Como atletasaposta copa sao pauloelite fazem as emoções trabalharem a seu favor — e que lições eles podem nos dar:aposta copa sao paulo

Mas como eles fazem isso na prática? E há algo que nós, que não praticamos esportesaposta copa sao pauloaltíssimo nível, podemos aprender com essas estratégias?

Para responder a essas perguntas, é preciso antes entender como o papel dos atletas se modificou ao longo da história dos Jogos Olímpicos.

'Atletas empoderados como nunca'

A psicóloga Katia Rubio, professora da Faculdadeaposta copa sao pauloEducação da Universidadeaposta copa sao pauloSão Paulo (USP), aponta que é preciso entender a saúde mental no esporte dianteaposta copa sao paulouma perspectiva histórica.

"Durante um bom tempo, os atletas eram desrespeitados na condição humana. Eles eram vistos como máquinasaposta copa sao pauloproduzir resultados e acabavam submetidos a qualquer estratégia para melhorar marcas e desempenhos", avalia ela, que também coordena o Grupoaposta copa sao pauloEstudos Olímpicos da USP.

Rubio divide a história dos jogosaposta copa sao pauloalguns períodos. O primeiro vaiaposta copa sao paulo1896 a 1914, quando se inicia a Primeira Guerra Mundial,aposta copa sao pauloque a situação ainda era um pouco confusa e a propostaaposta copa sao pauloum evento do tipo ainda não estava bem sedimentada.

Depois,aposta copa sao paulo1914 ao fim da Segunda Guerra Mundial,aposta copa sao paulomeadosaposta copa sao paulo1945, as competições já são reconhecidas como algo grande,aposta copa sao paulocaráter internacional.

"Na sequência, tivemos a época da Guerra Fria,aposta copa sao paulo1948 até 1988, que coincide com a busca pela profissionalização,aposta copa sao pauloque os atletas são mobilizados como ferramentasaposta copa sao pauloprolaposta copa sao paulointeresses nacionais, para metaforizar uma guerra que não acontecia no campoaposta copa sao paulobatalha", caracteriza a psicóloga.

No espaçoaposta copa sao paulotempo que duraaposta copa sao paulo1988 a 2016 — anoaposta copa sao pauloque a Olimpíada foi realizada no Rioaposta copa sao pauloJaneiro — a pesquisadora observa uma transformação nos jogos. As competições viram "um grande produto" e os atletas "começam a ser reconhecidos como protagonistas do espetáculo".

"A questão aqui já não são mais os interesses nacionais, mas, sim, o interesse pela marca olímpica", diz ela.

Para Rubio, esse período sofreu um esgotamento a partiraposta copa sao paulo2016 — e as duas olimpíadas que ocorreram depois,aposta copa sao pauloTóquio (2021) e agoraaposta copa sao pauloParis (2024), são marcadas por uma mudança profunda no posicionamento dos protagonistas do espetáculo.

"Os atletas começam a exigir respeito e não querem mais ser vistos como um produto, uma commodity, dentro desse sistema."

"Nos jogosaposta copa sao pauloTóquio e Paris, eles estão mais empoderados do que nunca", acredita a pesquisadora.

Um dos episódios que ilustra essa transformação recente envolve a ginasta americana Simone Biles, queaposta copa sao paulo2021 se afastou das competições pelas medalhas por questões relacionadas à saúde mental — a decisão causou um choque, já que ela era uma das grandes estrelas daquela Olimpíada, e motivou toda uma discussão sobre o papel do psicológico no desempenho dos atletas.

"Daí ela volta agoraaposta copa sao paulo2024,aposta copa sao pauloParis, e dá um show", complementa Rubio.

"Os atletas hoje têm poder sobre si mesmos. Há pouco tempo, as instituições determinavam o rumo da vida deles."

Para a especialista, esse processo está relacionadoaposta copa sao pauloparte ao trabalho da psicologia esportiva.

