A estratégiajackpot pokeralfabetização que revolucionou aprendizadojackpot pokerescolas do Piauí:jackpot poker

"A escola ficajackpot pokeruma áreajackpot pokeralta vulnerabilidade. Os alunos às vezes chegavam portando armas e facas, havia brigasjackpot pokergangues, a distorção idade-série (alunos fora da série adequada parajackpot pokeridade) era altíssima. E a gente pensava: o que vamos fazer com essas crianças?", conta à BBC News Brasil Ruthneia Vieira Lima, diretora pedagógica da escola.

"Ao mesmo tempo, eu via que nossos alunos tinham grandes habilidades motoras, desde pequenos. Não tinha nadajackpot pokererrado com eles. Voltamos às teorias pedagógicas e passamos a estudar as crianças uma a uma para entendê-las. Tentamos olhar o modo como a criança aprendia a ler, mais do que como o professor a ensinava."

Lima, ao lado da também diretora Osana Santos Morais, desenvolveu, sem nenhum novo investimento, uma estratégia própria, que batizaramjackpot pokerProjeto Borboleta, a partir da ideiajackpot pokertransformação do inseto: "Ele passajackpot pokerrastejante para voador. É como vemos os processosjackpot pokeraprendizado. A leitura te permite voar daqui para qualquer lugar do mundo."

De borboletas a águias

Olhando-os individualmente, as diretoras dividiram os alunosjackpot pokerquatro grupos, a partir da capacidadejackpot pokerleitura -jackpot pokervezjackpot pokerpela idade -jackpot pokercada um: desde "borboletas" (os que não leem nada) passando para "andorinhas" (os que são capazesjackpot pokerjuntar uma letra a outra, mas sem interpretá-las) daí para os "gansos" (os que conseguem ler um pouco mais, mas sem fluência) indo até as "águias" (os leitores fluentes).

A estratégia combina ensinar às crianças como as palavras são articuladas e o que Lima chamajackpot poker"coreografia" da escrita - o fatojackpot pokerque a mudançajackpot pokeruma letra pode mudar o sentido da palavra. Mas vai além: a ofertajackpot pokerlivros e os momentosjackpot pokerleitura são abundantes, "para a criança aprender com o sentido das palavras e escutar seus usos, para se sentir uma leitora. Também usamos muitas poesias, por causajackpot pokersua melodia".

Assim, as crianças passaram a ler uma médiajackpot poker30 livros por mês, ou um por dia, masjackpot pokerum contexto "prazeroso,jackpot pokerque o texto tem significado. É entender que o ler pelo prazerjackpot pokerler faz diferença na vida", conta Osana Morais.

E os professores são encorajados a sair da cadeira e "a ver como está a leitura do lado das crianças, a escutá-las, sentindo o cheirinho delas. A aproximação afetiva é crucial para isso dar certo", diz Lima.

A estratégia também tenta tornar as crianças mais ativas no aprendizado e na autoavaliação. "Elas são incentivadas a avaliar a própria leitura: 'preciso melhorar na leitura da pontuação', por exemplo. A partir disso, fazemos proposiçõesjackpot pokercomo ela pode avançar até 'virar águia'. Não temos uma culturajackpot pokerprovas e fazemos apenas as avaliações obrigatórias do MEC", prossegue.

Por fim, Lima diz que foi necessário tirar os professores da zonajackpot pokerconforto.

"Como existe a expectativajackpot pokerque a criança levará três anos (de ensino fundamental) para aprender a ler e escrever, ninguém se preocupava muitojackpot pokerser aquela que ia ensiná-lajackpot pokerfato, e o aluno só ia passandojackpot pokerano", explica a diretora pedagógica.

Com isso, diz Morais, os professores da escola foram transformadosjackpot poker"aprendizes e observadoresjackpot pokeralunosjackpot pokerprocessojackpot pokerevolução, para compreender a criança como um ser capazjackpot pokeraprender tudo".

'Poucos leitores'

Ante os resultados na Casa Meio Norte, as diretoras passaram a "franquear" a estratégia para outras escolas e cidades da região, assim como fazem os sistemasjackpot pokerensino privados. São maisjackpot pokerdez municípios do Piauí replicando o Projeto Borboleta, diz Lima.

Um dos principais exemplos vemjackpot pokerOeiras, pequena cidadejackpot poker37 mil habitantes encravada no meio do Piauí.

A secretáriajackpot pokerEducação, Tiana Tapety, queria transformar a cidadejackpot pokerum polojackpot pokerleitura, mas notou que, "sem (um projeto de) alfabetização, tínhamos poucos leitores", disse ela durante seminário sobre alfabetização realizado pelo Centrojackpot pokerExcelência e Inovaçãojackpot pokerPolíticas Educacionais da FGV no Rio,jackpot poker23jackpot pokermaio.

O Projeto Borboleta começou nas escolas da rede municipal oeirensejackpot poker2017 e, aliado a demais esforços para incentivar a leitura e a cultura entre os jovens da cidade, fez com que as escolas locais praticamente zerassem as taxasjackpot pokerabandono escolar e reprovação, segundo Tapety.

"Temos quase 100%jackpot pokernossas crianças do 1º ao 5º ano lendo", disse a secretária. "Esse resultado, acimajackpot pokertudo, é uma justiça social. (...) Nossas escolas passaram a ter médias semelhantes, (a notas no Ideb, medição oficial do MEC) entre 6 e 7."

