Empresários do mercado imobiliário são metade dos 50 maiores doadores das campanhas municipais:cbet gg1
A análise da BBC News Brasil revela, no entanto, um setor recorrente. Sócioscbet gg1empresas que fazem gestão e administração imobiliária, compra e vendacbet gg1imóveis, aluguelcbet gg1imóveis e incorporaçãocbet gg1empreendimentos imobiliários responderam por R$ 45,3 milhões — ou 68,6% do totalcbet gg1doações.
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O levantamento, feito a partircbet gg1dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), considerou os casoscbet gg1que esses doadores figuram como sócios diretos das empresas. Na análise, a BBC News Brasil cruzou os CPFs (identificação pessoal) dos doadores com os CNPJs (identificação empresarial) ligado a eles.
Depois, a reportagem classificou a empresas dos doadores conforme as áreascbet gg1atuação descritas na Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE). Em diversos casos, um mesmo doador possui empreendimentoscbet gg1maiscbet gg1um setor.
Pela dificuldadecbet gg1rastreabilidade, o levantamento só considerou sócios, e não analisou doadores que figuram como administradores ou diretorescbet gg1empresas.
Para especialistas consultados pela BBC News Brasil, ao doar para campanhas políticas os empresários buscam abrir diálogo com o poder público, o que não é uma prática ilegal.
Os analistas apontam, no entanto, que deveria haver mais transparência na forma que os empresários exercem influência sobre políticos, já que a atividadecbet gg1lobby, ou o atocbet gg1tentar convencer autoridades atender seus pleitos, ainda não é regulamentada no país.
Procurada, a assessoria da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) disse que não comentaria o tema, já que a entidade representa as empresas do setor, e as doações foram feitas por pessoas físicas.
A CBIC disse ainda que "defende relações transparentes com o poder público, assim como o cumprimentocbet gg1todas as legislações vigentes".
Vários doadores procurados pela reportagem não quiseram comentar, mas alguns nomes ouvidos pela BBC News Brasil afirmaram que, com as doações, desejam ampliar a influência nos debates que correm nas câmaras municipais e repercutemcbet gg1seus negócios.
“É muito importante que a gente tenha representantes lá que pensem como crescer o Riocbet gg1Janeiro e o mercado imobiliário", afirmou à reportagem Rogerio Chor, dono da TGB Imóveis, empresa do setor que doou meio milhãocbet gg1reais a candidaturas cariocas.
Doações são repassadas tanto à direita como à esquerda
O maior valor da listacbet gg1doações foi desembolsado pelo agrobilionário Rubens Ometto, dono e presidente do conselho da Cosan, um conglomerado com negócios nas áreascbet gg1açúcar, álcool, energia, lubrificantes, e logística.
Ometto também tem empresas no setor, como a Aguassanta Desenvolvimento Imobiliários, que tem capital socialcbet gg1R$ 491 milhões. Por meio da assessoria da Cosan, ele disse que não comentaria sobre as doações.
Entre os maiores doadores do setor imobiliário, estão os empresários Wilsoncbet gg1Almeida Júnior e Eduardo Robson Rainericbet gg1Almeida, ambos sócios da construtora Pacaembu.
A empresa, que se descreve como “a maior construtoracbet gg1casas residenciais no Brasil”, atua exclusivamentecbet gg1projetos do Minha Casa Minha Vidacbet gg1cidades do interior do país.
Juntos, os dois doaram R$ 2,4 milhões nestas eleições. Wilson, fundador da empresa, desembolsou R$ 1,5 milhão. Já Eduardo, que é presidente do Conselhocbet gg1Administração da empresa, R$ 935 mil.
O dinheiro foi distribuído entre diretórios estaduais e municipaiscbet gg1cidades do Paraná, Mato Grosso e São Paulo, locais onde a empresa atua ou planeja expandir seus negócios. Wilson também doou ao diretório nacional do PSD e do PDT.
Em nota à BBC News Brasil, a assessoriacbet gg1imprensa afirmou que as doações realizadas pelos acionistas da companhia sãocbet gg1caráter pessoal.
"A direção da companhia não tem conhecimento dos critérios adotados pelos acionistas."
