Enem: o que as questõesfazer aposta esportivamatemática 'mais difíceis' dizem sobre a educação no Brasil:fazer aposta esportiva

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A reportagem conversou com professores, especialistas e com o Ministério da Educação para entender quais são as principais dificuldades dos alunos na disciplina, uma das mais temidas pelos alunos do ensino médio. A análise dos dados revela um resultado surpreendente: a maior porcentagemfazer aposta esportivaerros ocorreu justamente nas questões menos complexas; exigiam mais capacidadefazer aposta esportivaraciocínio lógico do que conhecimentofazer aposta esportivafórmulas sofisticadas.
E os especialistas alertam: apenas três das 45 questõesfazer aposta esportivamatemática no Enem tiveram índicefazer aposta esportivaacertos superior a 50%. Ou seja, a maioria dos estudantes erra e muito – mostrando muita dificuldade na disciplina.
Matemática avançada ou cálculos simples?
A pedido da BBC News Brasil, professores dos cursinhos Anglo, Objetivo, Etapa e Cursinho da Poli selecionaram as questões que eles consideraram as mais complexas efazer aposta esportivamaior graufazer aposta esportivadificuldade na provafazer aposta esportivamatemática do Enem passado, por exigirem conteúdo mais avançadofazer aposta esportivamatemática. Eis uma delas:
"Para realizar a viagem dos sonhos, uma pessoa precisava fazer um empréstimo no valorfazer aposta esportivaR$ 5.000. Para pagar as prestações, dispõe de, no máximo, R$ 400 mensais. Para esse valor do empréstimo, o valor da prestação (P) é calculadofazer aposta esportivafunção do númerofazer aposta esportivaprestações (n) segundo a fórmula: P = 5.000 x 1,013n x0,013 / (1,013n - 1)"

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O exercício pedia a seguinte resposta: qual "o menor númerofazer aposta esportivaparcelas cujos valores não comprometem o limite definido pela pessoa?".
Os professores explicam: a solução desse exercício era difícil e trabalhosa: exige conhecimentofazer aposta esportivauma longa fórmulafazer aposta esportivalogaritmo e a "realizaçãofazer aposta esportivacálculos com três casas decimais,fazer aposta esportivapoucos minutos que o aluno tinha para fazer, sem calculadora", explica Eduardo Izidoro Costa, professorfazer aposta esportivamatemática do Cursinho da Poli. Pouco maisfazer aposta esportiva15% dos alunos a acertaram.
Outras nove questões do Enem 2017, no entanto, consideradas menos complexas pelos professores, tiveram índicefazer aposta esportivaacerto ainda menor. Por que será?
'Decoreba' ou raciocínio lógico?
Mesmo sem conhecimento aprofundadofazer aposta esportivamatemática avançada, há questões complexasfazer aposta esportivaque os alunos se saem bem apenas por decorar longas fórmulas.
"Se o aluno sabe a fórmula, ele consegue resolver a pergunta da viagem dos sonhos (que exige conhecimentofazer aposta esportivalogaritmo) ", explica Edmilson Motta, coordenador-geral da redefazer aposta esportivaensino Etapa e que, a pedido da BBC News Brasil, levantou os índicesfazer aposta esportivaacertos das questões do Enem.
"Mas é muito mais do que decorar fórmulas: é a consequênciafazer aposta esportivaentender conceitos. Por mais que a fórmula seja bem ensinada, é preciso que os alunos entendam também a matemática como ciência", opina o professor.
Na visão dos educadores, é esse um dos principais entraves ao ensinofazer aposta esportivamatemática nas salasfazer aposta esportivaaula do Brasil; boa parte das aulas é mais focadafazer aposta esportivafórmulas do que no estímulo ao raciocínio lógico e ao pensamento matemático.
No Enem 2017, as questõesfazer aposta esportivaque os alunos mais cometeram erros exigiam mais capacidadefazer aposta esportivaanálise e interpretaçãofazer aposta esportivaproblemas do que a aplicaçãofazer aposta esportivafórmulas.

