbbb betano2023.

Para Letícia Bartholo, apesar do aumento do valor do auxílio ser positivo, o programa nos moldes atuais tem graves problemasbbb betanodesenho. Uma evidência disso é a explosãobbb betanocadastrosbbb betanofamílias formadas por uma única pessoa.

"Quando o Auxílio Brasil paga um piso por família, desconsidera o númerobbb betanopessoas na família. Na realidade, está pagando R$ 600 para quem mora sozinho, R$ 300 para uma famíliabbb betanodois, R$ 200 para uma famíliabbb betanotrês e R$ 150 para uma famíliabbb betanoquatro integrantes, pensando no valor por pessoa", diz Bartholo.

"Isso prejudica, por exemplo, mães solo com crianças pequenas e favorece pessoas que moram sozinhas e que têm mais condiçõesbbb betanoprocurar emprego, por não terem as limitações do cuidado com crianças", afirma a socióloga.

"Cria também um incentivo adverso que é estimular que famílias que tenham dois adultos se dividam artificialmente para majorar seu benefício. Sempre que isso acontece, há uma família pobre, que precisa, que não vai conseguir a vaga."

4. Benefício para taxistas e caminhoneiros

A mesma PEC que viabilizou o Auxílio Brasilbbb betanoR$ 600 e ampliou o Vale Gás, também criou um benefício mensalbbb betanoR$ 1 mil para taxistas e caminhoneiros, pago entre agosto e dezembrobbb betano2022.

Segundo balanço do Ministério do Trabalho, maisbbb betano360 mil caminhoneiros e 297 mil taxistas receberam os benefícios até a semana anterior ao segundo turno.

O governo também antecipou o calendáriobbb betanopagamento desses benefícios e destinou recursos extras para esse fim entre o primeiro e o segundo turnos.

"São grupos muito vocais, principalmente o dos caminhoneiros", diz Lazzarini, do Insper e da Western University. "Então isso também vai na linhabbb betanoganhar suporte político, alémbbb betanoatenuar insatisfações e evitar revoltas durante a campanha e na pré-eleição, o que também teve claramente um objetivo eleitoral."

5. Consignado do Auxílio Brasil

Em outra medida visando a parcela da população mais vulnerável, tradicionalmente mais propensa a votarbbb betanocandidatos do PT, o governo criou o consignado do Auxílio Brasil, um empréstimo garantido pelo benefício social, com as parcelas da dívida descontadas na fonte — isto é, descontadas do próprio benefício pago pelo governo.

A regulamentação do empréstimo saiu apenas ao fimbbb betanosetembro, estabelecendo um limitebbb betanojurosbbb betano3,5% ao mês ou 51,5% ao ano, acima da médiabbb betanooutros consignados.

Enquanto o Auxílio Brasilbbb betanoR$ 600 começou a ser pagobbb betanoagosto, o consignado — com valor médiobbb betanoR$ 2.600 —, passou a ser pago a partirbbb betano10bbb betanooutubro, entre o primeiro e o segundo turno das eleições. Em apenas 11 dias, até 21bbb betanooutubro, a Caixa já havia emprestado R$ 4,3 bilhões, para 1,7 milhãobbb betanopessoas.

O Ministério Público junto ao Tribunalbbb betanoContas da União chegou a pedir a suspensão do consignado para "impedirbbb betanoutilização com finalidade meramente eleitoral". Além disso, a modalidadebbb betanoempréstimo sofreu duras críticasbbb betanoespecialistas, por comprometer até 40% do benefício pago às famílias mais vulneráveis do país com o pagamentobbb betanodívida.

"É claro que a população precisabbb betanoacesso a crédito, mas há uma incompatibilidade entre o empréstimo consignado, que exige uma regularidadebbb betanopagamentos, e o desenho do Auxílio Brasil, que prevê a possibilidadebbb betanobloqueios, suspensões e até mesmo a saída da família do programa, por problemasbbb betanocadastro ou quando a família deixabbb betanocumprir condicionantes", observa Letícia Bartholo, ex-secretária nacional adjuntabbb betanoRendabbb betanoCidadania.

"O problema é que,bbb betanocasobbb betanosuspensãobbb betanopagamento, a dívida recai unilateralmente sobre as famílias. O poder público não será solidário no pagamento dessa dívida. E estamos falandobbb betanouma população com pouca educação financeira, submetida a juros abusivos."

6. Outros usos da Caixa: renegociaçãobbb betanodívidas, crédito para mulheres e FGTS Futuro

O uso eleitoral da Caixa Econômica Federal não se restringiu ao Auxílio Brasil e ao empréstimo consignado.

