'Tenha fé', 'Seja guerreiro' e outras frases para não dizer a quem está com uma doença grave:betesporte quem e o dono

Homem visitando mulherbetesporte quem e o donohospital

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Algumas falas ditas a quem está com uma doença grave podem afetar o bem-estar do paciente, dizem especialistas

A seguir, pacientes e especialistasbetesporte quem e o donocuidados paliativos ou luto ouvidos pela BBC News Brasil explicam por que esses comentários podem ser danosos — e como é possível dar apoio e acolhimento numa situação dessas.

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'Meu amigo teve essa mesma doença' ou 'E eu, que sofri com…'

A médica Ana Claudia Quintana Arantes, que se especializoubetesporte quem e o donotemas relacionados ao envelhecimento, aos cuidados paliativos e à morte, tem o hábitobetesporte quem e o donovisitar os pacientesbetesporte quem e o donohorários menos convencionais — ou, como ela mesmo define, "em horários impróprios".

"Faço isso porque gostobetesporte quem e o donoentrarbetesporte quem e o donocontato com os profissionaisbetesporte quem e o donoenfermagembetesporte quem e o donotodos os períodos, bem como com as visitas que estão no quarto", diz ela.

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Arantes é autora dos livros A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver e Histórias Lindasbetesporte quem e o donoMorrer, lançados pela Editora Sextante.

"Nesses momentos, a gente se depara com as mais diversas situações. Há sempre aquele paciente que está cansado, abatido, teve um dia difícil, com notícias ruins, e tem aquela visita que chega tarde e não vai embora nunca."

"Quanto mais grave a doença ou mais jovem o paciente, maiores são as chancesbetesporte quem e o donoele ouvir coisas absolutamente desnecessárias e inadequadas", diz.

Arantes conta a históriabetesporte quem e o donouma paciente com câncer grave e que recebeu uma visita nada agradável.

"O horáriobetesporte quem e o donovisitas terminava às 22h e a amiga dela chegou às 21h40. Entrou no quarto sem bater e logo disse: 'Ah, você não sabe, acabeibetesporte quem e o donovir do pilates. Nossa, a aula foi tão puxada… Pelo menos estou fortalecendo os meus músculos e tenho muito mais disposição pra fazer minha pós-graduação'."

"A visitante nem perguntou se a amiga estava bem e não sabia falarbetesporte quem e o donooutra coisa que não fosse dela própria", diz a médica.

Ao saber do pedidobetesporte quem e o donoentrevista da BBC News Brasil, Arantes perguntou a alguns pacientes que ela acompanha quais são as frases que geram maior incômodo neles.

Além da faltabetesporte quem e o donosensibilidade citada no exemplo anterior, alguns indivíduos mencionaram que são bombardeados com comparações descabidas.

"'Nossa, você quebrou o fêmur? E eu, que já fraturei os doisbetesporte quem e o donouma só vez?'; 'Ah, você tem diabetes? E minha mãe, que tem diabetes, colesterol alto e hipertensão?'; 'Caramba, você acaboubetesporte quem e o donofazer cirurgia na vesícula? Tenho um conhecido que precisou operar a vesícula, a amígdala, a tireoide e o apêndice'", exemplifica a médica.

As comparações, diz ela, "não chegam a invalidar a experiência do outro, mas mostram como quem está falando essas coisas não olha para o amigo ou familiar doente."

"Não importa quantos ossos você quebrou. O que importa naquele momento é a dor daquela pessoa, não se alguém que você conhece passou por uma experiência pior ou melhor", argumenta ela.

Arantes também desencoraja o usobetesporte quem e o donoexemplos e histórias similares, independentemente do final que elas tiveram.

"Quando eu estava grávida, tive pressão alta. Daí pessoas próximas vieram me contarbetesporte quem e o donocasosbetesporte quem e o donogestantes com o mesmo quadro que morreram, perderam o bebê, tiveram um AVC…"

"Para que isso? Você já está numa condição delicada e ouvir histórias assim não ajudabetesporte quem e o dononada."