No levantamento dos maiores doadores do mercado imobiliário, também se destaca o paulistano Antonio Setin, dono da Setin Incorporadora.
Ele doou ao todo R$ 1,2 milhão nestas eleições: R$ 1 milhão à direção nacional do PSD,cbet gg1Gilberto Kassab, e R$ 200 mil para patrocinar a reeleiçãocbet gg1Ricardo Nunes (MDB), apoiado por Kassab.
Setin também fez duas doações menores para candidatos a vereadores, que somam R$ 15 mil — Adilson Amadeu (União) e Ramalho da Construção (PSB) ficaram na suplência para a Câmaracbet gg1São Paulo.
Já o baiano Alcebiadescbet gg1Queiroz Barata Filho, diretor da Patrimonial Coqueiro Grande, empresacbet gg1gestão e administraçãocbet gg1propriedade imobiliária, e sócio da More Blue Empreendimentos Imobiliários, doou R$ 2,15 milhões.
Barata Filho distribuiu R$ 2,15 milhões entre 15 beneficiárioscbet gg1diferentes correntes ideológicas.
Entre eles, Renato Ogawa (PP), reeleito prefeitocbet gg1Barcarena (PA) e que recebeu R$ 250 mil do empresário; Igor Normando (MDB), que foi ao segundo turnocbet gg1Belém e recebeu R$ 200 mil; Andrei Silva (MDB), que também recebeu R$ 200 mil e eleito prefeitocbet gg1Juazeiro (BA); e R$ 100 mil a Luna Zaratinni, eleita vereadora mais votada do PTcbet gg1São Paulo.
A Setin disse BBC News Brasil que não se pronunciaria sobre as doações. A assessoria da empresa, que também responde pelo empresário, afirmou que não vai comentar o assunto. Barata também Filho foi procurado pela reportagem, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
Influência na política das cidades
O carioca Rogério Chor, fundador da empresa TGB Imóveis, que atua no mercado imobiliário com compra, venda, aluguel e administraçãocbet gg1imóveis, distribuiu R$ 590 mil nestas eleiçõescbet gg1doações diversas, entre elas, para a direção estadual do PSD no Riocbet gg1Janeiro e o candidato Marcelo Queiroz (PP), que não foi eleito. Além disso, ele patrocinou outras 13 candidaturas à Câmara Municipal do Rio.
À BBC News Brasil, ele explicou que participa das eleições municipais porque a ligação da construção civil é muito forte com os municípios.
Ele cita como exemplo a aprovação do plano diretor, lei que regulamenta o desenvolvimento urbano da cidade, e o projeto Reviver Centro, planocbet gg1recuperação urbanística da região central do Rio, ambos aprovados na Câmara do Rio no último ano.
Os projetos estabelecem regras para o uso e ocupação do solo, regrascbet gg1zoneamento, e incentivos para construçãocbet gg1moradias na região central.
“É muito importante que a gente tenha representantes lá que pensem como crescer o Riocbet gg1Janeiro e o mercado imobiliário", afirma Chor.
"Se você tem lá vereadores que entendem o assunto, que querem incentivar o Rio, que querem desenvolver e incentivar a construção, o negócio anda."
O empresário diz que o objetivo das doações "é eleger uma Câmaracbet gg1vereadorescbet gg1boa qualidade".
"Ajudamos quem tem conhecimento, boa intenção e boa qualidade para aprovar os projetos que sejam bons para a cidade”, diz.
“Muitos perguntam: o que vocês ganham com isso? A gente não tem vantagens, quando você melhora alguma coisa [para o setor], quem ganha é o dono do terreno, não a construção civil. A gente não ganha nada.”
Nadia Somekh, professora emérita da Faculdadecbet gg1Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie e ex-presidente do Conselhocbet gg1Arquitetura e Urbanismo do Brasil, diz que as doações são uma maneiracbet gg1exercer influência e que o peso do setor imobiliário na política municipal é histórico.
“Principalmente a partir do Plano Diretorcbet gg11991, tivemos um diálogo muito importante com o setor imobiliário, que sempre interferiu na legislação”, diz a pesquisadora.
