A Ucrânia está perto da 'guerra total'?:esporte bet7

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Legenda da foto, Conflito no leste da Ucrânia já matou 5,4 mil e deixou milharesesporte bet7desabrigados, diz ONU

Mas o que se seguiu foi uma sinistra escalada militar sem precedentes na Europa desde o final da Guerra Fria, envolvendo duas visões irreconciliáveis do mundo pós-União Soviética, alimentada pelos fantasmas nacionalistas ucranianos e russos e pela incapacidade da diplomacia europeia e americana.

Com os rebeldes pró-Rússia mostrando vigor assustador, tendo conquistado cercaesporte bet7500 quilômetros quadradosesporte bet7territórioesporte bet7quatro meses, europeus e EUA agora voltam a se mexer e cogitam soluções radicalmente diferentes para paralisar o conflito, depois do fracasso imediato das sanções econômicas impostas a Moscou.

Resta saber se essas soluções serão eficientes ou se o mais provável é a "guerra total" ─ com envolvimento diretoesporte bet7outros países, escalada atravésesporte bet7outras fronteiras e muito mais sangue.

Armas ou ceticismo diplomático

Richard Sakwa é considerado uma das maiores autoridades acadêmicas do mundoesporte bet7política russa e pós-soviética, tendo escrito dezenasesporte bet7ensaios e livros sobre a lógica por trás do "inimigo" do Ocidente no Kremlin.

Em seu livro recém-lançado na Grã-Bretanha, Frontline Ukraine - Crisis in the Borderlands ("Frenteesporte bet7Batalha Ucrânia ─ Crise na Fronteira",esporte bet7tradução livre), Sakwa resume as duas principais causas do conflito que hoje vemos ─ a incapacidade do Ocidenteesporte bet7criar uma nova ordem geopolítica inclusiva para a Federação Russa no pós-Guerra Fria e a divisão política ucraniana.

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Legenda da foto, Confronto no leste da Ucrânia teve início após anexação da península da Crimeia pela Rússia

A primeira causa é associada ao fatoesporte bet7o Ocidente nunca ter sido capazesporte bet7superar as instituições "vitoriosas" da Guerra Fria, criando um ambiente inclusivo para Moscou. Pelo contrário, a Otan avançou para o leste, para perto da fronteira russa, no que Moscou sempre considerou uma ameaça a seu espaçoesporte bet7influência e existência.

A segunda causa tem íntima ligação com a formação da Ucrânia como nação ─ leste e sul russófonos, com forte influência do poderoso vizinho e favorável a um país multilinguístico, neutro, com boas relações com Moscou; oeste querendo ser "europeu", com uma distinta identidade ucraniana, deixando para trás a "ocupação" russa - a região do oeste onde fica a cidadeesporte bet7Lviv só passou a ser soviética durante a 2ª Guerra Mundial.

Se concordarmos com Sakwa, qualquer solução para o atual conflito precisa contemplar as duas questões. E são tremendas questões, sem nenhuma solução fácil. A primeira envolve uma mudança radicalesporte bet7paradigmasesporte bet7vigor desde 1991. A segunda, mudanças políticas profundas na Ucrânia que surgiu dos mortos na Praça Maidan,esporte bet7Kiev,esporte bet72013.

Do pontoesporte bet7vista do Ocidente, o que vem acontecendo desde o ano passado é uma tentativaesporte bet7um líder inescrupuloso, Vladimir Putin,esporte bet7restaurar a glória da velha União Soviética. De se impor à força, sem diálogo, retomando práticas que todos esperavam que tivessem ficado no passado da Europa - a anexação da Crimeia, por exemplo.

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Para Putin, porém, o Ocidente quer se impor comesporte bet7visãoesporte bet7mundo, suas instituições, suas regras, e não deu a Moscou a real chanceesporte bet7participar,esporte bet7forma conjunta, da construção dessa nova ordem. No pós-Guerra Fria, criou-se o que Sakwa chamaesporte bet7"Paz Fria" ─ com Moscou e o Ocidente mantendo uma lógicaesporte bet7competição sem, entretanto, reconhecer que ela existisse.

Evidentemente, a Europa e os Estados Unidos esperavam que, sob o peso das sanções econômicas do último ano, Putin perdesse apoio político internamente na Rússia. Não foi isso que aconteceu, pelo contrário ─ pesquisas mostram que o apoio a suas políticas continua alto e o ambiente doméstico russo éesporte bet7crescente antagonismo com o Ocidente.

Gasolina na fogueira

Assim, a primeira solução que vem sendo cogitada no momento, a americana, é a que tem mais potencial para gerar uma "guerra total". Os Estados Unidos cogitam destinar armamento defensivo ao exército ucraniano contra os rebeldes pró-Rússia.

Ao fazer isso, os EUA estarão jogando gasolina na fogueira anti-Ocidentalesporte bet7Putin. Se antes ele só podia sugerir que o Ocidente estava alimentando o conflito para imporesporte bet7vontade, nesse caso, ele terá um argumento palpável para, sim, enviar tropas abertamente a Lugansk e Donetsk.