O médico Rodrigo Castilho, presidente da Academia Nacionalbetesporte quem e o donoCuidados Paliativos, também avalia que trazer histórias semelhantes ou fazer comparações do tipo não trazem quaisquer benefícios.

"A gente não pode comparar. Cada ser humano é único e deve ser tratado como tal."

'Tenha fé' ou 'Pense positivo'

Mulher com Bíblia na frentebetesporte quem e o donocama do hospital

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Impor uma nova fé a alguém que está com uma doença grave representa um 'sequestro espiritual', diz médica

Outro ponto sensível nessas relações com indivíduos diagnosticados com doenças graves envolve a religião — ou ainda o que alguns podem chamarbetesporte quem e o donouma certa positividade tóxica.

Não raro, durante visitasbetesporte quem e o donohospitais ou mesmobetesporte quem e o donoconversas pelo telefone, as pessoas fazem comentários baseados apenas nas próprias crenças — sem se preocupar com a fé do outro, apontam os especialistas.

Ao ser questionado sobre o assunto, Castilho se lembrabetesporte quem e o donouma história que testemunhou num hospital.

"Um líder espiritual muito bem intencionado chegou para um paciente, que estava frágil, e perguntou se poderia fazer uma oração. Daí ele impôs as mãos e começou a dizerbetesporte quem e o donovoz alta que Deus iria libertar, tirar todo mal e fazer o sujeito levantar da cama. Terminada a reza, ele simplesmente foi embora."

"Logo depois, fui conversar com esse paciente. Perguntei se estava bem e o que estava sentindo. Ele me respondeu que só pedia a Deus para que fosse embora sem sofrimento."

Para o médico, exemplos como esse mostram uma faltabetesporte quem e o donosintonia. Afinal, o líder religioso queria trazer algo positivo, um valor que ele considerava importante para aquele momento. No entanto, nesse exemplo, a pessoa que era alvo das rezas ansiava por algo completamente diferente.

A médica Tânia Maria Alves, coordenadora do Ambulatóriobetesporte quem e o donoLuto do Institutobetesporte quem e o donoPsiquiatria do Hospital das Clínicasbetesporte quem e o donoSão Paulo, entende que o costumebetesporte quem e o donofalarbetesporte quem e o donoreligião num contexto desses tem a ver com incertezas que abalam todos os lados dessas relações.

"Estar diante da morte é algo que traz muitas incertezas: quando ela vai ocorrer? O que acontece depois? O que serábetesporte quem e o donomim?", lista a psiquiatra. "São questões muito angustiantes. E uma forma que temosbetesporte quem e o donolidar com elas é a religião. Cada sistemabetesporte quem e o donocrenças e doutrinas monta um corpobetesporte quem e o donorespostas sobre o que são vida e morte."

"Então esses comentários são tentativasbetesporte quem e o donoresponder às angústias existenciais, para as quais não temos respostas definitivas", complementa.

Arantes classifica a imposiçãobetesporte quem e o donocrenças e doutrinas a um paciente com uma doença grave como um "sequestro espiritual".

"Isso é uma violência sem precedentes. Dizer coisas como 'tenha fé', 'pense positivo' ou 'aceite determinada figura religiosa no seu coração' traz uma percepçãobetesporte quem e o donoque aquela pessoa é insuficiente e atravessa uma situação difícil por culpa própria ou faltabetesporte quem e o donouma conexão com o espiritual", afirma.

A médica sugere que, caso você queira transmitir algobetesporte quem e o donosua espiritualidade para alguém querido que está numa situaçãobetesporte quem e o donoameaça à vida, procure fazer por contra própria, no particular, sem necessariamente falar disso para o resto do mundo.

"E, claro, você pode perguntar para o paciente se a religião é algo importante para ele. Daí, se houver abertura, é possível questionar se há alguma oração ou ritual que a pessoa se identifique e que gostariabetesporte quem e o donodizer ou fazerbetesporte quem e o donocompanhia."

"Essa é uma maneira respeitosabetesporte quem e o donose aproximar da dimensão da espiritualidade do outro", emenda ela.

