O que os manuaisbwininstruções revelam sobre você:bwin

Manualbwininstrução ao ladobwincaixasbwinpapelão

Crédito, Yipengge

Legenda da foto, Os manuais podem dizer muito sobre a sociedade e a épocabwinque foram escritos

De acordo com Roger Bridgman, ex-curador do MuseubwinCiênciasbwinLondres, "as instruções existem para compensar as incapacidades das máquinas ao empregar as habilidades dos usuários e, portanto, dizem algo sobre a situaçãobwinambos na épocabwinque foram produzidos".

O manual mais antigo encontrado por Bridgman estava junto a uma das invenções do célebre engenheiro escocês James Watt (1736-1819). Não era a máquina a vapor (tecnologia que ele aprimorou) - mas uma copiadorabwinescritório.

Ao perceber que seria muito útil fazer cópiasbwinsuas cartas, ele inventou uma máquina que transferia tinta úmidabwinuma correspondência recém-escrita para outra folhabwinpapel, criando uma cópia do original.

A instrução para usar a engenhoca era bem básica. Dizia apenas para pegar uma folhabwinpapel e botarbwincima da outra, colocar o cobertorbwinfeltro por cima e passar o rolobwinpressão.

"Como James Watt era um homem muito prático, as instruções não estavambwinformabwinlivreto", conta Bridgman no documentáriobwinrádio How to Write an Instruction Manual ("Como escrever um manualbwininstrução",bwintradução livre), produzido pela BBCbwin2009.

"(O manual) é, na verdade, uma folhabwinpapel colada à máquina para que você não perca - uma regra que os fabricantes modernos poderiam seguir", acrescenta.

Homem faz ajustebwinbicicleta

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Legenda da foto, Um dos princípios dos manuaisbwininstrução: 'saia do caminho' rapidamente para deixar o usuário seguirbwinfrente

Para Ballard, as instruçõesbwinWatt simbolizam os princípios fundamentaisbwinum manualbwinsucesso. O primeiro se refere à usabilidade: fazer com que as pessoas encontrem com facilidade as informações que precisam - seja achar o manual propriamente dito, colocando as orientaçõesbwinum local óbvio, ou estruturá-lobwinforma intuitiva, antecipando a maneira como o leitor pensa a respeito do problema. O segundo é tornar as instruções didáticas, fáceisbwinentender.

"Clareza vai ganhar sempre", lembra.

Simplicidade e objetividade, no que se refere à linguagem e ao design, são fundamentais. A regra final? "Saia do caminho", diz Ballard. O que significa se certificarbwinque o usuário saiba o que fazer na sequência, depois quebwinnecessidade específica tiver sido atendida - pode ser descobrir mais alguma informação ou continuar usando o produto.

O diretor da 3di brinca que é por isso que os manuaisbwininstrução vivem uma "crise existencial".

"O ponto principal é o produto, não o manual; quanto mais tempo você passar olhando para o manual, menos você estará usufruindo do produto", avalia.

Dicas

Nem todo manual hojebwindia é tão simples e elegante quanto obwinWatt. Mas há fabricantes resgatando a ideiabwinintegrar as instruções ao próprio produto. Pode ser, por exemplo, na formabwinuma grande etiqueta colada na lateral do equipamento ou por meiobwinum íconebwinajuda disponível no painelbwincontrole do mesmo.

Kodak Box Brownie

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Legenda da foto, Uma das primeiras câmeras fabricadas, a Kodak Box Brownie vinha com um manualbwinusuário exemplar

Outro manual pioneiro considerado exemplar é o da Kodak Box Brownie, uma das primeiras câmeras fotográficas fabricadas.

"O documento é muito bonito. Ele diz como você deve carregar o filme, mas também dá conselhos sobre como tirar uma foto", explicou Mark Miodownik, diretor do InstitutobwinCriação da University College London (UCL), à BBCbwin2009.

Junto com informações técnicas detalhadas para operar a câmera, há orientações sobre como tirar boas fotografias - desde capturar o retrato ideal até considerar o efeito das condições meteorológicas (do "sol brilhante" ao "nublado opaco").

Manual da Harry's
Legenda da foto, Manuais da Harry's fornecem não apenas instruções, mas dicasbwincomo obter o barbear perfeito | Foto: Harry's

Fixação da marca

A Harry's, porbwinvez, é um exemplobwinmarca contemporânea que adota a mesma abordagembwinconversar com os clientes, não apenas sobre como usar os produtos, mas também como obter o máximo deles - neste caso, oferecendo dicas sobre o barbear perfeito.

