Como Bolsonaro conseguiu mobilizar extrema esquerda e extrema direita na Itália:pixbet whatsapp

"Numa lógicapixbet whatsapppropaganda política, Bolsonaro seria o valor simbólicopixbet whatsappuma italianidade no mundo,pixbet whatsappum nacionalismo italiano que se espalhou há muitas décadas, e esse é um dos grandes temas da direita italiana. Tanto que ela criou há muitos anos as organizações dos italianos no mundo. Isso passa pela ideiapixbet whatsappuma suposta raça italiana, como se eles tivessem herdado pelo sangue uma suposta raça italiana, seus valores epixbet whatsappcapacidade", afirma Gentile.

Segundo ele, não é uma coincidência que a prefeita que concedeu a homenagem, Alessandra Buoso, seja filiada ao partido Liga, liderado por Matteo Salvini, senador nacionalistapixbet whatsappdireita próximo da família Bolsonaro. Essa sigla herdou a bandeira política da italianidade sanguínea defendida por outros partidospixbet whatsappdireita epixbet whatsappextrema direita a partir dos anos 1980, como o Movimento Social Italiano, fundado por ex-integrantes do regime fascista liderado por Benito Mussolini.

A cidadania italiana é regulamentada por uma leipixbet whatsapp1992. Baseia-se no princípio do jus sanguinis - termopixbet whatsapplatim para direitopixbet whatsappsangue - e pode ser transmitida a todos que têm ascendência italianapixbet whatsapptodas as gerações. Podem ser filhos, netos, bisnetos ou mesmo descendentespixbet whatsappgerações mais distantes.

Por outro lado, não há o princípio do jus soli, ou direitopixbet whatsappsolo,pixbet whatsappque a nacionalidade é concedidapixbet whatsappacordo com o lugarpixbet whatsappnascimento. Filhospixbet whatsappestrangeiros que nasceram na Itália podem pedir cidadania após completarem 18 anos, mas precisam atender a diversos pré-requisitos. Em geral, são políticospixbet whatsappesquerda que defendem cidadania mais ampla para esses imigrantes, como o deputado ítalo-brasileiro Fausto Longo (Partido Democrático).

Gentile afirma que esses dois princípiospixbet whatsappcidadania estão na raiz da relação entre o identitarismo racista dos últimos anos contra imigrantes (em especial da África e do Oriente Médio) e a defesapixbet whatsappuma suposta raça italiana se espalhando no mundo, mesmo que o povo italiano seja um dos mais miscigenados da Europa empixbet whatsapporigem.

Segundo o pesquisador, o partido nacionalista Liga, que chegou a adotar um lemapixbet whatsappraiz fascista para se defender das críticas àpixbet whatsappposição anti-imigratória ("muitos inimigos, muita honra"), conseguiu mobilizar a seu favor a insatisfação racistapixbet whatsappparte da população italiana contra o conflituoso processopixbet whatsappintegraçãopixbet whatsappcidadãospixbet whatsappex-colônias, agravado pela recente crise dos refugiados.

Esse tema, aliás, foi tratadopixbet whatsappencontro na Itália entre Salvini e o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Questionado pelo filho do presidente sobre os dois princípiospixbet whatsappcidadania, o italiano respondeu que os únicos imigrantes que interessam à Itália são os descendentespixbet whatsappitalianos que vivempixbet whatsappoutros países, como Brasil e Argentina.

Essa reunião foi intermediada pelo deputado ítalo-brasileiro Luis Roberto Lorenzato (Liga), que apoia o presidente Bolsonaro e a concessão do títulopixbet whatsappcidadão honorário a ele e critica o uso do termo "extrema direita" para caracterizar políticospixbet whatsappseu partido.

O parlamentar defende o direitopixbet whatsappsangue e refuta o direitopixbet whatsappsolo porque "se nasce italiano".

"A verdadeira riqueza da Itália são os 60 milhõespixbet whatsappitalianos por direitopixbet whatsappsangue (jus sanguinis), que vivem particularmente no Brasil, e são bem qualificados na classe média brasileira e que devem poder criar um verdadeiro relacionamento com a pátria mãe nossa Itália investindo, realizando negócios e até o sonhopixbet whatsappter a 'prima casa' na Itália e assim garantirpixbet whatsappforma perene a identidade cultural e histórica do povo italiano", disse empixbet whatsappcampanha eleitoral.

Para se ter uma ideia, a grande imigração italiana no final do século 19 levou para o Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiropixbet whatsappGeografia e Estatística (IBGE), maispixbet whatsapp1,2 milhãopixbet whatsapppessoas no períodopixbet whatsapp1876 a 1920. Um deles foi Vittorio Bolzonaro, que nasceupixbet whatsappAnguillara Veneta e emigrou para o Brasilpixbet whatsappabrilpixbet whatsapp1888, aos dez anos, na companhia do pai, da mãe epixbet whatsappoutros dois irmãos.