'Você é um guerreiro' ou 'Vai vencer essa luta/batalha'

O usobetesporte quem e o donotermos bélicos e militares é algo muito frequente na horabetesporte quem e o donofalarmos sobre doenças graves.

É o caso, por exemplo, da "luta contra o câncer", "do paciente que venceu a batalha contra as sequelas do AVC" ou "dos guerreiros que lidam diariamente com a esclerose múltipla".

As fontes ouvidas pela BBC News Brasil avaliam que essas frases não fazem sentido no contexto da saúde — e na maioria das vezes, segundo eles, não estão alinhadas com as expectativas dos pacientes.

"Esses termos podem não estarbetesporte quem e o donosintonia com o momentobetesporte quem e o donovida ou os valores daquela pessoa e vão ser prejudiciais", diz Castilho.

Seguindo essa lógica, um indivíduo que se curou do câncer — e, portanto, "venceu a guerra" — é celebrado como um vitorioso.

Mas como fica a situaçãobetesporte quem e o donoquem morreubetesporte quem e o donodecorrência dessa enfermidade? Não parece justo considerar essa pessoa como uma "perdedora" ou "derrotada"...

Quando algum paciente ouve frases do tipo, Arantes tem a resposta na ponta da língua.

"Costumo sugerir que eles digam: 'Olha, precisobetesporte quem e o donopaz para atravessar essa fase. Eu não luto, não sou treinado para isso. Estou apenas vivendo. A guerra não é uma coisa boa para ninguém. Nem para mim, nem para o câncer. O que preciso agora é buscar uma maneirabetesporte quem e o donoconviver com o tumor, para que ele fique quietinho, sem me incomodar'", diz.

Mulher beijando homem deitado com máscarabetesporte quem e o donorespiração

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Legenda da foto, Termos bélicos estãobetesporte quem e o donodescompasso com anseios da maioria dos pacientes, dizem profissionaisbetesporte quem e o donosaúde

'Por que você não tenta esse outro tratamento?'

A comunicadora Giulia Gamba tem esclerose múltipla — uma condição que afeta a comunicação entre o cérebro e o corpo — e é diretora executiva da Crônicos do Dia a Dia — uma associação que reúne indivíduos com doenças crônicas.

Ela conta que pacientes são bombardeados com indicaçõesbetesporte quem e o donotratamentos vindos das mais variadas fontes.

"O que tentamos fazer nessas situações é adotar uma abordagem que não afasta quem faz a sugestão, mas, ao mesmo tempo, mostra a importânciabetesporte quem e o donoseguir uma medicina baseadabetesporte quem e o donoevidências", pondera ela.

"Temos diversos gruposbetesporte quem e o donoWhatsApp com pacientes e fazemos uma moderação acirrada, pois as pessoas sempre compartilham dicas e terapias que não são necessariamente as mais indicadas."

Arantes observa que as sugestõesbetesporte quem e o donotratamento alternativos englobam coisas antigas — e supostamente "naturais" — até as tecnologias avançadas — que não necessariamente estão indicadas.

"Os pacientes recebem dicas que vão desde garrafadas, pílulas e óleos feitosbetesporte quem e o donoplantas até aparelhosbetesporte quem e o donoressonância bioenergética que só estão disponíveis na Áustria", exemplifica.

Arantes diz: "Sempre lembro aos meus pacientes que tudo com potencialbetesporte quem e o donocura também possui um potencialbetesporte quem e o donotoxicidade. Além disso, esses outros tratamentos podem interagir com as medicações convencionais e afetar o funcionamentobetesporte quem e o donoórgãos."

"Outra coisa importante: os médicos conhecem os tratamentos que prescrevem e sabem como lidar com os possíveis efeitos colaterais decorrentes da prescrição que fazem", diz. "Já abetesporte quem e o donovizinha oubetesporte quem e o donotia geralmente não têm ideia do que fazer caso o tratamento que elas indicaram gere alguma complicação."

