'Governo não cuidou, e agora temos que manter legado', diz netoesportes da sorte indique e ganheúltimo indígena Juma morto por covid-19:esportes da sorte indique e ganhe
- Juliana Gragnani - @julianagragnani
- Da BBC News Brasilesportes da sorte indique e ganheLondres

Crédito, Gabriel Uchida/Kanindé
Aruká, último guerreiro do povo Juma, morreu na quarta-feira (17)esportes da sorte indique e ganhedecorrência da covid-19
esportes da sorte indique e ganhe Quando Aruká voltou paraesportes da sorte indique e ganheterra,esportes da sorte indique e ganhe2008, entoou um choro ritual. Era a saudade dos seus mortos — um povo inteiro massacrado sucessivas vezes por invasores do território no sudeste do Amazonas.
O lamento, agora, é pela morteesportes da sorte indique e ganheAruká. O guerreiro indígena tinha entre entre 86 e 90 anos e era o último homem Juma. Ele morreu nesta quarta-feira (17) vítima da covid-19, doença dos não indígenas que foi levada aesportes da sorte indique e ganheterra. Deixou três filhas, netos e bisnetos.
As três filhasesportes da sorte indique e ganheAruká casaram-se com homens do povo Uru-eu-wau-wau, uma vez que a população do povo Juma era pequena demais, resultado dos massacres e doenças.
Isso significa que os descendentesesportes da sorte indique e ganheAruká carregam no sangue as duas etnias, mas, segundo o sistema patrilinear, são Uru-eu-wau-wau, e não Juma. É por isso que Aruká era considerado o último guerreiroesportes da sorte indique e ganheseu povo.
"É uma faltaesportes da sorte indique e ganheresponsabilidade do governo ter deixado essa doença chegar dentro da aldeia. A terra é distante da cidade, tem muito pouco movimento, a doença jamais chegaria ali", diz à BBC News Brasil Bitaté Uru-eu-wau-wau,esportes da sorte indique e ganhe20 anos, netoesportes da sorte indique e ganheAruká.
'O governo não cuidou, e agora nós temos que manter o legado do meu avô", diz. "Ele continua com a gente, vive com a gente, representa o nosso povo através dos netos e dos futuros netos que vierem."
De acordo com dados da Secretaria Especialesportes da sorte indique e ganheSaúde Indígena (Sesai)), 571 indígenas morreramesportes da sorte indique e ganhedecorrência da covid-19. Já a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) contabiliza 970 indígenas mortos pela doença. Segundo o censo do IBGEesportes da sorte indique e ganhe2010, a população indígena no Brasil éesportes da sorte indique e ganhe896,9 mil pessoas.
Massacres e mudança
Os Juma são um povo indígena do sul do Estado do Amazonas, na região do Rio Açuã. Eles falam a língua Kagwahiva, uma subfamília linguística dos Tupi-Guarani.
Estima-se que um dia os Juma tenham tido uma populaçãoesportes da sorte indique e ganhemilhares. Segundo nota da Apib, eram 15 mil no início do século 20.
A partir da décadaesportes da sorte indique e ganhe1940, começaram a ser atacados por pessoas interessadas nas riquezas da terra indígena. O último massacre documentado foiesportes da sorte indique e ganhe1964, quando seringalistas (proprietáriosesportes da sorte indique e ganheseringais)esportes da sorte indique e ganheTapauá, um município próximo da terra Juma, dizimaram dezenasesportes da sorte indique e ganhehomens Juma, lembra a antropóloga Luciana França, professora do cursoesportes da sorte indique e ganheAntropologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
Depois dos massacres, sobrou um grupo pequeno. A mulheresportes da sorte indique e ganheAruká morreu após doença, e um irmão morreu por ataqueesportes da sorte indique e ganheonça. Nos anos 1990, eram apenas seis pessoas: Aruká, suas três filhas, e dois outros membros mais velhos do povo. "Estavam isolados e muito fragilizados sabendo do entorno que os havia matado", diz França.
Para a indigenista Ivaneide Bandeira, da Associaçãoesportes da sorte indique e ganheDefesa Etnoambiental Kanindé, a saga do povo Juma é a saga dos povos indígenas da Amazônia. "Uma sagaesportes da sorte indique e ganhemorte", diz.
