Como epidemia acabou com vilarejo no interior1xbet apkSão Paulo :1xbet apk

Legenda do áudio, Como epidemia acabou com vilarejo no interior1xbet apkSão Paulo

"Como aconteceu1xbet apkoutros lugares do Brasil, o trem possibilitou que regiões fossem habitadas. Foi o que também aconteceu no (distrito de) Japurá. A partir da criação da estação ferroviária imigrantes e brasileiros1xbet apkoutras regiões do país foram chegando e povoando o local1xbet apkbusca1xbet apktrabalho", conta Gabriella Teodoro Coelho, pesquisadora e autora do estudo Japurá, do progresso ao arruinamento, produzido1xbet apkparceria com Janaina Andrea Cucato.

Crédito, Luiz Carlos Martins

Legenda da foto, Igreja construída no Japurá foi palco1xbet apkmissas e quermesses no século 20

Às margens do rio São Domingos, no noroeste do Estado1xbet apkSão Paulo, Japurá foi crescendo e no seu auge, na década1xbet apk1930 chegou a ter aproximadamente três mil moradores, segundo Geraldo Bellinelo, jornalista e autor do documentário Japurá, o povo que virou açúcar.

"A criação da estação1xbet apkJapurá se deu também para aliviar paradas ferroviárias anteriores no trajeto, como a1xbet apkCatiguá, criada1xbet apk1910. Como elas não estavam dando conta1xbet apkarmazenar a quantidade1xbet apkcafé e cereais que estava sendo produzida na região, se viu necessário criar uma nova estação ferroviária e pela localização estratégica escolheram o Japurá", apontou o pesquisador histórico.

Registros apontam que, na década1xbet apk1920, o distrito tinha escola, igreja, cadeia pública, açougues e farmácias.

Entretanto, por estar ao redor1xbet apkuma área1xbet apkmata e próxima1xbet apkrio, no final da década1xbet apk1920, Japurá passou a ser alvo dos mosquitos transmissores da malária e febre amarela.

Com restrito acesso a serviços1xbet apksaúde, falta1xbet apkconhecimento científico sobre as doenças e sem saneamento básico, a epidemia1xbet apkpoucos meses se alastrou pela região.

"Para se curar das doenças as pessoas faziam remédios caseiros ou tinham que enfrentar horas1xbet apkcarroça para chegar a um médico. Além disso, não havia um tratamento correto para os sintomas. Tudo contribuiu para que as doenças se disseminassem com rapidez pelo local e fizessem inúmeras vítimas", ressalta Bellinelo.

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Para piorar a situação,1xbet apk1929, a Quebra da Bolsa1xbet apkValores1xbet apkNova York, desvalorizou também a principal fonte1xbet apkrenda dos moradores da região: o café.

Com a falta generalizada1xbet apkdinheiro, muitos produtores rurais não estavam mais conseguindo escoar a produção; e com a epidemia1xbet apkmalária e febre amarela, a situação do Japurá somente piorou.

"No ápice da epidemia,1xbet apkmédia,1xbet apkdoze a quinze pessoas eram enterradas por dia no Japurá. O medo era tão grande que muitas famílias enterravam os familiares e,1xbet apkseguida, iam embora do local temendo ser contaminados", conta Bellinelo.

Até mesmo quem morava nos arredores tinha receio1xbet apkir ao Japurá. "O medo era tão grande que alguns trabalhadores das estações ferroviárias da região quando não respeitavam os superiores eram ameaçados1xbet apkserem mandados para o Japurá. Ninguém queria ir, pois as pessoas tinham medo1xbet apkmorrer ao serem contaminadas", disse Gabriella.

Marcos Boulos, médico infectologista e professor sênior da Faculdade1xbet apkMedicina da Universidade1xbet apkSão Paulo (USP), ressalta que, na primeira metade do século 20, por conta1xbet apkboa parte do Estado1xbet apkSão Paulo ser coberto por florestas, várias regiões enfrentaram epidemias1xbet apkmalária.

"Até a Segunda Guerra Mundial, não havia tratamento para a malária. Sem contar, que era muito difícil o cadastramento dos casos. Por isso, assim como o Japurá, tivemos muitas regiões1xbet apkSão Paulo com centenas1xbet apkcasos da doença. Hoje, os registros que temos ficam concentrados mais na região da Amazônia", explicou.

Crédito, Gabriella Coelho

Legenda da foto, Estação ferroviária abandonada1xbet apkJapurá (SP), construída1xbet apk1911

O fim da estação ferroviária

Outro fator que contribuiu para o local virar uma espécie1xbet apk'cidade fantasma' ocorreu na década1xbet apk1950, quando o trem parou1xbet apkpassar pela estação ferroviária1xbet apkJapurá.

"A mesma linha férrea que foi a grande responsável pelo surgimento do Japurá,1xbet apk1911, foi também a que praticamente 'assinou' o seu fim,1xbet apk1951, quando a companhia paulista desviou os trilhos para um quilômetro e meio1xbet apkdistância do Japurá", aponta Gabriella.

Sem o trem e com uma população bem menor a história do Japurá foi se apagando. "Ficou um estigma muito forte sobre a região e pouca gente queria ir para lá, mesmo depois que as doenças estavam controladas", disse Geraldo.

Atualmente, nenhum morador dos tempos áureos da região vive no local. A última moradora Ana Idalina Braz, popularmente conhecida como 'dona Petita', que durante mais1xbet apknove décadas viveu no Japurá — mesmo depois1xbet apkter visto muita gente morrer1xbet apkmalária ou ir embora com medo — morreu,1xbet apk2021.