A ideia americana foi criticada abertamente por Merkel. Ela disse que não poderia imaginar "qualquer situaçãoesporte bet7que, se o Exército ucraniano receber um melhor equipamento, o presidente Putin fique tão impressionado que venha a pensar que vai perder militarmente".

Mas as declarações do governo americano dão a entender que essa saída está sendo considerada seriamente. Uma linguagem estranhamente evocativa da Guerra Fria vem sendo usada pelo vice-presidente, Joe Biden, da mesma forma que vem sendo usada por Putin.

"Vezes demais o presidente Putin prometeu paz e entregou tanques, soldados e armas", disse no sábado Biden, que preferiu, no dia anterior, ficaresporte bet7Bruxelasesporte bet7vezesporte bet7se juntar a Merkel e Hollande na viagem a Moscou.

"Então, vamos continuar apoiando a segurança da Ucrânia, não para incentivar a guerra, mas para permitir que a Ucrânia se defenda.

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A segunda solução, um novo planoesporte bet7paz europeu, foi o temaesporte bet7conversas telefônicas entre Merkel, Hollande, Putin e o líder ucraniano Petro Poroshenko neste domingo, e voltará a ser discutida por eles, desta vez face a face, na quarta-feira,esporte bet7Minsk.

Os detalhes do plano não foram revelados. Sabe-se que a base da proposta não é muito diferente da do acordo fracassadoesporte bet7Minsk,esporte bet7setembro passado. Inclui a criaçãoesporte bet7uma zona desmilitarizada perto da linhaesporte bet7batalha e comprometimentoesporte bet7cessar-fogo dos dois lados.

O que não se fala é integrar a Rússia num processo realesporte bet7diálogo político interno na Ucrânia, nem um compromisso europeu com a criaçãoesporte bet7novas instituições que levemesporte bet7conta a visão russaesporte bet7um mundo multipolar. Putin já mostrou inclusive sinaisesporte bet7desconforto e disse que a reuniãoesporte bet7quarta só ocorrerá "se, até então, nós conseguirmos concordaresporte bet7vários temas".

A simples ideiaesporte bet7a solução americana estar sendo aventada, além da existência e ampliação das sanções, alimenta ainda mais a desconfiança dos russos, que só tendem a ficar cada vez mais inflexíveis, obstinados frente às imensas dificuldades, comoesporte bet7tantos momentos emesporte bet7história.

Incertezas

Ao contrário do que muitos pensam, a Rússia se beneficiaria muito maisesporte bet7uma Ucrânia que mantenhaesporte bet7união nacional.

Em um artigo publicado no jornal Moscow Times, Josh Cohen, ex-funcionário do Departamentoesporte bet7Estado dos EUA, enumera alguns motivos ─ entre eles, o problema do custoesporte bet7reconstrução do leste ucraniano, que poderia ser dividido com o Ocidente.

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Legenda da foto, Moradores do leste da Ucrânia são obrigados a deixar suas casasesporte bet7meio à escaladaesporte bet7confronto armado

Putin defende a federalização ucraniana, com Donetsk e Lugansk passando a ter poderesporte bet7vetoesporte bet7qualquer aprofundamento das relaçõesesporte bet7Kiev com o Ocidente, mas na prática tendo imensa autonomia do governo central - podendo, inclusive, participar da União Euroasiática que a Rússia criou com ex-países soviéticos.

Mas a elite política que derrotou os russosesporte bet7Kiev no ano passado está disposta a voltar atrás e dividir o poder?

Dadas as possíveis consequênciasesporte bet7armar o exército ucraniano e os imensos problemas que Obama enfrenta na esfera internacional (o autodenominado 'Estado Islâmico', por exemplo), o mais provável é que, apesar da retórica, a ideia não se concretize.

A proposta europeia, com a continuidade das negociações diplomáticas, é a saída mais lógica, ainda que já venha sendo tentada desde o ano passado sem sucesso. Se a negociação continuar, a "guerra total" é evitada, mas o lento sangramento da Ucrânia prossegue até não se sabe quando.

O fator crucial, no final das contas, será o efeito cumulativo das sanções. Neste mês, o Ocidente pode banir a Federação Russa do Swift, o sistema que integra os bancos globalmente. Isso seria um imenso baque para os bancos do país.

O cálculo é que,esporte bet7dado momento, o preço pago por Putin para manter seu envolvimento na Ucrânia seja tão alto que crie rachaduras na elite que o sustenta, potencialmente afastando─o.

Quando isso acontecerá? Primeiro, não se sabe nem se acontecerá. E, se acontecer, não se sabe quem o irá suceder. Nada impede que seja mais do mesmo.

*Rafael Gomez é mestreesporte bet7estudos da Rússia e da Europa Oriental pela Universidadeesporte bet7Birmingham, no Reino Unido.