Como Beethoven ficou surdo (e ainda assim criou algumas das melhores obras da história da música):betfair bundesliga

Estava tão concentrado que, no final da peça, continuou gesticulando, até que uma das solistas se aproximou dele e o virou para que pudesse ver os estrondosos aplausos que não podia escutar.

Beethoven estava profundamente surdo.

Há várias versões deste incidente, diz à BBC News Mundo (serviçobetfair bundesligaespanhol da BBC) Laura Tunbridge, professorabetfair bundesligamúsica da Universidadebetfair bundesligaOxford e autora da recente biografia Beethoven: A Life in 9 Pieces ("Beethoven: uma vidabetfair bundesliganove peças").

"Ele esteve no palco durante a estreia (da sinfonia), mas havia um diretor musical a seu lado que manteve as coisasbetfair bundesligaordem, porque na ocasião já se sabia que fazia tempo que Beethoven havia deixadobetfair bundesligaser um regente confiável", explica.

Pode ter sido uma apresentação caótica, não só pela presença incomumbetfair bundesligaum compositor surdo, mas também pela duração e complexidade da peça e dos poucos ensaios que costumavam fazer na época.

"É incrível que tenha saído tão bem, dada a faltabetfair bundesligapreparação", diz a professora Tunbridge.

Vida complexa, música revolucionária

Em todo caso, essa apresentação representabetfair bundesligauma só vez a glória e tragédia que marcou a complexa e contraditória personalidadebetfair bundesligaBeethoven, cujo nascimentobetfair bundesligaBonn, Alemanha, há 250 anos se comemora neste 16betfair bundesligadezembro.

A data é estimada, pois só se sabe com segurança que ele foi batizadobetfair bundesliga17betfair bundesligadezembrobetfair bundesliga1770.

Um compositorbetfair bundesligainigualável imaginação, paixão e poder, ele se formou numa épocabetfair bundesligaagitação política marcada pelas Guerras Napoleônicas.

E foi reconhecido e adotado como um dos músicos mais famososbetfair bundesligaViena, uma cidade muito orgulhosabetfair bundesligaseu legado e estatura nesse campo.

"De muitas maneiras ele revolucionou o alcance da músicabetfair bundesligatermosbetfair bundesligasom e volume,betfair bundesligaambição e a ideiabetfair bundesligaque a música pode expressar ideias e sentimentos; (demonstrou que a música) não é só um espetáculo, puro entretenimento, mas algo muito mais profundo", diz a acadêmica.

"Beethoven foi fundamental no estabelecimento dessa atitude frente à música,betfair bundesligaelevá-la a uma formabetfair bundesligaarte."

Mas, ao mesmo tempo, também tinha famabetfair bundesligairascível, egoísta, narcisista, insociável, frustrado no amor, tacanho, hipocondríaco e alcoólatra.

Isso forma parte do mito românticobetfair bundesligaBeethoven, diz Tunbridge, porque "preferimos a imagem do artista torturado por seus demônios internos e seus males físicos".

Pintá-lo como um mestre que se dedicou abetfair bundesligaarte acimabetfair bundesligatudo, com a capacidadebetfair bundesligacriar peças que vão além da nossa imaginação, o faz parecer alguémbetfair bundesligaoutro mundo.

Catálogobetfair bundesligamales

O certo é que o compositor sofriabetfair bundesligamuitos problemasbetfair bundesligasaúde, pelos quais foi submetido a alguns horripilantes e até ridículos tratamentos médicos da época e que,betfair bundesligacertos casos, agravaram seu mal-estar.

Uma sériebetfair bundesligaespecialistas modernos fez investigações forenses históricas para determinar quais doenças o afligiam, qual era a relação delas combetfair bundesligasurdez e como influenciarambetfair bundesligapersonalidade e criação musical.

O neurocirurgião britânico Henry Marsh apresentou todo um catálogo dos males que seriam diagnosticados hojebetfair bundesligadia no documentário do Serviço Mundial da BBC "Dissecando Beethoven".

Segundo o médico, o compositor sofriabetfair bundesligauma "enfermidade inflamatória intestinal, síndrome do intestino irritável, diarreia violenta, doençabetfair bundesligaWhipple, depressão crônica, envenenamento por mercúrio e hipocondria".

Um dia após a mortebetfair bundesligaBeethoven,betfair bundesliga27betfair bundesligamarçobetfair bundesliga1827, o destacado médico Johannes Wagner fez uma autópsia no cadáver e encontrou o abdômen inflamado e o fígado com um quarto do tamanho normal, indicaçõesbetfair bundesligacirrose pelo consumobetfair bundesligaálcool.

