O vilarejo boliviano que escondeu os restospoker oChe Guevara por 30 anos:poker o

Quebra do pacto

Em 1995, o pactopoker osegredo foi rompido, e o oficial Mario Vargas Salinas revelou ao jornalista americano Jon Lee Anderson, biógrafopoker oGuevara, que os restos dele estavam enterrados na velha pistapoker opousopoker oVallegrande.

A partir dessa informação, uma equipepoker oespecialistas cubanos chegou a Vallegrande para iniciar as buscas pela vala com os restos mortais do guerrilheiro - encontradospoker o1997.

Sob condiçãopoker oanonimato, a BBC conversou com o tratorista epoker omulher, uma professora, que agora vivempoker oSanta Cruzpoker ola Sierra. Ele critica o colega que rompeu o pactopoker osegredo.

"Há coisas que se pode contar e outras não", diz ele, que tevepoker oidentidade revelada nos anos 90, na Bolívia, mas nunca aceitou dar uma entrevista. "Os códigos entre militares são algo muito sério."

O casal teme perder a aposentadoria por falar demais sobre o assunto. Contam que o oficial Salinas, que revelou a localização da covapoker oGuevara ao jornalista americano, sofreu represálias.

Cinquenta anos apóspoker omorte, Che Guevara continua a suscitar debates. O guerrilheiro é ícone da esquerda latino-americana e símbolo da revolução socialista liderada por Fidel Castropoker oCuba, que derrubou uma ditadura apoiado pelos Estados Unidos e colocoupoker oprática ideais comunistas.

Para alguns pesquisadores, como o escritor cubano Jacobo Machover, Guevara foi um assassino impiedoso e que só conquistou o statuspoker oherói porque as pessoas desconhecem a verdade sobrepoker otrajetória. Autor do livro A Face Ocultapoker oChe, Machover diz que Guevarra foi "um dos principais responsáveis pelas execuçõespoker o1959 (em Cuba) e mesmo antes, quando estavapoker oSierra Maestra lutando com Fidel Castro".

Em entrevista à BBC Mundo , o serviçopoker oespanhol da BBC, Machover disse ser "vergonhoso" estampar cartazes e camisetas com o rostopoker o"um assassino que matava gente que não havia sido julgada".

Vallegrande, 50 anos depois

A cidadepoker oJesús y Montes Clarospoker olos Caballeros del Vallegrande, localizada a 241 quilômetrospoker oSanta Cruzpoker ola Sierra, foi fundada há 405 anos e tem menospoker o15 mil habitantes. Alémpoker oser conhecida por ter abrigado o corpopoker oChe Guevara por 30 anos (antespoker oser levado para Cuba, onde repousa sob o mausoléu empoker ohomenagem erguido na cidadepoker oSanta Clara), também tem certa fama por causapoker oseu carnaval e dos licorespoker ofrutas que produz.

Em outubro, mês da mortepoker oChe Guevara, recebe um grade númeropoker oturistas, que desejam percorrer os locais onde o guerrilheiro passou seus últimos dias.

E no começo do ano, muitos bolivianos chegam à cidade para os festejospoker ocarnaval, que duram uma semana. Há desfilepoker obandas e cavaleiros, e o consumopoker ouma bebida típica, uma misturapoker ouísque com leite morno recém-ordenhado das vacas.

Também é comum que os moradores da cidade abram as portaspoker ocasa e ofereçam comida e vinho a visitantes.

Peregrinação

Com a descoberta dos restos mortaispoker oChe Guevarapoker oVallegrande, aconteceu justamente o que os militares bolivianos temiam: o local virou pontopoker operegrinação.

A vala foi coberta - e protegida - por uma espéciepoker ocapela, que hoje é a grande atração turística do vilarejo.

As paredes do local estão cobertas por fotospoker otodas as épocas da vida do argentino-cubano. Há retratospoker osua infânciapoker oRosário e Córdoba, imagenspoker osua juventude e da viagem pela América do Sul, epoker osua chegada ao México, onde se encontraria com Fidel Castro.

Também estãopoker oexibição fotos menos conhecidas,poker oque aparece calvo,poker oóculos e com prótese maxilar, quando, fugindo das autoridades, fingia ser o uruguaio Adolfo Mena González.

Uma imagem que se destaca é a selfie que tiroupoker ofrente a um espelho no quarto que ocupava no hotel Copacabana,poker oLa Paz, antespoker oiniciarpoker oúltima missão guerrilheira.

Memórias dos habitantes

A BBC percorreu algumas ruaspoker oVallegrande na companhia do professor aposentado Freddy Lacio, para tentar reconstruir os últimos diaspoker oGuevara, que mudariam para sempre a história do povoado. Desde 1967, ele compartilha com seus compatriotas memórias da época da guerrilha.

"Naquela época Vallegrande estava praticamentepoker oestadopoker osítio e as pessoas voltavam para casa cedo. Por isso, todos os corpos dos guerrilheiros desapareciam à noite", diz Lacio.

Durante os 30 anospoker oque os restospoker oGuevara estiveram desaparecidos, nenhum moradorpoker oVallegrande declarou publicamente saber onde estava seu corpo, mas todos ouvirampoker oalgum momento -poker oalgum vizinho - histórias sobre o assunto.

Lacio conta que seu irmão, que morreu há alguns anos, era simpatizantepoker oGuevara e que tirou várias fotos do corpo - e guardou uma mechapoker oseu cabelo - quando este foi exibido pelas autoridades. Ele ainda guarda uma das fotografias.

Segundo o professor, a imprensa internacional chegou a oferecer dinheiro a seu irmão para que revelasse o paradeiropoker oChe. Mas ele não quis que os restospoker oGuevarra fossem levados, por isso nunca colaborou com as buscas.

Seu lugar na história

Para que se pudesse assegurar a importância históricapoker oVallegrande como a cidade onde Che Guevara foi enterrado, o ex-prefeito Alfredo García chegou a emitir um decretopoker o1997 para que os restos mortais do guerrilheiro ficassem no local, o que não ocorreu. Seu objetivo era que não deixassem o povoado "de fora da história".

"Para a gente, é como se Bolívar tivesse passado por aqui", diz ele à BBC. "Não se pode tirar Vallegrandepoker oum acontecimento histórico tão importante do século passado."

Segundo o ex-prefeito, foi para preservar essa memória que muitos moradorespoker oVallegrande mantiveram silêncio por 30 anos. "Havia gente que sabia", diz.

A pesquisadora cubana Adys Cupull, que desde os anos 1980 visita a Bolíviapoker obuscapoker odados sobre o passadopoker oChe Guevara, tem a mesma percepção. "Essa é a importância dessa gente humilde que por 30 anos guardou esse segredo e cuidou do lugar onde os restos (de Guevarra) estavam enterrados", disse ela ao jornal cubano Granma.