Como cientistas brasileiros colonizaram o YouTube:aprendendo a jogar roleta
- André Shalders - @shaldim
- Da BBC Brasilaprendendo a jogar roletaSão Paulo

A paleontóloga Aline Ghilardi aproveita a pesquisaaprendendo a jogar roletacampo para gravar os vídeos | imagem: reprodução YouTube
aprendendo a jogar roleta A pesquisadora Aline Ghilardi, 31, é uma paleontóloga "que segue o estereótipo" da profissão: busca entender como eram e como evoluíram os dinossauros, principalmente os que viviam no Brasil. Recentemente, recebeu ajudaaprendendo a jogar roletauma fonte incomum para localizar os restosaprendendo a jogar roleta"arcossauros mesozoicos", como estas criaturas são chamadas no jargão da paleontologia. Fãs do canal que ela mantém no YouTube a alertaram para a presençaaprendendo a jogar roletaossadasaprendendo a jogar roletaalgumas cacimbas (que é como são chamados os reservatórios naturais d'água) no interior pernambucano.
Ela e o marido, o também paleontólogo Tito Aureliano, são responsáveis pelo Colecionadoresaprendendo a jogar roletaOssos, umaprendendo a jogar roletavários canais do YouTube surgidos nos últimos anos e que fazem sucesso explorando um filão da divulgaçãoaprendendo a jogar roletaconhecimentos científicos. Um tema contra-intuitivo no mundo virtual, supostamente dominado por conteúdo banal ou apelativo.
É possível encontrar uma boa lista dos principais canaisaprendendo a jogar roletaciência do YouTube brasileiro no ScienceVlogs Brasil, uma página surgidaaprendendo a jogar roleta2015 e que funciona como um "seloaprendendo a jogar roletaqualidade" para os canais desta temática.

Crédito, André Shalders
O que acontece quando um pacote pipoca é colocadoaprendendo a jogar roletauma prensa hidráulica | YouTube/reprodução
Há conteúdos para todos os gostos. Nos canais, é possível aprender sobre assuntos tão diversos e complexos quanto cladística (um sistema adotado na biologia para classificar os seres vivos); o paradoxoaprendendo a jogar roletaFermi (sobre o contato com civilizações alienígenas); e buracos negros, entre outros.
Os canais científicos, no entanto, estão longeaprendendo a jogar roletaserem os mais populares do país (como oaprendendo a jogar roletaWhindersson Nunes, com 24,7 milhõesaprendendo a jogar roletainscritos).
Quem fala sobre o quê
Mas alguns atingem um público amplo. Entre os mais populares estão o Manual do Mundo (9,1 milhõesaprendendo a jogar roletainscritos), o Nerdologia (1,8 milhão) e o Canal do Pirula (598 mil). Este último é batizado com o apelido do biólogo e doutoraprendendo a jogar roletazoologia pela USP Paulo Miranda Nascimento, que construiuaprendendo a jogar roletaaudiência com vídeos longos sobre temas como evolução, meio ambiente, e religião.

O ScienceVlogs funciona como um "certificado" para os youtubersaprendendo a jogar roletaciência | imagem: YouTube / reprodução
Nos canais, é possível aprender sobre temas como astronomia e física (Space Today, Ciência Todo Dia, Primata Falante e o Ciência e Astronomia), biologia (Papoaprendendo a jogar roletaBiólogo e Biologia Total) e até robótica (no canal Peixe Babel, da mineira Camila Laranjeira).
A divulgação científica é bem forte no YouTube fora do Brasil. Para quem tem um bom entendimento da língua inglesa, vale a pena olhar canais como o Veritasium, o SciShow e o SmarterEveryDay.
Nicho e super-nicho
"O YouTube tem canaisaprendendo a jogar roletanicho, e tem osaprendendo a jogar roletasuper-nicho. O meu éaprendendo a jogar roletasuper-nicho. Tem maisaprendendo a jogar roletamil vídeos, e são todosaprendendo a jogar roletaastronomia", diz o geofísico e doutoraprendendo a jogar roletageociências Sérgio Sacani, 42, do canal SpaceToday, dedicado à astronomia.
Segundo ele, a maioria dos inscritos do canal éaprendendo a jogar roletajovens adultos, e não necessariamente crianças.
"Por exemplo, se eu postar um vídeo hoje às duas da tarde, ninguém assiste. O pessoal que acompanha o meu canal já sabe que eu posto geralmente à noite, e é um público mais velho. É um público que trabalha. Então, durante o dia, eles não estãoaprendendo a jogar roletacasa para assistir vídeo", diz. Antesaprendendo a jogar roletacriar um canalaprendendo a jogar roletaYouTube, Sérgio mantinha um blog com o mesmo nome. Uma parte dos seguidores "migrou" para a plataformaaprendendo a jogar roletavídeos, diz Sacani, cujo trabalho "oficial" é com engenhariaaprendendo a jogar roletapetróleo.