"Nos tempos da Guerra Fria, a psicologia enxergava os atletas na condiçãoaposta copa sao paulomáquinas."

Atualmente, dentro da chamada "psicologia social do esporte", os competidores são vistosaposta copa sao pauloprimeiro lugar como seres humanos.

"Para que tenham um bom desempenho, os atletas precisam se reconhecer como indivíduos, dentro dos seus limites e potencialidades, para que possamos trabalharaposta copa sao paulobusca por objetivos", explica Rubio.

"Quando a Rebeca faz as declarações sobre as receitas, ela presta um serviço imenso à psicologia. Ela mostra como os atletas não são ratosaposta copa sao paulolaboratório para passar por um pretenso treinamento mental."

Controle das emoçõesaposta copa sao pauloprol da vitória

A abordagem psicológica mais atual usa algumas técnicas para aumentar a concentração ou controlar a ansiedade nos treinos e nas partidas ou eventos oficiais.

"No meu entender, esses objetivos são alcançados hojeaposta copa sao paulodia por um processo que envolve o autoconhecimento", diz Rubio.

A psicóloga clínica e esportiva Fernanda Faggiani, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), concorda.

"Dentro da clínica, trabalhamos para ajudar o atleta a identificar o que ele está sentindo e reconhecer os efeitos disso no corpo", exemplifica ela.

"Isso permite que se perceba determinadas emoções que podem atrapalhar o desempenho", complementa a especialista, que também integra o Grupoaposta copa sao pauloPesquisaaposta copa sao pauloEstudos Olímpicos da PUC-RS.

As técnicas usadas por psicólogos ajudam os esportistas a focar no presente, no aqui e no agora. Essas ferramentas permitem que eles tenham a atenção 100% voltada ao que precisam fazer naquele momento para atingir determinados objetivos — como, por exemplo, realizar um saque perfeito ou encadear os movimentos precisos para atingir uma boa velocidade e ultrapassar os adversários.

"Também tentamos diferenciar o que está no controle do atleta e aquilo que foge da atuação dele, como a torcida, o adversário, a imprensa…", continua Faggiani.

Para os momentosaposta copa sao pauloansiedade, o competidor aprende a observar sinais físicos, como taquicardia e faltaaposta copa sao pauloar, e a fazer alguns exercícios básicosaposta copa sao paulorespiração para ter calma e eventualmente até "domar" as batidas do coração.

Outra tática comum na psicologia esportiva é a estratégiaaposta copa sao paulovisualização. "Tentamos recriar imagens, cenários, movimentos e rotinas que o atleta gostaria que acontecesse ou que ele já fez", explica a professora da PUC-RS.

Em alguns casos, o indivíduo fecha os olhos e refaz essas cenas na cabeça, como uma formaaposta copa sao pauloreforçar o que precisa ser feito para ter sucesso.

Faggiani diz que a táticaaposta copa sao pauloRebeca Andrade —aposta copa sao paulofocaraposta copa sao paulocoisas que vão além do esporte, como receitas ou seriados — também é algo muito inteligente.

"Não posso te garantir que isso seja um trabalho entre ela e a psicóloga que a acompanha, mas pensaraposta copa sao paulooutras coisas além da competição é uma estratégia inteligente, saudável e eficaz para diminuir a ansiedade sem perder a concentração", avalia ela.

"Isso permite que ela alivie a pressão e entre na competição mais relaxada."

Aliás, Faggiani fez parteaposta copa sao pauloum projeto que traduziu para o português um instrumentoaposta copa sao pauloavaliaçãoaposta copa sao paulosaúde mentalaposta copa sao pauloatletas elaborado originalmente pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).

"Os atletas possuem um esquema especialaposta copa sao paulodescanso, sono, treino, alimentação… Portanto, as ferramentas psicológicas que avaliam o público geral não são tão precisas quando aplicadasaposta copa sao pauloesportistas", compara ela.