Angelo, filhopixbet whatsappVittorio nascido no Brasil anos mais tarde, casou-se com uma brasileira descendentepixbet whatsappalemães, epixbet whatsapp1927 o casal teve Percy Geraldo. Vinte e oito anos depois, nascia o terceiro dos seis filhospixbet whatsappPercy, Jair Messias Bolsonaro.

Protestospixbet whatsappmovimentospixbet whatsappesquerda e extrema-esquerda ao títulopixbet whatsappBolsonaro

A homenagem a Bolsonaro tem gerado fortes reaçõespixbet whatsappgrupospixbet whatsappesquerda e representantes da Igreja Católica desde que foi anunciada pela prefeita Alessandra Buoso e aprovada pela Câmara Municipal. A mandatária negou motivações políticas no ato, mas isso não foi suficiente para desmobilizar os opositores.

O episódio serviupixbet whatsappestopim para aglutinar diversos grupospixbet whatsappextrema esquerda críticos do presidente. Outros dois combustíveis para movimentos contra ele foram as acusações da CPI da Covid, que repercutiram muito na imprensa italiana, e a ausênciapixbet whatsappBolsonaro na COP26, cúpula do clima na Escócia que discute medidas e metas concretas contra o aquecimento global.

"Sua presença nesta cidade é indesejável; basta lembrar a gestão criminosa da pandemia realizada pelas autoridades brasileiras, e a comissão parlamentarpixbet whatsappinquérito que pediu que ele fosse julgado por crimes contra a humanidade. Nos últimos anos, Bolsonaro se tornou um dos principais baluartes da negação - tanto pandêmica quanto climática - do racismo mais vulgar, colonialismo e sexismo", afirma um grupo que convoca protestos contra Bolsonaropixbet whatsappPádua epixbet whatsappAnguillara Veneta, no norte da Itália.

Segundo Luca Dall'Agnol, representante do sindicato ADL Cobas,pixbet whatsappentidade participará dos protestos contra Bolsonaro e a decisão da prefeiturapixbet whatsappconceder o título honorário a ele como um atopixbet whatsappsolidariedade a todos que tem se mobilizado no Brasil contra o presidente nos últimos anos. "Suas políticas levaram à aceleração do desmatamento da Amazônia e a uma escaladapixbet whatsappataques contra comunidades indígenas, epixbet whatsappresposta negacionista à pandemiapixbet whatsappcovid-19 levou à perdapixbet whatsappmuitas vidas."

Para o sindicalista, Bolsonaro é um "fascistapixbet whatsappnosso tempo". "Fica claro pelo seu desprezo pela democracia que a única coisa que o impedepixbet whatsappassumir poderes autoritários é o equilíbrio socialpixbet whatsapppoder existente hoje e a resistência que vem sendo feita pelos cidadãos brasileiros".

Fabio Gentile, da Universidade Federal do Ceará, afirma que o antifascismo permeia a Constituição italiana desde o fim da Segunda Guerra Mundial,pixbet whatsapp1945. "Existe uma cultura antifascista dentro da formação do Estado italiano republicano contemporâneo, que se tornou também uma redepixbet whatsappassociações que, a partir das décadaspixbet whatsapp1940, 1950, estão defendendo os valores antifascistas da Constituição italiana. A maior delas é a Anpi (Associação Nacional dos Partisans da Itália, que também protestará contra Bolsonaro)."

Segundo o pesquisador, a luta entre fascismo e antifascismo se arrasta há décadas no país, mas "é claro que existe um uso bastante ideológico desses conceitos, porque nem tudo que a extrema-esquerda está combatendo é fascismo".

De todo modo, Gentile avalia que os atos contra Bolsonaro também possam estar sendo usados como uma resposta desses movimentos à invasão da sede da Confederação-Geral Italiana do Trabalho, o principal sindicato italiano, no iníciopixbet whatsappoutubro.

O local foi invadidopixbet whatsappato liderado pelo partidopixbet whatsappextrema direita Força Nova e por manifestantes antivacina, que criticavam o sindicato por não ter lutado contra a obrigatoriedadepixbet whatsappvacina para todos os trabalhadores do país. "A meu ver, o que os movimentos antifascistas estão pensando? É realmente uma coisa absurda dar uma cidadania para um cara como Bolsonaro, que é contra vacina, associa vacina à Aids e fala outras coisas sem embasamento científico que acabam incentivando e mobilizando movimentos negacionistas e antivacinas."

Bolsonaro foi o único líder do G20 que declarou não ter se vacinado contra a covid-19.

*Com colaboraçãopixbet whatsappGiovanni Bello, da BBC News Brasilpixbet whatsappLondres

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