Criar essa conexão mais pessoal por meio do manualbwininstruções também é um bom negócio. Se os consumidores se sentem bem com o produto que compraram, provavelmente terão uma percepção positivabwinrelação à marca no futuro.

Enquanto isso, os manuaisbwincarro da editora Haynes - visualmente marcantes - são instantaneamente reconhecidos. Mesmo para quem nunca sujou as mãosbwingraxa ou óleobwinmotor, os livretos remetem a uma certa época (para mim, aos anos 80 e ao manual do Ford Cortina do meu pai, um pouco sujo, que ficavabwinuma prateleira da garagem). Como diz o slogan da empresa: Haynes shows you how ("Haynes mostra a você como",bwintradução livre).

Manuaisbwincarros da Haynes
Legenda da foto, Há 50 anos, os manuaisbwincarros da Haynes são instantaneamente reconhecidos porbwinclareza e praticidade | Foto: Haynes Publishing

Mais amigável

Há maisbwin50 anos, a editora fornece consultoria técnicabwinalta qualidadebwinforma didática e práticabwinusar. Seus manuais são "como um guiabwinviagem para uma terra estrangeira - tornam o desconhecido amigável", descreve Martin Love, editorbwinautomobilismo do jornal britânico Observer.

Mas o que faz os manuais da Haynes serem tão eficientes? A empresa utiliza uma combinaçãobwindesenhos técnicos altamente detalhados e instruções aprofundadas sobre testes, reparos e manutenção, acompanhadosbwinfotografias.

A editora foi fundadabwin1960, depois que John Haynes escreveu e publicou seu primeiro livro sobre a fabricaçãobwinum Austin 7 Special. O primeiro manual da série Owners Workshop Manual, propriamente dito, foi lançadobwin1966, para o modelo Austin Healey "Frogeye" Sprite.

Naquela época, os manuais eram formais e redigidos pelos fabricantesbwinlinguagem muito técnica.

"Eu dei muita sortebwinidentificar, como dizem, uma lacuna no mercado. Uma grande lacuna, descobri mais tarde", contou Haynes à BBCbwin2009.

Manual da Haynes sobre castelos medievais
Legenda da foto, Atualmente, a Haynes publica centenasbwinmanuais sobre os mais variados temas | Foto: Haynes Publishing

Apesarbwinse manter fiel ao estilo original, a Haynes se modernizou com o passar do tempo e publica atualmente quase 2 mil manuais sobre os mais variados temas:bwincuidados com animaisbwinestimação a computadores, passando por música e ficção científica.

Informação visual

Alguns manuais abriram mão das palavras quase por completo - é o caso da Ikea, a gigante suecabwinartigos domésticos. Há quem diga que as instruções sem texto facilitam a montagem dos móveis, enquanto outros usuários ficam confusos diante dos famosos pictogramas da empresa. Mas, no mínimo, eles ajudam a companhia a economizar com o custo da tradução para vários idiomas.

Em 2015, os manuais da Ikea foram reconhecidos internacionalmente ao ganhar o prêmio Paul Mijksenaarbwindesign para funcionalidade.

"A Ikea conseguiu criar uma obra quase incomparável, consistente e lindamente executada. Uma obra que,bwinvezbwinser meramente reconhecível, provou ser eficaz há maisbwin30 anos", disse Paul Mijksenaar, especialistabwindesign visual que dá nome ao prêmio.

Manual da Ikea

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Legenda da foto, Os premiados manuais da Ikea não usam textos, só imagens

Então, por que algumas pessoas às vezes têm tanta dificuldade com seus manuais? Segundo Ballard, "não é porque o manual propriamente dito é ruim. É porque o produtobwinsi é muito complexo".

"Os manuais da Ikea começam fundamentalmente com o produto. Os manuais menos populares são aquelesbwinque o produto não foi, antesbwintudo, projetado da melhor maneira", acrescenta.

A limitação dos manuais da Ikea - ilustrações bidimensionais simplesbwinpreto e branco - força os móveis a serem melhor arquitetados a fimbwingarantir uma montagem direta.

Fora da Ikea, muitos produtos estão ficando mais complicadosbwinmontar ou usar - o que significa manuais mais complexos. Mas isso também pode estar mudando.

Melhorias

"As habilidades das máquinas aumentaram tanto que os usuários podem se conectar a elas sem muita instrução - e muito do que é necessário pode ser fornecidobwintempo real pelas próprias máquinas", avalia Bridgman.

"Muitas vezes, os produtos não têm manual - seja porque foram projetados tão bem,bwinmodo que você nunca vai precisar saber como fazer nada com ele, ou porque 'não é permitido' olhar as engrenagens e fazer qualquer coisa com ele", diz Ballard.