O alcoolismo era um malbetfair bundesligafamília: acometerabetfair bundesligaavó, e seu pai era um conhecido bêbado.

Beethoven tomava vinho com regularidade ebetfair bundesligaocasiões sociais, embora naquela época fosse um comum substituto para água contaminada, segundo a professora Tunbridge.

No entanto, "seus médicos lhe recomendaram que reduzisse a quantidade, algo curioso porque o dano associado ao alto consumobetfair bundesligaálcool não era muito conhecido então", diz a pesquisadora.

William Meredith, pesquisador do Centrobetfair bundesligaEstudosbetfair bundesligaBeethoven da Universidadebetfair bundesligaSan José, na Califórnia, estabeleceu uma conexão entre o consumobetfair bundesligavinho e um possível envenenamento por chumbo, baseando-se numa amostra do cabelo do compositor analisada quimicamente, que indicou a presença desse metal.

Sabe-se que os comerciantes da época armazenavam sucobetfair bundesligauvabetfair bundesligabarris forradosbetfair bundesligachumbo parabetfair bundesligafermentação. A técnica dava à bebida uma textura e um sabor açucarado que as pessoas consumiam com gosto, sem conhecerbetfair bundesligatoxicidade pelo contato com o metal pesado.

O envenenamento por chumbo pode produzir dano neurológico, embora não seja possível provar que Beethoven sofresse do mal.

Como perdeu a audição

O que se sabe é que o aparelho auditivo dele foi gravemente afetado, segundo o médico Wagner constatou na autópsia.

O pesquisador Meredith disse à BBC que a surdez pode estar relacionada aos males abdominais, já que ambos surgiram mais ou menos ao mesmo tempo.

"Além disso, Beethoven se queixava frequentementebetfair bundesligafebres e enxaquecas, com as quais sofreu até o fimbetfair bundesligasua vida".

Outra teoria é a do médico Philip Mackowiak, da Escolabetfair bundesligaMedicina da Universidadebetfair bundesligaMaryland, que aponta a sífilis congênita como possível causa.

Uma doença "importada" do continente americano, a sífilis arrasou a Europa, causando graves problemas numa população indefesa.

No casobetfair bundesligaBeethoven, segundo Mackowiak, a doença teria se manifestado por meiobetfair bundesligaproblemas gastrointestinais e no tipobetfair bundesligasurdez que ele teve.

Mas o neurocirurgião Henry March acha que não há provas contundentes disso, por não haver um diagnóstico modernobetfair bundesligasua saúde. Para ele, tudo o que se pode fazer é especular.

O trauma da surdez

Seja como for, o que se pode estabelecer é que os problemasbetfair bundesligaaudição começaram entre 1797 e 1798.

Isso graças a uma carta encontrada apósbetfair bundesligamorte, conhecida como o "Testamentobetfair bundesligaHeiligenstadt".

É um documento endereçado a seus dois irmãos, que Beethoven escreveubetfair bundesliga1802 na localidadebetfair bundesligaHeiligenstadt, aonde foi para recuperarbetfair bundesligasaúde.

No texto, ele expôs todabetfair bundesligaalma e seus pensamentos mais profundos, abordando como a surdez o atormentava e como isso explicava seu comportamento errático.

"... Há quase seis anos fui golpeado por um mal pernicioso que médicos incapazes agravaram", escreveu, detalhando como se viu obrigado a se isolar, a "viver longe do mundo, solitário."

"Devo viver como um exilado. Se me aproximo das pessoas, me afligebetfair bundesligaseguida uma angústia terrível: abetfair bundesligame expor a advertências sobre meu estado."

"Ah! Como confessar a debilidadebetfair bundesligaum sentido quebetfair bundesligamim deveria existir num estadobetfair bundesligaperfeição maior, num nívelbetfair bundesligaperfeição tal qual muito poucos músicos conheceram", declarou, angustiado.

O médico Mackowiak descreveu a condição à BBC como uma "surdez rara,betfair bundesligatermos atuais, pois começou lentamente e progrediu ao longobetfair bundesligauns 25 ou 30 anos."

No começo, foi perdendo a capacidadebetfair bundesligaouvir certas frequências, e com o tempo outras foram se acrescentando.

"É muito difícilbetfair bundesligasaber", explica a professora Tunbridge. "Há relatos que o descrevem surdo e falando alto, porém não se sabe exatamente qual era a situação."

Em 1818, já tinha dificuldades para compreender o que as pessoas diziam, então pedia que escrevessem suas perguntas e comentários.

