O choqueapostar vencedor copa do mundoempobrecimentoapostar vencedor copa do mundopróspero vale gaúcho: 'Terras que valiam milhões não valem mais nada' :apostar vencedor copa do mundo

"Dois anos atrás, meu pai vendeu uma parte das nossas terras. Foram avaliadasapostar vencedor copa do mundoR$ 1,7 milhão por hectare. No ano passado, depois das enchentesapostar vencedor copa do mundosetembro, valiam R$ 237 mil. Hoje, não têm valor nenhum", disse Márcia à BBC News Brasil.

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O relato reflete um efeito observado pela reportagem da BBC News Brasilapostar vencedor copa do mundotodo o Estado do Rio Grande do Sul, mas com particular incidência sobre o Vale do Taquari: o choqueapostar vencedor copa do mundoempobrecimentoapostar vencedor copa do mundomilharesapostar vencedor copa do mundofamíliasapostar vencedor copa do mundouma região considerada próspera e que ostenta bons índices econômicos e sociais.

Moradores e especialistas apontam que esse fenômeno já pode ser sentido tanto pela queda no valorapostar vencedor copa do mundopequenas fazendas ou imóveis residenciais quanto pela perdaapostar vencedor copa do mundobens acumulados ao longoapostar vencedor copa do mundotoda uma vida.

Habitantes da região temem que a sucessãoapostar vencedor copa do mundoenchentes que vem afetando o vale há alguns anos faça com que empresas busquem áreas mais seguras para se instalarem e, com isso, levem embora empregos e riqueza.

Prosperidade e risco

O Vale do Taquari é uma região composta por 36 municípios ao norte da capital gaúcha, Porto Alegre, que têm reunidos 361 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiroapostar vencedor copa do mundoGeografia e Estatística (IBGE).

Antes da chegada dos europeus, o vale era habitado por povos indígenas, principalmente pela etnia guarani.

Após o processoapostar vencedor copa do mundocolonização, passou a ser ocupado por portugueses, espanhóis e africanos escravizados. A partirapostar vencedor copa do mundo1850, a região recebeu imigrantes alemães e italianos.

O rio Taquari, que dá nome à região, corta uma cadeiaapostar vencedor copa do mundomorros geologicamente antigos. Às suas margens, ele cria um vale fértil usado para agricultura e onde se situam a maioria das suas cidades.

Segundo o geógrafo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guilherme Garciaapostar vencedor copa do mundoOliveira, a economia da região é baseada na agricultura, na indústriaapostar vencedor copa do mundoprocessamentoapostar vencedor copa do mundoalimentos e no setorapostar vencedor copa do mundoserviços.

"Comparada a outras áreas do Estado, é uma região próspera. Algumas cidades têm ótimos indicadores sociais, e, na média, há uma baixa desigualdade social", diz Oliveira.

A maior cidade da região é Lajeado, com 93 mil habitantes, quase um terço do total dos moradores do vale.

O município tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capitaapostar vencedor copa do mundoR$ 65 mil — 85% maior que a média nacional, que,apostar vencedor copa do mundo2021, foiapostar vencedor copa do mundoR$ 35 mil.

O PIB per capita é a divisãoapostar vencedor copa do mundotoda a riqueza produzida dividida pelo total da população.

As escolas públicas são relativamente boas e têm indicadores superiores à média nacional.

O Índiceapostar vencedor copa do mundoDesenvolvimento da Educação Básica (Ideb)apostar vencedor copa do mundo2021 nos anos escolares iniciais da rede públicaapostar vencedor copa do mundoLajeado foi 6,3 enquanto a média brasileira foiapostar vencedor copa do mundo5,5.

Mas a mesma geografia que ajudou a trazer relativa prosperidade ao Vale do Taquari também vem representando riscos.

O rio Taquari recebe a água das chuvas que cai nas encostas dos morros. Quando as chuvas são volumosas, o nível do rio sobe rapidamente. Com a ocupação acelerada das suas margens, enchentes vêm causando estragos à população.

Essa localização peculiar fez com que a região fosse uma das mais afetadas pelas inundações deste ano.

Cidades como Estrela chegaram a ter 75%apostar vencedor copa do mundoseu território submerso. Para piorar, a região já havia sido alvoapostar vencedor copa do mundoduas outras enchentes severas no ano passado,apostar vencedor copa do mundosetembro e novembro.

Indicadores desse impacto são a quantidadeapostar vencedor copa do mundomortes e desaparecidos causados pelas inundações.