"Acho que é uma grande mudança: as pessoas não esperam mais ter que fazer nada com o produto", completa.

O iPhone da Apple, por exemplo, é,bwintermosbwinhardware, propositadamente difícilbwinexplorar.

Um aspecto inerente aos manuais que parece improvávelbwindesaparecer é a inclusãobwindiretrizesbwinsaúde e segurança. Para alguns usuários, pode soar como orientações supérfluas, mas reflete a responsabilidade do fabricantebwinmanter as pessoas seguras ao utilizar o produto.

Outro fator que afeta a evolução dos manuais é a globalização. As empresas distribuem com frequência seus produtos para mercadosbwindiferentes partes do mundo, o que prevê a tradução das instruções para algumas dezenasbwinidiomas. A menos que seja muito bem feita, essa adaptação pode resultarbwindúvidas ou frustração para o usuário final - gerando um retorno negativo para a marca.

A forma como os consumidores utilizam os manuais também mudou. Eles costumavam ser apenas guiasbwinreferência que vinham com o produto adquirido. Mas, cada vez mais, as pessoas consultam as instruçõesbwinum determinado equipamento para checar especificações técnicas antes da compra: ou seja, o manual agora faz parte do processobwindecisão do consumidor.

Homem conserta carro

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Legenda da foto, O formato dos manuais está mudando, mas, enquanto os produtos forem complexos, provavelmente não serão totalmente dispensáveis

E, é claro, os formatos se diversificaram ao longo do tempo. Hoje, os manuais podem ser simplesmente um vídeo do YouTube demonstrando as diferentes funçõesbwinum carrinhobwinbebê; um site dedicado a ajudar as empresas a entenderem um novo sistema telefônico complexo; ou um guia online gerado pelos usuários para corrigir falhasbwinsmartphones.

A internet, sem dúvida, possibilitou um avanço: que os próprios usuários criem e compartilhem manuaisbwininstrução. O Ifixit.com, por exemplo, é "um guiabwinreparo gratuito para tudo, escrito por todos". Em marçobwin2018, o site oferecia 37.192 manuaisbwingraça e 122.145 soluções para maisbwin10.570 dispositivos.

Neste contexto, os manuais produzidos pelo fabricante têmbwinse esforçar mais do que nunca para justificar o valorbwinsuas especificações. As empresas estão começando a explorar ferramentas, como o Google Analytics, para calcular como o investimentobwinmanuais pode ajudar a economizarbwinoutras áreas. Por exemplo, se milharesbwinpessoas usarem o livreto que acompanha o produto, talvez não precisem consultar a assistência técnica.

"Os manuaisbwininstrução desempenham uma função muito mais ampla do que uma mera formalidade, as expectativas são muito maiores", diz Ballard.

Porém, por mais intuitivos que sejam os novos produtos, as instruções são necessáriasbwinmuitas situações, como no casobwinum equipamento usado para analisar com precisão amostrasbwinsangue.

Tendências

Os bancosbwindados e a linguagembwinmarcação XML já são usados amplamente para organizar a forma como os manuais são criados e gerenciados. Os códigos QR (códigosbwinbarra bidimensionais que podem ser escaneados por smartphones) estão sendo adotados, porbwinvez, para facilitar o acesso rápido às instruções.

Realidade aumentada

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Legenda da foto, Realidade aumentada pode tornar as instruções mais fáceisbwinentender

Novas tecnologias - como inteligência artificial e realidade aumentada - também estão começando a ser utilizadas. A inteligência artificial permite acelerar o processobwinbusca por informações, antecipando as perguntas dos usuários. E, à medida que nosso entendimento sobre o comportamento do consumidor aumentar, essa tecnologia pode substituir as tags e os metadados.

Já a realidade aumentada possibilita que as instruções sejam colocadasbwincamadas para que os usuários interajam com o produto enquanto aprendem a usá-lo.

Independentementebwincomo serão os futuros manuaisbwininstrução, Ballard está otimista sobrebwinexistência.

"Os requisitos básicos que as pessoas têmbwinrelação à comprabwinum produto complexo não mudaram", diz ele.

"Essa lacuna entre o produto e o que o usuário espera por ter comprado o produto sempre existirá - e a lacuna terá que ser preenchidabwinalguma forma."

E conforme os próprios produtos são aprimorados, os manuaisbwininstrução precisarão se desenvolver também.

"Novos requisitos surgirão que não podemos prever agora", aposta Ballard.

bwin Leia a versão original desta reportagem bwin (em inglês) no site BBC Future bwin .