Os brasileiros que 'adotaram' venezuelanos doando passagem, comida, emprego e até aluguel:app sportingbet para ios

Crédito, Gui Christ
"Nós queríamos ajudar, mas não sabíamos como. Tivemos uma oportunidade e falamos: 'vamos? Vamos", conta Joyce, sentadaapp sportingbet para iosmeio a centenasapp sportingbet para ioscabidesapp sportingbet para iosroupas do brechó que administra na cidade. Em parte, o dinheiro que banca os quatro venezuelanosapp sportingbet para iosIndaiatuba sai do que é vendido nesta loja. Outra parcela vemapp sportingbet para iosdoaçõesapp sportingbet para iosamigos e membros do grupoapp sportingbet para iosWhatsApp. "Conversamos com as pessoas da cidade, que nos ajudaramapp sportingbet para iosvárias formas. Um doou uma coisa, outra achou uma casa, outra arrumou um emprego. E assim vai", conta.

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Quem a aproximou dos venezuelanos foi a ONG Fraternidade Sem Fronteiras, que administra um centroapp sportingbet para iosacolhimento para 300 refugiados e imigrantesapp sportingbet para iosBoa Vista, cidade brasileira mais afetada pela onda migratória causada pela crise na Venezuela. Em média, o Brasil recebe 500 venezuelanos por dia - no domingo, foram 800.
O caminho brasileiro começaapp sportingbet para iosPacaraima, na fronteira com a Venezuela. Depois, chega a Boa Vista. Milharesapp sportingbet para iosvenezuelanos estão vivendoapp sportingbet para iosabrigos ou acampamentosapp sportingbet para iosruas, praças e rodoviárias.
Em Boa Vista, com o númeroapp sportingbet para iosimigrantes chegando a 10% da população, os serviços públicos estão sobrecarregados. Os postosapp sportingbet para iossaúde acumulam filas enormes e as escolas estão lotadas. Há quase 2 mil venezuelanos morando na rua. A situação vem gerando estresse e conflitos violentos.
Em entrevista à BBC News Brasil, a prefeitaapp sportingbet para iosBoa Vista, Teresa Surita (MDB), afirmou que, se o governo federal não ajudar, a prefeitura "vai perder o controle da cidade."
Na segunda-feira, o governoapp sportingbet para iosRoraima pediu ao Supremo Tribunal Federal o fechamento da fronteira com a Venezuela, o que acabou não acontecendo.
Venezuelanos fugindo da crise
Na mesma casaapp sportingbet para iosIndaiatuba, vive Luis Nelson Baena,app sportingbet para ios42 anos. Naturalapp sportingbet para iosEl Tigre, também no Estadoapp sportingbet para iosAnzoátegui, ele viajou ao Brasilapp sportingbet para iossetembro do ano passado. Deixouapp sportingbet para ioscasa a mulher e quatro filhos. "O salário que eu ganhava não dava mais para comprar um sacoapp sportingbet para iosarroz. Começamos a passar fome", diz.
Vizinhoapp sportingbet para iosquartoapp sportingbet para iosBaena, Antuare conta história parecida. De repente, seu salário no setor petrolífero, que bancava saúde e educaçãoapp sportingbet para iosseus três filhos, passou a não comprar nem a comida da semana. "A situação econômica ficou desesperadora. A gente não sabia o que fazer. O jeitoapp sportingbet para iosfortalecer a família foi sair", diz.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação na Venezuela pode chegar a 1.000.000% (um milhão por cento)app sportingbet para ios2018. A alta constante e acelerada dos preços asfixia diariamente a população e dificulta a retomada do crescimento do país, que está submersoapp sportingbet para iosuma profunda crise.

