O que a eleição no Chile significa para a esquerda da América Latina:luva bet link

"Éluva bet linkfato uma questão da maior relevância, porque há um efeito contágio. O que acontece nos vizinhos acaba influenciando o jogo político aqui no Brasil. Há muito dessas dinâmicas transnacionais", diz à BBC News Brasil Dawisson Belém Lopes, professorluva bet linkpolítica internacional e comparada na UFMG e pesquisador sênior do Centro Brasileiroluva bet linkRelações Internacionais (Cebri).

"No fim dos anos 2000, o mapa da América Latina era tingidoluva bet linkvermelho. O engraçado é que, no fim da décadaluva bet link2010, ficou ao contrário: (Mauricio) Macri ganhou na Argentinaluva bet link2015, houve o impeachmentluva bet linkDilma Rousseffluva bet link2016 eluva bet linksequência, com algumas outras vitórias, o mapa passou a ser azul", prossegue o estudioso.

"Me parece que a gente está num momentoluva bet linkaparente reversão desse fluxo, mas com muito equilíbrio ainda. Não acho que dê para falarluva bet linkuma onda vermelha. Mas certamente a virada à direita estancou", opina.

Agora, diz Belém Lopes, o continente está dividido entre países no momento governados pela direita —luva bet linkpaíses como Brasil, Colômbia, Uruguai, Paraguai e Equador — e osluva bet linkesquerda, como México, Argentina, Peru, Bolívia, Venezuela, Nicarágua e outros.

Mas, no ano que vem, esse equilíbrioluva bet linkforças terá dois momentos decisivos: as eleições presidenciais do Brasil e da Colômbia.

Aqui, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem liderado as intençõesluva bet linkvoto e ensaia uma possivel aliança com seu ex-adversário Geraldo Alckmin.

Na Colômbia, cujo governo atual,luva bet linkIván Duque (direita), tem baixos índicesluva bet linkpopularidade, o favoritismo no pleitoluva bet linkmaioluva bet link2022 até agora é do esquerdista Gustavo Petro.

Essas eleições,luva bet linkespecial a brasileira, serão "o fiel da balança", diz Belém Lopes. "Se aqui no Brasil a esquerda voltar ao poder, aí sim a balança pende para a esquerda — afinal, o Brasil sozinho é um terço da América Latina, e no momento está nas mãos da direita. A radiografia atualmente éluva bet linkuma divisãoluva bet linkforças."

As divisõesluva bet linkuma esquerda 'mais frágil'

Para Oliver Stuenkel, professorluva bet linkRelações Internacionais da FGV-SP, a crise econômica provocada pela pandemialuva bet linkcovid-19 no continente abre uma brecha para a esquerda, "mas é uma esquerda com profundas diferenças entre si e emluva bet linkvisãoluva bet linkmundo", diz à BBC News Brasil.

"Obviamente existem semelhanças, como a ênfase na desigualdade, nos serviços públicos eluva bet linkum Estado mais forte. Mas, se você sai do campo econômico e vai para o social, as diferenças são grandes", prossegue Stuenkel.

Ele cita como exemplo as diferenças entre Boric — que durante a campanha no Chile levantou bandeiras como a do casamento gay e da legalização do aborto — e outro líder esquerdista a vencer recentemente: o peruano Pedro Castillo,luva bet linkposições conservadorasluva bet linktemas ligados aos direitos reprodutivos das mulheres ou causas LGBT.

"Nesse quesito, há muito pouco que une esses personagens", aponta Stuenkel.

"As diferenças são profundas, mas a esquerda está se renovando. Nesse sentido, uma outra leitura é aluva bet linkque o Chile está um pouco na frente. (...) Muito vai dependerluva bet linkcomo Boric vai governar. Ele representa uma nova esquerda, mas, se fracassar, essa nova esquerda pode sumir."

Boric, um ex-líder estudantil, tem emluva bet linkcoalizão o Partido Comunista, mas, na disputaluva bet linksegundo turno pela Presidência precisou fazer acenos a (e alianças com) figuras ao centro da política chilena para abocanhar mais votos.

Agora,luva bet linkmeio ao processoluva bet linkconstruçãoluva bet linkuma nova Constituição no Chile, Boric terá grandes desafios para pôrluva bet linkprática seu programaluva bet linkgoverno — que inclui aumento nos impostos da população mais rica e das grandes empresas, o fim do atual sistemaluva bet linkaposentadorias e criaçãoluva bet linkum fundo universalluva bet linkfinanciamento da saúde pública e privada —, sem ter maioria no Congresso eluva bet linkum país ainda bastante dividido.

Isso representa também um pouco dos obstáculosluva bet linkoutros líderes à esquerda no continente.

"É uma esquerdaluva bet linkarticulação mais frágil — não tem aquela coesão do início dos anos 2000,luva bet linkque parecia queluva bet linkfato era uma novidade", analisa Dawisson Belém Lopes.

"Alguns filósofos falavam (na época)luva bet linkum 'socialismo do século 21',luva bet linkum movimento novo. Agora, não. É uma volta das composições amplas, da social-democracia. (...) Boric teve que fazer esse esforço também: não é mais o líder estudantilluva bet linkoutros tempos, é outra figura. Teve que compor com o centro da política chilena. É uma esquerda que chega com menos impacto. Tende a ser mais institucional, convencional, não tão transformadora com o início dos anos 2000", avalia.