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Mais lógica
"O ideal era ter uma ênfase maior no raciocínio. A probabilidade e análise combinatória, por exemplo, exigem que o aluno analise cenários, pensem nos casos possíveis e façam eliminações", diz à BBC News Brasil Mario Jorge Carneiro, professor emérito da UFMG e que já participou da formulação do currículofazer aposta esportivamatemática da rede estadualfazer aposta esportivaensinofazer aposta esportivaMinas Gerais.
"O problema é que isso requer mais tempofazer aposta esportivaraciocínio na prova e também um ensino que ocorra mais lentamente – só que o professor tem um currículo vasto para cumprir. Não basta ensinar uma ou outra fórmulafazer aposta esportivauma ou duas semanas, isoladamente. Mas sim enxergar (esses temas) como partefazer aposta esportivaum processo que deve constar nas aulas desde o ensino fundamental, para o aluno ir absorvendo naturalmente."
Para Robby Cardoso, supervisorfazer aposta esportivamatemática da rede Anglo, o aluno acaba criando uma aversão a conceitos complexos, como logaritmo e análise combinatória, quando estes são ensinados como se fossem só um tópico,fazer aposta esportivavezfazer aposta esportivapermearem o ciclofazer aposta esportivaensino como um todo.
"São conceitos que não se esgotam e podem ir sendo aprofundados ao longo do ensino,fazer aposta esportivavezfazer aposta esportivadadosfazer aposta esportivauma vez só", diz Cardoso.
Falhas na formação dos professores
A tarefa traz desafios também para os professores: além do tempo limitadofazer aposta esportivasalafazer aposta esportivaaula para se aprofundarfazer aposta esportivaconceitos difíceis, eles têm,fazer aposta esportivamuitos casos, formação insuficiente para ensinarfazer aposta esportivamodo que estimule o raciocínio lógico, alertam os especialistas.
No caso da matemática, quase um terço dos docentes que ensinam a disciplina no ensino médio não têm formação específicafazer aposta esportivamatemática, segundo levantamentofazer aposta esportiva2017 do movimento Todos Pela Educação.
Mas mesmo quando os professores são formados na áreafazer aposta esportivaque lecionam, sobram falhas na qualificação dos profissionais; falta, por exemplo, treinamento que os capacite a ensinar da forma mais didática possível.
"Mesmo um professor que não precisefazer aposta esportivaformação específicafazer aposta esportivamatemática precisaria que a formação pedagógica o preparasse melhor para atuar nessa área, para ser capazfazer aposta esportivatraduzir a matemáticafazer aposta esportivaalgo palpável", opina Carneiro.
Melhoriafazer aposta esportivadiversas áreas
Para a professorafazer aposta esportivamatemática Katia Smole, convidada a assumir a Secretariafazer aposta esportivaEducação Básica do Ministério da Educação (MEC), "é um fato real o desafiofazer aposta esportiva(melhorar) a formação inicial e continuada do professor, mas é sempre preciso cuidadofazer aposta esportivanão atribuir ao docente tudo o que não dá certo no ensino. É preciso olharmos um conjunto: melhorar os livros didáticos, a formação e dar apoio ao professor para fazer o ensino fluir".

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Deficiênciafazer aposta esportivaaprendizado
Outro problema importante é que os professores do ensino médio recebem alunos já com uma grave deficiênciafazer aposta esportivamatemática, desenvolvida ao longofazer aposta esportivaanosfazer aposta esportivadificuldades durante o ensino fundamental.
Segundo dados da plataforma QEdu com base na Prova Brasil 2015, apenas 14% dos 2,097 milhõesfazer aposta esportivaalunos do 9º ano do ensino fundamental demonstraram ter aprendizado adequado nessa disciplina.
Essas dificuldades muitas vezes persistem durante a etapa final da educação básica e acabam refletindo no desempenho dos alunos nos exames finais.
"Uma grande parte dos alunos chega aqui sem sequer dominar as quatro operações matemáticas", diz Costa, do Cursinho da Poli, que atende majoritariamente alunosfazer aposta esportivabaixa renda vindosfazer aposta esportivaescola pública.
Outro problema, diz ele, é a dificuldadefazer aposta esportivainterpretar textos, que acaba atrapalhando o entendimentofazer aposta esportivaenunciados - o que também pode estar por trás da dificuldade nas questõesfazer aposta esportivaraciocínio.
Medalhafazer aposta esportivaourofazer aposta esportivamatemática
Mas nem tudo é negativo. Costa destaca o "encantamento" que vivem os alunos que aprendem, mesmo que tardiamente, a pensar matematicamente fazer aposta esportivavezfazer aposta esportivaapenas "decorar a fórmula para resolver cada tipofazer aposta esportivaproblema".
E o Brasil, apesarfazer aposta esportivaamargar baixa pontuaçãofazer aposta esportivaexames internacionaisfazer aposta esportivamatemática, conquistou cinco medalhas na mais recente Olimpíada Internacionalfazer aposta esportivaMatemática (IMO), realizada neste mês na Romênia.
O destaque foi o estudante paulista Pedro Lucas Lanaro Sponchiado,fazer aposta esportiva17 anos, que conquistou o ouro e ficoufazer aposta esportiva12º lugar na colocação geral, entre maisfazer aposta esportiva600 estudantes vindosfazer aposta esportiva111 países.