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No Brasil, Baena viveu nas ruasapp sportingbet para iosRoraima por um mês. "Em Boa Vista, eu esperava dar 23h para pegar os restosapp sportingbet para ioscomida que uma padaria jogava fora. Vivi assim, amigo", conta, sentado na cozinhaapp sportingbet para iossua casaapp sportingbet para iosIndaiatuba. Depois, conseguiu um bicoapp sportingbet para ioscarregadorapp sportingbet para ioscaminhões e, no abrigo da Fraternidade Sem Fronteiras, arrumou uma passagem para São Paulo. Viveu alguns diasapp sportingbet para iosum albergueapp sportingbet para iosSão Mateus, na zona leste paulistana.
Foi quando conheceu Joyce, que o levou para o interior, pagou seu aluguel e lhe arrumou um emprego noturnoapp sportingbet para iosum estacionamento. Hoje, Baena ganha R$ 1.500 por mês, a maior parte enviada à família na Venezuela. Ele não vê a mulher e seus quatro filhos há quase um ano.
A família se corresponde por meioapp sportingbet para iosmensagens enviadas por Baena a uma vizinha da esposa. "Até comprei um celular para minha mulher. Ela usou por 20 dias, mas foi roubada. Nos falamos muito pouco", diz. "Meu sonho é trazê-los para o Brasil."
O mesmo sonho tem Teoscar Ramon Mata,app sportingbet para ios29 anos, que deixou a mulher e três filhos pequenosapp sportingbet para iosEl Tigre. No dia da partida, ele pediu à esposa para não acompanhá-lo até a rodoviária. "Eu não queria viver aquela despedida. É um momento muito triste quando você deixa suas raízes para trás. Minha família estava passando fome e eu,app sportingbet para iosmãos atadas. Tiveapp sportingbet para iosfazer alguma coisa", diz.
Mata hoje moraapp sportingbet para iosIndaiatuba. Atua como auxiliarapp sportingbet para ioscozinhaapp sportingbet para iosum restaurante, trabalho arrumado por Joyce, a quem ele chamaapp sportingbet para iosmãe.
'Ajudar é uma questãoapp sportingbet para ioscidadania'

Crédito, Arquivo Pessoal
O engenheiro agrônomo Pedro Onofre,app sportingbet para ios46 anos, é outro brasileiro que resolveu ajudar imigrantes venezuelanos. Em maio, ele conheceu German, médico e ex-capitão do Exército do país. O ex-militar contou ter sofrido perseguição por participar da oposição ao governoapp sportingbet para iosNicolás Maduro.
Viveu por quase um anoapp sportingbet para iosabrigosapp sportingbet para iosBoa Vista e foi indicado ao engenheiro por um amigo.
Onofre emprestou uma casa para German viver por alguns meses,app sportingbet para iosBrasília. Depois, arrumou um empregoapp sportingbet para iosauxiliarapp sportingbet para ioslogística para o imigrante emapp sportingbet para iosprópria empresa. "Os imigrantes e refugiados chegam muito abalados por esse processo que é quaseapp sportingbet para iosexpulsão do próprio país. Com o tempo, eles vão recuperando a autoestima", diz Simões.
O engenheiro ajudou o venezuelano a levar sete pessoasapp sportingbet para iossua família para Brasília -app sportingbet para iossogra também trabalha na empresa. "Ele tem ainda um filho pequeno que ficou na Venezuela, mas estamos tentando trazê-lo para o Brasil também", conta o engenheiro. "Eu o ajudo porque é uma questãoapp sportingbet para ioscidadania, um compromissoapp sportingbet para ioshumanidade."
'Você não pode generalizar'