Além disso, Boric faz esforços para se diferenciar da esquerda bolivariana representada por Nicolás Maduro, que comanda um regime acusadoluva bet linkprisões arbitrárias e supressão da oposição.

Em maio, quando Maduro celebrou, no Twitter, o resultado das eleições locais chilenas (para cargosluva bet linkconstituintes, governadores e prefeitos) como uma "contundente rejeição ao neoliberalismo selvagem", Boric retuitou dizendo:

"E também um mandatoluva bet linkrespeito irrestrito aos direitos humanos. Algoluva bet linkque tanto (o presidente chileno Sebastián) Piñera e o senhor não têm estado à altura."

Aqui no Brasil, Lula também tem sido cobrado por seu apoio (ou ao menos ausêncialuva bet linkcríticas) à contestada vitórialuva bet linkDaniel Ortega na Nicarágua.

Nesse sentido, a esquerda latino-americana é hoje "um balaioluva bet linkmuitos gatos", afirma Belém Lopes.

"Há muitas tendências hoje. A esquerda que competiu com o (Guillermo) Lasso, presidente do Equador (que governa desde maio deste ano), tinha argumentos indigenistas, ambientalistas, assim como Boric tem argumentos ligados à economia verde. Tem uma nova esquerda aí, talvez mais liberal nos costumes, que preza mais pelas liberdades individuais,luva bet linkimprensa, expressão. As perspectivas coletivistas são deixadasluva bet linklado, ao contrário da Venezuela. E os direitos civis têm um peso muito grande."

Os obstáculos da esquerda que já está no poder

Ao mesmo tempo, a esquerda que já está no poder hoje enfrenta críticas e desafios diversos.

No México, o populista Andrés Manuel Lopez Obrador (ou AMLO) passou meses minimizando a pandemia de covid-19 e chegou a se opor ao usoluva bet linkmáscaras. No início deste ano, o país chegou a ter as mais altas taxasluva bet linkmortes por covid- 19luva bet linktodo o continente.

No Peru, o atual presidente Pedro Castillo, um professor com raízes no sindicalismo, assumiu o paísluva bet linkjulho, depoisluva bet linkuma sérieluva bet linkconvulsões sociais e políticas, e chegou a ser alvoluva bet linkum pedidoluva bet linkimpeachment que não prosperou no Congresso. Na visão da revista britânica The Economist,luva bet linkreportagemluva bet linkoutubro, Castillo tem uma gestão até agora "definida por inexperiência política e indecisão, pelo extremismo e brigas internasluva bet linkseus aliados e por um mandato fraco".

Na Argentina, o governoluva bet linkAlberto Fernández sofreu uma dura derrota nas eleições legislativasluva bet linknovembro e, pela primeira vez desde 1983, o peronismo perdeu o controle do Senado do país.

Na avaliaçãoluva bet linkBelém Lopes, a fragilização desses governos não se deve ao fatoluva bet linkseremluva bet linkesquerda: "A questãoluva bet linkfundo é a pandemia, que dilapidou o capital político no espectro todo, da esquerda à direita", analisa o pesquisador.

"De modo geral, a gestão da pandemia na nossa região é considerada das mais desastrosas, não só no Brasil. A médialuva bet linkcontágio eluva bet linkfatalidades é muito grande. Nossos números são muito ruins. E todos os políticos vêm sendo punidos pela gestão ruim que fizeram da pandemia eluva bet linkseus efeitos."

Além disso, existem os movimentosluva bet linkrejeição a o que é visto como a "política tradicional".

"Conversei com dois polítólogos chilenos muito importantes recentemente, e a perplexidade mais ou menos generalizada era com o fatoluva bet linkque, pela primeira vez desde a redemocratização do Chile, nos anos 1990, as tradicionais coalizõesluva bet linkdireita e esquerda não tiveram nenhum protagonismo no processo (eleitoral)", ressalta Belém Lopes.

"A turma encabeçada pela (ex-presidente) Michelle Bachelet e a turma encabeçada pelo (atual presidente) Sebastián Piñera ficaram completamente à margem. Quem ascendeu foi uma ultradireita militarista, pinochetista, e uma esquerda insurrecional naluva bet linkorigem, das revoltas estudantisluva bet link2011."

Embora ambos os lados tenham se aproximado do centro para ampliar seu eleitorado, "são candidaturas que, naluva bet linkorigem, desafiavam o sistema político eleitoral. Mas a tendência agora, naturalmente, éluva bet linknormalização. Dentro dessa lógica, o (direitista) Kast está pensando (nas eleições)luva bet link2025".

Democracia chilena

A partirluva bet linkagora, os olhos se voltarão à capacidadeluva bet linkBoricluva bet linkexecutar suas promessas. "Se ele conseguir implementar metade do que promete, vai virar alguém que define e inspira uma nova esquerda", avalia Oliver Stuenkel.

"As expectativas são gigantescas. Mas o Chile é uma democracia superconsolidada, a mais resiliente da América Latina, junto com o Uruguai, o que facilita o trabalholuva bet linkBoric. É um país com uma capacidadeluva bet linkdiscussão públicaluva bet linkmuito alto nível. (...) O que diferencia uma democracialuva bet linkqualidade é a maior capacidadeluva bet linkresolver seus problemasluva bet linkforma construtiva eluva bet linkculturaluva bet linkdebate (para cargosluva bet linkconstituintes, governadores e prefeitos) — e o Chile tem esse espírito, apesarluva bet linksua desigualdade."

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