"Esperamos que esse material nos ajude futuramente a acompanhar nossos atletasaposta copa sao paulouma forma ainda melhor", antevê ela.

Rubio acrescenta que o acompanhamento dos competidores exige um ajuste muito fino.

"Os atletas buscam o melhoraposta copa sao paulosi todos os dias, mas precisamos lembrar que existem limites. Temos que tomar cuidado para não exagerar nos treinamentos e cair num estadoaposta copa sao pauloburnout", pondera ela.

Aliás, a especialista lembra que o termo burnout, muito usado hojeaposta copa sao paulodia para descrever o esgotamento físico e emocional relacionado ao ambienteaposta copa sao paulotrabalho, veio justamente da psicologia esportiva.

"Reconhecer os próprios limites é um primeiro passo. Outro é desafiar esses limites sem ultrapassar aquela linhaaposta copa sao pauloestouro", complementa ela.

Os atributosaposta copa sao pauloum campeão

Mas será que existem algumas características psicológicas que diferenciam um atleta olímpico? Há uma espécieaposta copa sao paulo"perfil mental" que os torna obcecados na busca pela excelência — e pelos pódios?

Como parteaposta copa sao pauloum projetoaposta copa sao paulopesquisa que já dura 20 anos, a professora Rubio teve a oportunidadeaposta copa sao pauloentrevistar 1,4 mil homens e mulheres que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos ao longo da história.

"Uma marca comumaposta copa sao paulotodos eles é essa determinaçãoaposta copa sao paulobuscar um sonho", resume ela.

A psicóloga vê nos relatos desses indivíduos algo parecido ao mito do herói.

"Quando crianças, ainda muito jovens, eles são reconhecidos por ter alguma habilidade diferenciada. Daí alguém diz: 'você pode se tornar um atleta olímpico'", relata ela.

"Pensar uma coisa dessas no Brasil, dianteaposta copa sao paulotoda a faltaaposta copa sao pauloestrutura esportiva, especialmente nos rincões do país, pode parecer até um delírio para muita gente."

Após esse "chamado", essas pessoas iniciam uma trajetória.

"Geralmente, o chamado é mais forte do que as adversidades. Muitos atletas me disseram que na cidade onde moravam não havia condições para treinar ou competir, e eles decidiram fazer outra coisa da vida. Mas,aposta copa sao paulorepente, eles notavam que não estavam felizes", detalha Rubio.

"Muitos, então, partem para uma grande aventuraaposta copa sao paulobuscaaposta copa sao pauloum clube. Depois, vão para as seleções nacionais e eventualmente chegam aos Jogos Olímpicos", diz a pesquisadora.

Um estudo realizado por diversas instituições canadenses tentou desvendar quais são as características mais relevantes para os esportistas que buscam a excelência.

Após analisar tudo que havia sido publicado sobre o tema, os autores do trabalho publicadoaposta copa sao paulo2021 criaram o chamado "perfil medalhaaposta copa sao pauloouro da psicologia esportiva", que reúne as competências mais importantes para um atletaaposta copa sao pauloalto nível.

Esses atributos são divididos nas categorias ouro, prata e bronze,aposta copa sao pauloalusão às medalhas,aposta copa sao pauloacordo com o nívelaposta copa sao pauloimportância que eles têm.

Na categoria ouro, que engloba as habilidades fundamentais, estão:

Essa informação, aliás, vai ao encontro do que a professora Rubio mencionou sobre a buscaaposta copa sao paulosonhos tão comum entre os esportistas.

A categoria prata inclui as competênciasaposta copa sao pauloautorregulação, ou quanto a pessoa consegue se controlar para completar as metas:

Por fim, a categoria bronze abarca as habilidadesaposta copa sao paulorelacionamento interpessoal:

Balanço geral após a Olimpíada

Mas e se, mesmo com todo esse trabalho, a medalha não vem? Como fica a cabeçaaposta copa sao pauloatletas que se prepararam por anos e não conseguem o resultado que tanto almejavam?

