'Desde pequena gostavaesporte da sorte deolaneviolência': a históriaesporte da sorte deolaneNishimura Mako, única mulher a conseguir entrar para a Yakuza:esporte da sorte deolane

Seu encontro com um jovem membro da Yakuza foi o pontoesporte da sorte deolanevirada emesporte da sorte deolanevida: fascinada pelo mundo do crime organizado, ela logo se envolveu nas atividades ilícitas da máfia.

A aparência frágilesporte da sorte deolaneNishimura contrastava comesporte da sorte deolaneinclinação para a violência: “Eu era muito boa lutando, nunca perdi para um homem”, confessou uma vez a Martina Baradel, pesquisadora da Universidadeesporte da sorte deolaneOxford, que ganhouesporte da sorte deolaneconfiança após anos estudando a Yakuzaesporte da sorte deolanedentro.

Seu histórico criminoso - que incluía desde espancamentosesporte da sorte deolanerivais até tráficoesporte da sorte deolanedrogas ouesporte da sorte deolanemulheres para prostituí-las - e seu caráter implacável abriram portas que até então estavam fechadas para mulheres.

A decadência da Yakuza nas últimas décadas e circunstâncias pessoais (ela é mãeesporte da sorte deolanedois filhos) levaram Nishimura a abandonar o submundo e dar início a uma vida comum.

Hoje ela gerencia uma instituiçãoesporte da sorte deolanecaridade que se dedica a ajudar outros ex-membros que, como ela, buscam se reinserir na sociedade.

Fascinada pela históriaesporte da sorte deolaneNishimura e da Yakuza, Martina Baradel (Trieste, Itália, 1988) teceu uma redeesporte da sorte deolanecontatos com personalidades do crime organizado do Japão.

Isto permitiu que ela construísse uma estreita amizade com Nishimura Mako, a quem visita frequentemente.

A BBC Mundo entrevistou a pesquisadora italiana horas depoisesporte da sorte deolaneela encontrar com a ex-membro da Yakuzaesporte da sorte deolaneGifu, 270 quilômetros a oesteesporte da sorte deolaneTóquio.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Como sabemos que Mako é a única mulher que pertenceu à Yakuza?

Martina Baradel - Se houvesse outra, ela seria conhecida. A polícia tem os registros dos membros da Yakuza. Muitas mulheres ajudaram ou apoiaram a máfiaesporte da sorte deolaneforma informal, mas não há ninguém como ela.

Foi por causa do chefe, que tomou a decisão inéditaesporte da sorte deolanetorná-la membro do grupo. E está provado que ela é um membroesporte da sorte deolanepleno direito, pois há fotosesporte da sorte deolanesua cerimôniaesporte da sorte deolanesakazuki, que simboliza a lealdade e o compromisso com a máfia japonesa.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Como você chegou até ela?

Baradel - Meu fascínio pela Yakuza começou na minha licenciatura, quando conheci por acaso membros da Yakuza numa praia no Japão. Esse encontro inicial me despertou um profundo interesse, que me motivou a dedicar minha carreira acadêmica ao estudo dessa instituição.

O grupo que estuda Yakuza é bem pequeno, então eu fui conhecendo todos eles,esporte da sorte deolanejornalistas a pesquisadores, e meu senpai (mentor) me disse que eu ia conhecer Nishimura e nos apresentou.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - E como foi o primeiro encontro?

Baradel - Havia um eventoesporte da sorte deolanecaridade para a reintegração e reabilitaçãoesporte da sorte deolaneex-presidiários e ela estava lá com as pessoas do seu grupo. Fomos jantar e depois ao karaokê. Ela não bebe, não fuma e mostrou-se cautelosa na primeira vez.

Depois fui vê-la novamente para conversar um pouco mais. Mais tarde continuei a conhecê-la e estabelecemos uma relação à medida que nos aprofundamosesporte da sorte deolanenossas conversas.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - O que levou Mako a entrar na Yakuza?

Baradel - Ela me confessou que desde muito pequena sentia paixão pela violência e gostava realmente das brigas. Começou saindo com ganguesesporte da sorte deolanemotociclistas e a ter encontros violentos com outras pessoas, algo que a fascinava.

E depois percebeu que tinha uma força incomum para aesporte da sorte deolanecomposição física, já que mede pouco maisesporte da sorte deolaneum metro e meio e pesa 45 kg.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Por que o mindinho dela foi amputado?

Baradel - Ele fez isso quando era bastante jovem, no inícioesporte da sorte deolanesua carreira, quando tinha cercaesporte da sorte deolane20 anos. Ela assumiu a responsabilidade por um problema que ocorreu. Drogas perdidas ou algo assim. E depois também pensou que combinaria bem com as tatuagens, pois são os dois símbolos mais visíveis da estética Yakuza.

Além disso, ela afirma que não sente dor e não se importouesporte da sorte deolaneamputar também o mindinho dos colegas que não queriam fazê-lo por conta própria. Sua habilidade no ritualesporte da sorte deolaneyubitsume, que consiste na amputação da falange final do dedo mindinho, valeu-lhe o apelidoesporte da sorte deolane"mestra do corteesporte da sorte deolanededos".