Entre o primeiro e o segundo turnos, Bolsonaro anunciou um programabbb betanorenegociaçãobbb betanodívidas, outrobbb betanocrédito para mulheres empreendedoras e a possibilidadebbb betanoo trabalhador complementar um financiamento habitacional com créditos ainda não recebidos do FGTS (Fundobbb betanoGarantia do Tempobbb betanoServiço) como formabbb betanocaução, tudo através da Caixa.

"O usobbb betanobancos públicos na política brasileira é muito comum, desde a épocabbb betanoque os governos estaduais tinham seus próprios bancos — Banespa, Bemge, Banerj", lembra Carazza.

Com a privatização dos bancos estaduais durante os governos FHC, Banco do Brasil, BNDES, Caixa e Basa (Banco da Amazônia) continuaram sendo usados para fins não sóbbb betanopolíticas públicas, mas também eleitorais, avalia o professor da Fundação Dom Cabral.

"Na Caixa, há uma situação particular porque ela não tem ações negociadas no mercado, é um bancobbb betanovarejo [isto é, que atende pessoas físicas] com capital 100% da União. Isso faz com que que as decisões que a União tomabbb betanorelação à Caixa não possam ser questionadas por acionistas privados, como é o caso do Banco do Brasil [que tem açõesbbb betanobolsa]", observa.

"Então o governo opta por instrumentalizar a Caixa, utilizando ela como uma espéciebbb betanobraço paralelo do governo e utilizando suas políticasbbb betanoconcessãobbb betanocrédito para complementar a estratégiabbb betanoaumentar gastos e transferênciasbbb betanorendabbb betanoano eleitoral."

7. Comprovantebbb betanovotação como provabbb betanovida do INSS

Em fevereiro, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) publicou uma portaria que passou a considerar o comprovantebbb betanovotação como provabbb betanovida para aposentados e pensionistas.

Levantamento do jornal Valor Econômico mostrou que, no primeiro turno, a abstenção diminuiubbb betanorelação ao primeiro turnobbb betano2018 para todas as faixas etárias entre 50 e 94 anos, ao passo que aumentou entre os mais jovens.

Entre os eleitoresbbb betano70 a 74 anos, por exemplo, a abstenção chegou a diminuir 5,8 pontos percentuais,bbb betano44,7% para 38,9%.

"No total, a portaria do INSS (...) pode ter aumentado o comparecimentobbb betanoquase 1 milhãobbb betanoeleitores entre 60 anos e 94 anos", observou a jornalista Maria Cristina Fernandes, na reportagem do Valor.

Não há ilegalidade na portaria do INSS, mas a mudança normativa foi usada como instrumentobbb betanocampanha por Bolsonaro.

Um vídeo da campanha intitulado "Provabbb betanoVida" dizia: "Agora é lei. Nessas eleições, você que é aposentado ou pensionista pode fazerbbb betanoprovabbb betanovida direto das urnas. O governo federal acabou com o deslocamento desnecessário e tornou abbb betanovida mais fácil. Apenas o seu voto já é suficiente para garantir os benefícios do INSS, para você exercer seu direito à cidadania com menos burocracia. Pelo bem do Brasil, vote 22."

O vídeo foi removido do YouTube por ordem do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a pedido da coligaçãobbb betanoSimone Tebet (MDB), mas apenas depois do primeiro turno.

8. Capilaridade nas redes sociais

Além dos instrumentos econômicos e legais, a comunicação através das redes sociais foi novamente um trunfo da campanha bolsonarista.

Alémbbb betanoredes como Facebook, Instagram e Twitter, seus apoiadores mantém uma ágil redebbb betanocomunicação via gruposbbb betanoWhatsApp e Telegram e têm forte presença na plataformabbb betanovídeos YouTube, seja atravésbbb betanocanaisbbb betanomilitantes oubbb betanoveículos jornalísticos alinhados ao governo, como a produtorabbb betanovídeos Brasil Paralelo e a rede Jovem Pan.

A propagaçãobbb betanodesinformação (fake news) através dessa rede bastante eficientebbb betanocomunicação esteve no centro do embate entre Bolsonaro e o TSE ao longo da campanha.

"A estrutura digital da campanhabbb betanoBolsonaro não começa com a campanha, ela começa muito antes da primeira eleição dele", destaca Denilde Holzhacker, da ESPM.

"Ele manteve isso — os grupos digitais e a lógica digital — durante todo seu mandato e isso se refletebbb betanoconseguir acionar essas bases para mobilização durante as eleições. Se pensarmosbbb betanoforma clara, ele estábbb betanocampanha desde que entrou no governo."