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Pedro Lucas diz que sempre se interessou pela matemática, mas foi só no sexto ano, quando chegou até a última fase da Olimpíada Brasileirafazer aposta esportivaMatemática, que descobriu que gostava muito da disciplina.
"Fiquei feliz e percebi que curtia bastante o tema", conta Pedro, hoje no terceiro ano do ensino médio do colégio Etapa,fazer aposta esportivaSão Paulo. Faz aulas regulares e aulas extras específicas para treinar para as olimpíadas matemáticas.
Mas foram necessários sete anosfazer aposta esportivaestudo para que Pedro chegasse ao seu nível atual. Ele conta que emfazer aposta esportivacidade natal, Santa Cruz do Rio Pardo, na escola os professores e demais alunos "estavam pouco acostumados a esse tipofazer aposta esportivainteresse (pela matemática). "Pesquisava por minha conta mesmo", afirma.
Despertando mais 'matemáticos'
Como, então, fazer com que mais jovens se apaixonem pela matemática, assim como Pedro?
Robby Cardoso, do Anglo, opina que mudanças devem começar pelo material didático, que deveria incluir mais situações-problema que estimulem o raciocínio lógico, indo além das fórmulas.
Para Carneiro, da UFMG, o ideal é buscarmos "um ambiente cooperativofazer aposta esportivaaprendizado, com aulas estruturadasfazer aposta esportivaprojetos (a serem resolvidos pelos alunos) e com a ideiafazer aposta esportivaque o professor não precisa ter toda a verdade, mas sim conduzir o aluno a investigar, com autonomia".
No entanto, acrescenta, "isso leva tempo e exige maturidade e segurança do professor quanto a seu conhecimento. E, na prática, o fato é que o professor tem tempo limitado e um (cronograma) a cumprir. Então a aula acaba sendo, muitas vezes, 'fiquem quietos enquanto eu exponho a aula e depois cobro na prova'."

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Para Katia Smole, do MEC, a nova Base Nacional Comum Curricular, que definirá parâmetrosfazer aposta esportivaensino para todas as escolas brasileiras, estimulará um ensino baseadofazer aposta esportivacompetências - como empatia, responsabilidade, cooperação e projetosfazer aposta esportivavida -, mais do que apenasfazer aposta esportivaconhecimentofazer aposta esportivaconteúdo.
Por que é importante pensar matematicamente?
A despeito das dificuldades do ensino, os especialistas concordam que pensar matematicamente, muito mais do que melhorar o desempenho no Enem, pode ajudar o aluno cada vez maisfazer aposta esportivaqualquer profissão que ele siga no futuro.
"Logaritmos, por exemplo, ajudam a calcular desde a intensidadefazer aposta esportivaum terremoto até o tempo que o corpo leva para metabolizar o álcool ou um remédio", explica Cardoso, que destaca que temas como análise combinatória, das estatísticas e das probabilidades têm tudo a ver com o cotidiano.
"Usamos para calcular quantas pessoas devem ser incluídas (em uma campanha de) cobertura vacinal, quantos númerosfazer aposta esportivaCEP oufazer aposta esportivaplacasfazer aposta esportivacarro eu preciso para um determinado tamanhofazer aposta esportivapopulação. E até mesmo quais as minhas chancesfazer aposta esportivaganhar na loteria", diz Carneiro.
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fazer aposta esportiva E qual a resolução do exercício que abre esta reportagem?
Como é preciso que haja pelo menos um carrinhofazer aposta esportivacada cor, podemos começar pintando 4 dos 10 carrinhos: umfazer aposta esportivaamarelo, umfazer aposta esportivabranco, umfazer aposta esportivalaranja e umfazer aposta esportivaverde.
O exercício vai consistirfazer aposta esportivacombinar as cores dos seis carrinhos restantes. Há maisfazer aposta esportivauma formafazer aposta esportivaresolver a questão, mas vamos nos ater aqui nesta reportagem a uma das mais diretas -que, embora tenha contas matemáticas bastante simples, se baseiafazer aposta esportivaum complexo raciocínio:
A ordem das cores não importa, e pode haver repetiçãofazer aposta esportivacores, então o conceito matemáticofazer aposta esportivaquestão aqui se chama fazer aposta esportiva combinação com repetição, representado assim:
fazer aposta esportiva Cn+p-1 , p
Sendo "p" o númerofazer aposta esportivacarrinhos restantes (6) e "n" o númerofazer aposta esportivaopçõesfazer aposta esportivacores (4). Vamos lá fazer as contas do lado n+p-1:
n+p-1=? --->>> 6+4-1=9
Substituindo na formulação, temos então C9 , p.
Como já sabemos que "p" é igual a 6, chega-se a C9 , 6.
Mas essa formulação não existe entre as opçõesfazer aposta esportivaresposta. O aluno precisaria entender que, fatorialmente, C9 , 6 é igual a C9 , 3, opção B entre as respostas possíveis.
Se você quiser ir além do pedido pelo Enem e entender o que isso significa, o professor Eduardo Izidoro Costa, do Cursinho da Poli, explica que o C9 , 3 tratafazer aposta esportivauma combinaçãofazer aposta esportiva9 elementos tomados 3 a 3 ---> (9x8x7) dividido por (3x2x1). O resultado dessa conta é 84, que é o númerofazer aposta esportivacombinações possíveisfazer aposta esportivacores nos carrinhos.