A região tem apenas 3% da população gaúcha,apostar vencedor copa do mundoacordo com o IBGE, mas 19,5% das mortes registradas pelas enchentesapostar vencedor copa do mundo2024 até agora ocorreram no Vale do Taquari, segundo a Defesa Civil estadual. Dos desaparecidos, 44% são da região.

A pobreza instantânea

A professora Márcia Engster não foi a única a perceber que, do dia para a noite,apostar vencedor copa do mundofamília havia ficado mais pobre.

Para a vendedora Márcia Almeida, o impacto foi ainda mais severo. Ela contou à BBC News Brasil que a casa onde vivia no bairro Moinhos,apostar vencedor copa do mundoEstrela, com doisapostar vencedor copa do mundoseus três filhos foi completamente destruída.

Com os abrigos também enfrentando chuva, ela montou uma barracaapostar vencedor copa do mundolona na calçadaapostar vencedor copa do mundouma avenida da cidade para se refugiar.

Há duas semanas, quando conversou com a reportagem da BBC News Brasil, ela relatava como as inundações desvalorizaram o patrimônioapostar vencedor copa do mundosua família.

"Minha mãe tem 65 anos. Ela tem uma escrituraapostar vencedor copa do mundocinco terrenos no bairro Moinhos. Ela olha para a escritura e só chora porque aquilo não vale nada", disse ela, às lágrimas.

"Acredito que eles valiam R$ 300 mil ou R$ 400 mil há um tempo. Hoje, se eu for lá te mostrar e pedir R$ 100, não vale", afirmou.

O economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Giovanni Baggio, diz que a desvalorização imobiliária é apenas um dos fenômenos com os quais os moradoresapostar vencedor copa do mundoregiões como o Vale do Taquari terão que lidar nos próximos anos.

"Essa desvalorização está ocorrendo. Se uma pessoa decidir migrar e vender seus terrenos ou suas casas, o preço que ela vai conseguir neste momento é muito menor do que aquele que ela conseguiria dois anos atrás", diz Baggio à BBC News Brasil.

Baggio afirma que as enchentes dos últimos meses e a perspectivaapostar vencedor copa do mundovulnerabilidade da região a novos eventos climáticos extremos poderá gerar um empobrecimento local.

Segundo ele, o temorapostar vencedor copa do mundonovas tragédias pode levar a uma fugaapostar vencedor copa do mundoempresas e indústrias para áreas mais seguras do Estado. Com isso, haveria uma espécieapostar vencedor copa do mundoefeito dominó.

"Conversei com alguns empresários que já relataram a intençãoapostar vencedor copa do mundobuscar novas localidades", disse Baggio.

"Com menos empresas, haverá menos arrecadação e menos dinheiro circulando nas cidades. As pessoas vão acabar procurando oportunidadesapostar vencedor copa do mundooutras regiões. Isso pode levar a um empobrecimento da região."

É esse efeito dominó que o empresário Pedro Henrique Bonatto,apostar vencedor copa do mundo65 anos, teme.

Ele moraapostar vencedor copa do mundoLajeado e tem uma empresa que vende e conserta balanças desde 1999. Na região, mantém uma clientela cativa formada por mercados e indústrias.

Bonatto diz à BBC News Brasil que os negócios já haviam recuperado o mesmo patamar pré-pandemiaapostar vencedor copa do mundocovid-19 e que as perspectivas para o futuro eram boas. Até que as inundações vieram.

Ele tem um prédioapostar vencedor copa do mundotrês andares onde mora eapostar vencedor copa do mundoque funcionaapostar vencedor copa do mundoempresa. Foi o único que ficouapostar vencedor copa do mundopé após a enxurrada: "Nessa quadra, só (restou) eu".

As águas danificaram balançasapostar vencedor copa do mundoclientes, equipamentosapostar vencedor copa do mundomanutenção, estoques inteiramente novos e as instalações da empresa.

O prejuízo preliminar é avaliado por eleapostar vencedor copa do mundoR$ 100 mil. Bonatto diz temer que os eventos climáticos extremos que vêm afetando a região possam levar ao empobrecimento do Vale do Taquari.

"Passando por três enchentes, há clientes que vão desistir do mercado. E esses clientes têm dívidas com a gente. Nós temos bastante capital empregado. Há uma parte do mercado que não vai mais existir", diz o empresário.

"Esse é um medo que eu tenho e ele é concreto porque muita gente já desistiu."

Giovanni Baggio, da Fiergs, acredita que isso pode, sim, se tornar uma realidade.

