Imigrante haitiana cega que sobreviveu a '2 terremotos' é aprovada na OAB, quer se naturalizar brasileira e virar juíza:melhor site prognósticos desportivos

"Aquele momento no abrigo foi o segundo terremoto na minha vida", ela recordamelhor site prognósticos desportivosentrevista à BBC News Brasil. As condiçõesmelhor site prognósticos desportivosBrasileia haviam feito o governo do Acre decretar estadomelhor site prognósticos desportivosemergência.

Para estar ali, Nadine havia voado da República Dominicana para o Equador e,melhor site prognósticos desportivoslá, viajadomelhor site prognósticos desportivosônibus até a fronteira do Brasil com o Peru - rota percorrida por milharesmelhor site prognósticos desportivosestrangeiros que buscavam o Brasil naqueles anos, quando a economia crescia e o futuro do país parecia mais promissor.

Ao ingressar no país, porém, chocou-se com as dificuldades impostas aos recém-chegados.

"Não pensei que situação fosse ficar tão precária no Acre. Mas aprendi muito ali, me ajudou muito a crescer."

A sorte da haitiana começou a mudar quando um funcionário do abrigo lhe pôsmelhor site prognósticos desportivoscontato com parentes que viviam no Distrito Federal - onde, segundo ele, Nadine teria mais oportunidades e poderia até realizar o desejomelhor site prognósticos desportivoscursar uma faculdade.

Chamou a atenção do homem a facilidade da haitiana com línguas: além do creole e do francês, idiomas oficiais do Haiti, ela falava espanhol - idioma da República Dominicana - e tinha boas noçõesmelhor site prognósticos desportivosinglês, que aprendera ao trabalhar num call center.

Ela aceitou a sugestão do funcionário e partiu para o Distrito Federal atrás da família. Foi tão bem recebida que logo passou a se referir a seus anfitriões, o casal Carlos e Loide Wanderley, como pai e mãe.

"Sem eles, teria sido muito difícil conquistar o que conquistei", afirma.

Os pais biológicos da haitiana morreram quando ela era menina. Segundo Nadine, seu pai, que era político, foi assassinado por opositores. A perda fez com que a mãe ficasse deprimida e morresse menosmelhor site prognósticos desportivosum ano depois.

Ela foi criada por um avô, mortomelhor site prognósticos desportivosfevereiro deste ano, e hoje mantém contato com poucos parentes distantes que moram na República Dominicana.

Sem dinheiro para comer

Foi com o dinheiro quemelhor site prognósticos desportivosmãe brasileira lhe dava para comer e alugar uma quitinete que Nadine pagou as primeiras mensalidades do cursomelhor site prognósticos desportivosDireito da Faculdade Mauá, na cidade-satélitemelhor site prognósticos desportivosVicente Pires.

No início, assistiu às aulas sem que os pais adotivos soubessem, pois não queria que se sentissem pressionados a ajudá-la com os custos. "Não gostomelhor site prognósticos desportivospedir,melhor site prognósticos desportivosser vista como coitada."

Nadine diz que passou dias sem comer nada para economizar. Ela só enchia o estômago aos domingos, quando os pais lhe traziam comida ao buscá-la para o culto no Ministério Grãomelhor site prognósticos desportivosMostarda, igreja evangélica frequentada pela família e que ela também adotou, embora seja adventista.

Logo, porém, a direção da faculdade se impressionou com a históriamelhor site prognósticos desportivosvida da haitiana e resolveu lhe oferecer uma bolsa integral, alémmelhor site prognósticos desportivosum estágio na própria instituição.

Só então ela contou à família brasileira que estava fazendo o curso - e deixoumelhor site prognósticos desportivospassar fome para cobrir as mensalidades.

Com apenas 15% da visão, Nadine gravava todas as aulas e estudava com o auxíliomelhor site prognósticos desportivosum programamelhor site prognósticos desportivoscomputador que lia os livros para ela.

Ela diz que uma única vez sofreu racismo e xenofobia na faculdade, mas prefere não dar detalhes da ocasião porque não gostamelhor site prognósticos desportivosse "colocar como vítima" e porque o episódio teria sido um ponto fora da curva.