Com o fim dos jogos, o esportista e a equipeaposta copa sao paulopsicologia realizam uma avaliação dos resultados — o que deu certo, o que não funcionou, o que precisa ser trabalhado daqui para frente.

"Temos atletas que não conseguiram medalhas, mas fizeram a melhor marca da carreira deles. Ou seja, há uma vitória dentro daquela derrota", destaca Rubio.

"Para aqueles que perderam porque não conseguiram fazer o seu melhor, esse é o momentoaposta copa sao paulodescobrir os motivos por trás disso e elaborar um significado para essa derrota."

"É preciso internalizar o que aconteceu para que o atleta consiga se reconhecer naquiloaposta copa sao pauloque falhou", complementa a psicóloga.

A vitória, por outro lado, também pode representar um certo perigo.

"Primeiro, é preciso gozar a conquista. Muitas vezes, o atleta não tem tempoaposta copa sao paulofestejar o que ganhou", diz Rubio.

Passada a comemoração, é horaaposta copa sao paulorefazer os planos para o próximo ciclo.

"Muitos competidoresaposta copa sao pauloalto nível dizem que, mais difícil que ganhar, é manter-seaposta copa sao pauloprimeiro lugar e encontrar a motivação para isso", observa a professora.

O que podemos aprender com eles

Para Rubio, há pelo menos três coisas que os participantesaposta copa sao pauloOlimpíadas podem ensinar para a populaçãoaposta copa sao paulogeral.

"A primeira delas é que, todos dias ao acordar, você deve pensar no que quer fazer da vida. Se o atleta não tiver muita convicçãoaposta copa sao pauloque deseja treinar para buscar o seu melhor, ele nem levanta da cama", diz ela.

Para a professora, essa motivação envolve "ter um prazer imenso naquilo que você faz".

"Eu já vi muitos profissionaisaposta copa sao paulooutras áreas que eram infelizes no trabalho. Mas são raríssimos os atletas que não estão satisfeitos", observa ela.

O segundo aspecto envolve a disciplina. "Essa é uma característica central na vida do atleta: a capacidadeaposta copa sao pauloplanejar e ter disposiçãoaposta copa sao paulobuscar sempre o melhoraposta copa sao paulosi."

"E isso não tem a ver com competir. Buscar o melhor não está relacionado ao outro, mas a si mesmo", diferencia ela.

Em terceiro lugar, a psicóloga chama a atenção para aquilo que ela considera um grande tabu do mundo contemporâneo: a derrota.

"Não conheço nenhum atleta que ganhou sempre. E isso é uma questão que devemos trazer para nossas vidas: como aprender com as derrotas?", pergunta ela.

Já Faggiani cita o exemplo dado por duas medalhistas brasileiras nos jogosaposta copa sao pauloParis: Rayssa Leal, bronze no skate street, e a própria Rebeca Andrade deram diversas declaraçõesaposta copa sao pauloque enfatizaram o apoio psicológico que recebem.

Há também os casosaposta copa sao pauloGabriel Medina, bronze no surfe, e da própria Simone Biles, multimedalhista pelos Estados Unidos. Ambos chegaram a se afastaraposta copa sao paulocompetições importantes nos últimos anos para cuidar da cabeça — e brilharam nas competições olímpicasaposta copa sao paulo2024.

"Espero que todos esses exemplos ajudem a reforçar a importância da saúde mental não só nas competições, mas na vidaaposta copa sao paulotodas as pessoas", diz a pesquisadora da PUC-RS.

"O acompanhamento psicológico não é importante sóaposta copa sao paulomomentosaposta copa sao paulocrise e não resolve os problemas do dia para a noite. Trata-seaposta copa sao pauloum trabalhoaposta copa sao paulolongo prazo."

"Espero que essa se torne uma das grandes lições deixadas por esses Jogos Olímpicos", conclui ela.