As lições da Islândia no combate à diferença salarial entre homens e mulheres:betnacional limita

Como muitas outras empresas, a BBC também faz parte desse debate. Semanas atrás, a correspondente Carrie Gracie anunciou que deixaria o cargobetnacional limitaeditorabetnacional limitaChina como formabetnacional limitaprotesto pela desigualdadebetnacional limitaseu saláriobetnacional limitarelação a homensbetnacional limitaposições semelhantes. Na ocasião, o diretor-geral da BBC, Tony Hall, respondeu que a companhia "cometeu alguns erros" e acrescentou "admirar a coragem" da jornalista, mas afirmou que o sistema interno para lidar com queixas salariais "funciona" e que a igualdade está "no âmago do que defendemos".

O mais recente passo radical da Islândia é que o país está tentando sacudir a questão legal. O que faz o plano do país diferente é que o ônus não ficará mais sobre a funcionária, que precisa comprovar que recebe menos - o que pode demandar anosbetnacional limitabatalhas jurídicas. Agora, é o (a) chefe que precisa provar que paga seus trabalhadores igualmente.

Mas isso é realmente tão radical? Será que esse modelo pode ser copiado por países maiores?

Onde reside a novidade

"A maioria dos países têm leis que garantem pagamentos iguais, o Reino Unido por exemplo as aprovoubetnacional limita1970", diz Daphne Romney QC, uma das principais advogadas britânicas especializadasbetnacional limitalitígiobetnacional limitapagamento igualitário.

Acima disso, diz ela, há o direito da União Europeiabetnacional limitapagamento igualitário, o que dá aos trabalhadores o direitobetnacional limitair a uma corte civil ou um tribunal.

Apesarbetnacional limitamuitos países permitirem que funcionários tomem atitudes contra empregadores, o problema é que "leva anosbetnacional limitatrabalho duro para se chegar até a corte, quanto maisbetnacional limitachegar ao pontobetnacional limitacompensação".

"A Islândia tornou uma ofensa criminal empregadores não tomarem atitudesbetnacional limitarelação ao pagamento desigual. Elesbetnacional limitafato tornaram isso uma violaçãobetnacional limitaexigênciasbetnacional limitasaúde e segurança", diz Romney, acrescentando que haverá uma punição para os que não tomarem atitudes contra o problema.

Então por que esse modelo não é aplicadobetnacional limitaoutros países?

"Eu acho que é bastante radical, mas para ser sincera não acho que (uma lei como essa) passaria no Reino Unido. As novas regulaçõesbetnacional limitasalário igualitário do Reino Unido só serão aplicadas a 34% dos funcionários por exemplobetnacional limitafirmas com maisbetnacional limita250 funcionários", diz Romney.

Ela se refere a uma lei britânicabetnacional limita2016, segundo a qual todas as grandes empresas - cercabetnacional limita9 mil companhias - terãobetnacional limitareportar informações a respeitobetnacional limitasalários. A ideia é colocar empresas grandes sob o holofote e abertas a escrutínio público.

Mas Romney acha que isso é o mais longe que o país chegará: ela acredita que o Partido Conservador, da primeira-ministra Theresa May, opõe-se a qualquer mudança que possa avançar disso, já que poderia trazer custos para o setor financeiro.

No Brasil, as mulheres ganham menos do que os homensbetnacional limitatodos os cargos, segundo uma pesquisa da empresa Catho. Dados do Instituto Brasileirobetnacional limitaGeografia e Estatística (IBGE) reforçam essa disparidade quando observamos a análise da renda da população: a renda média nacional do brasileiro ébetnacional limitaR$ 2.043, mas os homens ganhambetnacional limitamédia R$ 2.251 e as mulheres, R$ 1.762.

Avançosbetnacional limitaoutros lugares

Se o Reino Unido não deve seguir o modelo islandês, há outros países tentando algo parecido?

A professora Sarah Kaplan, diretora do Institutobetnacional limitaGênero e Economia da Universidadebetnacional limitaToronto aponta para outro modelo que precede a legislação da Islândia - o Canadá, que está avançando na batalhabetnacional limitaacabar com a diferençabetnacional limitapagamentos desiguais entre homens e mulheres.

As políticasbetnacional limitaOntário e Quebec, por exemplo, têm foco no salário igual para o mesmo trabalho (por meiobetnacional limitasuas leisbetnacional limitadireitos humanos) e tambémbetnacional limitapagamento igual para o mesmo valorbetnacional limitatrabalho, sem necessariamente ser o mesmo cargo (pela legislaçãobetnacional limitaigualdadebetnacional limitapagamento).

Em Ontário, a Lei 148betnacional limitaLocaisbetnacional limitaTrabalho Justo inclui uma sériebetnacional limitanovas regras, desde criando previsões para funcionários que suspeitam que não receberam um salário justo e querem pedir a avaliação do caso até o banimentobetnacional limitaempregadores que forçam funcionárias a usar salto alto.

"Isso é mais avançado que o escopo da legislação islandesa, que só tem a primeira parte", diz ela. "Mas a Islândia tem multas e relatórios, o que não temos no Canadá", pondera.

Kaplan diz que algumas das leis do Canadá exigem detalhamento individual dos pagamentosbetnacional limitauma companhia, e que a maioria delas obedece.