Crédito, Gui Christ
Os três venezuelanos que conversaram com a BBC News Brasilapp sportingbet para iosIndaiatuba disseram que sempre tiveram boas relações com brasileiros. Os conflitos foram poucos.
Mata conta que há alguns meses,app sportingbet para iosBoa Vista, foi acusadoapp sportingbet para iosroubo quando comprava comidaapp sportingbet para iosuma mercearia. "A funcionária disse que eu estava roubando. Chamei o gerente e pedi para eles verem as câmerasapp sportingbet para iossegurança. Depois eles viram que eu não tinha feito nada", diz.
O ataqueapp sportingbet para iosbrasileiros a venezuelanosapp sportingbet para iosPacaraima, no último sábado, ocorreu depois que um comerciante local foi assaltado e ferido por imigrantes. "Se um venezuelano faz algo errado, você não pode generalizar e achar que todos os venezuelanos são ruins. É a mesma coisa com brasileiros: se um te trata mal ou te agride, eu não posso acreditar que todos são más pessoas", diz Mata.
Baena faz reflexão parecida. "É claro que há venezuelanos que chegaram no Brasil e fizeram coisas ruins. Mas não é por isso que todos vão ser agredidos. As pessoas vieram para o Brasil porque estavam desesperadas, passando necessidades", diz.
Sua "madrinha", Joyce critica a ação dos brasileirosapp sportingbet para iosPacaraima. "Olha, quando conheci os quatro que vieram para cá, eles estavam desesperados para conseguir um emprego. Eles precisam ajudar as famílias que ficaram lá. Se cada brasileiro, ao invésapp sportingbet para iossó criticar, fizesse alguma coisa para ajudá-los, talvez a situação melhorasse bastante", diz.
O engenheiro Pedro Simões, que ajuda imigrantesapp sportingbet para iosBrasília, critica o que chamaapp sportingbet para ios"sentimentoapp sportingbet para iosintolerância"app sportingbet para iosparte dos brasileiros. "Estiveapp sportingbet para iosBoa Vista na semana passada e percebi que a intolerância vem crescendo muito. Presenciei situaçõesapp sportingbet para iosagressão e xingamentosapp sportingbet para ioslugares com situação precária. Tudo o que aconteceapp sportingbet para ioserrado na região, as pessoas culpam os venezuelanos", diz.
'Caminhar com as próprias pernas'

Crédito, Arquivo Pessoal
A farmacêutica Ana Lúcia Guimarães,app sportingbet para ios49 anos, também bancou financeiramente uma famíliaapp sportingbet para iosvenezuelanos fugidos da crise.
Ela conta que se sensibilizou pela situação ao ver reportagens sobre refugiados na Europa. "Eu fui tocada, sabe? Senti uma dor muito grande e me coloquei no lugar deles. Terapp sportingbet para iosabandonarapp sportingbet para ioscasa,app sportingbet para iosfamília, é algo muito difícil. Resolvi ajudar", diz.
Voluntária na Fraternidade Sem Fronteiras, Guimarães tinha um galpão vazioapp sportingbet para iosGoiânia, cidade onde mora. Com ajudaapp sportingbet para iosamigos, mobiliou o espaço para receber uma famíliaapp sportingbet para iosvenezuelanos.
Ela conheceu Yovantza,app sportingbet para ios26 anos, e Luis, 27,app sportingbet para iosuma visita aos abrigosapp sportingbet para iosBoa Vista. O casal tem três filhos, mas apenas uma garota viajou com eles ao Brasil. A farmacêutica pagou a passagem aérea da famíliaapp sportingbet para iosRoraima para Goiás.
Depois, matriculou a meninaapp sportingbet para iosuma escola e conseguiu empregos para o casal. Yovantza trabalhaapp sportingbet para iosdoméstica, e Luiz,app sportingbet para iosauxiliarapp sportingbet para iospadeiro. "Eles estavam há dois anos desempregados, passando necessidades mesmo", conta Guimarães. O sonho do venezuelanos é trazer os dois filhos que ficaram com a avó materna.
A farmacêutica brasileira diz que vai ajudar outras famíliasapp sportingbet para iosimigrantes. "Só estou esperando Yovantza e Luis se estabilizaremapp sportingbet para iosGoiânia e caminharem com as próprias pernas. Eles vão conseguir", diz.








