'Ninguém quer o que pescamos': o drama dos pescadores com o petróleo no litoral da Bahia:bwin 75.net

Ainda assim, aquela comunidade pesqueira já sente os efeitos da baixa do consumo, causada pelo temor que se tembwin 75.netrelação à toxicidade do derivadobwin 75.netpetróleo.

Com os 12 quilos que pretendia vender no finalbwin 75.netsemana, Fabiana poderia ganhar até R$ 360. Sem a renda, conta apenas com a ajuda da mãe. Esta vive da aposentadoria, depoisbwin 75.nettrabalhar a vida inteira como marisqueira.

"Eu vivo disso, só sei fazer isso. Não quero que minhas filhas entrem nisso porque elas estão estudando. Naquela ilha, só se vivebwin 75.netpesca. Quero outra coisa pra elas", diz Fabiana.

Dramabwin 75.netcentenas

Nesta terça-feira (22/10), Fabiana participoubwin 75.netuma manifestaçãobwin 75.netpescadoras, pescadores e marisqueiras que ocupou durante parte do dia a sede do Ibamabwin 75.netSalvador.

Aproximadamente 300 trabalhadoras e trabalhadores do mar,bwin 75.netdiferentes praias da Bahia, se juntaram na capital para expor o dramabwin 75.netquem está no meiobwin 75.netuma engrenagembwin 75.netauto-sustentação paralisada pelo maior desastre ambiental da história da costa brasileira.

Com um detalhe: boa parte dos relatos ali enfileirados é como obwin 75.netFabiana. Gente que já sente o prejuízo antes mesmobwin 75.netsua praia entrar na lista oficial da catástrofe.

"Pra a gente o óleo ainda não chegou, mas a consequência já chegou. Esse mar é nossa indústria, nosso polo, nosso comércio, nosso tudo. Abaixobwin 75.netDeus é o manguezal e o mar", diz Crispin dos Santos,bwin 75.net44 anos, pescador da localidadebwin 75.netSão Francisco do Paraguaçu, que pertence à cidadebwin 75.netCachoeira, no Recôncavo baiano.

Ali, aponta Crispin, são cercabwin 75.netmil famílias que vivem quase exclusivamente da pesca. Agora, quem já tinha tirado algo do mar ou do mangue está com os estoques abarrotados. Quem ainda iria pescar nem sai mais.

No caso dele, que costuma sair para as águas com mais 12 pescadores para arriar uma rede grande, a conta é mais palpável: neste momento, são 13 famílias sem terbwin 75.netonde tirar o sustento.

"Nem o atravessador quer nosso marisco. E olhe que a gente já passa a preçobwin 75.netbanana. Quem tem peixe tábwin 75.nettempobwin 75.netperder tudo. E não tem pra onde a gente ir nessa situação aíbwin 75.netdesemprego do país. Como é que vai achar trabalho?", observa Crispin.

"Eu tô com uns 2 mil reais estragando no freezer", brada, a seu lado, Josemarbwin 75.netJesus, também morador da Ilhabwin 75.netMaré. "Tem cavala, pescada, tainha e siri, mas não vende", emenda.

Nas condições normaisbwin 75.nettrabalho, Josemar faz o estoque a semana inteira para vender aos finaisbwin 75.netsemana, assim como Fabiana. Após o fantasma do óleo, ele está com contas penduradas nas mercearias da localidade. "É na base da confiança, não tem outro jeito."

Óleo chega ao sul da Bahia

Nos últimos dias, quem também foi obrigado a "comprar fiado" foi Nildo Sacramento, que fecha o rosto sóbwin 75.nettocar no assunto.

"Nunca devi nada a ninguém. Sustento minha família a vida inteira com a pesca do robalo e produçãobwin 75.netostra. Agora, com esse óleo aí que tá acabando com nossa vida, tô pedindo dinheiro emprestado a parente e deixando conta nas vendinhas", lamenta.

Nildo morabwin 75.netTaperoá, no sul da Bahia. Os principais compradoresbwin 75.netseu pescado — que agora estão rejeitando os produtos — são restaurantesbwin 75.netdois polos turísticos famosos nacional e internacionalmente: Boipeba e Morrobwin 75.netSão Paulo.

Pertencentes ao municípiobwin 75.netCairu, os dois locais foram oficialmente tocadas pelo óleo na madrugada desta terça. Em Morrobwin 75.netSão Paulo, terceiro destino do turismo da Bahia, atrás somentebwin 75.netSalvador e Porto Seguro, a prefeitura chegou a interditar duas praias, que foram liberadas após a limpeza. Ao todo, 1,5 toneladabwin 75.netóleo foi retirada das praiasbwin 75.netCairu.

"Isso chegou na areia agora, mas a gente, que tá no mar, já vê vestígio desse óleo faz tempo. E os pescados lá da região ninguém compra há uns 15 dias. Ninguém. E olhe que, na mídia, esse óleobwin 75.netMorrobwin 75.netSão Paulo só chegou agora", diz Nildo.

