'Cidade'betfair para iphonecemitério no Cairo resiste às mudanças do Egito:betfair para iphone

Crédito, BBC Brasil
- Author, Hugo Bachega
- Role, Do Cairo para a BBC Brasil
betfair para iphone Numa tarde fria do inverno egípcio, Mustafa anda tranquilamente por estreitas ruasbetfair para iphoneareia, cumprimentando pelo nome alguns moradores que cruzam seu caminho. Aqui, não há filasbetfair para iphonecarros ou o incessante ruído das buzinas tão característicos do Cairo. Al Qarafa é um oásisbetfair para iphonesilêncio típico dos cemitérios, e, nele, mortos e vivos repousam sob o mesmo teto.
Mustafa nasceu aqui há 23 anos. Trabalha como coveiro e divide um pequeno cômodo com quatro familiares. Seus pais vieram da cidadebetfair para iphoneMinya, ao sul do Cairo e, sem ter como pagar aluguel, se mudaram para um dos jazigosbetfair para iphoneAl Qarafa – enredo comum à maioria da população local.
"Gosto muito daqui, nasci aqui. Sou feliz e não me mudo", diz, enquanto ajeita um dos tapetes que cobrem o gelado pisobetfair para iphoneconcreto. Todos entram descalços embetfair para iphonecasa.
A decoração simples deixa o ambiente com aresbetfair para iphonelar. A televisão é o item mais valioso. Ao lado, uma cama apoia-sebetfair para iphoneuma lápidebetfair para iphoneconcreto branca. É a única do cômodo – os demais, inclusive seus pais, dormem no chão. Não há nenhum odor estranho. A lápide, aliás, é o único sinalbetfair para iphoneque Mustafa morabetfair para iphoneum jazigobetfair para iphonecemitério.
A história da Cidade dos Mortos, como o Al Qarafa é conhecido, databetfair para iphone642 a.C. A ocupação começou há quase um século. Não se sabe ao certo quantos moram aqui – as estimativas variambetfair para iphone10 mil ao exagerado meio milhão, que incluiria também moradores dos prédios erguidos ao redor do cemitério, ausentebetfair para iphonemuros ou grades.
Os túmulos são praticamente pequenas casas, com portões e grandes jardins, conforme dita a tradição localbetfair para iphonereverenciar os mortos – antigamente, familiares passavam semanasbetfair para iphoneluto dentro dos mausoléus, que têm quartos e banheiros.
Lado a lado, as pequenas "casas" formam uma imagem parecida a um vilarejo do interior: as ruas estreitas e sem asfalto, os balcões improvisados com salgadinhos e refrigerante vendidos nas janelas e vizinhos papeando nas calçadas. Todos parecem se conhecer pelo nome.
Basta alguns minutos para se ver que pouco mudou aqui nos últimos três anos, quando quase tudo parece ter mudado no Egito. A política parece distantebetfair para iphoneAl Qarafa –betfair para iphonenenhuma das casas ou ruas, por exemplo, havia cartazes do chefe militar e candidato presidencial Abdel Fattah al-Sisi, que se multiplicaram pelas ruas do Cairo.
Quando perguntados sobre ele, residentes desconversavam. Amor ao Exército ou ódio à Irmandade Muçulmana, sentimentos que dão à tônica ao Egito atual, sequer foram discutidos. Al Qarafa parece viver uma realidade paralela, na qual o caosbetfair para iphonefora é simplesmente ignorado.