“A doação abre um diálogo com os representantes municipais. Eles compõem comissõescbet gg1política urbana, e isso,cbet gg1certa forma, é legítimo. Mas a legislação tem cada vez mais se voltado para o interesse do setor imobiliário, e não para o interesse público”, critica.
Em suas pesquisas, Somekh cunhou o termo "urbanismo corporativo" para descrever este fenômeno, principalmentecbet gg1São Paulo.
“O urbanismo tem se concentradocbet gg1construir coisas novas para gerar lucro ao setor imobiliário. Isso é legítimo, mas o que poderia ser feito para contrabalançar isso são as audiências públicas, que hoje são simbólicas.”
Top 3 é dominado pelo agro
Embora o mercado imobiliário seja o setor mais presente, os três principais doadorescbet gg1campanhas deste ano são empresários que cresceram no agronegócio.
Rubens Ometto, o maior doador deste ano, lidera o ranking pela quarta eleição consecutiva.
Neste ano, o empresáriocbet gg174 anos dividiu o valor entre 199 beneficiários — candidatos a prefeitos, vereadorescbet gg1diversos municípios da região Sul a Nordeste do país, alémcbet gg1diretórios municipais, estaduais e nacionaiscbet gg1diferentes partidos, especialmente do centrão, como PSD e MDB.
O valor mais alto doado pelo empresário da Cosan foi enviado a Fuad Noman (PSD), candidato à reeleiçãocbet gg1Belo Horizonte, para quem Ometto doou R$ 2 milhões.
Crítico do governocbet gg1Lula Inácio Lula da Silva (PT), Ometto afirmou que o Palácio do Planalto adota uma estratégia que “desrespeita” o espírito das leis aprovadas pelo Congresso.
“Do jeito que está, com o governo querendo meter a mão, querendo taxar tudo, não dá”, declarou no Fórum Anual do Grupo Esfera,cbet gg1junho deste ano.
Depoiscbet gg1Ometto, a lista é seguida por José Ricardo Rezek,cbet gg172 anos, sócio do Grupo RZK, formado na décadacbet gg11980 e com atividades da agropecuária à energia. O grupo tem um braço no mercado imobiliário com a RZK Empreendimentos.
As doaçõescbet gg1Rezek somam R$ 4,9 milhões. Entre os 50 beneficiárioscbet gg1seus repasses, estão o diretório nacional do MDB, a direção estadual do PSDcbet gg1São Paulo e o diretório municipal do PTcbet gg1Araraquara.
A assessoria do empresário afirmou que todas as doações políticas realizadas por ele foram efetuadas "em conformidade com a legislação vigente,cbet gg1forma transparente e devidamente declarada".
Já Odílio Balbinotti Filho, o terceiro da lista, doou R$ 3,8 milhões que ele distribuiucbet gg1candidaturas no Mato Grosso, principalmentecbet gg1Rondonópolis.
O empresário é filho do ex-deputado federal Odílio Balbinotti. Filho preside o Grupo Atto, que engloba diversas empresas da família que atuam no agronegócio, inclusive a Atto Agrícola, responsável pela maior produçãocbet gg1sementescbet gg1soja do Brasil.
Procurado pela BBC News Brasil, Balbinotti disse que não se pronunciaria sobre as doações.
Do CNPJ para o CPF
No Brasil, o financiamento empresarialcbet gg1campanhas foi proibidocbet gg12015, após o Supremo Tribunal Federal considerar a prática inconstitucional.
Naquele momento, o país ainda se recuperava do impacto do escândalo do mensalão, relembra Denise Goulart, especialistacbet gg1direito eleitoral e membro do Núcleocbet gg1Inteligência da Justiça Eleitoral.
Ela destaca que, na época, foram identificadas interferências empresariais ilícitas, como esquemascbet gg1caixa doiscbet gg1campanhas eleitorais, o que reforçou a decisãocbet gg1proibir essas doações.
“Mas somos um paíscbet gg1memória muito curta. Passamos justamente a disciplinar a possibilidadecbet gg1financiamento empresarial para partidos políticos e campanhas eleitorais depois do escândalocbet gg1PC Farias”, diz a especialista,cbet gg1referência ao escândalocbet gg11992 que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
Com o fim do financiamento empresarial na década passada, as doações privadas voltaram a ser restritas.