A conta que não fecha

Enquanto ocorria a ocupaçãobwin 75.netSalvador, o secretáriobwin 75.netAquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Jorge Seif Júnior, anunciavabwin 75.netBrasília que o governo vai pagarbwin 75.netnovembro uma parcela do seguro-defeso para 60 mil pescadores artesanais afetados pelo vazamentobwin 75.netóleo no litoral do Nordeste.

Segundo Seif Júnior, R$ 59,9 milhões serão destinados para o pagamento. "O pescador pode ficar tranquilo, não precisabwin 75.netnenhum ato, simplesmente aguarde que estamos construindo e, dentro do mêsbwin 75.netnovembro, será depositada embwin 75.netconta, a mesmabwin 75.netque ele já recebe o seguro-defeso, uma parcela do benefício", afirmou.

O seguro-defeso, no valorbwin 75.netum salário mínimo, é o benefício que os pescadores recebem quando têmbwin 75.netsuspender a atividade durante o períodobwin 75.netreproduçãobwin 75.netdeterminada espécie. O recebimento pode durarbwin 75.nettrês a cinco meses por ano, a depender da região e da espécie.

A conta deste anúncio, no entanto, não fecha. De acordo com dados do próprio ministério, existem maisbwin 75.net140 mil pescadores registrados nas cidades já oficialmente atingidas pelo óleo — que segue chegando a novas localidades.

Além disso, existem casos como os expostos na ocupação do Ibama,bwin 75.netpescadores que não vivembwin 75.netpraias atingidas, mas estão igualmente afetados pelo desastre. Assim, o pleito dos pescadores da Bahia é que seja criado um benefício específico para a emergência trazida pelo derrame do óleo.

"Essa conversabwin 75.netantecipar seguro-defeso é um absurdo, é achar que todo mundo aqui é burro. Tá antecipando algo que já é direito do pescador. Esse óleo não tem nada a ver com isso, tem que ser um pagamento a parte", diz Maria José Pacheco, representante da Pastoral da Pesca, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A BBC News Brasil entroubwin 75.netcontato com o Mapa na noitebwin 75.netterça, mas,bwin 75.netacordo com a assessoriabwin 75.netcomunicação da pasta, devido ao horário, não seria possível responder aos questionamentos sobre a discrepância entre os benefícios anunciados e a quantidadebwin 75.netpessoas atingidas. Caso essas respostas sejam enviadas, esta reportagem será atualizada.

Representando a Defensoria Pública da União (DPU), o defensor regionalbwin 75.netDireitos Humanos substituto da Bahia, André Porciúncula, esteve na ocupação do Ibama e prometeu aos pescadores que vai negociar, junto ao Mapa, a extensão do pagamento para todos os afetados pelo desastre, independentemente das localidadesbwin 75.netque vivam.

"O objetivo primeiro é sentar para conversar e tentar resolver administrativamente. Se não for possível, a DPU vai entrar com uma ação judicial", afirmou.

Emergência sanitária

Também presente na ocupação, o professor Paulo Pena, da Faculdadebwin 75.netMedicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), chamou atenção para os riscos a que estão submetidos todos os pescadores que atuambwin 75.netáreas tocadas pelo óleo.

"Essas pessoas podem vir a desenvolver doenças graves e crônicas. São trabalhadores que ficarão anosbwin 75.netáreas contaminadas por uma substância muito tóxica, na água e dentro dos mangues, num ofício que ultrapassa gerações. Pela quantidadebwin 75.netóleo que já vimos, temos um sério riscobwin 75.netepidemias", afirmou Pena, que coordena há 12 anos uma pesquisa focada na saúde ocupacional e ambiental dos pescadores artesanais.

Na última segunda-feira (21), a BBC News Brasil publicou reportagem mostrando que a estimativabwin 75.netespecialistas é que a contaminação causada pelo derivadobwin 75.netpetróleo dure décadas.

Na visãobwin 75.netPaulo Pena, o Brasil está diantebwin 75.netum casobwin 75.netemergência sanitária. "Esses pescadores precisambwin 75.netum seguro ocupacional, porque eles só deveriam atuar nessas áreas depoisbwin 75.netum monitoramento minucioso, que mostrasse que não há mais contaminação, mas isso pode levar muito tempo", concluiu.

Nesta crise, o primeiro registrobwin 75.netóleo na costa brasileira ocorreu na Paraíba, no dia 30bwin 75.netagosto. Após quase dois meses, ainda não se sabe a fonte ou a data do derramamento, assim como a quantidadebwin 75.netóleo que foi lançada no mar. Por isso, é impossível prever quando as manchas vão pararbwin 75.netsurgir nas praias.

Responsável pela investigação ainda sem respostas, a Marinha contabiliza 900 toneladasbwin 75.netóleo já recolhidas no litoral do Nordeste.

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