Por que a escravidão foi praticamente apagada da históriacasino galaChile e Argentina: 'Aqui não há negros':casino gala

Crédito, Arquivo Geral da República da Argentina Inv: 13862
Especialistas ouvidos pela BBC News Mundo (serviçocasino galaespanhol da BBC) concordam que, durante décadas, historiadores no Chile e na Argentina, determinados a construir uma identidade nacional baseada principalmente na herança europeia, ignoraram a contribuição crucialcasino galaescravizados e seus descendentes para o desenvolvimento econômico, cultural e políticocasino galaambos os países.

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Quando a presença dos negros não era negada, tendia a ser relativizada com argumentos como oscasino galaque foram poucos que chegaram ou que aqueles que foram para lá ou foram embora ou não sobreviveram ao frio ou a doenças.
No país vizinho Uruguai, no entanto, a presençacasino galaafrodescendentes tem sido constante desde a época da colônia - representando atualmente cercacasino gala8% da população do país - e, apesar da histórica discriminação sofrida por esse grupo, a herança afro está presentecasino galaimportantes manifestações culturais do país, como o famoso carnavalcasino galaMontevidéu.
No Brasil, segundo dadoscasino gala2016 do IBGE (Instituto Brasileirocasino galaGeografia e Estatística), a parcelacasino galapessoas que se autodeclaram pardas representava 46,7% da população e acasino galapretos, 8,2%. Os brancos eram 44,2%.
Uma história diferente
A presençacasino galanegros no Cone Sul é um fenômeno que pode ser rastreado até os tempos da conquista, no século 16, quando já havia registroscasino galapessoascasino galaascendência africana que chegaram escravizados.
"O que sabemos é que, no total, durante todo o período colonial, cercacasino gala12 milhõescasino galaescravos foram traficadoscasino galaum continente para outro", explica Juan José Martinez Barraza, historiador econômico da Universidadecasino galaSantiago do Chile.
"Os 70 mil escravos que chegaram ao Cone Sul, principalmente pelo Rio da Prata, representam cercacasino gala1% do tráfico total. Isso pode parecer insignificante, mas não é, devido ao que representaramcasino galatermos econômicos", diz o historiador.
"Por exemplo,casino galaSantiago,casino gala1777, havia 40 mil habitantes,casino galaLima, cercacasino gala50 mil. Portanto, a vindacasino gala70 mil pessoas, que também se reproduziam, foi, sim, significativacasino galatermos econômicos."
Os negros escravizados chegaram principalmente pelos portoscasino galaMontevidéu e Buenos Aires. De lá, alguns foram enviados para as províncias do interior da atual Argentina ou para Santiago e Valparaíso,casino galaonde foram transferidos por mar para o norte.
Muitos deles ficaram nas cidades para realizar trabalhos domésticos ou artesanais. Outros foram forçados a trabalhar nos campos ou nas minas.
De acordo com Juan Jose Martinez Barraza, "quando a historiografia liberal enfatizou a república nascente e deixou para trás a colônia, colocou debaixo do tapete tudo relacionado à escravidão e escravos".
Uma mãe da pátria negra

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Na Argentina, o esquecimento historiográfico sobre a contribuição e presença da população afrodescendente têm sido muito semelhante, explica o historiador Felipe Pigna à BBC News Mundo.
"A invisibilidade dos negros na história é tremenda, eles praticamente não são mencionados", diz Pigna. "Houve uma manipulação que se tornou história oficial nas escolas, e permaneceu como história canônica, na qual nem mulheres, nem povos nativos, nem afrodescendentes tinham lugar."
"Felizmente isso tem mudado e foi demonstrado que essa história eracasino galagrande parte falsa."
Pigna cita como um exemplo deste processocasino galainvisibilidade o casocasino galaMaria Remedios del Valle, "que era uma mulhercasino galaascendência africana que participou dos exércitoscasino galaManuel Belgrano, um dos libertadores,casino galatodas as suas batalhas".
Por causacasino galasuas contribuições, ela foi proclamada mãe da pátria argentina, "a única mulhercasino galanossa história", aponta o historiador.
"Mascasino gala1870, quando começaram a reescrever a história sobre a imigração, eles acharam que não era muito coerente ter uma mãe da pátria negra, quando se promovia uma imigração branca, e passaram a ignorá-la e eliminá-la da história, e foi assim que a fizeram desaparecer."
Esse processocasino galaocultação da herança negra continua afetando os afrodescendentes hoje, que lutam há décadas para reconhecercasino galahistória e seus direitos.
'Um país racista'
Marta Salgado, da Organização Ouro Negro, tem sido uma das faces mais visíveis dos afrodescendentes chilenos há duas décadas.
Salgado vivecasino galaArica, uma cidade que o Chile tomou do Peru no final do século 19, na Guerra do Pacífico, épocacasino galaque maiscasino gala50% da população eracasino galaorigem africana.

