'Não quero ser chefe. Não vale a pena': os brasileiros que querem mais equilíbrio entre trabalho e vida pessoal:buraco online

“Eu me separeiburaco onlinedezembro do ano passado e minha filha fica comigo 100% do tempo, e acaba que eu tenho mais responsabilidade com ela”, diz Paula.

Ela chegou a essa conclusão depoisburaco onlinereceber propostasburaco onlinetrabalhoburaco onlineoutras agências e recusá-las para ter mais tempo livre com a filha.

“Eu sei queburaco onlineum cargoburaco onlinecoordenação eu posso ter que ficar mais tempo no trabalho. Muitas empresas pedem isso, porque acumula muita atividade”, diz.

“Hojeburaco onlinedia, prezo muito mais pela minha qualidadeburaco onlinevida e pela minha saúde. Posso ser a melhor dentro do meu cargo, mas não tendo uma posição altaburaco onlineliderança.”

Paula faz parteburaco onlineuma parcela relevante dos profissionais brasileiros que buscam cada vez mais um equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho e planejamburaco onlinecarreiraburaco onlineacordo com isso.

A pesquisa “Futuro do Trabalho 2024: onde estamos e para onde vamos”, da plataformaburaco onlineinteligência Futuros Possíveis com apoio do Grupo Boticário, ouviu 2.011 pessoas com maisburaco online16 anos e identificou que, embora 27% queiram ganhar mais e ter benefícios melhores nos próximos dois anos, só 10% ambicionam assumir cargosburaco onlinegestão.

Dentre os participantes, 20% disseram que gostariamburaco onlinetrabalhar menos horas e 12% disseram que querem ser promovidos para um novo cargo ou função, mas sem chefiar equipes — um desejo que foi especialmente pronunciado entre os participantes da chamada geração Z.

“Esses dados mostram uma quebraburaco onlineparadigma”, diz Angelica Mari, cofundadora da Futuros Possíveis e especialistaburaco onlineinovação e futuro.

“O que é ser bem-sucedido? Quando falamosburaco onlinecompetências que não são técnicas, como autonomia, criatividade e empatia, a trajetória profissionalburaco onlineuma pessoa, para ser bem sucedida, não necessariamente precisa estar relacionada a um cargoburaco onlinegestor ou diretor.”

A nova mentalidade profissional reflete não só a preocupação com flexibilidade e tempo livre, mas também uma reavaliação das prioridades na carreira, destaca Mari.

O salário ainda é o fator mais importante na horaburaco onlineavaliar um novo emprego, segundo a especialista.

Mas, na horaburaco onlinedecidir se vai aceitar uma proposta ou permanecerburaco onlineum cargo, a carga horária exigida e a autonomiaburaco onlineajustar o horárioburaco onlinetrabalhoburaco onlineacordo com as necessidades pessoais são fatores que têm cada vez mais importância.

Em resposta a isso, empresas têm tentado encurtar as jornadasburaco onlinecinco diasburaco onlinetrabalho por semana.

Enquanto isso, um contingente relevanteburaco onlinetrabalhadores está um passo atrás nessa busca por uma vida profissional menos exaustiva e quer acabar com o regimeburaco onlineseis diasburaco onlinetrabalho para umburaco onlinedescanso.

“Não é novidade que as pessoas estão esgotadas, depressivas e tendo burnout”, diz Rick Azevedo,buraco online30 anos, criador do movimento Vida Além do Trabalho. Ele fez uma petição no Congresso pelo fim desta escala, que ainda é padrãoburaco onlinemuitas indústrias e no varejo.

Rick argumenta ainda que não adianta investirburaco onlinecampanhasburaco onlinesaúde mental, se as escalas abusivas continuarem abusivas. “Se querem fazer algoburaco onlineprol do trabalhador, que eliminem a escala 6x1.”

O que pensa a geração Z

O desejoburaco onlineser promovido sem ter a responsabilidadeburaco onlineliderar uma equipe foi especialmente pronunciado na pesquisa da Futuros Possíveis entre os profissionais da chamada geração Z, que engloba pessoas com idades entre 16 a 29 anos, como é o casoburaco onlinePaula Oliveira.

