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O que a medicina ocidental pode aprender sobre usobwin com plpsicodélicos por povos indígenas para saúde mental:bwin com pl
Psicodélicos como MDMA, LSD, psilocibina (outro composto encontradobwin com plcogumelos alucinógenos) e cetamina têm ganhado atenção no mundo ocidental como uma forma possívelbwin com plenfrentar as crescentes crisesbwin com plsaúde mental.
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Os seus proponentes vêem alguns compostos psicodélicos como uma nova classe potencialbwin com pltratamentosbwin com plgrande sucesso para perturbações psiquiátricas, como ansiedade, depressão e abusobwin com plsubstâncias, entre outros.
Pensa-se que os compostos podem ajudar a alterar a perspectiva dos indivíduos com as chamadas “doenças do desespero”, incluindo suicídio, overdosebwin com pldrogas e abusobwin com plálcool,bwin com plconjunto com a terapia da fala. No entanto, estes tratamentos também foram criticados como exagerados e potencialmente prejudiciais.
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À medida que este campo emergente da medicina se desenvolve – e não sem muitas reviravoltas no caminho – descobertas como a bolsa do xamã nos Andes bolivianos lançam luz sobre o papel que os psicodélicos desempenharam nas sociedades antigas. (Leia mais sobre como nossos ancestrais lidaram com o trauma)
No entanto, entre essas culturas, os psicodélicos eram percebidosbwin com plmaneiras muito diferentes. Yuria Celidwen, acadêmica sênior da Universidade da Califórnia, Berkeley (EUA), diz que o termo “psicodélico” ébwin com plgrande parte uma construção ocidental moderna.
As comunidades indígenasbwin com pltodo o Sul Global incorporaram estas drogas nas suas vidas durante séculos, referindo-se a elas como medicamentos espirituais.
“A crença no Ocidente é que eles são usados para tratar distúrbiosbwin com plsaúde mental”, diz Celidwen, ela própriabwin com plascendência indígena Nahua e Maia, e que pretende usar abwin com plpesquisa para recuperar, revitalizar e transmitir a sabedoria indígena. “Mas o uso indígena não envolve apenas rituais e cerimônias, mas práticas cotidianas. Por exemplo, se algobwin com plvalor fosse perdido, a comunidade buscaria o curandeiro.”
Documentos históricos apontam,bwin com plfato, para a utilizaçãobwin com plsubstâncias psicoativas para fins curativos, mas este foi apenas um pequeno aspecto dabwin com plutilização.
Os medicamentos espirituais desempenharam um papel importante na construçãobwin com plligações dentro das comunidades, nos rituais sagrados, nos cuidados paliativos, na exploração da consciência, na facilitação da criatividade e do hedonismo.
Os registros mostram que os antigos gregos e romanos realizavam ritos sazonais envolvendo a ingestãobwin com pluma droga psicoativa chamada kykeon, que continha alucinógenos semelhantes ao LSD.
No entanto, Osiris Sinuhé González Romero, pesquisador do Centro para o Estudo das Religiões Mundiais da Universidadebwin com plHarvard (EUA), que documenta a história do conhecimento indígena, diz que o usobwin com plpsicodélicos remonta provavelmente a muito mais tempo na história da humanidade.
Os arqueólogos acreditam que o cogumelo psicoativo Amanita muscaria foi usado pela primeira vez na América algum tempo depois que os humanos cruzaram pela primeira vez o Estreitobwin com plBering, entre o leste da Rússia e o Alasca, durante a Idade do Gelo, há cercabwin com pl16.500 anos.
O cogumelo ainda é usado hoje pela comunidade indígena Ojibwa na região dos Grandes Lagos, entre o Canadá e os Estados Unidos.
“Sabemos que os cogumelos sagrados com propriedades psicoativas têm uma tradição antiga na Mesoamérica”, diz González Romero. "Há evidências disso na análisebwin com plpólen, escrita pictográfica, esculturasbwin com plcerâmicabwin com plestatuetas contendo cogumelos sagrados e até mesmo pedras esculpidasbwin com plformabwin com plcogumelo da civilização maia. Pensa-se que o uso dos cactos San Pedro e Peiote [ambos contêm a mescalina psicodélica] remonta a 8.600 AC no Peru e 14.000 AC no México.”
Segundo González Romero, um dos primeiros documentos escritos conhecidos que descrevem um ritual envolvendo cogumelos sagrados é o Codex Vindobonensis Mexicanus 1, um livro ilustrado criado pela antiga civilização Mixteca entre 1100 DC e 1521 DC.