Ainda assim, algumas anedotas registradas no fimbetfair bundesligasua vida indicam que ele ainda podia captar certos sons, mesmo quebetfair bundesligaforma tênue, como quando se surpreendeu ao escutar um grito agudo.

A vibração da música

Apesar do trauma da surdez, combinado com a frustraçãobetfair bundesliganão ter podido se casar, ele seguiu compondo e criando as obras que talvez sejam as suas peças mais expressivas, comoventes e experimentais.

"O interessante do Testamentobetfair bundesligaHeligenstadt é que ele nunca enviou a carta a seus irmãos", disse a professora.

"(Nela) decide que a vida segue tendo valor e que continuará compondo, e quebetfair bundesligamúsica o salvará."

O instrumentobetfair bundesligaBeethoven por excelência era o piano, então ele seguiu compondo com ele, com a ajudabetfair bundesligavários dispositivos para amplificar o som.

Tom Beghin, pianista e pesquisador do Instituto Orpheus, na Bélgica, foi quem criou esses dispositivosbetfair bundesligaamplificação que acentuavam as vibrações dos instrumentos para que pudesse senti-los quando tocava.

Mas isso não era o essencial.

"Há que se levarbetfair bundesligaconta que os músicos dependem muitobetfair bundesligasua imaginação, que podem escutar os sons na cabeça, e Beethoven criava música desde a infância", disse Tunbridge.

"Então, talvez ele não pudesse escutar o mundo exterior, mas não há motivos para pensar que a habilidadebetfair bundesligaescutar a música embetfair bundesligamente tivesse se deteriorado, nem que houvesse diminuídobetfair bundesligacriatividade musical."

Potência e exuberância

Deve ter sido incrivelmente frustrante escrever música para que outros a interpretassem e não poder desfrutá-la embetfair bundesligatotalidade.

Mas, assim como a surdez o teria transformado numa pessoa difícil e mal humorada, também obrigou Beethoven a injetar mais potência embetfair bundesligamúsica e lhe dar uma expressão física.

O compositor britânico Richard Ayres, que também sofrebetfair bundesligasurdez e estreou neste ano uma peça inspirada tantobetfair bundesligaBeethoven quanto embetfair bundesligaprópria perdabetfair bundesligaaudição, dissebetfair bundesligaum documentário da BBC que como resultado o grande maestro tevebetfair bundesligacriar uma música "mais exuberante".

"As linhas musicais devem se destacar mais e ser mais claras", comenta. "Se não consegue escutar bem, depende da energia dos músicos também para expressar a música."

É o que Beethoven exigiabetfair bundesligaseus músicos, disse Ayres, que podia ver seus movimentos corporais e a maneira com que encaravam o instrumento.

Vários intérpretes modernos consideram que a surdez melhoroubetfair bundesligamúsicabetfair bundesligamuitas maneiras.

Ela lhe deu uma qualidade pulsante, lhe levou por caminhos inesperados, até estrambóticos, a momentos desgarradores e comoventes.

É o casobetfair bundesligaumabetfair bundesligasuas últimas peças, o quartetobetfair bundesligacordas No.15, Opus 132, que contém o movimento "Heiliger Dankgesang", um agradecimento a Deus por tê-lo ajudado a se recuperarbetfair bundesligaum mal.

Humanidade e esperança

"Todos os exemplosbetfair bundesligasua insociabilidade e suas doenças são verdade", reconhece a professora Tunbridge. "Mas ele não pode ser resumido a isso."

"Há um ladobetfair bundesligaBeethoven mais ameno e amistoso. Não era assim todo o tempo, mas foi assim o suficiente para demonstrar a imagem monocromática que temos dele. Há outros aspectos que mostram suas qualidades humanas."

Que Beethoven compusesse uma ode à alegriabetfair bundesligaumbetfair bundesligaseus momentos pessoais mais difíceis é uma mostra do sentidobetfair bundesligaesperança que inundava suas últimas obras, afirma a musicóloga da Universidadebetfair bundesligaOxford.

Durante muito tempo, desdebetfair bundesligajuventude, ele quisera musicalizar o poema homônimobetfair bundesligaSchiller e havia buscado muitas maneirasbetfair bundesligafazê-lo, até que encontrou um espaço dentro da Nona Sinfonia.

"Penso que os ideais expressos no texto, osbetfair bundesligairmandade e felicidade, eram o que Beethoven acreditavabetfair bundesligatermos políticos ebetfair bundesligacomo devia ser a sociedade."

"Manteve essa perspectiva até o finalbetfair bundesligasua vida, e isso é algo que não podemos ignorar."

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