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"Não estamos nos currículos escolares, o Ministério da Educação nunca fez nada para ensinar ao povo do Chile que havia africanos escravizados e, portanto, há descendentes", explica Salgadocasino galaconversa com a BBC News Mundo.
"O Chile é um país discriminatório e racista e também xenófobo, mas diz-se que não é, mas lá no fundo há muito racismo e muita discriminação, porque se diz que nascemoscasino galaeuropeus, e esse não é o caso".
Salgado tem muitas anedotas sobre o que teve que enfrentar devido àcasino galaorigem.
"Eu já passei por cubana, peruana, colombiana... Muitas vezes quando eu digo que sou chilena eles me olham estranho (...) Uma vez, eu era mais jovem,casino galaSantiago, me perguntaram onde eu ia fazer o show, pensando que eu eracasino galaoutro país", diz o ativista.
"Eles olham para você por causa dacasino galacorcasino galapele e por causa do seu fenótipo e não por causa do que você é e é por isso que é difícil uma pessoacasino galadescendência africana se posicionar, especialmente se ela é uma mulher."
"Quis negar minha família"
Cristian Báez, um pesquisador experiente e ativista afrodescendente que também moracasino galaArica, diz que seus ancestrais passaram por um processocasino gala"branqueamento" depois que a cidade ficou sob o controle chileno.
"Quando o Chile tomou este lugar, disseram aos que estavam aqui que, se quisessem ficar, teriam que se tornar chilenos, e esse foi um processo muito maquiavélico. Tiveram que se branquear para deixaremcasino galaser peruanos. E com esse branqueamento, proibiram tradições e costumes que vieramcasino galauma herança ancestral africana", explica Báez, que é fundador da ONG Lumbanga.

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Báez diz que, como muitos afrodescendentes, ele sofreu rejeição dentrocasino galaseu próprio país desde cedo.
"Na escola, eles me discriminavam por duas coisas, primeiro por ter cabelos escuros e depois por morarcasino galauma área rural. Então eu sofri muito bullying por ser negro ecasino galaAzapa."
"Quando meus colegas queriam ir a Azapa para conhecer a casa da minha avó, eu negava porque eu tinha vergonha da minha avó negra e meu pai negro, queria negar minha família", diz o ativista.
Báez diz que ser afrodescendente faz com que ele "entenda que, a cada processocasino galaluta",casino galaalguma forma, "estou consertando o estrago do que fizeram com meus antepassados".
Uma lei que os reconheça
O trabalhocasino galaorganizações como Ouro Negro e Lumbaga foi finalmente recompensadocasino galaabril deste ano com a promulgação no Chilecasino galauma lei que concede reconhecimento legal a afrodescendentes e "sua identidade cultural, idioma, tradição histórica, cultura, instituições e visãocasino galamundo".
O regulamento contemplacasino galainclusão como população no censo e determina que as escolas ensinem "a história, a língua e a cultura dos afrodescendentes".
Após a promulgação da lei 21.151, Vlado Mirosevic, um membro do Partido Liberal e um dos promotores dos regulamentos, disse que eles estavam "muito felizes por este passocasino galadireção a um Chile multicultural e diverso".
Decasino galaparte, o senador do Partido Socialista da regiãocasino galaArica e Parinacota, José Miguel Insulza, disse que a lei "faz justiça a muitos chilenos cujos antepassados vieram a esta terra séculos atrás".
Espera-se quecasino galameadoscasino galajunho haja eventos no Congresso Nacionalcasino galaValparaíso e no Paláciocasino galaLa Moneda,casino galaSantiago, para comemorar a promulgação da legislação.