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Como ela interagia na sociedade japonesa fazendo parte da yakuza?

Baradel - Ela deixou a Yakuza pela primeira vez quando ficou grávida. Ela tinha uma formaçãoesporte da sorte deolanecuidadora e queria encontrar um emprego normal, mas a sociedade japonesa a rejeitou, principalmente por causaesporte da sorte deolanesuas tatuagens, que sugerem o pertencimento à máfia.

Ela sempre tentava escondê-las usando mangas compridas, mas no final seus colegas se deram conta, e ela foi demitidaesporte da sorte deolanedois trabalhos.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - E isso a fez voltar para a máfia?

Baradel - De fato. Ela estava muito chateada, porque tentava ser mãe, ter um bom emprego e deixar essa vida para trás, mas fechavam as portas a ela por ser diferente. Ela achava muito injusto, então se tornou ainda mais radical.

Foi aí que ela fez as tatuagens completas até as pontas dos dedos e se resignou àesporte da sorte deolanesorte. Antesesporte da sorte deolanevoltar, foi casada por um tempo com um membro da Yakuza que virou chefe, então ela também desempenhou o papelesporte da sorte deolaneesposa do chefe.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Já mais velha, ela abandonou definitivamente a máfia. É fácil deixar a Yakuza?

Baradel - Se o seu chefe concordar, talvez você tenha que pagar algo, ou às vezes até nada se o chefe achar ok que você vá embora. Há uma variedadeesporte da sorte deolanecircunstâncias, mas na maioria das vezes você pode sair sem muitos problemas.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - É surpreendente, tratando-seesporte da sorte deolaneuma máfia.

Baradel - Sim, é uma máfia, mas você realmente não tem muitos segredos para contar. A estrutura é conhecida e a polícia já sabe quem é o teu chefe, sabe o teu endereço e você pode se encontrar quem quiser.

Não é como, por exemplo, na Sicília, onde os mafiosos podiam ficar escondidos por 30 anos.

Além disso, aqueles que vão não denunciam o resto, pois é um comportamento desonroso para a Yakuza.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Como se comparam a Yakuza e os cartéis do crime organizado na Itália, América Latina e outros países?

Baradel - O que eles têmesporte da sorte deolanecomum é que eles oferecem proteção privada e têm um controle estabelecido sobre o território, o que permite a eles gerenciar mercados ilegais e legais.

A Yakuza tem uma dimensãoesporte da sorte deolanegovernança que pode manter ao longo do tempo, semelhante à máfia na Itália e na Rússia, oferecendo serviçosesporte da sorte deolaneresoluçãoesporte da sorte deolanedisputas e controlando os mercados para receber dinheiro proveniente da proteção.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Considerando que Nishimura é uma exceção, qual é normalmente o papel das mulheres na Yakuza?

Baradel - Geralmente é atravésesporte da sorte deolaneum relacionamento ou casamento. Embora não sejam membros oficialmente, elas geralmente fazem algum tipoesporte da sorte deolanetrabalho. Por exemplo, se você é a esposaesporte da sorte deolaneum chefe, você não pode se limitar a viver uma vidaesporte da sorte deolaneostentação, e espera-se que você faça a mediação entre o chefe e membros mais jovens.

E, claro, há também a exploração, porque a Yakuza opera no entretenimento noturno, na prostituição e nas indústrias do sexo e da pornografia. Ela (Nishimura Mako) também fez isso: comprou, vendeu e explorou mulheres.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - O que você aprendeu com os membros da Yakuza?

Baradel - Vejo que eles podem ter cometido alguns erros, é claro, porque estão fazendo atividades criminosas, mas não os vejo como pessoas ruins.

Eles simplesmente procuravam algo que não tinham. Muitos deles vêmesporte da sorte deolaneum ambiente sem muitas oportunidades. No Japão, se você não tem uma educação ou uma família que te apoie, é muito difícil conseguir um emprego e seguiresporte da sorte deolanefrente. Então, eu entendo que tentarão encontrar um sensoesporte da sorte deolanecomunidade e um propósitoesporte da sorte deolanealgo que não é legal.

E, para a maioria, é melhor fazer parte da Yakuza do queesporte da sorte deolaneuma gangue informal, porque a Yakuza tem algum controle sobre seus membros e também uma espécieesporte da sorte deolaneagenda ideológica.

esporte da sorte deolane BBC News Brasil - Você está pesquisando sobre a Yakuza há nove anos, misturando-se com eles. Isso não envolve alguns riscos?

Baradel - Não muitos. Os grupos criminosos que compõem a Yakuza na verdade não são ilegais, ao contrário da Itália com a máfia. No Japão não é ilegal fazer parteesporte da sorte deolaneum grupo Yakuza, por isso têm escritórios e são reconhecidos na sociedade.

Ao não ser nem invisível, nem ilegal, não é tão arriscado. Além disso, geralmente somos apresentados por uma terceira pessoa, o que implica a responsabilidade mútuaesporte da sorte deolanese comportar corretamente. E como sou estrangeira e mulher, isso joga a meu favor, pois seria muito ruim para eles se algo me acontecesse.