"Aruká era um símboloesportes da sorte indique e ganheresistência a todo esse massacre — por armaesportes da sorte indique e ganhefogo, mas também por doenças que são levadas pelo não indígena para dentro das aldeias, que é uma formaesportes da sorte indique e ganhegenocídio e etnocídio cultural", afirma.
Em 1998, a Funai, tendoesportes da sorte indique e ganhelidar com a questãoesportes da sorte indique e ganheum povo isolado, fragilizado e sem perspectivasesportes da sorte indique e ganhecontinuidade após seguidos massacres por não indígenas, transferiu os últimos remanescentes do povo para a aldeia Alto Jamari, na terra indígena Uru-eu-wau-wau,esportes da sorte indique e ganheRondônia. Não haveria o problemaesportes da sorte indique e ganhelíngua ou costumes bastante diversos entre os povos, já que tinham uma língua semelhante e uma história culturalesportes da sorte indique e ganhecomum.
Ali, as três filhasesportes da sorte indique e ganheAruká casaram-se como homens Uru-eu-wau-wau. Tiveram filhos e netos.
Mas os Juma eram minoria na aldeia, e Aruká viveu bastante isolado. Passava o dia dentro dentroesportes da sorte indique e ganhecasa ou sozinho na mata, lembra França, que viveu na aldeia durante um ano. "Mataram o seu povo, depois o mataram socialmente. Era como uma sombra no mundo", diz França.
Segundo Bandeira, da Associaçãoesportes da sorte indique e ganheDefesa Etnoambiental Kanindé, o sonhoesportes da sorte indique e ganheAruká era voltar paraesportes da sorte indique e ganheterra.
Retorno
O retorno à terra Juma, decidida após pedido do Ministério Público Federal no Amazonas, foi feito aos poucos.
Em 2008, França acompanhou Aruká e outros indígenas Juma e Uru-eu-wau-wau a uma expediçãoesportes da sorte indique e ganhevolta à terra Juma, dez anos depoisesportes da sorte indique e ganheterem se mudado do local.
Para chegar à terra, são cercaesportes da sorte indique e ganhequatro horasesportes da sorte indique e ganhePorto Velho até a margem do rio Açuã. Depois mais uma hora e meiaesportes da sorte indique e ganhebarco.
"Pouco a pouco e não sem alguma dificuldade, eles iam reconhecendo as curvas do rio e relembrando os caminhos por onde passaram. Enquanto desembarcávamos nossas coisas e preparávamos o acampamento, Aruká, sem demora, embrenhou-se na mata como se quisesse ver com os próprios olhos a terra que havia deixado para trás", escreveu Françaesportes da sorte indique e ganheum registro da visita.
"Até a expressão quase sempre tristeesportes da sorte indique e ganheseu rosto parecia mais aliviada."
Para ela, foi "foi muito impressionante ver a transformação do Aruká" no retorno à terra Juma. "Quando foi para terra ele, ele desabrochou", diz ela à BBC News Brasil. "Foi muito emocionante."
Uma das primeiras coisas que Aruká fez foi ir até o local ondeesportes da sorte indique e ganheesposa estava enterrada. Ali, entoou seu ajapyryty, o choro ritual repletoesportes da sorte indique e ganheemoção para lembrar e homenagear os mortos, diz ela.
"E na primeira noiteesportes da sorte indique e ganheque dormimos lá, cada um naesportes da sorte indique e ganherede, acampando no mato, foi isso. Um começava a chorar, outro chorava também."
O retorno se consolidou. As filhasesportes da sorte indique e ganheAruká, genros e alguns netos também foram viver na terra Juma.
O fotógrafo Gabriel Uchida, que trabalha com os Juma e os Uru-eu-wau-wau desde 2016, lembra como Aruká era forte. "Era um guerreiro. Contava histórias das brigas com os seringueiros,esportes da sorte indique e ganhecomo, quando atacaram, o povo Juma fugiu ou atacouesportes da sorte indique e ganhevolta."