Segundo os pesquisadores Maarten Jansen e Gabina Aurora Pérez Jiménez, que estudaram Arqueologia Mesoamericana e o Codex Vindobonensis Mexicanus 1, uma das representações apresenta o Deus do Vento carregando nas costas lagartos que seguram cogumelos, enquanto os participantes do ritual carregam cogumelosbwin com plsuas mãos.
O conhecimento dessas práticas começou a ser divulgadobwin com plforma mais ampla através dos escritosbwin com plum frade franciscano chamado Bernardinobwin com plSahagún, que passou décadas estudando e documentando as crenças, a cultura e a história dos astecas, após a colonização do México pela Espanha.
Albert Garcia-Romeu, professorbwin com plpsicodélicos e consciência na Faculdadebwin com plMedicina da Universidade Johns Hopkins (EUA), diz que De Sahagún descreveu rituais astecas envolvendo cogumelos contendo psilocibina na décadabwin com pl1520, seguidos pelo que os profissionais modernos podem chamarbwin com plterapiabwin com plgrupo.
“Ele [De Sahagún] escreveu que usavam estes cogumelosbwin com plcerimônias onde as pessoas dançavam, cantavam e choravam, e depois pela manhã falavam das suas visões”, diz Garcia-Romeu.
Mas Celidwen diz que para que a sociedade ocidental compreenda plenamente a razão pela qual as comunidades indígenas há muito valorizam estas cerimônias e mantêm estas substâncias com tal respeito, é necessário compreender os sistemasbwin com plcrenças muito diferentes para interagir e interpretar o mundo que as rodeia.
Há um interesse crescente na medicina ocidental pelo usobwin com plpsicodélicos como formabwin com plmudar a perspectiva com a ajuda da psicoterapia, ajudando as pessoas a processar traumas e alterando os padrõesbwin com plpensamento introspectivo que podem aparecerbwin com plcondições como ansiedade e depressão.
No entanto, Celidwen diz que embora o usobwin com plsubstâncias psicodélicas no Ocidente se concentre no indivíduo, grande parte do usobwin com plsubstâncias psicoativasbwin com plculturas antigas nas Américas e no Sul Global sempre se baseou na interação com os mundos natural e espiritual.
“Na maioria destas culturas tradicionais, não temos aquela sensaçãobwin com pldivisão entre o que é humano e o mundo natural”, diz Celidwen.
“Acreditamos que estamos sempre interagindo com a consciência viva e responsiva ao nosso redor, e quando usamos medicamentos espirituais, procuramos comunicação e restauração do equilíbrio com esse mundo. Portanto, o contexto nunca é o bem-estar individual ou a saúde mental, mas o bem-estar coletivo do meio ambiente como um todo”, diz ela.
Garcia-Romeu concorda, e diz que entre as comunidades indígenas da Colômbia, do Brasil e do México, as substâncias psicoativas são usadas para comunicar com os seus antepassados, aceder a outros domínios do ser e obter informações sobre o mundo que os rodeia.
Ao estudar documentos sobre a medicina asteca, González Romero descobriu que a música, especialmente a percussão, desempenha há muito tempo um papel nas cerimônias psicodélicas, uma vez que reflete a batida do coração e acredita-se que ajuda a chegar a um estadobwin com pltranse que pode facilitar a expressão criativa.
O especialista explica que embora comumente usemos a palavra “xamã” para descrever o praticante que lidera essas cerimônias, este é um conceito colonial. Em vez disso, o termo usado por algumas comunidades indígenas pode ser traduzido diretamente como “aquele que canta”.
“Alguns alcalóides presentesbwin com plpsicodélicosbwin com pluso clássico, como os cogumelos psilocibinos ou o LSA da planta Rivea corymbosa, têm propriedades psicodislépticas, o que significa que causam alucinações auditivas ou modificações nas percepções auditivas”, diz González Romero.
“Isso significa que mesmo que você não seja treinado, você é capazbwin com plcriar ou ouvir música que nunca foi tocada para ninguém no mundo antes. Talvez por causa disso, na visãobwin com plmundo asteca, os cogumelos eram vistos como estando relacionados com Xochipilli, o deus da canção, da música, da alegria, do prazer e da fertilidade", diz ele.
Essas percepções também se estendem à forma como as culturas indígenas viam os psicodélicos para a cura.
González Romero afirma que o ritual também poderia envolver jejum e restrição sexual para finsbwin com plpurificação, dependendo do que o praticante considerasse adequado para o paciente.
Alguns rituaisbwin com plcura não envolvem música, mas acontecembwin com plcompleto silêncio durante a noite, com animais domésticos como galos e cães presos para evitar perturbações.