Em alguns lugares, a diferençabetnacional limitagênero foi levemente revertida. Um estudobetnacional limita2016 indicou que funcionáriasbetnacional limitatempo integral na Irlanda do Norte ganhambetnacional limitamédia 3,6% a mais que seus colegas homens - apesar da diferença entre o ganho por hora dos diferentes gêneros continue muito diferente se as mulheres se tornam mães.

Mas isso pode ter sido causado por uma proporção maiorbetnacional limitamulheres trabalhandobetnacional limitacargos do setor público no país, que têm salários melhores que os equivalentes no setor privado.

Nos EUA, alguns Estados, como obetnacional limitaMassachusetts, proibiram empresasbetnacional limitaperguntar sobre o salários atuaisbetnacional limitapossíveis novos funcionários. Isso é algo que nem Islândia ou Canadá têm. "É uma colchabetnacional limitaretalhosbetnacional limitasoluções, nenhuma delas consegue ser completamente eficaz sem as outras. Nenhum país ou jurisdição colocoubetnacional limitaprática todas elas", afirma Kaplan.

Richard Reeves, um membro sênior da Instituição Brookings que estuda a diferençabetnacional limitasaláriosbetnacional limitavariados setores ebetnacional limitadiferentes países, concorda. Ele diz que, por mais que a Islândia esteja "à frente nas reformas" e que seja capazbetnacional limitaacabar com as diferençasbetnacional limitasalário no futuro, não é certo presumir que as políticas desse país possam ser aplicadasbetnacional limitaoutro lugar.

"No entanto, há lições úteis a serem aprendidas aqui, incluindo que a diferençabetnacional limitasalário não acontece sozinha", afirma. Ele acredita quanto mais responsabilidade e transparência, melhor: no Reino Unido, por exemplo, relatórios obrigatóriosbetnacional limitagênero ajudarão. "Apenas mostrar o nível do problema é um passo importante."

A própria pesquisabetnacional limitaReeve sugere que a diferença só diminuirá com uma mudança fundamental não apenas nas práticasbetnacional limitaorganização, masbetnacional limitapressuposições culturais sobre os papéisbetnacional limitahomens e mulheres no trabalho e no lar.

"As mulheres continuam equilibrando a vida profissional e doméstica, o que impacta seu salário e avançobetnacional limitacarreira. Os homens não estão fazendo o mesmo. A revolução que precisamos agora envolve modelosbetnacional limitamasculinidade, não só modelosbetnacional limitanegócios."

O modelo a se seguir?

A pequena Islândia, com uma populaçãobetnacional limita336.483 habitantes, é um peso-pesado na igualdadebetnacional limitagênero. É o país com a menor desigualdade do tipo do mundo por nove anos seguidos, segundo um relatório internacional anual. E, segundo dados da União Europeia, é a líder mundial na inclusãobetnacional limitamulheres na forçabetnacional limitatrabalho, com uma participação maior que 80%betnacional limita2017.

Isso coloca a Islândia não apenas no topobetnacional limitatodos os outros países comparáveis mas também como a nação com a taxa mais altabetnacional limitaparticipação entre todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Desde 1970, mais e mais mulheres islandesas entraram no mercadobetnacional limitatrabalho e lá ficaram. Isso pode ser atribuído a várias decisões políticas, como o direito legalbetnacional limitamães voltarem ao trabalho após ter filhos.

Thorgerdur Einarsdóttir, professorabetnacional limitagênero da Universidade da Islândia, diz que um movimento fortebetnacional limitamulheres e uma enorme pressãobetnacional limitagrupos feministas estão por trás das forças políticas que introduziram uma sériebetnacional limitamedidas radicais relacionadas a assuntosbetnacional limitagênero na Islândia, como a licença-paternidade e cotasbetnacional limitagênero.

Ela acredita que a cultura islandesa no geral também é um fator significativo nessa mudança. "Há um legado históricobetnacional limitamulheres fortes que inspiraram outras mulheres aqui", diz ela, citando a eleição da primeira presidente mulher eleita democraticamente, Vigdis Finnbogadottir,betnacional limita1980.

Ela cita outros acontecimentos também, como o Diabetnacional limitaFolga das Mulheresbetnacional limita1975, uma greve na qual metade do país parou e que foi repetida várias vezes.

"Talvez também tenha a ver o tamanho pequeno do país, as proximidades e o fluxo fácilbetnacional limitainformação. É muito fácil mobilizar ações quando diferentes gruposbetnacional limitamulheres se unem aqui."

Revertendo a tendência

E por que as pessoas deveriam se importar? Porque o argumento acadêmico para extrapolar esse sucesso - apesar da grande advertênciabetnacional limitaque nenhuma mulher islandesa acredita nabetnacional limitautopia ainda - é bem embasado.

Mais mulheres contribuindo para a economia global pode evitar uma nova recessão global. Além disso, trazer o mesmo númerobetnacional limitamulheres que homens para o mercadobetnacional limitatrabalho seria o equivalente a colocar mais uma China e mais um Estados Unidos no Produto Interno Bruto (PIB) da economia mundial.

Um "cenário potencial completo", no qual as mulheres têm os mesmos papéis que os homens no mercadobetnacional limitatrabalho, poderia acrescentar US$ 28 trilhões ao PIB global anual até 2025,betnacional limitaacordo com uma pesquisa da consultoria McKinsey.

Então, por mais que se mudar para a Islândia pode não ser uma ideia possível para a maioria das pessoas, aprender um pouco com o modelo islandês pode ser um excelente começo.