As empresas foram proibidascbet gg1doar para campanhas eleitorais e partidos políticos, enquanto as doaçõescbet gg1pessoas físicas passaram a ter um tetocbet gg110% dos rendimentos do ano anterior.
No entanto, Goulart afirma que as empresas continuam a patrocinar candidatos por meiocbet gg1seus sócios.
“É uma ilusão achar que as empresas deixariamcbet gg1financiar imediatamente a política nacional”, diz.
Ela argumenta que o financiamento empresarial ainda acontececbet gg1maneira indireta, embora na legalidade, já que a pessoa física do dono não se confunde juridicamente com a empresa.
Casoscbet gg1financiamento ilegal, como o usocbet gg1um esquema ilegalcbet gg1contabilidade paralela, mais conhecido como caixa dois, ou doações indiretas feitas por funcionárioscbet gg1uma empresa, ainda são uma preocupação.
Goulart ressalta que é preciso verificar se os recursos realmente vêm das pessoas físicas ou, na verdade, da própria empresa.
“Quando muitos funcionárioscbet gg1uma empresa fazem doações para o mesmo candidato, isso deveria, no mínimo, levantar suspeitas”, observa.
Ela também alerta que o fim do financiamento empresarial dificultou a rastreabilidade das doações, ou seja, criou obstáculos para identificar se uma empresa específica está financiando uma campanha, na prática, ou não.
Para Goulart, a faltacbet gg1transparência nesse processo pode criar um cenário no qual o financiamento empresarial ainda existe, mascbet gg1forma mais opaca.
Legalização do lobby
Marina Atoji, diretoracbet gg1projetos da Transparência Brasil, afirma não ser possível afirmar com total certeza que as doações empresariais foram integralmente assumidas por empresários.
Segundo ela, a proibição do financiamento privado surgiu com a intençãocbet gg1reduzir o caixa dois. “Mas isso foi uma noção no mínimo muito inocente”, afirma, já que a prática continua existindo, diz a especialista.
Atoji destaca que o fim do financiamento empresarial diminuiu os conflitoscbet gg1interesse e a cooptaçãocbet gg1candidaturas por empresários e empresas.
Mas isso não eliminou esses problemas completamente, diz Atoji, e trouxe novos desafios, como o aumento da demanda “insaciável” por recursos públicos para campanhas para compensar supostas perdas com as restrições impostas.
Ela também aponta ser um problema a faltacbet gg1transparência no uso do fundo partidário, abastecido com dinheiro público, especialmente na distribuição feita pelos partidos internamente.
Segundo Atoji, o fim do financiamento empresarial gerou uma diluição da conexão entre candidatos e setores específicos da economia, mas ainda resta a dúvida se o problema foi resolvido ou apenas mitigado.
O procuradorcbet gg1Justiçacbet gg1São Paulo, Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, concorda que as doações empresariais continuam, mascbet gg1forma “disfarçada”.
Ele argumenta que a proibiçãocbet gg1doações via CNPJ, enquanto se permite o usocbet gg1CPF, cria a impressãocbet gg1bloqueio, mas, na prática, as doações podem ser pulverizadas entre várias pessoas.
Para Livianu, uma solução seria a regulamentação do lobby no Brasil, o que traria mais transparência nas relações entre empresas e políticos.
“A solução passa por um sistemacbet gg1financiamento mais equilibrado, com regras claras e fiscalização efetiva”, afirma o procurador.
Atoji também apoia a regulamentação do lobby, mas ressalta ser fundamental uma implementação clara destas regras como, por exemplo, classificar quem pode representar interesses e quais os limites.
Ela menciona que o decreto que regulamenta a Leicbet gg1Conflitocbet gg1Interesses exige a publicação da agendacbet gg1autoridades, mas a implementação ainda é falha, o que prejudica a transparência.
Para Atoji, a regulamentação do lobby traria mais clareza e igualdade nas relações com o poder público.
“Se um grande doadorcbet gg1campanha se encontrou várias vezes com um político antes da aprovaçãocbet gg1algo que o beneficia diretamente, isso precisa ser rastreável. A doaçãocbet gg1si nem seria o problema, mas é importante conseguir mapear o que acontece depois.”