A cientista política observa que essa rede serviu para alimentar o sentimento anti-Lula e anti-PT ao longo da campanha, alémbbb betanotrazer ao debate temas caros ao bolsonarismo e sobre os quais o PT tem dificuldadebbb betanoresposta, principalmente relacionados à agendabbb betanocostumes, usada para se contrapor à agenda econômica onde Bolsonaro tinha maior dificuldade.

"A eficiência dessa rede paralelabbb betanocomunicação e articulação se manifesta não só na campanha pela reeleiçãobbb betanoBolsonaro, mas inclusive na eleiçãobbb betanorepresentantes do bolsonarismo para cargos no Legislativo, como verificamos com inúmeras figuras ligadas a Bolsonaro sendo eleitas com votações muito expressivas esse ano", acrescenta Bruno Carazza.

9. Apoio evangélico

O apoio evangélico foi outro instrumento da campanhabbb betanoBolsonarobbb betano2018 que ganhou força renovadabbb betano2022.

Com templosbbb betanotodo o Brasil, nas regiões e bairros mais afastados, uma redebbb betanocomunicação própria e líderes carismáticos, as igrejas evangélicas também serviram para dar capilaridade à mobilização bolsonarista.

Casosbbb betanoexpulsão ou abandonobbb betanoigrejas por fiéis que não quiseram seguir a orientaçãobbb betanovotobbb betanoBolsonaro se repetirambbb betanotodo o Brasil.

"O apoio evangélico foi central à campanhabbb betanoBolsonaro", diz Holzhacker.

"Ele conseguiubbb betanofato se firmar como o candidato ligado a esse segmento ao fazer uma campanha muito atrelada aos valores e costumes. Ele teve um apoio maciço dos líderes religiosos, que fortaleceram essa estratégia, que levou para o nível religioso um graubbb betanoantagonismo e polarização que também tem sido questionado, com a igreja evangélica passando a ser associada à intolerância, à faltabbb betanorespeito à opinião dos outros."

Os evangélicos representavam 22% da população brasileira no Censobbb betano2010. Pesquisa Datafolhabbb betano2020 estimou essa parcela da populaçãobbb betano31% naquele ano.

A bancada evangélica elegeu entre 60 e 65 deputadosbbb betano2022, abaixo dos 84 parlamentares evangélicos eleitosbbb betano2018, segundo cálculos do pesquisador Guilherme Galvão Lopes, da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Apesar da redução da bancada evangélica, a pauta religiosa não deve perder influência, segundo Galvão, já que foi incorporada pelo bolsonarismo, que ganhou força no Congresso. As bancadasbbb betanoPL, PP e Republicanos, partidos do Centrão mais fortemente alinhados a Bolsonaro, elegeram juntas 187 deputadosbbb betano2022.

"A bancada evangélica trabalha não só por uma pautabbb betanovalores e costumes que é cara a esse eleitorado, mas também defende os interesses particulares dessas igrejas,bbb betanotermosbbb betanoobtençãobbb betanobenefícios tributários e outras vantagens", observa Carazza, da Fundação Dom Cabral.

10. Antipetismo

Por fim, o antipetismo foi novamente uma "arma"bbb betanocampanhabbb betanoBolsonarobbb betano2022.

Segundo pesquisa Atlas, publicadabbb betano24bbb betanooutubro, enquanto 21% dos brasileiros se dizem petistas, 30% declaram ser antipetistas, acima da parcelabbb betano27% que se dizem bolsonaristas.

Assim, Bolsonaro buscou ao longobbb betanotoda a campanha mobilizar a rejeição ao PT e a Lula, relembrando os escândalosbbb betanocorrupção durante os governos petistas e destacando as relações do PT com governosbbb betanoesquerdabbb betanopaíses como Venezuela, Argentina e Nicarágua.

"Ao bater na teclabbb betanotemas sensíveis ligados à eventual vitóriabbb betanoLula, Bolsonaro conseguiu reverter boa parte da rejeição que cresceu contra ele durante seu governo, sobretudo entre eleitores do Centro-Sul do país ebbb betanorenda mais alta, que votarambbb betanoBolsonarobbb betano2018, mas haviam se afastado dele por causa, por exemplo, da gestão da pandemia, do discurso contra a democracia e da gestão da economia", observa Carazza.

"Parte expressiva desse eleitorado voltou para os braços do bolsonarismo, à medidabbb betanoque a estratégiabbb betanocampanha do presidente começa a bater nas teclas do antipetismo. Foi uma estratégiabbb betanodisseminação do medo para resgatar esse eleitor que havia se afastado."

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