O engenheiroaprendendo a jogar roletapetróleo e youtuber Sérgio Sacani | foto: André Shalders
O público também é mais velho no canal da paleontóloga Aline Ghirardi. A maior faixaaprendendo a jogar roletaespectadores temaprendendo a jogar roleta24 a 35 anosaprendendo a jogar roletaidade, segundo ela.
"O YouTube pede para postarmos no começo da tarde, que é quando as crianças estão acessando o site. E hoje o maior público do YouTube éaprendendo a jogar roletacrianças. Mas não necessariamente isso funciona para a gente da divulgação científica", diz Pedro Loos, 21, responsável pelo canal Ciência Todo Dia, que tem 257 mil inscritos. Ele começou a gravar, editar e publicar os próprios materiais ainda muito jovem, com 14 anosaprendendo a jogar roletaidade. Naquela época, os envios eram sobre jogos eletrônicos.
Loos está concluindo o cursoaprendendo a jogar roletaFísica na Universidade Federalaprendendo a jogar roletaSanta Catarina (UFSC). Hoje, ele vive da renda gerada pelo canal e pretende manter o projeto depoisaprendendo a jogar roletaformado. Um dos vídeos mais populares do canal é sobre o paradoxoaprendendo a jogar roletaFermi, visto maisaprendendo a jogar roleta300 mil vezes.
Se o universo é tão antigo e vasto, é provável que existam várias civilizações alienígenas. Mas se é assim, porque é que nenhuma delas nunca fez contato conosco? Essa é a contradição batizadaaprendendo a jogar roletahomenagem ao físico Enrico Fermi (1901-1954), e que Loos aborda no vídeo.
aprendendo a jogar roleta Tecnologia e exatas
O designer Estevão Pessota, 29, costuma deixar a TV ligada no YouTube. O próprio mecanismoaprendendo a jogar roletasugestões do site cria uma "playlist" para ele com os últimos envios dos canaisaprendendo a jogar roletaciência e tecnologia nos quais está inscrito. Ele conta que um dos primeiros canais a chamar a atenção foi o PressTube (cujo clássico são os vídeosaprendendo a jogar roletaobjetos sendo destruídosaprendendo a jogar roletauma prensa hidráulica). Depois, migrou para sites com mais substância.

Estevão Pessota costuma assistir aos vídeos à noite, depois do trabalho | foto: André Shalders
Os canais "cabeçudos" não se resumem a páginasaprendendo a jogar roletaciências exatas, porém. O historiador e professor Davi Martins, por exemplo, usa o YouTube para acompanhar canais que tratamaprendendo a jogar roletapsicologia (como o do psicanalista lacaniano e professor da USP Christian Dunker) e, claro,aprendendo a jogar roletahistória (como o Leitura ObrigaHistória).
"Há muita crítica na academia a alguns canais como o Nerdologia (que também trataaprendendo a jogar roletaHistória). Mas os próprios acadêmicos da área raramente se propõem a fazer algo desse tipo", diz Martins.
"Sempre teve demanda, é só um novo meio"
Para o biólogo Paulo Jubilut, 37, não é correto dizer que o público brasileiro estava "carente"aprendendo a jogar roletaconteúdos científicos. "Na realidade as pessoas já consumiam isto. Tinham acesso à divulgação científica por meioaprendendo a jogar roletajornais, revistas, TV. O que a internet fez foi criar uma nova formaaprendendo a jogar roletaacesso. As pessoas são curiosas por natureza. Quem descobrir uma formaaprendendo a jogar roletaatingir essa curiosidade vai fazer sucesso", diz ele.
Até 2011, Jubilut dava aulasaprendendo a jogar roletaBiologiaaprendendo a jogar roletaum cursinhoaprendendo a jogar roletaSanta Catarina, onde mora. Acabou demitido depoisaprendendo a jogar roleta"brigar com uns alunos bagunceiros", segundo diz. Hoje, é responsável por uma página no Facebook que tem 3,3 milhõesaprendendo a jogar roletacurtidas. O canal no YouTube está com 1,1 milhãoaprendendo a jogar roletainscritos.

O ex-professoraprendendo a jogar roletacursinhos Paulo Jubilut ensinando no YouTube | imagem: YouTube - reprodução
"Me tornei um produtoraprendendo a jogar roletaconteúdoaprendendo a jogar roletaBiologia. Hoje são 25 pessoas trabalhando no escritório", conta ele, que oferece videoaulas da disciplina e também presta consultoria para empresas. Embora o canal não se restrinja ao conteúdo didático, Jubilut recebeu recentemente o selo do YouTube Educação (ou YouTubeEdu). Trata-seaprendendo a jogar roletauma espécieaprendendo a jogar roleta"certificado" que o site fornece para alguns produtoresaprendendo a jogar roletaconteúdos educativos.
aprendendo a jogar roleta Da prensaaprendendo a jogar roletaGutenberg a Carl Sagan
Se você era criança na décadaaprendendo a jogar roleta1990, é possível que se lembre do programa O Mundoaprendendo a jogar roletaBeakman, que foi exibido no Brasil pela primeira vezaprendendo a jogar roleta1994 a 2002, pela TV Cultura. Na geração anterior, o astrônomo Carl Sagan fez sucesso com a série Cosmos. Co-produzida pela BBC, a série foi exibida no Brasil pela Rede Globo,aprendendo a jogar roleta1982. O ator Sílvio Navas dublava a vozaprendendo a jogar roletaSagan na versão brasileira.
Mas a história da divulgação científica é muito mais antiga: foi ainda nos séculos 16 e 17 que os cientistas começaram a abandonar o latim (a língua "oficial" da ciência da época) e passaram a publicar livrosaprendendo a jogar roletalínguas vernáculas (como inglês, italiano ou espanhol), que alcançavam um público mais amplo.
Considerado um dos pais do método científico, o astrônomo Galileu Galilei (1564-1642) foi também um dos primeiros a escrever um livroaprendendo a jogar roletaciência para leigos. A obra foi redigidaaprendendo a jogar roletaitaliano e utilizava diálogos entre personagens para facilitar o entendimento.

Galileu Galilei (1564-1642) foi um dos primeiros a escrever livrosaprendendo a jogar roletaciência para o público leigo | imagem: National Maritime Museum - reprodução
Na décadaaprendendo a jogar roleta1740 o editor inglês John Newbery (1713-1767) já comercializava livrosaprendendo a jogar roletadivulgação científica voltados para crianças e adolescentes. Um deles chegou a vender 30 mil cópias, uma quantidade muito expressiva para a época.