Crédito, BBC Brasil
"Aqui é melhor do que lá fora", diz Mustafa, que como outros moradores prefere dar apenas o primeiro nome e não se deixar fotografar.
Tão perto, tão longe
Crianças jogam bola por todas as partes e dividem as ruas com dezenasbetfair para iphonecachorros e gatos. Homens dedicam horas sentados fumando narguilé. Há um cheiro no ar,betfair para iphonepilhasbetfair para iphoneentulho e lixo acumuladasbetfair para iphonealgumas esquinas.
O silênciobetfair para iphoneAl Qarafa é um contraste ao barulho das buzinas da movimentada estrada que passa num dos limites do cemitério, que se estende por maisbetfair para iphoneseis quilômetros. A proximidade com o centro do Cairo permite com que muitos trabalhem fora e só retornem à noite.
Há uma demanda grande por moradias no local, que se deve, principalmente, à migraçãobetfair para iphoneegípciosbetfair para iphoneáreas rurais do interior ao Cairo, megalópolebetfair para iphone18 milhõesbetfair para iphonehabitantes. Com o alto custobetfair para iphoneresidências na capital, os jazigos se tornaram a escolhabetfair para iphonemuitas famílias, que preferiram morar entre os mortos a viver nas populosas favelas.
"Eles estão bem melhores aqui do quebetfair para iphonequalquer outra casa que encontrariambetfair para iphoneoutras áreas... como as favelas", disse a socióloga Madiha El-Safty, da Universidade Americana do Cairo (AUC na sigla inglesa). "E as pessoas não saem porque é caro."
Hassem chegou há 30 anos, aos 5betfair para iphoneidade. Trabalha como mecânico numa pequena oficina improvisada no meio da rua. A inflação e o desemprego crescentes têm feito com que mais famílias procurem o cemitériobetfair para iphonebuscabetfair para iphonemoradia, diz ele.
A imprensa local diz que criminosos estariam aproveitando as ruas escuras e desertas para vender armas e drogas - o que teria aumentado os níveisbetfair para iphonecriminalidade na região.

Crédito, BBC Brasil
Hassem, no entanto, desconversa. "Não tem nenhum problema, não tem crime. É sossegado. Todos se conhecem. Se alguém fizer alguma coisabetfair para iphoneerrado...", diz ele, fazendo um gesto com o dedo indicador no pescoço.
Nem todos são tão amigáveis. Muitos moradores fecharam as portas ao notar a presençabetfair para iphoneestranhos. Outros interromperam a conversa ao saberem que falavam com um jornalista, o que se tornou corriqueiro no Egito atual.
Inglês é falado apenas por alguns mais jovens, que parecem mais acostumados com a visitabetfair para iphoneestrangeiros – o cemitério tornou-se atração para turistas e fontebetfair para iphonerenda para moradores. "American? American?", grita Mahmoud,betfair para iphone23 anos, ao reconhecer à distância alguémbetfair para iphonefora. "Quer ver minha casa? 5 libras. Só 5 libras", diz.
Ignorando as mudanças
Os portões entreabertos revelam varais com roupas para todos os tamanhos e idades. Entre um deles, vê-se Saleh,betfair para iphone55 anos, alimentando as cabras que são mantidasbetfair para iphoneum cercado. Tudo dentro do jazigo. Ele chegou aqui ainda criança, conheceubetfair para iphoneesposa, casou e tem dois filhos, Samirbetfair para iphone13 anos, e Mohamed,betfair para iphone8,betfair para iphonemais uma das históriasbetfair para iphoneromance que se passam dentro do cemitério.
Ele exibe orgulhoso o cômodobetfair para iphoneque vivem, onde pedaçosbetfair para iphonelençóis amarrados no teto criam divisórias entre quartos, sala e cozinha. Diz-se feliz, mas deixaria Al Qarafa se pudesse.
A retiradabetfair para iphonemoradores começou a ser desenhada por autoridades antes da revoluçãobetfair para iphone2011, mas o plano parece ter sido abandonado com a instabilidade dos últimos anos. "O governo afastou-se do problema pela faltabetfair para iphoneuma alternativa. Você não pode simplesmente despejá-los", disse Madiha, da AUC.
Segundo Saleh, representantes do governo visitaram o cemitério oferecendo novas moradias, geralmentebetfair para iphonebairros afastados no subúrbio do Cairo. "Eles nos ofereceram casa, mas nunca retornaram. Claro que se eles me derem a chancebetfair para iphonemorarbetfair para iphoneoutro lugar, eu irei", diz. "Mas sou agradecido por ter este lugar para morar... Esta é a minha vida e eu a amo".
Os protestos que se tornaram parte do cotidiano do Egito passam longebetfair para iphoneAl Qarafa e alguns moradores disseram simplesmente ignorá-los – um sinalbetfair para iphoneque as mudanças que acontecem no Egito, por enquanto, ainda não chegaram aqui.








