A vida dos maisbrabet bet50 sem-teto que morambrabet betcemitério e chegam a dormir dentrobrabet bettumbasbrabet betSP:brabet bet

Sem-teto no cemitério Vila Nova Cachoeirinha
Legenda da foto, Maisbrabet bet50 pessoas vivembrabet betcemitério da Vila Nova Cachoeirinha, na zona nortebrabet betSP | Foto: Felipe Souza/ BBC Brasil

Presençabrabet betcrianças é vetada

Entre os sem-teto, há homens, mulheres - uma delas com deficiência física -, idosos e travestis. Os moradores da área afirmam vetar apenas a presençabrabet betcrianças, devido ao ambiente insalubre e ao constante usobrabet betdrogas. Lúcio*,brabet bet28 anos, não cansabrabet betfalar da saudade que sentebrabet betsua filha,brabet bet8 anos.

Crucifixo instalado no cemitério
Legenda da foto, Lixo e restosbrabet betcomida se espalham pelas áreas das lápides | Foto: Felipe Souza/ BBC Brasil

Lúcio deixou Belo Horizonte (MG) com a mulher e a filha para trabalhar como vendedor no Brás, no centrobrabet betSão Paulo. O negócio não deu certo, ele se divorciou e a criança voltou com a mãe para Minas.

"Sem trabalho, eu não consegui pagar aluguel e fui morar com a minha mãe na Vila Nova Cachoeirinha (mesmo bairro do cemitério). Mas ela colocou muitas regras e não deu certo. Fui para a rua, virei camelô e vim para cá há cinco meses", conta o jovem com lágrimas nos olhos.

Se Lúcio é relativamente recente na vizinhança, Igor*,brabet bet41 anos, 12 deles passados no cemitério, é um dos moradores mais antigos no local.

Sentadobrabet betum banquinho, ele destampa uma lata, tira dali um tubinho metálico, um pedaçobrabet betpapel alumínio e um saco plástico, e cuidadosamente monta um cachimbobrabet betque fuma duas pedrasbrabet betcrack, enquanto contabrabet bethistória à BBC Brasil, a poucos metrosbrabet betalgumas covas abertas.

Urubus disputam pedaçosbrabet betum cachorro morto
Legenda da foto, Na entrada do cemitério, urubus brigam entre si por pedaçosbrabet betcachorro morto | Foto: Felipe Souza/ BBC Brasil

"A primeira vez que fumei crack foi no fimbrabet bet1993. Mesmo fumando com frequência, trabalhei como operadorbrabet betempilhadeira, comunicação visualbrabet betvárias empresas, alémbrabet bettradutor e intérpretebrabet betjaponês no bairro da Liberdade", conta.

Igor afirma ter aprendido japonês depois que,brabet bet1995, foi morar no Japão, terra natalbrabet betsua avó paterna. A experiência internacional, no entanto, não terminou bem.

"Fui preso por tráficobrabet betdrogas, vandalismo, atropelamento e corrupçãobrabet betmenores. Fui deportado para o Brasilbrabet betdezembrobrabet bet1997. Minha família não quer mais saberbrabet betmim. Hoje, a gente só se vêbrabet betvelório, casamento e festa", diz.

Igor diz ter tentado recomeçar a vida no Brasil, mas o víciobrabet betdrogas foi mais forte. "Eu só consigo trabalhar se tiver alguém 24 horas do meu lado me incentivando. Hoje, eu tiro meu sustento do lixo, catando reciclagem na rua. Num dia bom, eu pego bastante alumínio e tiro até R$ 100. Mas geralmente eu carrego 100 kgbrabet betpapel por R$ 20. É pouco, só o suficiente para manter meu vício", diz ele.

Homem dorme pertobrabet bettúmulos no cemitério da Vila Nova Cachoeirinha
Legenda da foto, Homem dorme próximo a túmulos no cemitério da Vila Nova Cachoeirinha

Ele afirma que retira do lixo doméstico partebrabet betsuas roupas e alimentação, como bolos e alimentos jogadosbrabet betpacotes fechados. Tudo dividido com os demais moradores da área. Em uma manhã da última semana, um suco amarelo armazenadobrabet betuma garrafa PET sujabrabet betgraxa passavabrabet betmãobrabet betmão para saciar a sedebrabet betIgor e os demais. Sem televisão, ele também se informa por meiobrabet betjornais que recolhe dos sacosbrabet betlixo. Parece adaptado ao ambiente, apesar da faltabrabet betconforto.

"O que mais me deixa triste é não poder abrir uma geladeira e ter o prazerbrabet bettomar uma Coca-Cola bem gelada ou comer uma fruta", diz Igor.

Ele admite que,brabet bet"momentosbrabet betdesespero", cometeu furtos por uma pedrabrabet betcrack. "Sou químico geral. Usobrabet betesmalte a tinner. Já usei cristal dos Estados Unidos, ópio, haxixe e muita cocaína".

Ossários no cemitério Vila Nova Cachoeirinha
Legenda da foto, Beco entre ossários é um dos pontos usados como banheiro pelos sem-teto | Foto: Felipe Souza/ BBC Brasil

Noites dentro das tumbas

A presençabrabet betpragas, como ratos e baratas, é constante no local onde os sem-teto ergueram suas barracas. À noite, os insetos se multiplicam, mas a maior dificuldade é enfrentada no períodobrabet betchuvas.