Embora os psicodélicos pudessem ser usados para tratar qualquer coisa, desde a dor até a febre, a ênfase não estava tanto na curabwin com plum indivíduo, mas na restauração do equilíbrio da comunidadebwin com plgeral.
“O povo Wixarika falou sobre o cacto peiote sendo usado para trazer abwin com plcomunidadebwin com plvolta da anemia após uma grande ondabwin com plmalária que esgotou abwin com plpopulação ebwin com plsaúde há maisbwin com pl500 anos”, diz Ahau Samuel, do povo Chicimecabwin com plGuanajuato, México, que dirige o projetobwin com plfitoterapia Raiz dos Deuses.
González Romero diz que isso ocorre porque alguns surtosbwin com pldoenças foram percebidos como estando relacionados a transgressões dentro da comunidade, com os deuses punindo as pessoas espalhando doenças.
“Os rituais psicodélicos eram uma formabwin com plrecuperar a alma”, diz. “A etiologia dos medicamentos indígenas é muito diferente. Algumas doenças eram vistas como decorrentes da perdabwin com plequilíbrio entre o ser humano e a natureza, por exemplo, a faltabwin com plrespeito por parte dos caçadores que matam mais animais do que necessitam e exploram excessivamente a terra”, afirma.
Dada a longa história das substâncias psicodélicas na cultura indígena, muitas comunidades têm sentimentos contraditórios sobre o recente boom na pesquisa ocidental sobre substâncias psicodélicas, gerando uma indústria cuja estimativa é que valerá 7 bilhõesbwin com pldólares até 2027.
No ano passado, Celidwen e um grupobwin com ploutros pesquisadoresbwin com plorigem indígena escreveram um artigo onde levantaram preocupações sobre apropriação cultural, a exclusãobwin com plvozes e lideranças indígenas do campo psicodélico ocidental, e a faltabwin com plreconhecimentobwin com plque muitas destas substâncias são consideradasbwin com plvalor sagrado.
Os autores do estudo salientaram que, embora esta indústriabwin com plcrescimento se baseiebwin com plmedicamentos e práticas que foram extraídos e apropriados da cultura indígena, pouca da riqueza gerada por esta indústria multibilionária beneficia estas comunidades.
Os relatórios sugerem que, embora um lugar num retiro psicodélico organizado pelo Ocidente possa custar vários milharesbwin com pldólares, os praticantes indígenas ganham entre 2 dólares e 150 dólares por realizarem serviços semelhantes.
Outros, incluindo pesquisadores não indígenas, questionaram se os medicamentos psicodélicos podem atingir os seus objetivos declaradosbwin com plcombater as condiçõesbwin com plsaúde mental, sembwin com plalguma forma reconhecer o elemento espiritual e místico da experiência psicodélica.
Jules Evans, pesquisadorbwin com plpsicodélicos da Universidade Queen Marybwin com plLondres (Reino Unido), que dirige a organização sem fins lucrativos Challenging Psychedelic Experiences, explica que uma das razões pelas quais experiências adversas podem ocorrer é porque elas são estranhas à nossa cultura secular.
“Alguns povos indígenas americanos usam plantas psicodélicas há séculos”, diz Evans. "Eles têm mapas, guias, uma profunda familiaridade com estados alteradosbwin com plconsciência. As pessoas seculares,bwin com plgeral, não têm. Como resultado, as pessoas podem ficar perplexas com a experiência e confusas sobre como integrá-la numa visãobwin com plmundo materialista. Essa confusão existencial pode durar meses ou anos, e a pessoa que sai do outro lado pode ser muito diferente da pessoa anterior”, afirma.
Celidwen diz que uma das principais limitações da abordagem ocidental é que ela se concentrabwin com plsubstâncias psicodélicas como se fossem pílulas que podem ser patenteadas.
Ela diz que se podemos aprender alguma coisa com os muitos milharesbwin com planosbwin com plutilização entre culturas antigas, é que o verdadeiro poder dos psicodélicos reside nabwin com plcapacidadebwin com plencorajar laços entre pessoas e comunidades, como partebwin com pluma experiência coletiva.
“Não é a moléculabwin com plsi, é a constelação maiorbwin com plrelacionamentos criados que traz a cura”, diz Celidwen. “No Ocidente, muitas vezes observamos um picobwin com plbem-estar logo após a exposição inicial ao medicamento, mas não é sustentado porque não existe um contexto coletivo para a experiência alucinógena. E por causa disso, você corre o riscobwin com plcriar outro vício, porque as pessoas continuam voltando para ter a mesma sensaçãobwin com plmagia ou admiração”, diz ela.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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