Sua casa,1xbet apkfrente à estação ferroviária1xbet apkruínas, deve ser transformada1xbet apkum museu,1xbet apkacordo com a diretora1xbet apkcultura1xbet apkTabapuã, Carla Prado.

"Estamos querendo decretar o distrito1xbet apkJapurá como patrimônio histórico cultural. No caso da casa da 'dona Petita', temos o desejo1xbet apktransformar aquilo1xbet apkuma espécie1xbet apkmuseu. Ela foi a última moradora do local. É uma história que fica e deve ser preservada", diz Prado.

Crédito, Gabriella Coelho

Legenda da foto, Interior da estação ferroviária abandonada do Japurá

Ex-moradores guardam memórias

Ex-morador do Japurá, Benedito Alves1xbet apkLima, 78 anos, lembra bem do fim da vila. Na década1xbet apk1950, quando nem mesmo o trem passava e menos1xbet apk200 pessoas viviam no local, ele se mudou com a família para a área. "A gente se mudou porque a malária estava controlada. Mas praticamente tudo tinha acabado", disse ele.

Para Alves1xbet apkLima, o que ficou foram as memórias. "Atualmente, moro1xbet apkTabapuã, município do qual o Japurá é distrito. Mas não tem como esquecer1xbet apklá. O Japurá quase foi uma cidade, mas a maleita acabou com tudo", diz o aposentado.

A esposa, Iraci Ferreguti1xbet apkLima, 77 anos, que também frequentou o Japurá após a epidemia1xbet apkmalária, conta que, entre 1950 e 1960, os moradores que ainda viviam no local até tentaram preservar as memórias do Japurá. "Ainda tinha baile, missa, mas com o tempo tudo foi acabando. O medo falou mais alto."

Quem também não se esquece do local é o produtor rural Carlos Alberto Corrêa Ornelas, 66 anos. "Apesar1xbet apknão ter nascido lá, eu vivi na região e lembro bem das histórias do meu pai. Depois, com mais idade, fui procurar informação sobre o local e encontrei registros históricos mostrando que no ápice da malária,1xbet apk37 alunos1xbet apkuma sala1xbet apkaula, 31 foram contaminados. Para piorar, além da falta1xbet apkassistência médica, tudo era muito precário, as campanhas para erradicar a maleita do local não eram contínuas, o que contribuiu para o fim."

Crédito, Rone Carvalho

Legenda da foto, Benedito Alves1xbet apkLima, 78 anos, morou no Japurá na década1xbet apk1950, após a epidemia1xbet apkmalária

As doenças que acabaram com o Japurá

A falta1xbet apkdocumentos históricos é um dos grandes entraves para que o Estado1xbet apkSão Paulo consiga mensurar quantas pessoas morreram1xbet apkmalária e febre amarela, entre 1930 e 1940, no Japurá (SP).

Isso porque foi apenas a partir da segunda metade do século 20 que municípios brasileiros passaram a contabilizar as doenças que ocorriam no país.

"Estimamos que durante a primeira metade do século 20 tivemos milhões1xbet apkcasos1xbet apkmalária no Estado1xbet apkSão Paulo, mas não temos um número oficial", apontou Marcos Boulos, professor sênior da Faculdade1xbet apkMedicina da Universidade1xbet apkSão Paulo (USP).

Segundo Boulos, no caso da malária — doença febril, transmitida pela picada dos mosquitos Anopheles (mosquito-prego) infectados pelo Plasmodium, um parasita —, a última grande epidemia ocorreu na década1xbet apk1990, quando o Brasil chegou a contabilizar 700 mil casos da doença durante um ano.

"No Brasil, a principal forma da malária é a vivax, mais branda, que oferece pouco risco1xbet apkmorte, ao contrário da forma mais comum nos países africanos. Além disso, por aqui, 99% dos casos são registrados na Amazônia", ressaltou.

Já a febre amarela que também fez vítimas no Japurá consiste1xbet apkuma doença infecciosa febril aguda, transmitida por mosquitos vetores, com dois ciclos1xbet apktransmissão: silvestre (quando há transmissão1xbet apkárea rural ou1xbet apkfloresta) e urbano. 

Crédito, Luiz Carlos Martins

Legenda da foto, Cadeia construída no Japurá no início do século 20

Como a transmissão urbana da febre amarela somente é possível através da picada1xbet apkmosquitos Aedes aegypti, a prevenção da doença deve ser feita evitando1xbet apkdisseminação. No ciclo silvestre,1xbet apkáreas florestais, o vetor da febre amarela é principalmente o mosquito Haemagogus.

De acordo com a Fiocruz, a infecção ocorre quando uma pessoa que nunca tenha contraído a febre amarela ou tomado a vacina contra ela circula1xbet apkáreas florestais e é picada por um mosquito infectado. Ao contrair a doença, a pessoa pode se tornar fonte1xbet apkinfecção para o Aedes aegypti no meio urbano. Além do homem, a infecção pelo vírus também pode acometer os macacos.

"O que pode ter contribuído muito também para essa epidemia no Japurá foi a própria derrubada da mata para construção da estrada1xbet apkferro e1xbet apkresidências a partir do crescimento da população. Você tirou o vetor do seu habitat natural, o que possibilitou a disseminação das doenças,1xbet apkuma época que não havia tratamento", defendeu Marcos Boulos.