Para Francisca Pereira Maciel, diretora do Centrojackpot pokerAlfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da UFMG, o Brasil já tem uma variedadejackpot pokermétodos e estratégiasjackpot pokeralfabetização para atender as necessidades das escolas, materiais didáticos adequados e até bibliotecas bem equipadasjackpot pokerboa parte das redes do país.

Mas ainda tem gargalos que dificultam que exemplos como osjackpot pokerOeiras e da Casa Meio Norte se tornem mais comuns: alémjackpot pokerfragilidades na formação universitáriajackpot pokerprofessores plenamente hábeis a alfabetizar, o principal obstáculo é a criaçãojackpot pokerum compromisso com a alfabetização ejackpot pokerum projeto coletivo.

"E esse não pode ser um compromisso do professor sozinho, mas sim um objetivo compartilhado (em cada rede ejackpot pokerplano nacional)", diz à BBC News Brasil. "O que temos hoje é a descontinuidade, a faltajackpot pokerapoio ao professor e a dificuldade delejackpot pokercompartilhar tanto suas coisas legais como suas dúvidas."

Embora não tenha estudado o Projeto Borboleta a fundo, Maciel diz que um mérito do projeto é ter conseguido "trabalhar a leitura e a escritajackpot pokercontexto com a cultura no entorno da escola e criar um coletivo que permitiu a formaçãojackpot pokertodos os professores (em tornojackpot pokerum objetivo comum)."

Analfabetismo no Brasil

Apesarjackpot pokeravanços no combate ao analfabetismo, o Brasil ainda tem enormes desafios nessas áreas.

Ao 3º ano do ensino fundamental (ou seja, o final ciclo final da alfabetização), apenas 66,2% dos alunos brasileiros tinham aprendizado adequadojackpot pokerescrita e 78,3%jackpot pokerleitura, segundo dadosjackpot poker2016 (os mais recentes) do Ideb.

Para além das crianças, segundo dados do IBGE, o país passoujackpot poker11,4%jackpot pokerjovens ou adultos analfabetosjackpot poker2004 para 7%jackpot poker2017, mas isso ainda equivale a 11,5 milhõesjackpot pokerpessoas que não sabem ler nem escrever.

No Piauí essa taxa era 16,6%jackpot poker2017, a segunda mais alta do país, atrás apenas do Maranhão (16,7%),jackpot pokeracordo com o IBGE.

Já o númerojackpot pokeranalfabetos funcionais - capazesjackpot pokerescrever o próprio nome, mas nãojackpot pokerinterpretar um texto ou realizar operações matemáticas cotidianas, por exemplo - é muito maior: cercajackpot poker30% da população brasileira.

A alfabetização foi um dos assuntos no centrojackpot pokerpolêmicas neste ano no MEC, quejackpot pokerabril lançou a Política Nacional para essa etapa, com a intençãojackpot poker"fundamentarjackpot pokerevidências científicas suas políticas públicas para a alfabetização", e gerou um debate diante da sinalizaçãojackpot pokerque o método chamadojackpot poker"fônico" (que associa letras aos fonemas) seria privilegiadojackpot pokerdetrimentojackpot pokeroutros.

Isso levou a críticasjackpot pokerdiversos especialistas, por discordarem ou do método fônico ou da ideiajackpot pokerque uma única metodologia seja estimulada pelo ministério.

Francisca Maciel, do Ceale-UFMG, diz que favorecer um ou outro método "fere a autonomia da escola e não dá garantia nenhumajackpot pokeraprendizado".

"O que é necessário é um compromisso para que as crianças sejam alfabetizadas com a capacidadejackpot pokerfazer uso social (da leitura e dar escrita), que faça sentido para além das quatro paredes da escola. Caso contrário, vira algo mecanizado. Onde ficam o prazer e o sentido do aprendizado?"

Para Ruthneia Lima, da Casa Meio Norte, as discussõesjackpot pokertorno dos métodos acaba tirando o foco da necessidadejackpot pokercada professor aprender com as dificuldades reaisjackpot pokerseus alunos, individualmente.

"É o aluno que empurra o professor a aprender (a ensinar)", argumenta.

Outra estratégia, disse Tiana Tapety,jackpot pokerOeiras, é a escola puxar para si plenamente a tarefajackpot pokeralfabetizar as crianças, sem esperar contrapartidasjackpot pokerfamílias muitas vezes desestruturadas e pouco escolarizadas.

Ela citou, por exemplo, uma grande quantidadejackpot pokercriançasjackpot pokerOeiras que são criadas apenas pelas avós.

"Como vamos mandar uma tarefajackpot pokercasa para um menino cuja avó não sabe ler?", questionou ela no evento da FGV. "Então, temos que valorizar o tempo dela na escola. Se a família não consegue, nós vamos fazer mais pela criança. (...) Se ela não aprendeu, a gente retoma. Nenhum aluno a menos."

Ruthneia Lima conta que, nos 19 anosjackpot pokerque ajuda a comandar a Casa Meio Norte, "perdemos 30 crianças para a maginalidade. Mas também temos meninos que foram para a universidade e se formaramjackpot pokerEnfermagem, Bioquímica, Psicologia".

"Ainda estou pesquisando o motivo, mas vejo que (nossa estratégia) se sobressai principalmente nas escolasjackpot pokerzona rural. Eu acho que é porque alavanca a autoestima dos alunos. Eles ficam empoderados para ler. Meu sonho é que cada criança do Piauí mostre que é uma pessoa capazjackpot pokeraprender."

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