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Essa vitória política esteve muito presente no carnaval afrodescendente que ocorreucasino galamarçocasino galaArica. Vários grupos musicais percorreram o centro da cidadecasino galaum colorido desfile.
Este festival cheiocasino galaritmo e cor que acontece todos os anos há maiscasino galaquinze anos visa celebrar a herança africanacasino galauma população cuja identidade tem sido historicamente negada.
O processocasino galase estrangeirar

Crédito, Carlos Álvarez
A mesma luta que Marta Salgado e Cristian Báez lideram no Chile tem sido realizada na Argentina nos últimos anos pelo afro-ativista Carlos Álvarez Nazareno.
Ele, que vive na Argentina há 15 anos, é originário do Uruguai, paíscasino galaque, explica, embora exista uma maior presença históricacasino galaafrodescendentes, cresceu "sob o jugo da discriminação, do racismo e do ridículo".
"Isso aconteceu 30 anos atrás e continua acontecendo hoje, e nossos jovens continuam denunciando o racismocasino galaseus colegas e até dos próprios professores nas salascasino galaaula", explica.
Álvarez comenta como na Argentina, historicamente, "foi reconhecida a contribuiçãocasino galaespanhóis, italianos ou judeus e se negou a contribuição das comunidades afrodescendentes e africanas".
O ativista conta como, emcasino galavida diária, ele vive o que descreve como um processocasino gala"estrangeirização".
"A primeira pergunta que eles fazem na rua écasino galaonde você é, eles comentam o quanto você fala bem espanhol. Quando você vai fazer um procedimento burocrático qualquer, a mesma coisa acontece. As pessoas pensam que, se você é negro, não pode ser dessas latitudes ".

Crédito, Arquivo Geral da Nação Argentina
"É por isso que imigrantes dos países africanos sofrem racismo e assédio policial nas ruascasino galaBuenos Aires", diz.
Alvarez cita como exemploscasino galaconquistas da comunidade afro na Argentina as comemorações do dia 8casino galanovembro, quando se celebra no país o Dia dos Afro-Argentinos,casino galahomenagem a María Remedios del Valle.
E o fatocasino galaterem sido incluídos no censocasino gala2010, "em que 150 mil pessoas foram reconhecidas como afrodescendentes, embora saibamos que há maiscasino gala2 milhões no país".
Parte dos historiadores afirma que essa cifracasino gala2 milhões é exagerada, embora sustente que deve-se acabar com o mitocasino galaque a maioria das pessoascasino galaascendência africana na Argentina morreu nas guerras da independência ou por causacasino galadoenças.
Embora estes tenham sido fatores importantes na diminuição da população negra do país, particularmente na população masculina, a miscigenação também desempenhou um papel fundamental, o que explica por que muitos argentinos não saibam que emcasino galaárvore genealógica pode haver uma pessoa que há não muitos séculos foi tirada à força da África.
Presença real
No Chile, foi também o processocasino galamestiçagem que tornou a população afrodescendente cada vez menos visível.
"A etnia chilena é um grupo étnicocasino galaque a presença do sangue negro é real, é importante, mas comparado a outros países não é tão visível", explica Baldomero Estrada, professor titular do Institutocasino galaHistória da Pontifícia Universidade Católicacasino galaValparaíso.

Crédito, BBC Mundo
"Do total, 90% dos espanhóis que vieram para este território eram homens, então eles se misturaram com os índios, e é aí que a miscigenação começa, e quando os negros chegam, a mesma coisa acontece, eles se misturam e são absorvidos muito rapidamente", diz Estradacasino galaconversa com a BBC News Mundo.
"Não há grupos étnicos que mantenham características permanentes e visíveis, no caso dos Mapuches, eles também são muito misturados, e é muito difícil encontrar um que seja mapuche puro."
A avó no armário

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Embora a herança genéticacasino galapessoascasino galaascendência africana no Chile e na Argentina hoje não seja tão visível, há outro tipocasino galalegado que sobreviveu até hoje, segundo o historiador Felipe Pigna.
"A herança cultural é muito poderosa e podemos vê-la na dança argentina por excelência que é o tango, que tem claramente origens negras", ressalta o historiador.
"Grande parte do nosso folclore, o samba, chacarera e muitos ritmos do folclore argentino têm uma influência africana. Há também as nossas palavrascasino galavocabulário que permanecem como um legado."
Entre as palavras que os linguistas consideram ter origem afro estão palavras como quilombo, milonga, candomblé, marimba, tango, matungo, mandinga, dengue ou mucama.
O ativista Carlos Álvarez acredita que os argentinos devem "tirar a avó afro do armário".
"Para ter uma sociedade muito mais igualitária e justa, devemos valorizar nossa contribuição e fazer com que as crianças e adolescentes tenham orgulhocasino galaseus antepassados."

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