"Uma vez, ele me levou a um cemitério da aldeia afastado, bem longe. Imagina um senhoresportes da sorte indique e ganhecercaesportes da sorte indique e ganhe90 anos caminhar maisesportes da sorte indique e ganheuma hora no meio do mato, no meioesportes da sorte indique e ganhechuva, passando por área alagada. É um exemploesportes da sorte indique e ganhecomo ele era forte", diz.
Quando chegou no local onde a esposa estava enterrada, ele não se cansou: cuidou da maloca, tirou gramas, puxou cordaesportes da sorte indique e ganhecipó, descreve. Apesar da idade, ele tinha bastante autonomia, saía para tomar banho, caçava, fazia tudo sozinho, diz.
Mas ele sempre falava com tristeza sobre como antigamente haviam muitos Juma, e como naquele momento ele era o último. "Ele era forte, firme, mas sentia essa solidão,esportes da sorte indique e ganheser só ele e as três filhas. Mas mesmo assim, continuava praticando as coisas todas da cultura dele."
Descendentes
Um dos grandes sonhosesportes da sorte indique e ganheAruká era construir uma maloca grande como havia antigamente na terra Juma. Dois anos atrás, o sonho foi realizado.
Bitaté lembra como o avô lhe ensinou a construir a maloca típica do povo Juma. "Ensinou toda a arquitetura, como fazia. Agora eu sei construir a maloca do povo Juma", diz.
Além disso, gostavaesportes da sorte indique e ganheensinar os netos a caçar e a reconhecer as coisas na mata. Bitaté diz que o avô dava atenção aos netos, ensinando a pesca e a história do povo Juma.
Segundo Bandeira, Aruká "tinha uma preocupação muito grandeesportes da sorte indique e ganhecontar a história do massacre, contar como eles eram muitos e como foram todos mortosesportes da sorte indique e ganheconflito com seringueiros, caçadores e invasores da área dele".
"Queria passar essa coisaesportes da sorte indique e ganheresistência para os netos e para filhas", relembra.
Cercaesportes da sorte indique e ganhe20 indígenas viviam na terra, algunsesportes da sorte indique e ganhevezesportes da sorte indique e ganhequando voltando para a cidade. Para Bandeira, deveria ter havido um cuidado maior do Estado brasileiroesportes da sorte indique e ganherelação à covid-19.
"Qualquer um que fosse entrar deveria teresportes da sorte indique e ganhefazer quarentena e teste antesesportes da sorte indique e ganheentrar. Tinha que ser uma exigência. Tem que fazer prevenção e barreiraesportes da sorte indique e ganhecontrole. É chocante."
Assim como é "chocante", para ela, que depoisesportes da sorte indique e ganheter resistido a massacres e doenças que dizimaram seu povo, o último homem Juma agora tenha perdido a vida por causa do coronavírus.
"Por um lado, sim, ele era o último Juma, e isso é avassalador", diz França, da Ufopa.
"É avassalador que ele tenha morrido primeiro pela morteesportes da sorte indique e ganheseu povo, que foi massacrado pelos brancos, depois ter sido transformado num pária socialmente e agora por completa incompetência e incapacidade do Estado brasileiroesportes da sorte indique e ganhefornecer medidas protetivas a um povo que já tinha sido tão vulnerabilizado por esse próprio estado brasileiro."
Mas os Juma, diz ela, não acabaram. "Os Juma estão lá, sim."
"Os Juma não acabaram, não foram extintos", concorda Bandeira. "Eles permanecem e são símboloesportes da sorte indique e ganheresistência."
As três filhasesportes da sorte indique e ganheAruká, diz ela, sobreviveram a essa históriaesportes da sorte indique e ganhemassacres. E tiveram filhos e netos.
"Há netos e netas que tomaram a decisão, que pra mim é surpreendente, e eu não viesportes da sorte indique e ganhenenhum outro povo,esportes da sorte indique e ganhese autodeterminar Juma-Uru-eu-wau-wau. Tomaram a decisãoesportes da sorte indique e ganhemanter o povo Juma no nome", conta Bandeira. Além disso, diz ela, há um neto que se autodeterminou só Juma."
"É uma decisão deles enquanto netos e povoesportes da sorte indique e ganhepermanecer e resistir."

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