"Minha cor é muito bonita, mas infelizmente há pessoas que acham que negros e brancos são diferentes. Essas pessoas são doentes, elas é que são as vítimas."

Nadine diz quemelhor site prognósticos desportivosmaior dificuldade no cotidiano era realizar provas, quando dependiamelhor site prognósticos desportivoscolegas que lessem as perguntas.

"Se tiver uma vírgula e a pessoa não der a ênfase certa, você erra a questão." Ela respondia as provas oralmente ou no computador.

Apesar dos desafios, foi aprovadamelhor site prognósticos desportivostodas as disciplinas e começou a se preparar para o exame da OABmelhor site prognósticos desportivosjunho deste ano.

Como era a primeira vez que faria o exame, sabia que havia boas chancesmelhor site prognósticos desportivosser reprovada. Em 2017, um estudo da Fundação Getúlio Vargas apontou que 75% dos bacharéismelhor site prognósticos desportivosDireito faziam três exames até serem aprovados.

"Felizmente a banca me pôs uma pessoa que lia muito bem - ela tinha paciência, lia e relia quando eu pedia."

Após a segunda fase, Nadine ficou tão tensa que adoeceu.

"Estavamelhor site prognósticos desportivoscasa, com febre, quando uma amiga me ligou: 'Nadine, cadê o churrasco?' Eu respondi: 'Como assim, churrasco? Eu nem sei se passei'. E ela: 'Você já passou, acabeimelhor site prognósticos desportivosver seu nome, parabéns!' Foi um dos melhores dias da minha vida."

Naquela prova, 77,3% dos candidatos foram reprovados, segundo o blog Exame da Ordem, especializado no concurso.

Registrada na OAB, Nadine está apta a exercer a advocacia no Brasil. Seus próximos objetivos são trabalhar num escritóriomelhor site prognósticos desportivosdireito tributário e se naturalizar brasileira - direito concedido a estrangeiros que vivam no país há pelo menos quatro anos, falem português e não tenham condenações penais.

As metas indicam um desvio nos planos que Nadine tinha logo após entrar na faculdademelhor site prognósticos desportivosDireito.

Em 2015, quando voltamos a conversar para uma nova reportagem à BBC News Brasil, Nadine me disse que pretendia se tornar diplomata.

Hoje ela diz que a situação no país natal piorou tanto que perdeu a vontademelhor site prognósticos desportivosvoltar. Em 2017, uma missão militar da ONU no Haiti (Minustah) chefiada pelo Brasil foi encerrada após vigorar por 13 anos.

"Mesmo na época da Minustah, os bandidos mandavam", diz Nadine. "Agora é ainda pior, e os bandidos estão mais armados que a polícia."

Os planosmelhor site prognósticos desportivosse naturalizar brasileira emelhor site prognósticos desportivostrabalhar como advogada são condições para que ela possa alçar voos ainda mais altos.

Daqui a alguns anos, Nadine quer prestar concurso para a Advogacia-Geral da União (AGU), onde espera adquirir a experiência necessária para seu objetivo maior: tornar-se juíza.

Ela diz ter como exemplo na carreira o ex-juiz - e futuro ministro da Justiça - Sérgio Moro, que julgou boa parte das ações da Operação Lava Jato na primeira instância.

"Quando você é juiz, você não conseque satisfazer todos, mas temmelhor site prognósticos desportivoster coragem para encarar. Sérgio Moro tem coragem", opina.

Sobre a vitóriamelhor site prognósticos desportivosJair Bolsonaro, prefere não opinar.

"Não tenho preferências políticas. Se o Bolsonaro fizer o Brasil crescer, para mim será bom."

Nadine diz ter sido pegamelhor site prognósticos desportivossurpresa pela crise econômicamelhor site prognósticos desportivosque o Brasil mergulhou poucos anos apósmelhor site prognósticos desportivoschegada. Ela conta que chegou a questionar a decisãomelhor site prognósticos desportivosse mudar para o país.

"Acho que eu teria mais oportunidades se tivesse migrado para os Estados Unidos ou para o Canadá, mas aqui eu tenho amizades, aqui eu ganhei uma família. E isso vale mais do que qualquer coisa."

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