Essa foi a faixa etária onde mais pessoas disseram que não pensamburaco onlineser chefes, 16% ao todo.

Em comparação, entre aqueles com maisburaco online50 anos, só 7% disseram querer a mesma coisa.

“A gente foi ensinado que somente o trabalho dignifica, mas não é a única coisa. Existe também o seu talento, o que você gostaburaco onlinefazer, isso faz parteburaco onlinequem você é. A geração Z traz muito desse discurso", diz Mari.

“Vem muito isso da geração anterior falar que quem é novo não é compromissado, mas isso não quer dizer que eles são descompromissados, eles estão abrindo novas rotas profissionais."

O foco desta geração não está apenas na busca por um emprego, masburaco onlineoportunidades que permitam usar ao máximo suas habilidades individuais e estejamburaco onlinesintonia com seus desejos.

“As novas gerações estão mais focadas neste aspecto e mais dispostas a deixar um emprego quando não existe essa compatibilidade”, diz Paul Ferreira, professorburaco onlineestratégia e liderança na Escolaburaco onlineAdministraçãoburaco onlineEmpresasburaco onlineSão Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP).

Para a geração Z, o sucesso não é apenas uma questãoburaco onlinealcançar determinadas posições hierárquicas. Mais do que isso, eles valorizam a clareza e a transparênciaburaco onlinerelação àburaco onlinetrajetória profissional.

“Eles desejam saber claramente como suas ações e esforços os levarão a determinadas posições no futuro, e quais benefícios isso trará”, diz Ferreira.

Além disso, segundo o professor, a geração Z demonstra uma mentalidade mais voltada para o curto prazo, preocupando-se principalmente comburaco onlinesatisfação imediata.

“Se comparado com a geração anterior, os millennials, que estavam dispostos a fazer uma sérieburaco onlinecoisas pensando lá na frente, a geração Z não está disposta a muitos sacrifíciosburaco onlineprolburaco onlineuma evoluçãoburaco onlinecarreira’”, afirma Ferreira.

“Isso faz uma diferença muito grande. Toda vez que houver uma possibilidadeburaco onlinemudança, esse profissional irá pensar “isso me faz mais feliz ou menos feliz’?””.

Mudanças no mercado

Uma das mudanças mais perceptíveis no mercadoburaco onlinereação às novas ambições e desejos dos profissionais é a adoçãoburaco onlinejornadas menores.

Algumas empresas começaram a testar a semanaburaco onlinequatro diasburaco onlinetrabalho, enquanto outras passaram a dispensar os funcionários mais cedo às sextas-feiras, a chamada short friday.

Ferreira diz, no entanto, que a adaptação mais comum no momento é oferecer uma flexibilidadeburaco onlinetrabalharburaco onlinecasa parcial ou integralmente.

“A escolha entre trabalho presencial, híbrido e remoto é direcionada a melhorar a produtividade por meioburaco onlineum melhor atendimento das preferências dos colaboradores”, explica o especialista, que acrescenta que a semanaburaco onlinetrabalho mais curta também visa o mesmo objetivo.

A psicóloga Victória Pasqual,buraco online25 anos, já tem uma escalaburaco onlinetrês diasburaco onlinetrabalho durante a semana, com uma jornadaburaco onlinedez horas por dia com uma pausaburaco onlineuma hora para o almoço.

Quando trabalhava antesburaco onlineuma ONG, cumprindo uma escala 5x2, com 40 horas semanais, ela diz que “não tinha tempo para nada”.

Agora funcionáriaburaco onlineuma instituição pública do Rioburaco onlineJaneiro na áreaburaco onlinesaúde mental, Victória diz que a mudança no regimeburaco onlinetrabalho fez diferença, porque ela pode estudar mais e ter tempo livre para suas atividadesburaco onlinelazer.