'Nossa, mas nem parece que você está doente…'

Gamba ainda lembra que nem toda doença tem sinais aparentes. Ao contar que tem esclerose múltipla, ela já ouviu: "Nossa, mas você parece tão normal…"

"Muitas pessoas entendem que alguém com esclerose múltipla, diabetes, dermatite atópica ou câncer deve se colocar num determinado lugar ou se encaixarbetesporte quem e o donocertas características", observa ela. "É como se a nossa condição viesse à frentebetesporte quem e o donoqualquer outra característica."

A diretora-executiva da CDD destaca que, no caso da esclerose múltipla, cercabetesporte quem e o dono80% dos pacientes convivem com a fadiga — um incômodo que na maioria das vezes não é tão aparente para quem está do ladobetesporte quem e o donofora.

"E muita gente relativiza esses sintomas, como se eles não fossem reais", diz Gamba.

Mulher e menina visitando homembetesporte quem e o donohospital

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Legenda da foto, Médicos sugerem que pacientes, amigos e familiares conversem sobre morte

'Não falebetesporte quem e o donomorte, isso atrai coisa ruim'

É inevitável que pessoas com doenças graves reflitam sobre o fim da vida — algo que pode incomodar quem estábetesporte quem e o donooutra situação.

"Quando o paciente chega nos momentos finais, é importante que ele comunique se gostariabetesporte quem e o donoter acesso a recursos para prolongar a vida ou não, onde deseja morrer, o que quer falar para as pessoas mais próximas…", destaca Alves.

Castilho diz que "nossa sociedade ainda associa a morte com uma derrota, um fracasso".

"Todos nós sabemos que,betesporte quem e o donodeterminado momento da vida, vai aparecer uma doença irreversível e progressiva. Esse é um processo natural, que acontece com 85% da população", calcula o médico. Os outros 15% morrembetesporte quem e o donoforma súbita.

Para o médico, é importante que, com a aproximação dessa fatídica despedida, os desejos da pessoa que vai partir estejam alinhadas com as expectativasbetesporte quem e o donotodos que a cercam.

"Se a morte fosse um fracasso, todos os nossos antepassados teriam falhado", diz. "Ainda vemos a morte como algo pornográfico, que precisa ser escondido. Não levamos crianças aos velórios. Ao falarbetesporte quem e o donomorte, algumas pessoas batem na madeira para espantar o azar. Precisamos mudar issobetesporte quem e o dononossa sociedade."

O que fazer (ou dizer) nessas situações?

Se existem certas frases que devem ser evitadas num contexto desses, os especialistas também apontam algumas outras coisas que podem significar um alento importante.

Os entrevistados pela BBC News Brasil foram unânimesbetesporte quem e o donoafirmar a necessidadebetesporte quem e o donofazer uma escuta ativa.

"A pessoa precisa ouvirbetesporte quem e o donofato para entender quais as reais necessidades que o amigo ou o familiar tem", diz Gamba. "Muitas vezes, há uma busca por adivinhar o que o paciente precisa. Mas seria muito mais fácil perguntar diretamente para ele."

Castilho concorda: "Nesses momentos, não basta ter simpatia. É preciso desenvolver a empatia, se colocar no lugar do outro e estar disponível para ouvir".

Arantes destaca que esse apoio pode ser prático, ao auxiliar nas tarefas que ficaram para trás com uma internação, um procedimento ou uma rotina repletabetesporte quem e o donoexames.

"Não adianta dizer coisas como 'conta comigo' ou 'se precisar, é só me ligar'. Você pode propor uma ajuda real, segundo as necessidades da pessoa", sugere.

"É o casobetesporte quem e o donofazer uma compra no supermercado, resolver coisas na farmácia, passar na padaria, dar caronas, jogar água nas plantas, preparar uma refeição para a família, levar o cachorro para passear…", complementa a médica.

Segundo a especialista, ser propositivo é a melhor maneirabetesporte quem e o donodemonstrar suporte a quem está com uma doença grave.

"Se você não consegue encontrar um tempo para ajudar uma pessoa que ama e que estábetesporte quem e o donoapuros, há algo muito errado combetesporte quem e o donoagenda, combetesporte quem e o donovida ou combetesporte quem e o donocapacidadebetesporte quem e o donodefinir prioridades", conclui.