Durante o verão, as enxurradas molham os sofás velhos que eles usam para dormir e se reunir. Para se proteger, os moradores admitiram arrastar grandes pedrasbrabet betmármore que cobrem os túmulos e dormir nas gavetas, ao lado dos caixões. Eles se recusaram a mostrar esses locais para a reportagem, mas a informação foi confirmada por funcionários.

Túmulos do cemitério da Vila Nova Cachoeirinha
Legenda da foto, Mato alto cobre boa parte dos túmulos do cemitério da Vila Nova Cachoeirinha | Foto: Felipe Souza/ BBC Brasil

A prefeiturabrabet betSão Paulo reconhece que "é recorrente a montagem por dependentes químicosbrabet bettendas dentro e fora do Cemitério Vila Nova Cachoeirinha para o consumobrabet betdrogas". A administração diz que as barracas são "retiradas pelos funcionários, mas logo surgem outras no local". Informou ainda que "aciona, sempre que necessário, o Centrobrabet betZoonoses para tomar providências"brabet betrelação aos animais mortos e que há uma empresa responsável pela limpeza e retiradabrabet betmato da área.

A administração municipal não informou, no entanto, quanto gasta na manutenção da área, quantas pessoas trabalham ali nem desde quando existe essa ocupação dentro do cemitério, mas a reportagem sabe da presença desses sem-teto no local há pelo menos quatro anos.

Rodrigo*,brabet bet40 anos, diz que passa pelo menos partebrabet betseu dia no cemitério há 15 anos.

Ele conta que dorme no local, mas vai à casa dos pais, que vivem na região, todos os dias para tomar banho, almoçar e jantar. "Eu fiz um cursobrabet bethotelaria na Escola Técnica Federal. Eu fumo crack há 21 anos e queria arrumar emprego e sair dessa vida, mas eles (pais) sabem o quanto isso é impossível"

Sem visitas

Quem visita o cemitério da Vila Nova Cachoeirinha chega a ver os moradores da área circulando por ali. Eles tentam conseguir alguns trocadosbrabet bettroca da limpezabrabet betum túmulo. Mas muito pouca gente se aproxima da região onde eles vivem.

"A prefeitura nunca apareceu para tentar nos ajudar, só vem para derrubar nossos barracos. A Pastoral (do Povobrabet betRua) visita a gente uma vez por ano para saber se estamos vivos e só a Polícia Militar aparece sempre para 'dar um salve' na gente", diz um homem que pediu para não ser identificado, usando uma gíria para se referir a espancamentos dos agentes policiais.

Sem-teto dormindobrabet betcapela
Legenda da foto, Capela reformada é usada como abrigo por moradoresbrabet betrua | Foto: Felipe Souza/ BBC Brasil

"Já fui espancado e torturado aquibrabet betjoelhos durante horas por policiais. Eles nos chamambrabet betviciados malditos, ficam perguntando onde estão os cachimbos e derrubam os barracos. Eles querem que a gente faça o quê? Vá para onde?", questiona.

A Secretaria da Segurança Públicabrabet betSão Paulo e a Polícia Militar se posicionaram após a publicação da reportagem. "A Polícia Militar esclarece que as informações foram repassadas ao Comando PM local a fimbrabet betque as informações sejam apuradas", diz a corporaçãobrabet betnota.

Um funcionário que trabalha há maisbrabet bet20 anos no cemitério disse à reportagem que há uma relaçãobrabet betrespeito entre os sem-teto, os funcionários do cemitério e os poucos visitantes da área. "As pessoas têm muito medobrabet betchegar perto deles. Mas eles ficam lá embaixo, não mexem com ninguém", afirmou.

Após uma reforma que durou cinco anos, a capela do cemitério está fechada e também servebrabet betabrigo para moradoresbrabet betrua. A prefeitura informou que o local só é aberto "em datas especiais, como o Diabrabet betFinados." A administração do cemitério disse ainda que há três salasbrabet betvelório, mas não explicou porque elas também estão fechadas.

Em dois diasbrabet betvisita, a reportagem percorreu toda a área do cemitério e andou por quilômetros entre os túmulos. Nenhuma quadra estava livre do lixo.

Casa erguidabrabet betárea do cemitério
Legenda da foto, Funcionários e moradores da região dizem que casas estão sendo construídas na área do cemitério | Foto: Felipe Souza/ BBC Brasil

Funcionários que pediram para não ser identificados disseram que não conseguem dar contabrabet betlimpar nem sequer metade da área. "Nós estamosbrabet betseis. Quando a gente terminabrabet betum lado, o outro já está com mato alto e todo sujo", conta um deles.

Mas a área do cemitério pode estar diminuindo sem o conhecimento da Prefeiturabrabet betSão Paulo. Moradores da região disseram à reportagem a favela do Boi Malhado, no limitebrabet betuma das laterais do cemitério, está crescendo para dentro da área pública. A reportagem identificou três casasbrabet betconstruçãobrabet betum dos limites do cemitério, que não é demarcado por muros ou cercas. As casas começam, literalmente, onde terminam os túmulos.

A prefeitura disse que sabe que há casas dentro do cemitério e diz que já pediu a reintegraçãobrabet betposse à Justiçabrabet bet2016. "A pedido da Justiça, foi realizada audiênciabrabet betconciliaçãobrabet betque os ocupantes do local concordarambrabet betsair voluntariamente da área até janeirobrabet bet2018, o que não foi cumprido. Já foi solicitada nova expediçãobrabet betreintegraçãobrabet betposse", informou a administraçãobrabet betnota.

*Os nomes dos entrevistados foram trocados pela reportagem da BBC Brasil para preservar a identidade deles.