Isso é especialmente importante na função que exerce, gerenciando uma equipeburaco onlineacompanhantes terapêuticosburaco onlinepacientes do Sistema Únicoburaco onlineSaúde (SUS), o que tem um impacto direto naburaco onlineprópriaburaco onlinesaúde mental.

“Eu trabalho com históriasburaco onlinevida muito sofridas. Tem um desgaste afetivo também”, diz.

Ela conta que, além das 11 horas no trabalho por dia, passa mais 4 horas no transporte público para ir e voltar, o que acaba sendo muito cansativo.

“Se eu não tivesse dois dias a maisburaco onlinefolga, não sei como faria. Acho que não conseguiria trabalhar, pois há vários níveisburaco onlineexaustão.”

A psicóloga ressalta que, com dois dias livres na semana, ela consegue fazer atendimentos particulares para complementar a renda e, mesmo assim, consideraburaco onlineatual rotina mais saudável do que no passado.

“Era muito desgastante chegarburaco onlinecasa e não ter energia para nada. Hoje, eu tenho dois dias na semana para dar contaburaco onlineoutras coisas”, diz Victória.

Vida além do trabalho

Rick Azevedo também se sentia esgotado quando trabalhava seis dias por semana como balconistaburaco onlineuma farmácia do Rioburaco onlineJaneiro.

“Eu nunca fui uma pessoa satisfeitaburaco onlineter um diaburaco onlinefolga apenas”, diz Rick, que viu um vídeo que gravou com um desabafo sobre essa rotina viralizar nas redes sociais.

Ele conta que muitos usuários se identificaram com aquela situação, muitos deles da geração Z que também não viam sentidoburaco onlineuma jornadaburaco onlinetrabalho exaustiva.

Ver essa insatisfação ecoar entre tanta gente o fez criar o movimento Vida Além do Trabalho para pedir o fim da escala 6x1.

Ele também criou grupos no WhatsApp e no Telegram, que têm somados cercaburaco online12 mil membros, por onde ele conta que recebe muitos relatos denunciando jornadas que consideram abusivas.

“A gente tem uma ilusão que a CLT protege. Mas a CLT está defasada desde a última reforma trabalhista. Tem trabalhadores sendo explorados”, diz.

Para mudar essa realidade, Rick fez uma petição ao Congresso que já teve maisburaco online790 mil assinaturasburaco onlineapoio.

“Pedimos também uma mudança para uma escala 4x3 e uma redução da jornadaburaco online44 semanais [adotada por algumas empresas] para 40 horas.”

O carioca Caio Oliveira,buraco online33 anos, é um dos profissionais que sentiu na pele o quão exaustivo pode ser uma jornada 6x1.

Trabalhando na áreaburaco onlinehotelaria eburaco onlineserviços como bares e restaurantes, ele conta que, por muitos anos, folgou só um dia na semana e, por causaburaco onlinemudançasburaco onlineempregoburaco onlinesequência, chegou a ficar quase oito anos sem tirar férias.

Caio diz que isso afetouburaco onlinesaúde mental e física.

“Eu tinha muito contato com pessoas, e acho que quem está na frente da operação cansa muito. Não só a parte física, mas também mental”, diz.

“Muitas vezes a gente tem que lidar com os problemas da nossa vida e tem que estar preparado para receber pessoas. Você às vezes tem que vestir uma máscara.”

Mas, no início do ano passado, ele conta que assumiu um cargo administrativo e passou a trabalhar cinco dias por semana,buraco onlinesegunda a sexta.

Agora, diz que tem mais qualidadeburaco onlinevida e pensaburaco onlinevoltar a estudar, o que não seria possível com as escalas puxadasburaco onlineantes e sem ter a flexibilidadeburaco onlinehorário queburaco onlinefunção hoje permite.

“Consigo ter mais tempo não só para cuidarburaco onlinemim, para ter o meu tempo também, meu espaço, minha casa e dividir mais o tempo com minhas amizades e com quem quero ter próximoburaco onlinemim”, diz.

“Eu não voltaria para como era antesburaco onlineforma alguma.”