Os haitianos e brasileiros que tiveram as vidas transformadas pela missãocodigo bet365paz:codigo bet365

Militar brasileiro com menino haitiano
Legenda da foto, Missãocodigo bet365paz brasileira no Haiti durou maiscodigo bet365uma década | Foto: Arquivo pessoal

Poderia ser parecido com as favelas brasileiras, se não fosse o fatocodigo bet365que ali está a concentração das pessoas mais pobres do Hemisfério Ocidental. Ali, onde Brisson nasceu, a fome é rotina, estudar é privilégio e ter um emprego é luxo.

Esperto, ele se esquivou das dificuldadescodigo bet365morar na vila que já recebeu o indesejado títulocodigo bet365mais perigosa do mundo. Também resistiu ao fatocodigo bet365vivercodigo bet365um país que foi governado por uma sequênciacodigo bet365ditadores, onde os motins eram diários.

Em 2004, quando o país estava no ápice da crise humanitária, a ONU enviou uma missãocodigo bet365paz ao Haiti. Uma base militar foi instalada dentrocodigo bet365Cité Soleil.

Brisson acompanhou o desembarque dos militares brasileiros e sentiu que precisava aprender português. Autodidata, observava o ritmo da fala, a composição das frases e consultava o dicionário. Aprendeu. A ONU precisoucodigo bet365intérpretes e ele foi selecionado.

Brisson, não! Jimmy. Jimmy gaúcho. A cada seis meses, o efetivo militar brasileiro era substituído e o jovem intérprete aprendeu sobre a diversidade cultural do nosso país. Ele decidiu então que seria gaúcho.

Naquela época, a seleção brasileira vivia um grande momento. O Brasil enviou ao Haiti o time com estrelas como Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Cafu para fazer um jogo da paz no país. Jimmy pirou. Viu o seu ídolo, Ronaldinho Gaúcho,codigo bet365perto. Foi inesquecível. A decisãocodigo bet365virar gaúcho já estava tomada.

Com a oportunidade que tevecodigo bet365ser intérprete da ONU, ele aproveitou para estudar Comunicação e Direito. Ao contráriocodigo bet365todas as expectativas do lugar onde nasceu, Jimmy ganhou um futuro.

Chenet Conserv, o haitiano que se manteve vivo

Chenet Conserv
Legenda da foto, Haitiano decidiu mudar-se para o Brasil, onde reconstruiucodigo bet365vida | Foto: Arquivo Pessoal

codigo bet365 Conserv - Se o Haiti não tivesse mudado, eu estaria morto.

codigo bet365 BBC Brasil - Por quê?

codigo bet365 Conserv - Todo dia tinha revolta na rua. Teve uma vez que os bandidos me pegaram. Eles me colocaram no chão pra me matar.

codigo bet365 BBC Brasil - E você fez eles desistirem?

codigo bet365 Conserv - Sim, foi por pouco. Só que depois piorou. Quando paroucodigo bet365ter tumulto e ataquecodigo bet365gangue, teve o terremoto.

codigo bet365 BBC Brasil - E aí você decidiu partir para o Brasil?

codigo bet365 Conserv - Sim. No Haiti não tem emprego. Eu precisava fazer dinheiro para cuidar da minha filha.

codigo bet365 BBC Brasil - Onde ela está?

codigo bet365 Conserv - Ela continuacodigo bet365Saint Marc, junto com a mãe.

codigo bet365 BBC Brasil - Quantos anos ela tem?

codigo bet365 Conserv - Tem 10. Dia 31codigo bet365julho ela fez aniversário. Sempre mando presente.

codigo bet365 BBC Brasil - Ela está bem?

codigo bet365 Conserv - Sim, ela tá bem na escola, sem dificuldade. Só que ela diz que tá com muita saudade.

codigo bet365 BBC Brasil - E você?

codigo bet365 Conserv - Eu tô com saudade da minha filha. Todo dia peço força para eu seguir trabalhando e poder dar um futuro pra ela. É por isso que tô aqui.

A esperançacodigo bet365Chenetcodigo bet365conseguir um emprego se despedaçou entre as ruínas do terremoto. Sem dinheiro, sem teto e sem chão. Tudo havia sido destruído. O jeito era recomeçar.

Chenet juntou os destroços e traçou um plano: reconstruir a casa e tentar a vidacodigo bet365outro lugar. Antes, ele descartara deixar a família por causa da violência do país. Mas seis anos depois da implantação da missãocodigo bet365paz, os ânimos já não estavam mais tão acirrados e a insegurança já não era mais o problema principal.

Chedniana Conserve
Legenda da foto, A filhacodigo bet365Chenet Conserve ficou no Haiti comcodigo bet365mãe | Foto: Arquivo Pessoal

Enquanto o Brasil desembarcava no Haiti com mais um efetivo da missão, Chenet seguia no sentido contrário. Desembarcavacodigo bet365Rio Branco. Chegou maltrapilho, só sabia falar "meu nome ê Chenê" "po favou" e "obirigadu".

No Norte, se familiarizou com as dificuldades do povo. Mas ele sabia que o Brasil é grande e por isso, embarcoucodigo bet365ônibus, trens e caronascodigo bet365caminhões até pararcodigo bet365Porto Alegre.

Chenet não teve muita sorte no início. Trabalhou duro numa obra e foi enganado no pagamento. Engoliu seco. Não tinha documentos para provar. Já na segunda oportunidade, se encontrou. Virou gari.

A rotinacodigo bet365acordar às 5h, pegar dois ônibus, correr o dia inteiro atrás do caminhãocodigo bet365lixo e só chegarcodigo bet365casa às 22h tem sido uma bênção para ele.

"Às vezes penso que Deus me deu muita sorte. Eu tenho um emprego e a minha família tem o que comer. E, graças a Deus, estou vivo para garantir isso."

Militares, os brasileiros que ganharam liçõescodigo bet365vida

No refeitório da sede do Batalhãocodigo bet365Infantariacodigo bet365Forçacodigo bet365Paz no Haiti, os horários das refeições eram sagrados. Alguns militares faziam uma oração, outros agradeciamcodigo bet365silêncio.

"Dar valor à comida no prato é uma das principais lições que a gente leva pra vida depois da missão no Haiti", diz o tenente do Exército Paulocodigo bet365Tarso, médico cirurgião baiano, que integrou a missãocodigo bet3652013.

Para o sargento carioca Adriano Vieira, a missão continuou viva depois que ele voltou ao Brasil,codigo bet3652015. O trabalhocodigo bet365assistência para as crianças haitianas despertou a vontade nelecodigo bet365fazer algo pelas crianças daqui.

"O Haiti não saiucodigo bet365mim. Quando voltei para o Brasil decidi que a missãocodigo bet365paz deveria continuarcodigo bet365minha vida. Criei um projeto que visita orfanatos e asilos dando alegria e doações para quem precisa."

Quando os blindados passavam pelos vilarejos, as crianças colocavam a mão na barriga para indicar que estavam com fome. Os militares não são autorizados pela ONU a dar comida, mas muitos paravam para conversar e se comunicar com as crianças.

Álvaro Luis Carvalho Peres, tenente do Exército que esteve no Haiti duas vezes, diz que a barreira do idioma era ultrapassada por um acenocodigo bet365mão ou um olhar.

"Eu pude perceber que para um povo que moracodigo bet365Cité Soleil e praticamente não tem nada, o pouco que dávamos, até mesmo um gestocodigo bet365carinho e atenção, já era muito para arrancar um sorriso daquelas pessoas."

Mas ele salienta que a missão continua: "aqui no Brasil nós temos muitos Haitis".