"Com menos população e menos empresas, as pessoas que ficarem por lá tenderão a viverapostar vencedor copa do mundouma região com uma dinâmica econômica mais lenta e isso pode elevar os níveisapostar vencedor copa do mundopobreza", afirma o economista.

O professor Guilherme Garcia afirma que os impactos econômicos das inundações já podem ser sentidosapostar vencedor copa do mundocidades do Vale do Taquari.

"Do pontoapostar vencedor copa do mundovista do empobrecimento, a tendência éapostar vencedor copa do mundoque, pelo menos no curto prazo, isso terá um impacto severo", explica.

"No campo, muitas famílias perderam a produção leiteira,apostar vencedor copa do mundoarroz, milho e outras culturas. Isso afeta diretamente a indústriaapostar vencedor copa do mundoalimentos que é abastecida por essa produção. Uma coisa afeta a outra."

O que esperar do futuro

Garcia afirma que, apesarapostar vencedor copa do mundohaver uma tendênciaapostar vencedor copa do mundoempobrecimento da região, a intensidade com a qual isso pode acontecer é incerta.

"Não diria que este é um processo sem volta", diz o pesquisador.

"Com certeza, este evento terá impacto no PIB, mas não creio que será suficiente para mudar a região inteira do patamarapostar vencedor copa do mundodesenvolvimento humanoapostar vencedor copa do mundoque ela está hoje."

Segundo ele, o futuro da região vai depender das medidas que serão tomadas pelas autoridades envolvidas na reconstrução do Rio Grande do Sul.

O governo federal afirmouapostar vencedor copa do mundonota à reportagem que "tem atuado diuturnamente para viabilizar recursos para o Estadoapostar vencedor copa do mundodiversas frentes, sejaapostar vencedor copa do mundoinvestimento direto, recursos para açõesapostar vencedor copa do mundosocorro e assistência às vítimas, medidas para impulsionar linhasapostar vencedor copa do mundocrédito, antecipaçãoapostar vencedor copa do mundobenefícios, suspensãoapostar vencedor copa do mundopagamentoapostar vencedor copa do mundodívidas, linhasapostar vencedor copa do mundocrédito para empresas, entre outras, que ultrapassam R$ 79 bilhões".

Em nota, o governo do Rio Grande do Sul disse que ainda está mapeando os custos da reconstrução do Estado.

"O governo do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria da Reconstrução Gaúcha, está mapeando os custos das ações e projetosapostar vencedor copa do mundoreconstrução do Estado. No momento, não há um valor total estimado. Há uma sérieapostar vencedor copa do mundofrentesapostar vencedor copa do mundoapuração, inclusive relacionadas a situaçõesapostar vencedor copa do mundoque ainda não houve recuo da água para permitir uma mensuração mais precisa", disse um trecho da nota.

A nota disse ainda que apenas com a reconstruçãoapostar vencedor copa do mundopontes e rodoviasapostar vencedor copa do mundoforma resiliente são estimados R$ 9,9 bilhões.

"É preciso ver o montanteapostar vencedor copa do mundorecursos que será destinado à reconstrução das cadeias produtivas do Vale do Taquari. Também é preciso saber como os projetosapostar vencedor copa do mundoadaptação desses municípios às mudanças no clima vão acontecer", diz Garcia.

"Se o trabalhoapostar vencedor copa do mundoreconstrução for bem executado, o empobrecimento da região não deverá ser tão forte quantoapostar vencedor copa do mundooutras regiões."

Garcia aponta outro fator que o faz acreditar que o empobrecimento do Vale do Taquari pode não se tornar uma realidade inexorável. "O povo da região é muito resiliente", disse o pesquisador.

"Em março deste ano, visitei o Vale do Taquari. Fazia pouco maisapostar vencedor copa do mundoseis meses das grandes enchentesapostar vencedor copa do mundosetembroapostar vencedor copa do mundo2023. Em muitos locais, a recuperação das áreas havia sido tão bem feita que era impossível notar que elas haviam sido atingidas por um evento daquela dimensão. Muita gente vai resistir."

É o caso do empresário Pedro Bonatto. Ele diz que, apesarapostar vencedor copa do mundotodo o prejuízo, não considera abandonar Lajeado.

"No meu íntimo, eu não aceito (se mudar). Acho que dá para dar a volta por cima", afirma.

"Deus me ajudou, e eu vou conseguir. Meus vizinhos praticamente não existem mais. Meu sentimento éapostar vencedor copa do mundogratidão."